quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Câmara dos Deputados livra Natan Donadon de cassação

Houve 233 votos a favor da cassação, mas eram necessários 257; 131 deputados votaram contra, 41 se abstiveram e 54 dos presentes na sessão não votaram; outros 54 não compareceram

BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados livrou de cassação o deputado federal Natan Donadon (sem partido/RO) — condenado a 13 anos, 4 meses e 10 dias por peculato e formação de quadrilha. Na noite desta quarta-feira, 28, dia em que o deputado completou dois meses preso no Complexo Penitenciário da Papuda, a votação sobre a perda do mandato teve 233 votos a favor, 131 contra e 41 abstenções, mas eram necessários 257 votos para a cassação, o que configuraria a maioria dentro do total de 513 parlamentares da Casa. O voto nesse tipo de sessão é secreto.

Natan Donadon sai algemado da Câmara dos Deputados, após ter seu mandato mantido - Dida Sampaio/AE
Natan Donadon sai algemado da Câmara dos Deputados, após ter seu mandato mantido
Diante da situação, presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), considerou o deputado afastado do cargo e decidiu convocar o suplente de Donadon para assumir a função enquanto ele estiver preso.
Vestido de terno e gravata, sem algemas e com o cabelo curto, Donadon fez sua própria defesa e jurou inocência. Reclamou do sofrimento do encarceramento, disse que nunca roubou "um centavo" da Assembleia Legislativa de Rondônia e que foi condenado porque a Justiça queria atender às "vozes das ruas". "Não é justo condenar um inocente", declarou. Com a família em plenário, Donadon se emocionou ao reencontrar antigos funcionários e foi cumprimentado por parlamentares enquanto esteve em plenário.
Com 459 parlamentares na Casa, a sessão se estendeu para que todos os deputados votassem, mas só 405 registraram voto. "Quem não está comparecendo está revelando seu voto", observou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
O próprio Donadon chegou a registrar seu voto, mas o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ao ser alertado, avisou que o voto do "julgado" não seria computado. Durante a espera, Donadon fez uso da palavra no microfone e reclamou da comida no presídio. "A xepa não é de boa qualidade", criticou.
Donadon foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelo desvio de recursos da Assembleia Legislativa de Rondônia, onde ele ocupava o cargo de diretor financeiro. Segundo o Ministério Público, o esquema funcionou de 1995 a 1998, por meio de contrato simulado de publicidade por serviços que não eram prestados. Os desvios, segundo o MP, somam R$ 8,4 milhões.

Brasileiro inventor de "luz engarrafada" tem ideia espalhada pelo mundo

Criador e criatura: Moser criou a lâmpada que agora leva seu nome durante a série de apagões que o Brasil enfrentou em 2002

Alfredo Moser poderia ser considerado um Thomas Edison dos dias de hoje, já que sua invenção também está iluminando o mundo.
Em 2002, o mecânico da cidade mineira de Uberaba, que fica a 475 km da capital Belo Horizonte, teve o seu próprio momento de "eureka" quando encontrou a solução para iluminar a própria casa num dia de corte de energia.
Para isso, ele utilizou nada além do que garrafas plásticas do tipo PET com água e uma pequena quantidade de cloro.
Nos últimos dois anos, sua ideia já alcançou diversas partes do mundo e deve atingir a marca de 1 milhão de casas utilizando a "luz engarrafada".
Luz engarrafada
Mas afinal, como a invenção funciona? A reposta é simples: pela refração da luz do Sol numa garrafa de dois litros cheia d'água.
"Adicione duas tampas de cloro à água da garrafa para evitar que ela se torne verde (por causa da proliferação de algas). Quanto mais limpa a garrafa, melhor", explica Moser.
Moser protege o nariz e a boca com um pedaço de pano antes de fazer o buraco na telha com uma furadeira. De cima para baixo, ele então encaixa a garrafa cheia d'água.
"Você deve prender as garrafas com cola de resina para evitar vazamentos. Mesmo se chover, o telhado nunca vaza, nem uma gota", diz o inventor.
Outro detalhe é que a lâmpada funciona melhor se a tampa for encapada com fita preta.
"Um engenheiro veio e mediu a luz. Isso depende de quão forte é o Sol, mas é entre 40 e 60 watts", afirma Moser.
Lâmpada de Moser
Ainda que ele ganhe apenas alguns reais instalando as lâmpadas, é possível ver pela casa simples e pelo carro modelo 1974 que a invenção não o deixou rico. Apesar disso, Moser aparenta ter orgulho da própria ideia.
"Uma pessoa que eu conheço instalou as lâmpadas em casa e dentro de um mês economizou dinheiro suficiente para comprar itens essenciais para o filho que tinha acabado de nascer. Você pode imaginar?", comemora Moser.
O inventor já instalou as garrafas de luz na casa de vizinhos e até no supermercado do bairro.
"Essa é uma luz divina. Deus deu o Sol para todos e luz para todos. Qualquer pessoa que usar essa luz economiza dinheiro. Você não leva choque e essa luz não lhe custa nem um centavo", ressalta Moser.
As luzes 'engarrafadas' também chegaram a outros 15 países, dentre eles Índia, Bangladesh, Tanzânia, Argentina e Fiji.
Pessoas em áreas pobres também são capazes de produzir alimentos em pequenas hortas hidropônicas, utilizando a luz das garrafas para favorecer o crescimento das plantas.

domingo, 25 de agosto de 2013

CHEGOU A HORA DA VERDADE - 26.08.2011

SÓ PORQUE EU SOU UM ATIVISTA...

Vou iniciar esse relato abordando um assunto que jamais comentei, até porque não me sentia a vontade e o fato ainda me causa um certo constrangimento,  tudo aconteceu em o momento muito conturbado na historia de Porto Velho e de Rondônia, dia sim e dia não eu estava fazendo uma denuncia nova contra a administração municipal e toda a equipe do ex prefeito Roberto Sobrinho, uns 20 dias antes de tudo acontecer criei um blog chamado PEDEPRASAIRCONFUCIO aonde também, assim como no blog FORAROBERTOSOBRINHO, iniciei uma serie de denuncias contra a administração do Governo da Cooperação, mas nunca liguei isso ao fato que tinha me acontecido, sempre achei que tinha a ver com a administração PT da capital, hoje já não sei o que pensar. Vamos aos fatos:
No dia 26 de agosto de 2011, uma sexta feira, estava retornando de uma  viagem de trabalho no município de Guajará Mirim, eu e um técnico de minha instituição, fomos cumprir uma demanda do SENAR - Curso de Elaboração e Execução de Projetos, meu amigo ficou com a parte da elaboração e eu com a execução e prestação de contas, o publico alvo eram  seringueiros, e o local do curso, Secretaria do Meio Ambiente de Guajará Mirim. O curso teve inicio na terça feira e ao meio dia de sexta feira tínhamos encerrado as atividades com uma "dinâmica de grupo", almoçamos e combinamos de voltar para Porto Velho as 16 horas, na cidade estava acontecendo o festival folclórico "duelo da fronteira", combinamos então de ficar e sair de lá apenas a meia noite, quando o dia estivesse amanhecendo estaríamos em casa, se tudo corresse bem, logicamente, mas não correu! As 2:30 da madrugada ao chegarmos na localidade denominada de Arara, uma enorme barreira do GESFRON nos esperava, 25 policiais armados com armas super pesadas, computadores, rádios, moldem, fios, enfim....meu amigo se identificou e estava tudo bem, quando me identifiquei meu RG passou de mão em mão até chegar na "moça do computador", ela competentemente conectou a internet ali mesmo, dentro do carro, no meio do mato, no meio do nada e em questão de 5 minutos meu RG fez o caminho de volta de mão em mão, meu amigo já tinha sido liberado e estava dentro do carro me esperando e foi ai que meu pesadelo teve inicio: "Sr. Carlos, tem um mandato de prisão em aberto contra o senhor e o senhor está preso!"  Como tenho muitos amigos policiais, achei que ali tinha algum deles querendo me pregar uma peça, LEDO ENGANO! Eu estava preso mesmo, fui até o carro e falei pro meu amigo o que estava acontecendo e disse-lhe que eu teria que voltar a Guajará porque estava acontecendo um equivoco comigo e eu precisava resolver, mas ele poderia seguir viagem e levar até minha bagagem que eu resolveria e depois pegaria um ônibus de volta... Naquele dia estava fazendo exatamente um mês que eu havia sofrido um principio de infarto, estava sob forte tratamento medico, tomando medicação em horário exato, meu amigo estava me supervisionando, mas tudo isso foi pelo ralo, imediatamente minha pressão foi a 19/11 e no caminho de volta a Guajará os policiais de "minha escolta" notaram que tinha algo de errado comigo, me perguntaram e eu falei que estava em tratamento contei a historia, eles gentilmente me levaram para um posto de saúde em Nova Mamoré, uma sonolenta agente de saúde me atendeu, sempre muito bem vigiado pela "minha escolta", veio o diagnostico: Pressão estava 19/11 e precisava imediatamente de ser medicado e naquela unidade de saúde nem captopril tinha. Seguimos então para Guajará, mas minha pressão ia subir ainda mais, é que surgiu uma camionete suspeita no meio da estrada e não obedeceu o ordem de parar....perseguição...sirene ligada, camionete entra em vicinal e viatura comigo dentro entra também....abordagem...todos saem do carro, menos eu, conversa vai, conversa vem, policiais "apertam a mão" do perseguido e estava tudo bem, "foi só um engano, mas um engano" o cara não parou porque estava com uma mulher casada dentro do carro aquela hora da madrugada, pelo menos foi isso que os policiais falaram.
Chegamos em Guajará e fomos direto para a delegacia, esqueceram de minha pressão, fui recebido por uma pessoa que até hoje não sei de quem se tratava, até porque quando perguntei, "minha casa caiu!" Fui tratado como celebridade, como grande bandido, "foi um bom trabalho!" ouvi os policiais sendo cumprimentados pelos colegas, pedi para consultarem minhas certidões, consultarem o site do TJ, falei que eles estavam cometendo um tremendo erro e recebi como resposta: "Esse nome que está aqui nessa porra de mandato é de quem? é meu?" "Algema esse bandido e coloca no coró!" E fui levado para um cubículo fedorento aonde estavam "pernoitando" três noiados, e para garantir a integridade física dos outros presos, permaneci algemado dentro da "cela" só que de uma maneira a garantir que nem com os pés eu pudesse atentar contra a vida daquelas pobres almas ali dentro, foi solicitado a mim que entrasse na cela e colocasse as mãos para fora dela, e foi assim que me deixaram algemado até as 5:45 da manhã quando a escolta chegou para me levar para o presidio, tudo assim, muito rápido. Até aquele momento eu "não me rebarbei" de forma alguma, até porque não tinha saúde para isso, mas fui levado algemado, claro, ao hospital regional para verificar se eu não "estava inventando" doença para não ser preso, e como todo preso perigoso, passei na frente de todos os que estavam desde a madrugada esperando para serem atendidos, a medica boliviana que foi me atender estava tão apavorada que não tinha coragem de chegar perto de mim com medo de eu a estrangular ali mesmo, então solicitou a um enfermeiro negão, grandão e forte o suficiente pra me derrubar apenas com um safanão, que verificasse a minha pressão, eu algemado e ele verificando a pressão, diagnostico: 21/12, "ele vai infartar se não for medicado imediatamente!" bradou o enfermeiro negão. Indignado, revoltado, injustiçado, cansado, humilhado, debilitado....resolvi então me rebelar, resolvi que não deixaria ninguém  me medicar e a partir daquele momento qualquer coisa que viesse a acontecer comigo seria de responsabilidade deles, de quem estava ali cumprindo aquela palhaçada, falei isso e pedi pra me tirarem dali, um de meus carcereiros, falou então: "Não quer ser medicado? então foda-se! e continuaram a me levar para o presidio. A possibilidade de me largarem no presidio estava me apavorando, meus pensamentos sobre o clima dentro daquela unidade prisional infernizavam minha cabeça e isso só piorava meu quadro clinico, eu pensava tudo de ruim, achava que seria maltratado, espancado, torturado e humilhado ainda mais do que eu já tinha sido, e chegamos ao presidio, fui entregue a um agente penitenciário com status de grande bandido, o agente fez o que depois me falaram ser de praxe, mandou eu tirar toda a roupa, ficar completamente pelado, e fiz isso sem que as algemas fossem retiradas de meu pulso, meu coração estava pra explodir, mas não derramei uma gota de lagrima, estava com um ódio retraído, mas me contendo. 
Depois da minha entrega e que fui para o interior do presidio percebi que mais uma vez eu estava errado, completamente errado, o local que me deixava apavorado me amparou como gente, fui apresentado ao diretor de segurança do presidio, Coronel Farfan, que me perguntou o que tinha acontecido comigo, não demorei cinco minutos para convencer o Coronel de que estava havendo um engano comigo, sem eu terminar o meu relato ele sugeriu a um de seus agentes que tirassem minhas algemas, o agente ainda relutou, mais ele foi incisivo: "Pode tirar, será que você não esta vendo que esse senhor esta sendo vitima de um tremendo erro?" e o agente cumpriu a ordem. Farfan então ligou para o diretor administrativo, que estava de folga, ligou também para um enfermeiro e solicitou que fosse ao presidio imediatamente, em questão de 20 minutos ambos estavam ali na minha frente. Enquanto o diretor administrativo fazia as consultas para comprovar a veracidade de minha historia o enfermeiro me convenceu de que eu precisava de ser medicado imediatamente, eu ainda estava na enfermaria quando o diretor administrativo chegou, infelizmente não lembro o nome dele para poder lhe dar o crédito, ele chegou com uns papeis na mão, era uma consulta da Polinter com o NADA CONSTA em meu nome, e também minhas certidões negativas estadual e federal. Eu já esperava que o resultado seria aquele, mas foi um grande alivio quando ele me falou aquilo e me falou também que o tal mandato de prisão em meu nome tinha sido assinado por um Juiz de Porto Velho e que portanto só um juiz de Porto Velho poderia reparar o erro, me deixaram ligar pra minha família, falei com minha esposa, com meu filho e com o amigo que estava comigo no momento da prisão e todos começaram a se movimentar no sentido de encontrar um juiz de plantão pra mandar me soltar, mas foi tudo em vão, era sábado e essa informação já havia chegado ao fórum de Porto Velho e quando eles chegaram lá e falaram no meu nome, parece que todos tinham visto o capeta na frente deles, o juiz de plantão havia saído, o celular estava desligado, na casa dele ninguém atendia, e já passando das 14 horas chegou a noticia que não mais teria plantão, agora só poderia ser resolvido na segunda feira. Fui informado pelo diretor da cadeia que só "poderiam resolver meu problema na segunda feira" e novamente o coronel Farfan veio falar comigo e me informou que com o documento de transferência que ele tinha em mãos, quando da minha entrega naquele local, eu deveria ser colocado na cela das pessoas mais perigosas daquele presidio mas que ele não ia fazer isso porque estava vendo que estava fazendo uma "tremenda sacanagem" comigo, então ele me deixaria ficar ali no patio mesmo, aonde ficam os semi-abertos, mas que a noite eu teria que dormir dentro de uma cela, infelizmente! Entendi e agradeci, fui para o patio e as surpresas foram acontecendo, imediatamente fui abordado por um senhor, moreno, calmo, fala mansa, até parecia um padre, Sr. João, ele estava ali a sete anos, já estava no semi aberto, mas final de semana não saia pra trabalhar, ele chegou comigo e perguntou se eu era o Carlos Caldeira, respondi que sim, ele me falou que era taxista e que tinha sido preso transportando 30 quilos de cocaína de Guajará pra Porto Velho, falou que me conhecia pelo meu combate a corrupção dentro da prefeitura de Porto Velho. "O Seu João literalmente me adotou dentro do presidio", ele só não fez eu comer lá dentro, porque isso eu falei que não faria mesmo, até eu sair. Ele falou com a direção e pediu pra que apos as 18:00 hs. quando todos teriam que se recolher as celas, eu fosse dormir na cela dele, já que lá "só tinha gente boa", eu estava tão fragilizado com tudo aquilo que em hipótese nenhuma passou pela minha cabeça que tudo fosse uma armação, que ele e seus amigos "gente boa" poderiam querer aprontar alguma pra mim, acreditei nele, e não me arrependi! Ele conseguiu um colchonete novinho pra mim, foi atrás de um kit de higiene, enfim, ele tinha transito livre la dentro, todos na cadeia me tratavam como COROA, menos o Sr. João, que me chamava pelo nome, e com todo respeito, Seu Carlos. As 18:00 horas fui para a cela, lá estavam mais 6 presos, os colchonetes espalhados pelo chão dava a dimensão como seria a noite lá dentro, um calor infernal, um banheiro com a água do chuveiro pingando o tempo todo, imaginei que aquela seria a pior noite de minha vida, mas estava enganado novamente, dentro da cela, os presos "gente boa" foram todos solidários a mim, me deram o melhor lugar pra dormir, de frente pra porta, uma grade na verdade, lá batia um vento frio na madrugada que me faria dormir, mas as surpresas não acabavam por ai, la dentro rolou um cafezinho fresquinho, rolou um jogo de baralho, e pasmem, os caras queriam fumar um "bec" (cigarro de maconha) e me perguntaram se eu me incomodava, eu falei que poderiam ficar tranquilo, e como eu estava na porta, fiquei vigiando, caso aparecesse algum agente, eu avisaria a eles. quando deitei em "meu colchonete", devido estar quase 48 horas sem dormir, eu apaguei e acordei eram quase meia noite, os caras ainda jogavam baralho, um deles me viu acordado, levantou, abriu um isopor, tirou um litro desses de pet que estava com suco de goiaba e me deu um copo, aceitei imediatamente, ele também desamarrou uma carcaça de ventilador que estava na parede em cima de seu colchonete e colocou pra mim, falei que não precisava e ele insistiu, "Coroa, não esquenta, nós estamos acostumados aqui nessa vida e o senhor não, pode aceitar", mais uma vez agradeci e o Sr. João que já dormia, acordou e me deu seu lençol, não relutei, aceitei de pronto. No domingo as 6 da manhã as celas já estavam abertas, tomei um banho, escovei os dentes e fui para o patio, o comentário geral na cadeia era a minha prisão "por engano", ganhei a solidariedade de todos, fui respeitado por todos, ninguém disse um palavrão se quer pra mim, os presos "do fechado" me chamavam em nas portas de suas celas para me oferecerem café, suco, pão, cigarro....eu só aceitava café e mais nada, conversei com vários deles soube da historia de cada um com quem tive contato, pouco mais das 16 horas de domingo, um traficantes que já estava lá a quase 10 anos com uma serie de condenações e foi preso nada mais nada menos que com 300 quilos de coca e mais 15 fuzis, pistolas e até granada, trocou tiros com a policia, enfim...ele me chamou em sua cela, fui até lá e ele gentilmente foi até sua televisão, meteu a mão por trás dela e de lá tirou um telefone celular e falou pra mim, "Coroa, a hora que quiser falar com sua família, pode falar comigo que o telefone esta a sua disposição" agradeci novamente e falei que não gostaria de falar com minha família, isso eu só ia fazer quando chegasse em casa, eu não tinha como segurar minha emoção se eu fizesse isso, até aquele momento eu não tinha chorado, e não falaria com minha família porque eu não podia chorar, eu queria guardar a minha raiva pra quando eu chegasse em Porto Velho eu detonasse todo mundo. O Tempo foi passando, já na segunda feira o seu João foi "pra rua", ele trabalhava na prefeitura de Guajará, levou o numero de telefone de minha esposa, ele prestou todas as informações pra ela, voltou na cadeia, inventou uma historia pra entrar fora do horário normal de sua volta apenas pra me tranquilizar, pra dizer que minhas filhas estavam bem, que meu filho estava pra ficar louco, querendo ir a Guajará e colocar o presidio a baixo, que meus amigos e minha instituição estavam correndo atrás de me soltar. As horas iam passando e o desespero voltou a tomar conta de mim, não suportaria mais nenhuma noite ali, eu não tinha uma muda de roupa, quando fui preso não achava que ia acontecer tudo isso e fiquei só com a roupa do corpo, os próprios diretores diziam que como já tinha passado das 16 horas, dificilmente eu sairia naquele dia, mas que eles souberam que meu alvará já tinha sido expedido, e que estavam apenas aguardando um oficial de justiça ir cumprir. As 17:30 o oficial chegou e cumpriu o mandato, recebi minha copia e li que o juiz estava mandando me soltar porque minha prisão tinha sido irregular. O Próprio oficial de justiça me deu uma carona até a rodoviária, eu falei que estava com apenas 40 reais e se eu pegasse um táxi não daria pra pegar o ônibus pra casa, ele então falou que soube que eu não comi nada durante aqueles três dias e que ia pagar um lanche pra mim, aceitei, ele também passou na agencia do Banco do Brasil, sacou 100 reais e me deu pra pegar um táxi até Porto Velho, eu lhe pedi o numero de sua conta para devolver o dinheiro, e ele me passou o numero, voltei para minha casa, a meia noite estava com minha esposa, meu filho, minhas filhas e minha nora, a emoção tomou conta de todos, mas naquela noite, eu não dormi direito, tive insonias, o pouco que dormi eu sonhava com a cela do presidio, um filme se formou em minha cabeça com todos os momentos que passei nesse episodio, um misto de tristeza e revolta por tudo, eu queria que o dia amanhecesse logo, eu queria colocar a boca no trombone, eu queria processar o estado por tudo aquilo, e assim o fiz. Ao amanhecer procurei o Dr. Carlos Alberto Troconso Justos, no meu ponto de vista o melhor advogado desse estado, fui até ele porque queria o melhor, fui também ate a corregedoria da Policia Civil e denunciei os policiais da delegacia por tudo que fizeram comigo, até hoje ninguém fala nada e nem a corregedoria tomou qualquer providencia, procurei também o jornalista Paulo Andreoli do site rondoniaovivo e pedi para publicar o que tinha acontecido, entreguei copias dos documentos que eu nada devia a justiça e ele publicou tudo na integra, a noticia foi republicada em vários outros sites do interior, eu não me deixei fotografar, não queria essa exposição, tinha vergonha de ser reconhecido na rua pelo acontecido. Dia 26 de março deste ano, depois de vários adiamentos de audiência, nos encontramos na frente do juiz da fazenda publica, eu, meu advogado e o procurador do estado, em menos de meia hora de audiência o juiz deu a sentença favorável a mim e condenou o estado a me pagar uma indenização de 15 mil reais por danos morais, o estado recorreu e perderam também, o colégio recursal manteve a sentença no dia 24 de junho e agora o processo foi transitado e julgado, não cabe mais recurso.
Em mais de 20 anos que estou em Porto Velho eu já colecionei muitos inimigos, muitos mesmo, durante muitos anos fui sócio em uma empresa de Assessoria e Consultoria de cobrança, era eu o Itanabi Marcos e o Nides Michel, fazíamos o inimaginável para  recuperar o credito de nossos clientes, cobrei Prefeitos, vice- prefeitos, vereadores, presidentes de câmara de vereadores, jornalistas, colunistas sociais, advogados, secretários de estado, comerciantes, enfim...um dia cobrei a esposa de um promotor de justiça de uma comarca do interior que me rendeu grandes problemas, mas continuei, ajuizei quase cem ações de cobranças, tive alguns revês, também já tive titulo protestado, também já fui cobrado judicialmente, também já tive cheques devolvidos por falta de fundos, e quem nunca teve algum tipo de problema como esse que atire a primeira pedra. Mas sou um homem honrado, tenho bons amigos, sou respeitado por tudo que faço, quem me conhece, quem vive o meu dia a dia sabe o quanto eu batalho por uma Rondônia melhor, por uma Porto Velho melhor, vou continuar minha batalha, vou continuar tendo problemas, o inimigo não dorme, o inimigo tem "amigos". Novamente coloquei minha cara pra fora, representei contra todos os vereadores envolvidos na Operação Apocalipse e estou preparado para receber o troco.
Essa é a historia do meu pior capitulo no estado de Rondônia, espero que entendam meu relato e não interpretem de forma errada e do porque só estou falando isso agora, não estou acusando A, B ou C por isso, o certo é que a injustiça foi corrigida e hoje posso espalhar para todos que queiram saber, como tudo aconteceu. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A PRESIDENTE DILMA NÃO SE DEIXARIA ATENDER PELO SUS

O DIA EM QUE A DRª JULIANA CHOROU: Fonte: Jornal O GLOBO

Não sou a favor de corporativismo ou de reserva de mercado em área alguma. Acho que se o problema da saúde pública fosse única e exclusivamente a falta de médicos para regiões remotas do país, a importação de estrangeiros — cubanos, letões, belgas — seria uma ótima medida. Acontece que, do jeito que estão os nossos hospitais, essa é só mais uma medida populista, uma cortina de fumaça para esconder a verdade de um sistema falido.
Como bem observou um dos cartazes das manifestações, “importar médicos para locais onde faltam leitos, hospitais, remédios e exames é como querer resolver o problema da fome importando cozinheiros para locais onde faltam panelas, fogão e comida”. Essa síntese é exemplar; mas nada mexeu tanto comigo quanto o depoimento da médica carioca Juliana Myanmense, leitura obrigatória para quem quer saber do Brasil. O contundente texto da dra. Juliana está circulando desde o começo da semana na internet e, onde quer que seja postado, é logo seguido por comentários de outros profissionais da saúde, que relatam problemas e frustrações semelhantes.
Vejam só:
“Há alguns meses eu fiz um plantão em que chorei. Não contei a ninguém; não é nada fácil compartilhar isso numa mídia social. Eu, cirurgiã-geral, “do trauma”, médica “chatinha”, preceptora “bruxa”, que carrego no carro o manual da equipe militar cirúrgica americana que atendia no Afeganistão, chorei.
Na frente da sala da sutura tinha um paciente idoso internado. Numa cadeira. Com o soro pendurado na parede num prego similar àqueles em que prendemos plantas (leia-se samambaias). A seu lado, o filho. Bem vestido. Com fala pausada, calmo e educado. Como eu. Como você. Como nós. Perguntava pela possibilidade de internação do pai numa maca, pelo menos, já que estava há mais de um dia na cadeira. Ia desmaiar. Esperou, esperou, e toda vez que eu abria a portinha da sutura ele estava lá. Esperando. Como eu. Como você. Como nós. Teve um momento em que ele desmoronou. Se ajoelhou no chão, começou a chorar, olhou para mim e disse “não é para mim, é para o meu pai, uma maca”. Como eu faria. Como você. Como nós.
Pensei “meudeusdocéu, com todos que passam aqui, justo eu… nãoooo… porque se chorar eu choro, se falar do seu pai eu choro, se me der um desafio vou brigar com cinco até tirá-lo daqui”.
E saí, chorei, voltei, briguei e o coloquei numa maca retirada da ala feminina.
Já levei meu pai para fazer exame no meu Hospital Universitário. O endoscopista, quando soube que era meu pai, disse “por que não me falou, levava no privado, Juliana!” Não precisamos, acredito nas pessoas que trabalham comigo. Que me ensinaram e ainda ensinam. Confio. Meu irmão precisou e o levei lá. Todos os nossos médicos são de hospitais públicos que conhecemos e, se não os usamos mais, é porque as instituições públicas carecem. Carecem e padecem de leitos, aparelhos, materiais e medicamentos.
Uma vez fiz um risco cirúrgico e colhi sangue no meu HU. No consultório de um professor ele me pergunta: “e você confia?”. “Se confio para os meus pacientes tenho que confiar para mim.”
Eu pratico a medicina. Ela pisa em mim alguns dias, me machuca, tira o sono, dá rugas, lágrimas, mas eu ainda acredito na medicina. Me faz melhor. Aprendo, cresço, me torno humana. Se tenho dívidas, pago-as assim. Faço porque acredito.
Nesses últimos dias de protestos nas ruas e nas mídias brigamos por um país melhor. Menos corrupto. Transparente. Menos populista. Com mais qualidade. Com mais macas. Com hospitais melhores, com mais equipamentos, e aos quais não faltem medicamentos. Um SUS melhor.
Briguei pelo filho ajoelhado do paciente. Por todos os meus pacientes. Por mim. Por você. Por nós. O SUS é nosso. Não tenho palavras para descrever o que penso da “presidenta” Dilma. (Uma figura que se proclama “a presidenta” já não merece minha atenção). Mas hoje, por mim, por você, pelo meu paciente na cadeira, eu a ouvi.

A ouvi dizendo que escutou “o povo democrático brasileiro”. Que escutou que queremos educação, saúde e segurança de qualidade. “Qualidade”… ela disse.
E disse que importará médicos para melhorar a saúde do Brasil.
Para melhorar a qualidade…?
Senhora “presidenta”, eu sou uma médica de qualidade. Meus pais são médicos de qualidade. Meus professores são médicos de qualidade. Meus amigos de faculdade. Meus colegas de plantão. O médico brasileiro é de qualidade.
Os seus hospitais é que não são. O seu SUS é que não tem qualidade. O seu governo é que não tem qualidade.
No dia em que a senhora “presidenta” abrir uma ficha numa UPA, for internada num Hospital Estadual, pegar um remédio na fila do SUS e falar que isso é de qualidade, aí conversaremos.
Não cuspa na minha cara, não pise no meu diploma. Não me culpe pela sua incompetência.
Somos quase 400 mil, não nos ofenda. Estou amanhã de plantão, abra uma ficha, eu te atendo. Não demora, não. Não faltam médicos, mas não garanto que tenha onde sentar. Afinal, a cadeira é prioridade dos internados.
Hoje, eu chorei de novo.”

sábado, 17 de agosto de 2013

POLITICANDO NO TEMPO

Como é a vida do parlamentar dentro da cadeia?


Rondônia passa por um momento atípico, um momento, digamos, de reflexão para os nossos eleitores, é que nos dias atuais o nosso estado está dando exemplo para o resto do país no tocante ao combate a corrupção. Temos um Deputado Federal preso em Brasília que foi condenado pela justiça de Rondônia, temos na capital Porto Velho, um deputado estadual, irmão do deputado federal, também preso, condenado no mesmo processo de seu irmão de Brasilia, ambos desviaram milhões de reais da ALE/RO, três vereadores presos preventivamente por uma série de crimes relacionados ao tráfico de drogas, e, em Pimenta Bueno, mais quatro vereadores estão atrás das grades por desvio de recursos na construção do Hospital Municipal daquele município.
Nossa justiça faz a parte dela, mas os pares de quem está preso... bem, isso é outra história, nenhum deles perdeu o mandato, ainda... Natan Donadon está no Presídio da Papuda e continua parlamentar e despacha normalmente de dentro de sua cela, e como será a vida parlamentar lá dentro? Em seu gabinete ele tem um chefe de gabinete, já na cadeia tem o "chefe da cela", em seu gabinete ele manda no chefe e na cela o chefe manda nele, em seu gabinete ele é tratado como "Vossa Excelência" e na cadeia ele é tratado como ladrão mesmo. Certamente que a demanda é alta de pedidos de "emenda parlamentar", "projetos de leis que beneficiem os seus pares atuais", "pedido de majoração no percentual dos arrochos para dividir entre os novos amigos", enfim, ele deve ter muito trabalho lá dentro. 
O deputado estadual Marcos Donadon é um caso a parte, foi vereador em Vilhena e com a força do clã Donadon no cone sul veio para a capital trazendo a tiracolo seu irmão Natan, eles realmente formaram uma dupla do barulho na capital do estado, Marcos se tornou deputado estadual e presidente da ALE e entregou a "chave do cofre" para Natan que espertamente desviou só no primeiro mandato, mais de 8 milhões de reais, grana suficiente para leva-lo a Brasilia como deputado federal, mas como nenhum crime é perfeito....Marcos Donadon iniciou sua vida no carcere nas dependências da centro de correição da PM que muitos falam que é um hotel de luxo em relação aos presídios convencionais. Marcos já não é mas parlamentar, ele agora é apenas mais um a fazer parte de sistema prisional de Rondônia, foi transferido para um presidio comum e seus advogados tentam uma manobra para coloca-lo em regime semi aberto, mesmo tendo seu processo sido transitado e julgado. 
Os vereadores de Porto Velho já estão beirando os 60 dias presos e dos três que estão enclausurados, certamente o nobre vereador Marcelo Reis é o que deve estar "tirando mais proveito" dessa estadia forçada no presídio Urso Panda. Ele também não deve ter tido "vida fácil" quando lá chegou, isso porque aqui fora ele é apresentador de um programa policial e em seu programa ele "costumava" usar certos adjetivos para os, hoje, amigos de cárcere, mas como diz o velho ditado: "há males que vem para o bem" e segundo informações repassadas por pessoas que tem contato com eles, o vereador Marcelo Reis é um outro homem... Sua vida como parlamentar sempre foi recheada de altos e baixos, sempre foi bom de votos, sempre foi muito bem recebido nas comunidades aonde atua, mas também não é muito bem visto pela "mídia não comprada" por ter feito parte do QG do famigerado Roberto Sobrinho, por sua arrogância e prepotência, e há bem pouco tempo atrás agrediu um repórter do site Rondoniagora e depois de representado criminalmente foi obrigado pela justiça a fazer um pedido público de desculpas ao repórter, essa atitude feriu não só sua imagem de bom moço como seu elevado ego.
Já o vereador Eduardo Rodrigues é reincidente em ser preso em pleno exercício do mandato, já que na legislatura passada ele tentou exercer o que chamamos de "abuso de poder" em uma reintegração de posse no bairro Cuniã e acabou recebendo voz de prisão por desacato a autoridade, seu mandato aqui fora é pífio e hoje dentro do presídio detém uma certa simpatia de seus colegas de cárcere, dizem até que ele tem um bloco de papel que anota "todas as demandas" para quando chegar aqui fora ele colocar em prática junto com seus pares de casa de leis municipal.
O nobre vereador Jair Montes, sem sombra de duvidas, é o que mais goza de prestígio dentro da cadeia, não que ele tenha regalias, não, de maneira nenhuma, é que em sua vida como vereador de primeira viagem ele adotou um estilo de oposição radical contra a administração do prefeito Dr. Mauro Nazif, ele estava se saindo muito bem, inclusive ganhando até a admiração desse blogueiro aqui, até que "caiu" na Operação Apocalipse e veio à tona a outra face do estreante vereador, ele é apontado como sendo o líder de uma facção criminosa que comanda o tráfico de drogas dentro da política local e por isso caiu nas graças da bandidagem. Jair Montes foi eleito pelo PTC (Partido Trabalhista Cristão), tem como número majoritário o 36 e até isso favoreceu o nobre vereador dentro da cadeia, é que para os presidiários, 36 simplesmente é 12 x 3 = 36, ou seja, 12 é o artigo para tráfico de drogas e ele carrega esse número multiplicado por três, é um ídolo dentro do presídio, e, diferentemente dos outros dois, ele é apenas tratado carinhosamente como 12.
Quantos aos quatro vereadores de Pimenta Bueno, sua estadia dentro da cadeia ainda é muito pequena e não se pode avaliar como eles estão se saindo nessa nova realidade.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

LINDOMAR GARÇOM ABANDONOU O EMPREGO, MAS CONTINUA RECEBENDO!

MEDO DE SER PRESO A QUALQUER MOMENTO, GARÇOM SOME DA CIDADE

O Ex candidato a prefeito da capital e assessor especial do governador Confucio Moura, Lindomar Garçom, tomou um chá de sumiço desde quando soube que a Policia Federal havia entrado nas investigações da Operação Apocalipse. Como é de conhecimento publico, o nome do assessor especial do governador aparece inúmeras vezes no inquérito da operação apocalipse como sendo um dos beneficiados com o financiamento de campanha pelos traficantes Beto Baba e Fernando da Gata, o que a PC não fala mas é o boato que se ouve na cidade desde a campanha eleitoral do ano passado é que o então candidato a prefeito Garçom recebeu a modesta ajuda de 4 milhões de reais e que por causa disso ele esta enrolado até o pescoço com os financiadores, como é de praxe no Governo da Cooperação logo apos a eleição perdida, Garçom ganhou um CDS de presente do governador, um dos maiores salários no atual governo e com um detalhe, ele não precisa trabalhar!
Com o estouro da operação apocalipse e a prisão de vários integrantes do bando, Garçom ficou aqui do lado de fora batendo cabeça procurando uma saída para a sua situação já que ele caiu no canto da sereia e acreditou em uma pesquisa fajuta que dizia que "ele já era o prefeito de Porto Velho", as urnas disseram não a ele e felizmente disse não também a quadrilha de traficantes que estavam prontas para tomar de assalto a prefeitura da capital, mas Garçom ainda tinha uma carta na manga, a prefeitura de Candeias do Jamari está nas mãos de seu aliado politico Dinho Souza.  Dinho começou a ajudar Garçom a pagar sua divida de campanha, segundo relatos dentro da própria prefeitura de Candeias, 9 (nove) cargos comissionados da atual administração já são parte do pagamento da divida de campanha, assim como aconteceu aqui na capital na ALE e na Câmara de Vereadores.
Outro assunto corriqueiro na administração do vizinho município é sobre uma uma emenda parlamentar do Deputado Estadual Luizinho Goebel do PV de Vilhena que destinou 4 milhões de real a prefeitura de Candeias mas essa verba nunca apareceu ao município e muito menos sua prestação de contas sobre a destinação e os beneficiários da referida emenda parlamentar.   
Lindomar Garçom alugou sua casa na capital por um valor de 6 mil reais por mês (mesmo preço do apartamento mantido pelo governo da cooperação que foi descoberto na operação), sua filha mais velha trancou a faculdade de Biomedicina que fazia na Faculdade São Lucas e mudou-se junto com o pai para essas fazenda que fica a 23 km de distancia do distrito de Triunfo, local de muito difícil acesso. Segundo fontes na própria Triunfo, Garçom vem na cidade uma vez por semana para assinar papeis, ninguém sabe ainda que tantos papeis são esses que ele assina. Também em triunfo a população fala que a fazenda em que ele esta morando é de propriedade dele mas esta em nome de laranjas assim como muitos outros bens.
Lindomar Garçom tem certeza que vai ser preso, ele próprio tem relatado isso a amigos mais próximos, mas ele quer dificultar ao máximo o trabalho da PF e PC. 

sábado, 3 de agosto de 2013

JOSE SARNEY E SEUS ESCÂNDALOS

CPI DA CORRUPÇÃO
Envolvimento
A CPI apontou o ex-presidente como figura crucial para o esquema, liberando dinheiro de fundos controlados pela Presidência a municípios, sem quaisquer critérios que não os políticos. Quando a verba acabava, Sarney tinha de utilizar a chamada reserva de contingência – e, para isso, contava com a ajuda de seu ministro do Planejamento, Aníbal Teixeira.
O que aconteceu
Deixou o Palácio do Planalto com índices de rejeição astronômicos, que variavam de 60% a 80%. Retirou-se para o Maranhão e teve de recorrer a outro Estado - o Amapá - para se eleger senador. Com o tempo, Sarney se recuperou lentamente. Em 2011, foi eleito pela quarta vez presidente do Senado, posto que deixou em 2013 - Renan Calheiros acabou por assumir a vaga. Na Casa, seguiu protagonista de escândalos. O mais grave deles quase lhe custou o comando do Congresso em 2009, quando se revelou que Sarney e a instituição que presidia se confundiam em desmandos, irregularidades e desvios de conduta. Por meio dos chamados “atos secretos”, os senadores contratavam parentes, amigos, aumentavam salários e se autoconcediam benefícios.
Sobre o escândalo
O genro do então presidente José Sarney, Jorge Murad, foi acusado de intermediar o repasse de verbas federais para o estado do Maranhão, reduto eleitoral dos Sarney. O esquema envolvia membros do alto escalão do governo, que se utilizavam de critérios escusos na liberalização de recursos públicos. Ao pedir demissão, o titular do Planejamento, Aníbal Teixeira de Souza, dá entrevista transferindo as acusações de corrupção para o presidente Sarney e o secretário geral do Ministério, Michal Gartenkraut. Pouco depois, o presidente da CNBB, dom Luciano Mendes de Almeida, divulga nota condenando a corrupção no governo Sarney.
Na época, suspeitava-se de que o reajuste de contratos mantidos com empreiteiras e fornecedores da União fora uma ação entre amigos. Resultado: instaurou-se no Senado uma CPI para investigar os fatos. Seis meses depois, Sarney e outras 28 pessoas – incluindo cinco ministros - foram denunciadas pelo senador Carlos Chiarelli por participação no esquema.
ATOS SECRETOS
Envolvimento
Embora tenha declarado que a crise não era dele, mas do Senado, Sarney esteve desde o início no centro dos escândalos. Em primeiro lugar, Sarney exercia pela terceira vez a presidência da casa. Em segundo lugar, o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, principal operador do esquema dos atos secretos, havia chegado ao cargo por sua indicação, em 1995. Como se não bastasse, uma longa série de denúncias envolvia diretamente seu clã: um neto intermediava empréstimos consignados no Senado; outro era funcionário-fantasma; um parente recebia salário do Senado mesmo morando na Espanha; o mordomo da casa da filha Roseana Sarney recebia 12 000 reais como funcionário do Senado; outros sete parentes do senador também faziam parte da folha de pagamento da Casa; o filho do meio, Fernando Sarney, o próprio senador recebeu durante quatro meses auxílio-moradia de 3 800 reais, embora tenha residência própria em Brasília; emprestou de maneira irregular um apartamento funcional; e deslocou seguranças do Senado para defender seus imóveis no Maranhão.
O que aconteceu
Após a defesa de Lula, todas as denúncias contra Sarney foram arquivadas no Conselho de Ética do Senado. Parte delas foi investigada pela polícia, mas as investigações não deram em nada até hoje. Em sua biografia autorizada, Sarney acusa Tião Viana (PT-AC) de ter provocado a crise dos atos secretos. Em 2011, Sarney foi reeleito presidente da Casa, posto que deixou em 2013 - Renan Calheiros acabou por assumir a vaga..
Sobre o escândalo
Tião Viana (PT-AC) e José Sarney (PMDB-AP) iniciaram 2009 em guerra aberta. Os dois disputaram a presidência do Senado, e Sarney levou a melhor, contando com o apoio que o Planalto havia antes prometido a Viana. O resultado da disputa: uma sucessão de acusações e denúncias que expuseram a farra promovida no Congresso com o dinheiro do contribuinte. PT e PMDB chegaram a acertar uma trégua, após a queda do diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, e do diretor de recursos humanos, João Carlos Zoghbi, mas as denúncias - nepotismo, farra de passagens, pagamento indevido de horas-extras, auxílio-moradia irregular etc. - não pararam mais, paralisaram o Congresso e atingiram Sarney em cheio quando o jornal O Estado de S.Paulo revelou a existência de centenas de atos administrativos secretos, divulgados em 'boletins suplementares'.
O expediente era usado para aumentar salários, criar cargos e nomear amigos e parentes. Sarney foi pressionado a renunciar, mas, contando com esdrúxula defesa de Lula ("O senador tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum"), resistiu e continua resistindo a estas e outras revelações, incluindo uma conta secreta no exterior e o desvio de verbas de um convênio da Petrobras com a Fundação José Sarney.
Ferrovia Norte-Sul
Envolvimento
Sempre se considerou o pai da Norte-Sul. A demonstração da fraude abriu uma ferida no coração do governo e na popularidade de Sarney, como nem a inflação de 20% ao mês vinha sendo capaz de provocar.
O que aconteceu
As investigações confirmaram que houve fraude, mas não apontaram responsáveis. Nem Sarney nem qualquer um dos envolvidos foi punido.
Sobre o Escândalo
O contrato para a construção da ferrovia que ligaria o Maranhão a Anápolis (GO), envolvendo investimentos de 2,4 bilhões de dólares e 1 600 quilômetros de obras, não passava de uma fraude. A licitação da obra foi um jogo de cartas marcadas: venceram as empresas integrantes do esquema corrupto, que haviam combinado os preços entre si. O escândalo foi descoberto por meio de uma denúncia do jornalista Jânio de Freitas publicada no jornal Folha de S. Paulo. No dia seguinte ao anúncio das 18 empresas vencedoras do processo, o jornal provou que não só tomara conhecimento, seis dias antes, da lista dos vencedores, mas chegara a publicar, na forma de um pequeno anúncio em sua seção de classificados, os nomes das empreiteiras escolhidas e até o lote reservado a cada uma delas.
A Valec, estatal que cuida das ferrovias do país, transformou-se num cabide de empregos para protegidos de José Sarney, que indica diretores para a estatal até hoje. Os problemas são antigos, mas se agravaram na vigência do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento -, quando a empresa teve seu orçamento multiplicado por quatro. A Polícia Federal conduz atualmente cinco inquéritos a respeito de fraudes na Valec. Desde 2001, quando o governo decidiu tocar a obra para valer, já foi gasta a formidável soma de 1,4 bilhão de reais – se forem somados os anos anteriores, o valor chega a 3 bilhões de reais. Até agora, essa dinheirama serviu para deitar sobre os dormentes apenas 25% da extensão total de trilhos. A ferrovia se tornou uma das promessas do PAC, mas não venceu a chaga da corrupção. Em 2009, o TCU recomendou a paralisação de partes do trecho entre Guaraí, em Tocantins, e Anápolis, em Goiás, por suspeita de superfaturamento - há suspeita de que as empreiteiras receberam 308 milhões de reais a mais do que o orçado.
Caso Lina Vieira
Envolvimento
Na conversa que garante ter tido com Dilma Rousseff, Lina Vieira diz ter sido instada a "agilizar" investigação da Receita Federal sobre o clã Sarney. À época da reunião - fins de 2008 -, o Planalto articulava apoio para eleger José Sarney presidente do Senado.
O que aconteceu
Sarney venceu a disputa para o Senado em 2009 e foi reeleito em 2011.
Sobre o Escândalo
Em agosto de 2009, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira contou ter sido chamada em fins de 2008 ao Palácio do Planalto para um encontro com a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na ocasião, Dilma teria pedido a Lina que concluísse rapidamente uma investigação do Fisco sobre a família Sarney, o que foi interpretado como uma orientação para encerrar o trabalho. A então pré-candidata do PT à Presidência negou o encontro, e o então presidente Lula desafiou a ex-secretária a prová-lo. Não havendo testemunhas, a única maneira de fazê-lo seria recorrer às imagens do circuito interno de segurança, mas as fitas haviam sido apagadas. O caso foi dado por encerrado, embora mais tarde Lina tenha apontado com exatidão a data do encontro (9 de outubro de 2008) e um funcionário do Palácio do Planalto tenha afirmado a VEJA que o governo escondeu imagens das câmeras de segurança.
Todos os envolvidos nos Escândalos Sarney

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

RAQUEL CÂNDIDO TINHA RAZÃO? ENTREVISTA AO RODA VIVA EM 29.07.1991

TODA A REALIDADE DE HOJE CONTADA NESSA ENTREVISTA À 22 ANOS ATRÁS
Jorge Escosteguy: Boa noite. Estamos começando mais um Roda Viva pela TV Cultura de São Paulo. A convidada desta noite é a deputada federal por Rondônia, Raquel Cândido. A deputada Raquel Cândido ganhou as manchetes dos jornais nos últimos meses, diante das acusações que fez na Câmara dos Deputados sobre o tráfico de drogas em Rondônia, envolvendo políticos com os cartéis de Medellín e Cali. Em maio a deputada foi agredida em plenário pelo deputado Nobel Moura, de Rondônia, também acusado de envolvimento. Ela tem sido ameaçada de morte, seu apartamento no Rio foi invadido e seu gabinete na Câmara foi arrombado e vários documentos queimados. Para entrevistar a Raquel Cândido esta noite, no Roda Viva, nós convidamos: Hugo Studart, repórter especial da Folha de S.Paulo; Mônica Teixeira, jornalista; Caco Barcelos, repórter especial da TV Globo; Percival de Souza, repórter especial doJornal da Tarde; Renato Lombardi, repórter do jornal O Estado de S. Paulo, Luiz Lanzetta, repórter de política do Jornal do Brasil e José Paulo de Andrade, diretor de jornalismo da rádio e comentarista da TV Bandeirantes. Também convidamos e está chegando agora, um pouco atrasado por problemas de trânsito, o Francisco Viana, editor da revista Isto É Senhor. Boa noite, deputada. A senhora teve uma audiência importante hoje em Brasília a respeito dessas denúncias de tráfico de drogas em Rondônia?
Raquel Cândido: Em primeiro lugar, eu tenho que agradecer a este programa, ao Brasil inteiro, e aos jornalistas, que poderão fazer todo e qualquer tipo de pergunta, sem que eu vá lá apagar a câmera ou ameaçá-los. Fiquem tranqüilos. Essa audiência hoje foi para mim surpreendente, eu não esperava.
Jorge Escosteguy: Com quem a senhora teve audiência?
Raquel Cândido: Eu tive a audiência, primeiro com o ministro da Justiça, em seguida com o presidente da República, e de volta da audiência com o presidente da República, me encontrei com o doutor [Romeu] Tuma [à época da entrevista, era diretor geral da Polícia Federal]. Gostaria de ter encontrado com os três juntos, mas tive reunião ao mesmo tempo com eles em horários diferentes.
Jorge Escosteguy: O que a senhora falou na audiência? Por que foi surpreendente? Do ministro para o presidente da República...
Raquel Cândido: Pelo seguinte: tinha mais ou menos quarenta dias que eu estava procurando essa audiência, e eu achava que estava acontecendo alguma coisa que não fazia com que eu chegasse até o presidente da República, alguma força muito poderosa, como é a questão do crime organizado, do narcotráfico. São forças ocultas que você não sabe de onde vêm. Eu falava com o ministro, tinha o problema da 296, tinha o problema da ida ao México, então as coisas estavam acontecendo. Até porque, também paralelo a isso, como aconteceram muitas coisas graves com relação a minha vida, a vida dos meus familiares, por incrível que pareça, eu fui bater numa embaixada americana, dizendo: “embaixador, eu respeito a sua bandeira, mas sou brasileira. Não gosto da forma como vocês tratam o meu país economicamente, mas como já fiz várias pesquisas em outros países para elaborar a parte econômica e mineraria do meu país indo à Austrália e ao Canadá, colhendo subsídios, gostaria de manter contatos com parlamentares do Congresso Americano para saber da legislação americana com relação ao narcotráfico e o orçamento, que é item dois, nos Estados Unidos, com relação à droga”. E também me preocupou que as sete poderosas [refere-se ao grupo dos então sete (G-7) países mais ricos e influentes do mundo, do qual faziam parte os Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido. Em 1998, a Rússia integrou-se ao grupo que passou a chamar-se G-8] que se uniram agora, há cerca de um mês, tenham colocado no seu item, a questão droga. Eu queria conversar, como vou à embaixada da Inglaterra, como vou à embaixada da Itália, perguntar por que faz parte do item das sete poderosas, caminhando para as oito, a questão droga. Portanto porque a América Latina não pode ficar sendo questionada, ela só, com a questão droga, enquanto a Europa, os Estados Unidos estão com esse problema em casa, estão questionando, e nós, da América Latina e do Brasil, em especial, que estamos próximos da América Latina, temos que questionar, inclusive, no orçamento, qual o orçamento para a Polícia Federal? Como é que está o problema da soberania na fronteira? Por que os laboratórios de narcotraficantes estão vindo para nossa fronteira? Enfim...
Jorge Escosteguy: Desculpe interrompê-la, deputada. Eu queria que a senhora retomasse um pouco o começo. A senhora ficou surpresa, porque estava há muito tempo querendo ter uma audiência com o presidente da República e não conseguia.
Raquel Cândido: É verdade.
Jorge Escosteguy: Aí aconteceu o quê, hoje? O ministro [Jarbas] Passarinho [à época da entrevista, era ministro da Justiça] lhe chamou ...
Raquel Cândido: [interrompendo] Aconteceu que o ministro me ligou...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] O ministro Jarbas Passarinho, da Justiça?
Raquel Cândido: ... às oito horas, e aconteceu nessa hora um fato interessante, eu não sei como e quem avisou para o deputado Jabes que eu chegaria naquele momento, e eu fui surpreendida ao sair do meu gabinete para ir ao ministério pelo deputado Jabes Rabelo e o seu motorista ...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Deputado Jabes Rabelo, que é um dos envolvidos nas acusações sobre o tráfico de drogas.
Raquel Cândido: Eu não sei, isso aí é um problema da Polícia Federal. Os irmãos, eu sei, hoje, sem sombra de dúvida. Eu acho que a comissão do Congresso corregedor chegará a essa conclusão, não sou eu que tenho que chegar. Então veja bem, fui surpreendida por ele e seu motorista. Lamentavelmente, o deputado Robson Tuma não estava no Congresso Nacional, e o deputado Jabes foi usar a vaga do deputado Robson Tuma. Naquele momento, eu falei para o meu anjo de guarda que é um policial federal, que só era um que estava cuidando de mim naquela hora, com o meu motorista, eu disse: “corre, corre para ver para onde vai esse carro”. Porque vinha um carro de Curitiba, na mesma direção, o deputado Jabes passou por mim, entrou no Congresso e o motorista estava armado, eu não sei se era segurança, eu creio que não, porque não sei se ele está sendo intimidado, e se dirigiu a esse carro de Curitiba. Então eu chamei o PM e falei: “veja que carro é esse”. Eles saíram fugindo, e eu fui para o Ministério da Justiça, nessa hora, graças a Deus, viva e inteira. E a Câmara não sabe explicar quem é, quem era o segurança. Ela vai talvez explicar, eu tenho certeza que vai apurar, eu aguardo.
José Paulo de Andrade: A senhora não é do partido do presidente, deputada Raquel Cândido?
Raquel Cândido: Não senhor.
José Paulo de Andrade: A senhora não é do mesmo partido?
Jorge Escosteguy: A senhora está sem partido?
Raquel Cândido: Não. Eu estou sem partido desde que o PDT, o PDT não, desde que o [Leonel] Brizola [à época, estava em seu 2º mandato como governador do Rio de Janeiro], o homem que mais eu respeito neste país, equivocadamente passou a desenvolver uma política para a Amazônia de não desenvolvimento e de despoluição da Guanabara. A Amazônia tem que ter uma alternativa econômica que não seja o narcotráfico. Não pode ser a da moto-serra, não pode ser a da moto-serra.
José Paulo de Andrade: Procurar o embaixador americano foi uma maneira de pressionar o presidente?
Jorge Escosteguy: José Paulo, desculpe, por favor. É que a deputada acabou não contando o mais importante, que foi a audiência com o presidente da República.
José Paulo de Andrade: Não, é que eu queria saber por que ela procurou o embaixador americano antes dessa audiência. Foi uma maneira de pressionar o presidente para recebê-la, como aconteceu hoje?
Raquel Cândido: Não, não, de maneira nenhuma. Eu acho que o presidente não pode ser pressionado por mim, mas sim pela sociedade e pelo Congresso Nacional. Eu sou uma deputada, não pressiono ninguém. Agora, cabe a mim também, como deputada federal, procurar estudos comparados de uma legislação que eu entendo ótima, nesse sentido. Quer dizer, de repente um cara fuma maconha com dez anos nos Estados Unidos, e o pessoal sabe que ele fuma maconha, ele tem direito de – porque as pessoas, os partidos tomam conhecimento – de pedir desculpa, e a população vota ou não nessa pessoa. Eu acho isso interessante. Por que ir procurar os Estados Unidos? Porque ele tem uma legislação também e tem ligações com a América Latina, segundo comenta-se, de invasão dentro do território nacional. Eu não quero isso para o meu país, mas quero saber também qual é a política dos nossos credores para desenvolver a Amazônia, qual é a política que existe de alternativa na Amazônia?
Jorge Escosteguy: Deputada, por favor, antes que a senhora retome, o mais importante a senhora ainda não disse, mas enfim, para esclarecer o telespectador, a deputada mencionou o deputado Jabes Rabelo, que estava hoje de manhã, ele é irmão de Abdiel Rabelo, um traficante que foi apanhado aqui em São Paulo com meia tonelada de cocaína. Abdiel Rabelo tinha, inclusive, uma carteirinha de assessor parlamentar, com a assinatura, parece que provada, do seu irmão Jabes Rabelo [cassado em 07/11/91, por ter emitido carteira de identidade da Câmara falsa em favor de seu irmão, preso e condenado por tráfico de drogas]. Mas eu queria que a senhora então voltasse à questão da audiência de hoje. Aí a senhora foi chamada pelo ministro Passarinho, e de repente o presidente da República resolveu recebê-la. Como foi essa conversa?
Raquel Cândido: Recebeu-me lá e passou mais ou menos a tomar conhecimento desse... Eu quero passar para o presidente a grande preocupação da Amazônia legal. [são] Dez mil quilômetros de fronteira despovoada, aberta. Os laboratórios de narcotraficantes peruanos, colombianos e bolivianos, vindo para o Brasil porque a repressão está muito grande dentro desses países. Eu não quero isso para o meu país, eu não quero essa vulnerabilidade de soberania, e quero saber o que ele tem como proposta. E outra coisa: dizer para ele se ele tinha noção da dimensão e se tomava conhecimento da dimensão que é o narcotráfico. E obviamente pedir uma garantia de vida ao presidente do país, que eu tenho que acreditar, que é a autoridade máxima estabelecida neste país, discutir com ele essa questão. Inclusive com relação ao narcotráfico, não com pessoas e Estado, mas como um crime organizado e que põe o pé nas instituições. Eu acho que é a instituição mais vulnerável, mais delicada, mas que decide. Porque de repente eu vi uma indicação do diretor da Polícia Rodoviária do estado de Rondônia, que foi nomeado por indicação do deputado do Jabes Rabelo, com a assinatura da bancada de Rondônia e do Acre, para ser o diretor da Polícia Rodoviária. Como é que passou o que foi pego – quinhentos e poucos quilos de cocaína – de Cacoal a São Paulo, e ninguém viu? Então eu quero dizer que não é só o poder legislativo, a minha instituição; o poder executivo estava representado pelo diretor do departamento rodoviário, está representado pelo diretor do Detran [Departamento de Trânsito] que foi nomeado, que era traficante, que a Polícia Federal.... O Ministério Público de Rondônia que começa a melhorar 100% na pessoa do doutor Lúcio Balbi, da doutora Ruth Diniz, da Zelite, porque não é elite, da doutora Zelite [Andrade Carneiro], e grandes promotores como o doutor [José] Osmar [de Araújo], começam a tomar uma nova visão de política dentro de Rondônia, diferenciada. Dão-me coragem, porque eles não estão sendo removidos, eles não estão sendo rebaixados, eles não estão pegando punição porque, de repente, fizeram e atuaram em flagrante. Podem nos remeter documentos como este que eu gostaria que você lesse depois para os nossos jornalistas; podem nos oferecer determinadas coisas. Existe alguma coisa em Rondônia que quer se sobrepor a esse tipo de alternativa. Então eu tenho que acreditar nisso.
Caco Barcelos: O presidente expressou a opinião dele para a senhora?
Jorge Escosteguy: O presidente disse o quê?
Raquel Cândido: O presidente começou a questionar, pôs a mão na cabeça, achava que a coisa não era tão profunda, passou a tomar conhecimento de algumas coisas, até porque não podem ser ditas a ele e nem ao doutor Tuma, e sim à CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] ou a pessoas que tomem providências da gravidade. Eu não posso falar mais do que eu já falei, porque eu acho que seria leviandade falar qualquer coisa sem provas. E tudo o que eu tenho para falar, eu tenho que falar com muito cuidado, porque daqui para frente as coisas são muito delicadas.
Luiz Lanzetta: A senhora disse hoje no Jornal do Brasil que o maior traficante, o maior bandido, nesse caso, está acobertado e que só seria denunciado lá fora, quando a senhora fosse ter contato nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra. Isso procede?
Raquel Cândido: Não, não procede. Agora eu quero dizer que o maior traficante do Brasil não é o Jabes Rabelo nem o Abdiel. Não vamos ficar na coisa pequena desse tamanho. Não vamos ficar com Rondônia.
Renato Lombardi: E quem é o grande traficante?
Raquel Cândido: Ah! Se eu soubesse, eu juro para você que eu já o teria procurado, não para prendê-lo, mas para denunciá-lo.
Renato Lombardi: Eu queria que a senhora explicasse. A senhora acusou ou falou sobre três deputados do seu estado, que teriam sido eleitos e que fariam parte ou estariam sendo auxiliados pelos narcotraficantes. A senhora foi procurada algum dia por algum narcotraficante para tentar... quer dizer, eles se aproximaram da senhora como se aproximaram de seus colegas de bancada na câmara federal?
Raquel Cândido: Por favor, como é o seu nome?
Renato Lombardi: Renato.
Raquel Cândido: Senhor Renato, em momento algum o senhor vai encontrar nas notas taquigráficas do Congresso Nacional, a nominação de deputado, fulano "A" ou "B". Mas o senhor vai detectar, por exemplo, que o deputado Maurício Calixto me intimida, falava que ia me matar, punha no seu jornal [Estadão do Norte], que é o de maior circulação, [a] desmoralização da minha família. E eu fiz no dia 14 de fevereiro, por escrito, esta denúncia: “não me intimide. Quanto o senhor quer para que eu não me meta nos seus negócios, porque eu nunca me meti neles. Deixe-me viva, eu quero trabalhar”.
Renato Lombardi: Por que ele desconfiava que a senhora tinha se envolvido nos negócios dele?
Raquel Cândido: Porque as ameaças eram tão diretas dentro do seu jornal, que eu nunca participei, e muitos políticos sérios de Rondônia não participaram, porque existe a chantagem. O crime organizado na Amazônia, não em Rondônia e na Amazônia legal, é detentor de parte dos meios de comunicação, de cadeias de rádio, de televisão. Eles podem tudo, compram tudo, fazem tudo.
Luiz Lanzetta: Quem são os políticos sérios de Rondônia, porque nesse caso sério em que a senhora está envolvida há uns oito meses já, mais ou menos, nenhum deles, pelo menos da bancada de oito, apenas três são nominados. E os outros, o que fazem? O governador de Rondônia, o que faz?
Raquel Cândido: Eu nunca nomeei, isso tem que ficar muito... Olha, eu estou surpresa com o governador de Rondônia. Ontem, na televisão, ele pediu – eu vi através do[programa] Globo Repórter, eu acho que vocês viram ontem –, o meu governador, que é filho de Rondônia, tem quarenta anos como eu, dizer que não sabe quem é quem em Rondônia. Dizer “socorro, venham aqui, me ajudem, porque o crime está aí”.
Luiz Lanzetta: O governador tem um assessor especial que era superintendente da Polícia Federal, e me lembro que fui lá há uns anos atrás, e ele já investigava naquela época o senador Olavo Pires, que acabou sendo assassinado [em 16 de outubro de 1990, ele foi executado com rajadas de metralhadora em frente à sua empresa, na região central de Porto Velho. O político disputava o segundo turno das eleições para o governo de Rondônia e liderava as pesquisas de intenções de votos].
Renato Lombardi: [interrompendo] Que é o [Arthur] Carbone, o delegado. Ele foi superintendente lá.
Luiz Lanzetta: Então foi um assessor especial que era da Polícia Federal, que era de lá, que ele já investigava, como é que ele não sabe?
Raquel Cândido: Bom, mas isso não é uma pergunta para ser feita para mim. Eu acho que, de repente, eu... Olha, eu propus, eu não apoiei o governador [Osvaldo] Piana [governou Rondônia de 1991 a 1995], porque ele me disse que não tinha coeficiente eleitoral e o meu partido, o PDT [Partido Democrático Trabalhista], não queria aliança com o PRN [Partido da Reconstrução Nacional] nem com o PTR [Partido Trabalhista Renovador], até aquela época em que não tinha a linha vermelha e nem a despoluição da Guanabara. Eu era impedida e presidia o PDT, portanto eu não podia me coligar a ele. Mas como ele é filho de Rondônia, meu conterrâneo, é o primeiro governador eleito por Rondônia, eu fui pedir para me coligar com ele, porque eu presidia um partido pequeno que é o PDT. E ele me disse: “Eu não tenho coeficiente eleitoral. Você está liberada para fazer qualquer coligação por uma camaradagem que eu tenho como filho da terra”. Agora ele não pode dizer, como ele disse, após as eleições, que eu não pedi a ele nem um cargo, que eu disse “não quero nenhum cargo, não quero participação nesse governo”. Mas eu lhe dei apoio, o único apoio que eu posso dar a um governo e ao meu estado, que é o da credibilidade na vida séria e na política independente de um mandato completamente independente, de apoio ao meu estado para que ele se soerguesse. Não pedi nada a ele, e esse homem cortou totalmente a relação comigo. Ele não fala comigo, ele não fala, o governador do estado não fala mais comigo! [fala com ênfase] Então eu acho que ou ele está sendo policiado ou ele está sendo surpreso, e ontem eu vi aquela declaração e vi um telex dele – pasmem os senhores – pedindo ao ministro da Justiça urgentemente proteção, de que ele realmente reconhecia que o crime organizado estava instalado em Rondônia. Agora ele é de lá! Esse jogo de Rondônia, que eu não quero ficar só nele, porque não nos interessa ficar só nos erros de Rondônia e nem pegar o Jabes, o Abdiel, o fulano da vida, para essa questão. Nós temos que discutir também a questão de como é que a cocaína está chegando no morro do Rio de Janeiro.
Hugo Studart: Deputada, o governador também está ameaçado de morte, lá?
Raquel Cândido: Nós temos que pegar o negócio aqui no asfalto, nós temos que saber por que [as cidades paulistas de] Presidente Prudente, São José do Rio Preto, está tendo o maior consumo hoje? Por que Minas Gerais é o terceiro estado em consumo de drogas?
Hugo Studart: Deputada, eu confesso que não compreendi. O governador de Rondônia também está sendo ameaçado de morte?
Jorge Escosteguy: Pelos novos traficantes?
Raquel Cândido: Ele disse ontem, disse lá no programa Globo Repórter, e disse num documento, já pediu segurança de vida, mas tudo depois do murro que eu tomei do deputado [e médico] Nobel [Moura, foi um dos primeiros políticos cassados por corrupção após a redemocratização do país, sendo expulso da Câmara Federal, em 16 de novembro de 1993. Também foi condenado por mandar matar um radialista do município de Machadinho do Oeste, interior de Rondônia]
Hugo Studart: Deputada, a senhora disse há pouco, que passou quase um mês tentando uma audiência com o presidente da República e, por algum motivo, forças ocultas nunca deixavam a senhora chegar ao presidente.
Raquel Cândido: É verdade.
Hugo Studart: Por acaso, existiria alguma conexão no Planalto, alguma conexão no governo com traficantes de drogas, como se descobriu há pouco lá na Argentina?
Raquel Cândido: Olha, eu acho isso muito leviano e irresponsável da minha parte. Sinceramente, se tem já lá dentro, a gente tem que investigar. E eu disse hoje ao presidente: “presidente, eu sou paga pelas pessoas que pagam imposto de renda para fiscalizar o legislativo, o executivo, o judiciário; e o senhor doutor Tuma, [para fiscalizar] a Polícia Federal, a Polícia Civil e a Polícia Militar. Então eu quero fiscalizar. Eu não posso denunciar, porque, quem tem que denunciar... Eu posso fiscalizar, mostrar; a Polícia Federal vai atrás. Eu seria leviana ao responder a sua pergunta e dizer que tem no Congresso. Eu acho que o presidente, de repente, tomou um monte de cautela, até porque o deputado Jabes tinha feito uma filiação no PRN no dia 26, que foi suspensa, graças a Deus, porque eu acho que era uma manobra de envolvimento. Eu quero acreditar, juro que eu preciso acreditar nisso de qualquer maneira. Agora Deus me livre! Ele hoje disse que não tinha noção da gravidade da coisa e que levaria a coisa a frente, chamou lá o doutor Tuma, disse que vai ter recursos para a Polícia Federal, porque estão se fechando superintendências em Rondônia e Ji-Paraná. Não tem um agente federal, por onde é a maior rota de tráfico em Rondônia, que não é Guajará-Mirim nem Cacoal, ou um centro distribuidor. São dez mil quilômetros de fronteira, nos quais Rondônia tem dois mil. O que há? A Polícia Federal está um ovo; os agentes ganham cento e vinte mil [cruzeiros]. Como é que eles vão correr atrás? No Rio de Janeiro, para você ter uma idéia, mataram, neste mês, nove policiais, de todos os tipos de polícia, e pegaram seus testículos e botaram na boca, trucidaram. Mas eu não quero que esse policial que vai subir para o morro, morra. Esse policial tem que pegar os caminhões como foi pego o do Abdiel, no asfalto. Por que não pega?
Jorge Escosteguy: Só tinha um caminhão do Abdiel, deputada? Tinha um zum-zum, parece que não era só um caminhão. Pegaram um, tinha mais dois, sumiram.
Raquel Cândido: Eu não sei, eu não sou polícia, meu querido. Eu não sei esse negócio de investigação, de quanto é, quanto foi, como que é. Não compete a mim. O que compete a mim é questionar a grande fortuna, e o que eu venho detectando num estado pequeno, como é Rondônia, na região Norte, é que essas grandes fortunas vão virando vultosas. Por exemplo, o Abdiel era o nosso Antonio Ermírio de Moraes [um dos mais bem sucedidos empresários brasileiros, é presidente do Grupo Votorantim]. Lá ninguém tomava nenhuma decisão sem falar com o seu Abdiel. Eu, graças a Deus, não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, até porque empresário nunca gostou muito de mim, sendo honestos ou desonestos, eles nunca gostaram de mim. Não é por uma opção do eleitorado que eu tenho feito na minha vida. Então lá, vamos tomar a bênção, era o padrinho, era o filantrópico, era o que fazia filantropia, é isso aí. Eu que sou filha cabocla de Rondônia não consigo ter avião. Ainda agora eu soube que vão botar no jornal que tenho uma fortuna de duzentos milhões de cruzeiros, que tenho uma casa no Guarujá – vocês estão convidados a ir para a minha casa no Guarujá, para conhecer. Eu tenho 12 anos de mandato, portanto eu sempre tive um bom salário neste país perante toda a sociedade brasileira. Eu não consigo ter um avião, eu sou de Rondônia, sou de Guajará-Mirim, de uma terra altamente focalizada. Eu tenho a oportunidade de conhecer quem é quem, os círculos, a minha cerne, os meus ossos foram feitos quando foi feita a estrada de ferro Madeira-Mamoré, com índios cambas bolivianos do outro lado. Portanto eu conheço a minha história. Como é que há essas grandes fortunas, como é que de repente isso tudo...
Caco Barcelos: [interrompendo] Deputada, os políticos de lá são eleitos com o dinheiro do narcotráfico, ou não?
Raquel Cândido: Olha, eu digo que é duro você ser direto na coisa. Existe uma...
Caco Barcelos: [interrompendo] A senhora já recebeu alguma proposta de narcotraficante?
Raquel Cândido: Não, mas vou lhe contar uma coisa sincera. Essa última campanha foi feita num emaranhado em que o PT não quis fazer coligação comigo, o PSDB quis fazer a sua eleição sozinho, o PMDB saiu com candidato. Eu não podia coligar com o PPR nem com o PRN, e sobrou o senador Olavo Pires. Em momento algum, veja bem, eu tomei o cuidado de pegar o doutor Tuma, antes de fazer a coligação, e perguntar: “doutor Tuma, o senador Olavo Pires é traficante? Por favor, se tiver [ligação] não deixa eu coligar com ele, porque eu só tenho isso, meu patrimônio”.
Hugo Studart: O que o Tuma respondeu?
Raquel Cândido: Ele disse: “Olha, oficialmente, dentro da Polícia Federal, não existe nenhum processo provando que o senador Olavo Pires é traficante”.
Hugo Studart: O que ele respondeu no ouvido da senhora, excepcionalmente?
Raquel Cândido: Não, nem oficial nem extra-oficial. A resposta foi essa, eu disse na frente dos dois e fiz a minha coligação. Porém fiz uma campanha como eu nunca tinha feito na minha vida! Uma campanha onde se impunham candidaturas de cima para baixo, por meio das nominatas [relação de nomes de políticos indicados pelos partidos para concorrer a uma eleição], que todos os partidos fizeram, tanto que o senador fez os oito deputados federais, e eu, do PDT, só pude ter nove mil votos, eu teria que ter sessenta mil para poder sobreviver politicamente. Mas fiz uma campanha no palanque dizendo assim: “não pode votar nos traficantes; trabalhador não pode votar em patrão, porque ele não assina carteira, não paga hora extra”. E o senador olhava para mim e dizia: “Eu não estou entendendo o que você está dizendo”. E eu dizia: “senador, eu estou falando com os meus concorrentes, eu não estou falando com o senhor”. De vez em quando eu levava um murro, enfim, aquele tipo de coisa que é a política em Rondônia. E fiz uma campanha dessa forma, você entende? Então é uma coisa muito difícil dizer se as pessoas são ou não. Tem que fazer um programa aqui, por exemplo, com o senador Odacir Soares, que disse num jornal lá do interior: “Odacir bate duro no Tuma porque não tem superintendência”. Por que o senador Odacir, que é líder do governo, que é um homem honrado, que eu acho que não é envolvido com o narcotráfico, que não precisa se envolver, que é um homem de competência, não abre a boca? Por que o senador é Amir Lando, que vive lá há vinte anos, que sabe dessa realidade, não fala nada? É medo?
José Paulo de Andrade: A senhora já brigou com o senador Odacir Soares por questões de terra, não é?
Raquel Cândido: Ah! Mas isso aí é uma questão diferente, já briguei e daí? Mas terra é uma coisa, terra é uma coisa.
José Paulo de Andrade: E a senhora na época sofreu o mesmo tipo de ameaça que está sofrendo hoje. O mesmo que a senhora...
Raquel Cândido: [interrompendo] Perdi um rim.
José Paulo de Andrade: Perdeu um rim, a senhora...
Raquel Cândido: [interrompendo] Perdi um rim, fui presa, fui torturada, fui tudo, mas é um cara que eu acho que não lida com o narcotráfico. Mas de repente ele precisa do jornal O Estadão, porque é o maior jornal de circulação. Ele não precisa disso, eu já disse isto a ele: “o senhor não precisa desse comprometimento”.
Hugo Studart: Estadão é do Maurício Calixto, que é um dos deputados que estaria envolvido com traficantes.
Raquel Cândido: Não sei, eu acho que a Polícia Federal e a CPI é que vão investigar isso.
Hugo Studart: Deputada, a senhora está com medo?
Raquel Cândido: Mas quem não tem medo desse crime que não tem face? Quem não tem medo? O medo não pode ser a arma dos covardes e dos cúmplices, não pode! Não pode sob pena de você falhar com a sociedade. Como eu disse, ao longo da América Latina e da Amazônia que está ficando sem alternativa. Fecha-se a Zona Franca, tem que medir tatu para poder caçar, não pode fazer roça. Levanta um contingente de imigrantes para lá. Vai fazer o quê, meu Deus do céu? Vai ser laboratório de refino de coca? Vai pegar aquela juventude trabalhadora do país e vai iniciá-la? Porque os grandes jornais têm que fazer pesquisa nos outros "brasis" que é a Amazônia, não só no Rio e São Paulo e dizer: “Aumentou em Minas Gerais”. Vai lá na Amazônia para ver qual é o sonho daquela juventude lá.
José Paulo de Andrade: E o seu marido Marius Guimarães [não encontrei nenhuma referência a ele]? Ele continua apoiando?
Raquel Cândido: Não, isso é um assunto pessoal, particular...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] Não, não, em relação a isso tudo. Parece que a senhora está...
Raquel Cândido: Eu perdi a coisa que mais eu amava nessa luta toda, como estou perdendo amigos e filhos, como perdi o companheiro. Eu prefiro não falar sobre isso. Isso é um problema que me constrange.
Jorge Escosteguy: Deputada, um minutinho, por favor, a mesma pergunta feita pelo Hugo foi feita pelo Etevaldo Alves e pela Maria Lourenção, aqui de São Paulo. O Percival e o Francisco depois, por favor, pela ordem.
Percival de Souza: Deputada, diante do que já aconteceu com a senhora, invasão do apartamento do Rio de Janeiro, invasão...
Raquel Cândido: [interrompendo] Essa é a última.
Percival de Souza: Invasão do gabinete, um soco na cara, na Câmara, a sua casa invadida lá em Rondônia, espalharam fezes nas paredes, um sítio da senhora invadido com bezerros degolados com as cabeças na porta. Isso até me parece história do Mario Puzzo, em O poderoso chefão [livro com a saga de uma família de mafiosos italianos que emigraram para os Estados Unidos, transformado em três filmes de enorme sucesso de crítica e bilheteria, dirigidos por Francis Ford Coppola]. Mas diante disso, eu pergunto o seguinte: a senhora está sozinha? A senhora está sendo apoiada? Como a senhora vê nesse momento a sua própria luta?
Raquel Cândido: Como é o seu nome?
Percival de Souza: Percival.
Raquel Cândido: Percival, deixa eu lhe dizer. Quando a gente faz uma opção na vida, Percival, eu já disse no programa do Jô, [Soares] eu sou Raquel Cândido sem nome de marido, pequeninha, com um metro e sessenta, com quatro filhos e que nunca tive pensão alimentícia. Fui motorista de táxi para não servir a ditadura, e fui a que mais eu ganhei dinheiro, porque não tinha taxímetro. E de repente eu fundei o sindicato e botei o taxímetro, mas já ganhava um dinheiro, porque o cara pagava a corrida sem saber quanto custava naquela época. Eu sou uma mulher que sofreu muito para chegar aonde eu cheguei, muito. Toda a minha luta, toda a minha vida pública foi feita com grandes embates, com promessas de campanha. Quer dizer, como é que se fazia a derrubada das casas do terreno do senador Odacir Soares com o meu colega e fraterno amigo Chagas Neto, que é grande empresário e que é um homem direito, sem se cumprir liminares, queimando as casas das mulheres dos garimpeiros. O marido ia para o garimpo, não ganhava dinheiro, ela ficava com uma barriga e quatro filhos. Tinham várias inscrições na prefeitura, só que não davam essas inscrições, porque o senador tinha as terras no nome da mulher dele, que estavam bem próximas do centro urbano. Então o que eu fiz? Fiz um levantamento desses inscritos na prefeitura e fundei o Movimento dos Sem-Terra com uma promessa de campanha. Nós vamos... como é que fala na Justiça?
Percival de Souza: Assentar.
Raquel Cândido: Não, nós vamos propor a desapropriação da função social. Fizemos isso com dez mil assinaturas, com a colaboração do doutor Magnus Guimarães, que foi meu companheiro de trabalho e de luta. Nós não éramos ouvidos naquela época, era o coronel Teixeira. Então não tinha ainda uma democracia bem estabelecida no meu território, que era sorteado, eu não sei se lamentavelmente ou não, com o Exército. Sempre foi o Exército, geralmente de cavalaria, que administrou o território de Rondônia. Então o que houve? Primeiro embate: formar o Movimento dos Sem-Terra como vereadora, uma promessa de campanha, ir à Justiça pedir a desapropriação, não conseguia; os primeiros movimentos populares indo ao fórum fazer as audiências. E na Câmara, isso me causava processos de cassação, porque eu era perturbadora da ordem – “onde já se viu uma mulher que era motorista...”. Hoje, por exemplo, dando prosseguimento ao que estou lhe dizendo, é dito na rádio do doutor Maurício que eu sou o satanás do Congresso Nacional, vinte quatro horas. “Raquel Cândido, o satanás do Congresso Nacional”. “Viva o deputado Nobel, o nosso Maguila”. Eu não trouxe a fita, mas poderia ter trazido para vocês. Então é dentro desse caldo que eu me fiz política, dentro do MDB [Movimento Democrático Brasileiro], como a vereadora mais votada. E fizemos a desapropriação de terra, na luta eu perdi um rim, a Alda me socorreu. Hoje eu tive uma feliz e agradável surpresa, São Paulo através das suas... a Rádio Bandeirantes ficou no ar enquanto queriam incendiar a minha casa, o Magnus estava lá nessa época. Existiam novos promotores assim como está sendo feito em Roraima, tudo encomendado: o governo manda chamar, “eu quero que passe esse no concurso”, “esse é que vai ser juiz”. Território é uma coisa terrível nessa transformação. E eu ousei ser vereadora naquela época, porque todo o Brasil estava fazendo eleição para governador, e o meu estado ia ser estado, mas não fazia eleição para governador, só para deputado e para senador, que era para ir para o colégio eleitoral para votar no Mário Andreazza [militar e político, foi ministro do Interior no governo Figueiredo] que era o candidato do [João Batista] Figueiredo [último presidente do regime militar, governou o Brasil de 1979 a 1985]. Depois eles traíram todo mundo e votaram para o doutor Maluf que, por sinal, eu respeito demais. Mas isso são histórias do passado.
Percival de Souza: Mas hoje a senhora está sozinha ou tem apoio na sua vida?
Raquel Cândido: Deixa eu lhe contar o que existe. O que existe é que esta mulher pequena conseguiu levantar um problema que a sociedade brasileira tem como tabu, porque tanto o high society, uma pessoa de elite, que tem um filho viciado, tem vergonha de dizer “meu filho é viciado”, como a mulher do povo, cujo filho rouba um botijão de gás para comprar a paranga [regionalismo de “maconha”] – como eles dizem – ou o feijão-com-arroz, em Rondônia, também não quer assumir. O que é o deputado para ela lá em Rondônia? Ele é o confessor. Ela chega e diz assim: “Deputada Raquel, meu filho está preso na Demec, porque ele roubou um botijão de gás da minha casa e do meu vizinho e ele estava vendendo drogas”. Eu vou falar com esse jovem. Mas existe também na elite já a cocaína viciando, só que essas pessoas têm padrão de vida para colocar o seu filho na clínica. Narcotráfico e droga são tabus; a sociedade não quer ver porque ela tem medo. Não é porque ela não quer ver porque ela não quer, ela tem medo. O que usa o narcotráfico? O terror, a intimidação e a morte. Ninguém pode falar. Então o que está acontecendo diante da sua resposta? Vocês da imprensa, pela primeira vez, estão dando a uma deputada lá do norte do país – o que é raro, porque é uma bancada de oito – a credibilidade de um problema que é de todos nós, que é de toda a sociedade, e que é muito mais da Amazônia como uma alternativa econômica. Se eu disser para você que eu recebo quarenta cartas do Brasil hoje, até do pai-de-santo que diz: “olha, eu quero ir lá lhe benzer”; do cara que diz: “aqui tem não sei o quê”. O povo está fazendo esse levante, que é o Congresso Nacional, para ele se movimentar. E existe um silêncio dentro do Congresso, que eu diria que não é um silêncio pernicioso do que não se vai fazer, mas existe um medo. Percival, as pessoas que acreditam que tem que tocar no assunto dizem para mim assim: “Cuidado, Raquel, que é perigoso”. O cara que é traficante, que vive disso, diz: “Olha, cuidado, que você vai morrer”. Então é tudo muito cuidado, para não tocar no assunto.
Jorge Escosteguy: Deputada, o Percival perguntou se tem alguém com a senhora? Por exemplo, o Tadeu Moreira, lá de Fortaleza, telefonou querendo saber justamente se tem algum deputado da sua bancada, por exemplo, do seu estado, que está ao seu lado?
Raquel Cândido: Eu preciso ser bem sincera. Depois que aumentou e houve essa pressão, [por causa] dessa grande quantidade de cocaína, eu só recebi um telefonema de um deputado. Eu seria injusta se não falasse no Moroni [Torgan], que está sendo também o “Dom Quixote de La Mancha [Referência ao personagem principal do livro El ingenioso hidalgo Don Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. A obra deu origem ao termo “ quixotesco” que se aplica tanto a pessoas consideradas sonhadoras, quanto às que se envolvem constantemente em conflitos]”, é um gaúcho bom de briga, mas...
Percival de Souza: Que é delegado da Polícia Federal.
Raquel Cândido: E que, graças a Deus, surgiu essa coisa nova lá, embora eu tenha as minhas restrições e tivesse muito mais com relação à polícia. Mas esse cara está dizendo a que veio. Ele não é político, é uma pena, ele ainda não é político. Ele é mais delegado do que político, mas é um cara sério.
Renato Lombardi: E nessa oportunidade está se vendo mais um policial do que um político.
Raquel Cândido: Não sei. Eu acho que nenhum político faria o que o Moroni está fazendo.
Renato Lombardi: O que ele está fazendo, porque ele é um policial.
Raquel Cândido: Porque ele sabe, porque ele conhece, porque é a área dele, ele é especialista. Então, veja bem, Percival, só dois deputados me ligaram – respondendo à pergunta – dois. O Agostinho Valente do PT, que é da nossa CPI, um cara seriíssimo, de Minas, e o Moroni.
José Paulo de Andrade: E São Paulo, nenhum deputado de São Paulo?
Raquel Cândido: Deputado? Não, do Rio de Janeiro só...
Hugo Studart: [interrompendo] São sessenta em São Paulo.
Raquel Cândido: ... a Bené [apelido da então deputada pelo Rio de Janeiro, Benedita da Silva].
Jorge Escosteguy: Francisco Viana tem uma pergunta para a senhora.
Francisco Viana: A senhora vai me permitir questionar as suas boas intenções. A senhora falou recentemente, há poucos minutos, que foi se aconselhar com Romeu Tuma sobre o perfil do senador Olavo Pires. Bem, é sabido que desde 1987, a polícia estava no encalço de pistas em torno do Olavo Pires, inclusive o piloto dele foi preso aqui em São Paulo com 47 quilos de cocaína. Outra coisa, pelo currículo que a senhora mesma traçou da sua trajetória, a senhora conhece Rondônia como a palma da mão.
Raquel Cândido: Mais ou menos.
Francisco Viana: A minha pergunta é a seguinte: se a senhora realmente desconhecia, não sabia do que acontecia, ou se naquele momento politicamente era tático fechar os olhos?
Raquel Cândido: Era a única. Não, não era fechar os olhos. Era a única tática; primeiro para o PDT ter o primeiro mandato limpo, honesto, com a cara que o PDT precisa ter no Brasil, na pessoa do Brizola, que é probo. Ele pode ter todos os defeitos, para mim ele é ingrato, mas ele é probo e sério. Eu acredito nisso. Era a única, porque o PT não quis, as atas estão aí, o PSDB não quis, o PMDB não quis, ninguém quis.
Francisco Viana: Mas não é essa a minha pergunta. A minha pergunta é se a senhora fechou os olhos por conveniência ou se a senhora não sabia ingenuamente o que estava acontecendo?
Raquel Cândido: Pelo contrário, eu fiz a campanha dizendo, em cima do palanque do senador Olavo Pires, e acho que ele é que não queria enxergar o que eu dizia: “não se vota em traficante, trabalhador não pode votar em patrão”. Ele dizia: “Mas com quem que a senhora está falando”? “Eu estou falando com os meus concorrentes, senador”, e eu dizia o meu discurso. Eu acho que de repente eu fui naquela época o que uma mulher é sempre na política nacional, e que pensaram que eu seria um adorno simples, e que me elegeria e ficaria envaidecida com isso. Não recebi do senador Olavo Pires um santinho, não participei de nenhum... nem o meu santinho foi para o jornal dos Calixtos, nem pagando.
Francisco Viana: Então a senhora admite que em algum momento de sua trajetória, como aconteceu na Colômbia, a senhora se associou politicamente aos traficantes como plataforma?
Raquel Cândido: Não admito, não admito, não admito. Nunca eu tive certeza, nunca vi, mas cheguei a dizer para o senador, lá nas conversas, o que eu sentia: “olha, vocês matam eles ou eles [matam vocês], eu não entendo desses crimes de vocês aí. Eu tô fora. Eu quero saber dos meus minutos de televisão, senador”. Isso eu falo no palanque, isso eu posso fazer o meu discurso. Eu só sei disso.
Mônica Teixeira: Deputada, eu queria mudar um pouco de assunto. A senhora abriu o programa dizendo, aliás, olhando para a câmera, que não iria nos ameaçar, que não iria impedir o trabalho do câmera, não iria tampar a lente. E eu fiquei me perguntando, primeiro, por que a senhora disse isso, que me surpreendeu. E a segunda coisa é se isso, de alguma forma ,está relacionado a perfis da senhora que foram publicados nos jornais, por exemplo, O Estado de S. Paulo e a Folha, dando conta de que a senhora já agrediu muitas vezes pessoas, inclusive, sua própria filha fez uma queixa uma vez numa delegacia de Brasília, de que tinha sido espancada pela senhora; [o caso] de um vigia da Câmara porque [lhe] pediu uma credencial, enfim...
Raquel Cândido: [interrompendo] Da Câmara?
Mônica Teixeira: Da Câmara, porque pediu...
Raquel Cândido: [interrompendo] Da Câmara Federal?
Mônica Teixeira: Da Câmara Federal, porque pediu uma credencial.
Raquel Cândido: Muito bem. Eu disse isso porque o SBT – todo o Brasil viu – foi ameaçado pelo deputado Jabes. Eu quero lhe dizer que eu não sou uma mulher de levar desaforo para casa. Aliás, eu recebi o “prêmio limão”, eu e o Mário Covas [governou São Paulo de 1995 a 2001], recebemos o "prêmio limão" na Constituinte, porque somos azedos. Eu não posso admitir de maneira nenhuma, por ser pequena e estar com jeans, e não estar posando de deputada com pompa e carteira na mão, que um segurança da casa olhe para mim, às 14 horas, com uma emenda constitucional, que tinha que ser trabalhada sábado e domingo. E eu dizia para ele: “o senhor me dá licença que eu tenho que ir ao meu gabinete”, com um presidente de um sindicato que presenciou a cena. Ele dizia: “Gracinha, eu não conheço você como deputada”, com os pés sobre a mesa...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Mas isso justifica a senhora dar um tapa nele?
Raquel Cândido: Justifica no momento em que eu, como mulher, que representa alguma coisa... o sujeito pega onde não deve pegar...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Sei, eu já vivi exatamente essa situação e eu não dei um tapa na pessoa que fez isso comigo.
Raquel Cândido: [...] quem sabe é porque você é uma pessoa muito mais passiva, eu não. Eu fui mãe solteira e fui à luta competindo com salário igual de homem. Então, quem não tinha nada com a história se levantou e disse: “Olha, cale a boca, deputada, porque eu só conheço como deputado desta casa o deputado Ulysses Guimarães [(1916-1992), histórico político peemedebista, foi presidente da Assembléia Constituinte organizada em 1986]”. Eu disse: “olha, fica quieto que tu vai conhecer outra deputada de outro jeito que você..., não quer minha carteira”, e dei o tapa. Não vou negar que dei o tapa. E digo mais uma coisa... minha filha, minha filha que não deu queixa na polícia, que é mentira da imprensa...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Os dois jornais publicaram, por isso que eu citei.
Raquel Cândido: Mas é mentira da imprensa. Procure o registro disso. Aliás, os narcotraficantes começam batendo pela desmoralização, e tudo começou por causa dessa nota. E eu vou contar para o Brasil exatamente,ipsis literis [literalmente], o que aconteceu. Eu tenho uma filha, que é advogada e que faz sociologia, e que namorava um diagramador no Rio de Janeiro. Coincidentemente, colega de vocês, ganhava muito mal [risos], era diagramador lá do Jornal do Brasil...
Raquel Cândido: Trabalhava lá e se apaixonou pela minha filha. Durante o período do recesso, a minha filha, que é estudante de direito, que faz sociologia, gastou cem mil de telefonemas para o namorado. Acontece que eu só tenho trinta mil de cota da Câmara. E a minha filha pode ter trinta ou vinte anos, é advogada e está fazendo sociologia, ela tem que ter bem noção de que aquele dinheiro é do povo, e que eu preciso ter trinta mil de cota para falar com alguém. E eu cheguei lá e tinha cem mil de conta telefônica. Eu mandei chamar a minha querida Luciana, minha amada Luciana e disse: “Luciana, isso não está justo”. Ela, no alto dos seus vinte anos, de doutora em advocacia, obviamente já com o pescoço bem alto, disse: “Olha, mamãe, eu não quero conversar”. Foi ao banco e pegou os cem mil cruzeiros e jogou em cima da minha mesa e disse: “Está aqui essa merda”. Eu disse: “Não, não [fazendo o gesto de não com as mãos]. Filho meu, no meu tempo e no meu modo de pensar, não pode se dirigir assim. Você vai sentar aqui e nós vamos discutir”. Quis falar de outra forma, minha filha? É minha filha, eu criei. Eu nunca fiz isso com a minha mãe, pode ser que eu seja quadrada, você está entendendo, mas eu acho que isso...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Sim, deputada, mas onde eu quero chegar não é nessa história pessoal, que eu acho inclusive que é pessoal, né...
Raquel Cândido: [interrompendo] Mas eu estou contando...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Pareceu ser, da leitura dos jornais, que é um comportamento da senhora, que pode, inclusive, justificar a quantidade de inimigos que a senhora parece que tem granjeado. Então eu me pergunto até que ponto os inimigos que a senhora tem estão efetivamente ligados ao tráfico de drogas e às denúncias que a senhora tem feito, ou então a uma inimizade pessoal que a senhora conquistou e que a senhora traz de Rondônia para o Congresso Nacional?
Raquel Cândido: É, eu prefiro ficar com a sua pergunta, quem sabe o Nobel bateu, porque ele é meu inimigo pessoal.
Mônica Teixeira: Não sei, eu estou perguntando.
Raquel Cândido: Quem sabe, porque eu dizia naquela hora: “presidente, eu estou sendo ameaçada, tem mil olhos olhando aqui, e se o senhor não me proteger eu vou ser morta”. Eu nunca tive nada contra, foi a primeira vez que eu denunciei o deputado Nobel, de usar o lenocínio [ação de explorar, estimular ou favorecer o comércio carnal ilícito, induzir ou constranger alguém à sua prática], naquela hora como instrumento de defesa. Mas eu fico com você, para que discutir isso [sorrindo ironicamente].
Caco Barcelos: Deputada, qual prova que a senhora tem contra ele?
Raquel Cândido: De quem?
Caco Barcelos: Contra o deputado Nobel.
Raquel Cândido: O Nobel, pois eu acho que a Bené vai provar isso melhor do que eu. Ela está fazendo a comissão de esterilização...
Caco Barcelos: Mas a senhora é que o está acusando.
Raquel Cândido: Não, o lenocínio? Ele fez mais de oito mil esterilizações e foi para as câmeras de televisão, durante a campanha, e dizia: “olha, se você tem tantos filhos venha aqui”...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Mas isso não é lenocínio.
Raquel Cândido: Calma, calma, minha filha. Mas ao mesmo tempo, ao meu entender, quem tem uma cadeia de motel e propicia esterilização, isso é na minha interpretação, não é lógica, não está no direito. Mas quem fulmina [querendo dizer estimula] você engravidar e você esterilizar está sim abusando de você como mulher. Está sim, e isso ele tem. Ele não pode negar, a campanha foi feita. E o pior, a esterilização era feita assim: “Eu estou te ponteando [fazendo o gesto como se estivesse costurando o abdômen], qual é o meu número? Você vai votar em mim, não vai (...)”.
Mônica Teixeira: Mas isso não é lenocínio, eu acho que volta a pergunta do Caco. Que provas a senhora tem contra o deputado Nobel, que mostre efetivamente que ele pratica o lenocínio?
Raquel Cândido: Eu acho que isso é na minha interpretação. Não é na sua.
Caco Barcelos: E com relação ao tráfico que está lá no Congresso, que a senhora falou?
Raquel Cândido: Nunca, eu nunca falei de ninguém. Eu acho que pessoas são traficantes, que existem pessoas que estão sendo comprovadas, e que vai ser muito fácil dizer “eu não sou traficante, quem é traficante é o meu irmão, é o meu pai, é meu parente, é minha avó”. Agora esse dinheiro ajudou na minha campanha. De repente eu acho que isso pode acontecer, já aconteceu uma vez.
José Paulo de Andrade: Mas quando a senhora foi agredida, parece que o machismo falou mais alto na Câmara. Eu me lembro até de uma entrevista do deputado Roberto Cardoso Alves, em que ele perguntou qual era a violência maior: um deputado ir para a tribuna e chamar o outro de traficante ou de cafetão, que foi o caso, foi mais ou menos isso que saiu de lá, ou então o safanão. Quer dizer, houve esse tipo de [intriga?]. A senhora teve alguma solidariedade dos homens?
Raquel Cândido: Eu quero dizer uma coisa importante para vocês aqui. O Congresso Nacional é altamente majoritário com homens. Nós somos 36 mulheres, uma minoria absoluta e que veio dessa vez, eu diria, com menos vivência política. A Cristina Tavares  não está lá, de repente a Moema não está lá, várias. Eu tenho a Cristina, assim, como a porta-estandarte do Congresso Nacional, enquanto mulher, no sentido de cidadania em pé de igualdade. Então o Congresso se renovou em 73%. E o que existe lá? Trinta e seis companheiras, que estão pelo primeiro mandato, a grande maioria, nunca fizeram política. Estão lá a mulher do fulano, a mulher do beltrano. Eu não tenho nada contra, foram excelentes primeiras-damas, fizeram filantropia, estão lá pelo seu valor, mas é diferente de alguém que faz uma escola vocacionada e que vem de vereador, obviamente que é diferente. Então o Congresso Nacional tem um microfone de apartes, o da direita e o da esquerda. Quem faz a cobertura no Congresso sabe disso. Então você tem uma barreira ali de homens, vamos supor, como nosso querido [Nelson] Jobim [jurista e político brasileiro, participou dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte e presidiu a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação da Câmara dos Deputados, em 1989], o [deputado] Octávio Elísio [também foi um dos constituintes], de um metro e oitenta. De repente você tem que mergulhar por baixo deles, é uma questão de ordem, porque ali você tem que participar de alguma forma, principalmente nas grandes questões, para não ficar só na educação, não ficar só na assistência social. Porque de repente se a mulher começar só a discutir o social sem o econômico, aí fica naquela de que o cerebelo da mulher não funciona igual ao do homem, é um negócio horroroso, e não é verdade. Isso não é verdade. Então para que você se estabeleça plenamente como uma parlamentar, exercendo o seu mandato, isso é no palanque, você leva cotovelada, te derrubam, porque a maioria dos partidos te dão a vaga para dizer: “olha, está aqui a mulher bonita, engraçada, vai falar das crianças”, e que é ótimo, que nos diz respeito. Mas nós temos capacidade e temos provado isso, com uma força maior do que os homens, que é inevitável até porque nós somos parideiras da vida...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] Mas nesse episódio aí, a senhora se sentiu discriminada como mulher?
Raquel Cândido: Mas isso é óbvio! [falando com ênfase] É só você ver o flash da fotografia, na hora em que eu levava o murro, tinha seis companheiros de braço cruzado lá e o pau estava comendo. Então na hora em que eu caí é que seguraram meu colega. A minha companheira aqui até acha que deve ser em função da minha – não é minha companheira, é a jornalista aqui – personalidade. Quem sabe eu deveria ter apanhado mais, eu não tinha uma bolsa ali, se eu tivesse uma bolsa eu tinha me defendido.
Mônica Teixeira: Não, eu não acho absolutamente que a senhora devesse ter apanhado mais, de maneira nenhuma.
Raquel Cândido: Porque eu levei dois socos ali, quer dizer, eu precisava ter ao menos uma bolsa ali para dizer: “olha, não me bate tanto”. Porque eu não sei apanhar como você, juro para você.
Mônica Teixeira: Eu nunca apanhei.
Caco Barcelos: É verdade que a senhora já bateu também num juiz e num repórter?
Raquel Cândido: Não, não é verdade. Juiz não, mas um promotor que me algemou o pé e mão, eu sendo uma constituinte, eu mordi na barba dele. Nós fomos presos juntos.
Caco Barcelos: Mordeu?
Raquel Cândido: Ah! Mordia sim, eu não podia bater, porque eu estava algemada, e ele disse: “Eu não conheço a senhora” – depois que eu cheguei na polícia – “eu não sabia que a senhora era deputada”. Eu mordi, e ele até viu, eu fiz uma entrevista, enquanto ele olhava para cima, eu chutei naquilo que é roxo dele para poder correr. [risos]
Renato Lombardi: Deputada, a senhora falou do governador, que para ele foi uma surpresa o narcotráfico se instalando em Rondônia. E o prefeito de Porto Velho? Qual é o seu problema com o prefeito de Porto Velho, senhor Francisco Chiquilito [Erse]?
Raquel Cândido: Eu não tenho problema. Olha, Chiquilito é um colega meu como foi o Piana, em classes diferentes. É uma pessoa que eu..., até disse para ele, e se ele fizer justiça um dia na vida dele... Eu trabalho no gabinete do Chiquilito, de tanto que eu o admiro. Eu disse a ele: “Chiquilito, você é a maior liderança do meu estado e a pessoa em que mais eu confio. Eu quero dividir a metade do meu salário de constituinte com você, mas não quero que você faça determinadas coligações”.
Renato Lombardi: Quais são as coligações que ele faz?
Raquel Cândido: Por exemplo, ao ser prefeito, ele foi, ele precisou também naquela hora, do dinheiro...
Renato Lombardi: [interrompendo] Do dinheiro do narcotráfico também?
Raquel Cândido: Eu não sei se do narcotráfico, mas o senador Olavo Pires fez a campanha do deputado Olavo Pires [equivocando-se, pois talvez quis dizer Chiquilito]. E o Chiquilito é um caso tão querido no meu coração, que é quase como um filho meu. Eu não gosto de falar do problema dele, porque é um problema diferente do narcotráfico, e que faz com que as pessoas fiquem daquele jeito.
Francisco Viana: Agora, deputada, ele diz que a senhora não deve ser levada a sério. O que ocorreu entre essa amizade tão fraternal para se chegar a esse tipo de colocação da parte dele...?
Raquel Cândido: [interrompendo] Eu sempre tive essa amizade. Então, mas eu não sei, eu acho que isso tem que ser perguntado a ele. Eu sou ética, eu gosto do Chiquilito como eu gosto de qualquer "bicho grilo" que existe na cidade e que vive por aí, coitado, sem saber o que está acontecendo.
Renato Lombardi: Agora a senhora fez uma dobradinha com o senador Olavo Pires e ele foi assassinado. Para a senhora foi o quê? Queima de arquivo? Os narcotraficantes resolveram matar o senador por que estava na hora? Como é que é isso? O que a senhora apurou sobre isso?
Raquel Cândido: Não sou eu que explico isso. Eu não apurei, porque eu não sou polícia para apurar nada, eu não sou polícia. Eu acho que estão lá, a Polícia Civil, a Polícia Federal, o Ministério Público, por que não apuram? Eu é que pergunto. Eu não sou polícia para ver isso.
Percival de Souza: Agora, deputada, eu li uma declaração sua, na qual a senhora afirma que 90% das grandes fortunas da região Norte do Brasil são forjadas através de fachadas e são fortunas obtidas através do narcotráfico. Eu queria saber se essa menção coincide com uma declaração do ministro da Aeronáutica na Comissão de Segurança da Câmara ou é uma outra informação que a senhora possui?
Raquel Cândido: [ela retira algum documento de uma pasta com papéis que mantém sobre as pernas] São duas informações. A primeira é com base nessa, do ministro da Aeronáutica, na página nove do documento da Aeronáutica detectado. Por que existe isso? [são] Declarações do ministro, porque ele chegou a essa conclusão. É preciso dizer que eu não defendo militar, não tenho nada com eles, mas eles estão todos mal, como está a sociedade brasileira, e eles são defensores da nossa soberania e têm alguma coisa em comum comigo, que sou da fronteira. Eu acho que fronteira diz respeito à Aeronáutica, à Marinha. Eu acho que são atribuições que nós determinamos a eles. Então, o que tem neste documento? É que existem mil campos de pouso, mil campos de pouso clandestinos, duzentos aeroportos, cinco mil vôos clandestinos, que podem sair com cinco mil toneladas de cocaína ou narcotráfico...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] Nós temos uma estatística completa, não é deputada?
Raquel Cândido: E não tem um radar na Amazônia, com detector, que possa saber o que sai com metal e o que sai com cocaína.
José Paulo de Andrade: Agora nós sabemos tudo o que tem, não é? Quantos campos de pouso clandestinos...
Raquel Cândido: [interrompendo] Então, veja bem, são declarações dele, e ele diz mais, e ele tem razão. Desconfia-se, tem-se quase certeza, de que as grandes fortunas daquela região que é a Amazônia [parece ler o documento que havia retirado da pasta] são fachadas mascaradas de atividades que envolvem o tráfico de drogas e o contrabando de metais. Eu estou com ele em tudo: gênero, número e grau. Agora eu quero perguntar para ele, que não tem um radar, que não pode fazer nada porque tudo vai destruir a ecologia, o que ele está falando para o presidente dele? Isso é verdade, isso é a mais absoluta verdade. A fronteira está desguarnecida, não tem superintendência, não tem agente, não tem Aeronáutica, não tem mais Marinha, e o traficante está sabendo disso. Por que está havendo esse esvaziamento desses órgãos naquela área e dando lugar para outro tipo de coisa?
Jorge Escosteguy: Deputada, por favor. Nós vamos precisar fazer um rápido intervalo, o Roda Viva volta daqui a pouco entrevistando hoje, a deputada por Rondônia, Raquel Cândido. Até já.
[intervalo]
Jorge Escosteguy: Voltamos com o Roda Viva que hoje está entrevistando a deputada federal por Rondônia, Raquel Cândido. Deputada, durante quarenta e cinco minutos do primeiro bloco, discutiu-se muito narcotráfico, as suas acusações; um perguntou se tinha provas contra o senador Olavo Pires, se tinha prova do outro. Enfim, a senhora falou muito sobre o problema, mas quando chega na hora de [dizer se] o deputado é traficante ou não é, o senador era ou não era, a senhora não sabe. Então o telespectador, por exemplo, o Nelson Siqueira pergunta se a senhora só fala e não tem provas; o Luiz Carlos Vieira, aqui de São Paulo, também telefona e pergunta por que a senhora demorou tanto para fazer essas denúncias já que está em Rondônia, nasceu em Rondônia, tem quarenta anos de vida em Rondônia. Afinal, além do que nós sabemos, ou seja, que o tráfico vem da Colômbia, passa pelo Brasil, passa pelo Norte, vem por São Paulo, aqui é distribuído, vendido, etc, o que a senhora sabe sobre o narcotráfico? O que pode contribuir para desmantelar essa rede? Quem são as pessoas envolvidas afinal no narcotráfico?
Raquel Cândido: Eu comecei o programa dizendo que eu sou deputada federal. Eu tenho que fiscalizar, denunciar, propor e legislar. Eu não sou xerife, delegada de polícia. Eu não posso prender ninguém. Não posso ser leviana para dar nomes de quem... O que é o narcotráfico? Como é que você pega o traficante? Com a mão na botija. Você não pode dizer que fulano é traficante, sem ter provas. O que eu disse e volto a afirmar é que o narcotráfico está instituído nos poderes do nosso país com assento no Congresso Nacional...
Jorge Escosteguy: Mas como é que a senhora sabe disso?
Raquel Cândido: Eu fiscalizei isso, fiscalizei isso! Agora se o telespectador acha pouco que um irmão de um deputado teve 563 quilos de cocaína [apreendidos] e não serve como elemento de comprovação, então ele que venha nos ajudar também a dar nomes. Porque não sou eu que tenho que dar nomes, eu tenho que fiscalizar, procurar, comprovar, ir atrás, e a Polícia Federal é que tem que comprovar esses fatos.
Percival de Souza: Agora, deputada, para não frustrar os telespectadores, eu formularia uma questão, digamos, quixotesca. Sem que a senhora precise dar nomes, mas mencione situações. Se por hipótese a senhora fosse chamada imediatamente, outra vez, pelo presidente da República, pelo ministro da Justiça e pelo diretor-geral da Polícia Federal, [e eles lhe  perguntassem] “o que nós podemos fazer na região para acabar com o narcotráfico?”. Que rumos a senhora indicaria?
Raquel Cândido: Aliás, essa pergunta hoje foi suscitada.  Mas, veja bem, eu sou uma pessoa que não sou dona da verdade, a bancada da Amazônia tem 73 parlamentares. Existe e terá que existir, e quem disse isso a mim, esta semana, foi um grande sábio, o Barbosa Lima Sobrinho [(1897-2000), jornalista, advogado, escritor e político, participou ativamente de importantes episódios da vida política do Brasil], sobre o planejamento de atividade econômica legal como alternativa para a Amazônia. Essa questão ecológica, louca, que tem que medir tamanho de tatu, tamanho de peixe, não pode fazer um assado, está levando essa economia informal criminosa a se estabelecer como uma alternativa na Amazônia.
Mônica Teixeira: Qual é o projeto da senhora para a Amazônia, deputada?
Raquel Cândido: Eu tenho o projeto Transfronteira [tornou-se projeto de lei no Senado alguns anos depois da entrevista, sob o nº06/97), mas foi arquivado com base no parecer contrário do relator, senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que o julgou inviável por falta de recursos públicos para sua execução], está aqui na minha mão. Essa foi uma boa pergunta. Eu fiz o projeto Transfronteira, vou lhe falar sobre ele, que é uma alternativa, a meu ver, para não ser só a militarização na Amazônia também, que é uma coisa questionável, Calha Norte [O Programa Calha Norte assegura a presença do Estado brasileiro, representada pelas Forças Armadas, nos limites da região amazônica, cuja fronteira terrestre se dá com os seguintes países: Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa]. Então coloca-se um pelotão ao longo da fronteira, que é necessário, porque dizem ser atribuição das Forças Armadas, mas levam-se hospitais. Não tem um monte de sem-terra brasileiro que não tem onde plantar? Faz-se lá um estudo ecológico de desenvolvimento sustentável e coloca-se esse homem, do Paraná, o gaúcho, e separa o que é mineração e terra indígena, faz um projeto de legislação de terra indígena, deixa o índio ganhar o seu royalty lá. Não polui, não acaba com os rios, faz uma mineração que não polua. É minha culpa, minha máxima culpa, porque fui eu que propus a emenda de cooperativa de garimpeiro. Foi um equívoco meu e eu tenho condição de dizer isso publicamente. As cooperativas estão manipuladas, o minério acaba e esse homem se torna um viciado. Isso é uma realidade. Eu fiz parte disso, porque eu pensei que brasileiros garimpeiros pudessem tomar consciência e não se tornarem nômades, através de cooperativas sérias. Foi um equívoco meu. Eu sou autora do Código de Minas, também eu não sou só que fico... Sou co-autora do Código de Defesa do Consumidor, tenho um projeto Transfronteira que está na Comissão do Meio Ambiente, em que há uma emenda ao Calha Norte que diz: “Vamos colonizar, povoar a Amazônia!”. Porque a cobiça internacional está aí, quer pegar, quer acabar com a Zona Franca que é o tambor do desenvolvimento, que só parafusa [faz o gesto de que está usando uma chave de fenda] televisões, mas que gerou emprego para o caboclo. Qual é a alternativa? Acaba a Zona Franca, vai fazer o quê? Em Rondônia não pode ter agropecuária. O Plano Flora está lá, eu defendo o Plano Flora do Piana. Eu não defendo com esse secretariado que ele tem aí, porque eu não acredito nele. E o governador vai ter que dar várias explicações também de determinadas coisas, porque eu começo a fiscalizar o governo do estado de Rondônia a partir de agora... Alternativas existem para a Amazônia: tem as várzeas, tem os campos, tem tantas alternativas. O presidente Collor não está trazendo um monte de fábrica de automóvel, Toyota... Por que só fica em São Paulo, Rio e Minas? Por que não levam uma fábrica dessas, montadora, para a Amazônia, ensina o caboclo a fazer alguma coisa? Por que nós não podemos tomar leite, comer carne, termos proteína, para sermos uma raça igual à de São Paulo, do Rio Grande do Sul? Nós só temos que comer jatuarana [espécie de peixe] com farinha, agora nem isso pode mais. Então, tem que haver um planejamento, um desenvolvimento econômico para a minha região – pelo amor de Deus ! – para não ficar sendo isso que está acontecendo aí: os garotos vendendo mela [ou merla, conhecida também como crack], [feita a partir da] borra de cocaína, mas antes se viciando. Isso vindo para São Paulo, vindo para o morro no Rio de Janeiro, vender isso só. Mas eu quero saber como é que fica esse monte de cocaína que passa pelo asfalto? Por que não passa e não pega nesse trajeto? Com quem está essa cocaína? São perguntas que eu me propus a fiscalizar; grandes fortunas comprando, por exemplo, empresas de aviações de empresários que pagam impostos, que têm tudo, que estão falindo na economia do Brasil e que as pessoas estão comprando.
Renato Lombardi: Dá para a senhora falar um pouquinho da fortuna dos Rabelo, que a senhora conhece muito bem.
Raquel Cândido: Eu me nego a falar de pessoas, eu quero que a gente discuta o problema...
Renato Lombardi: [interrompendo] Mas a senhora falou aqui que tudo que acontece em Rondônia tinha que passar na mão de um dos irmãos do Jabes Rabelo, não é isso? A senhora não falou isso?
Raquel Cândido: Eu falo de uma entidade...
[...]: Que ele seria o Antônio Ermírio de lá.
Renato Lombardi: Exatamente isso.
Raquel Cândido: Isso é pura verdade. O próprio governador do meu estado disse, vocês viram no...  Mas era uma família tão honrosa...
Renato Lombardi: [interrompendo] O Abdiel, não é isso? Dom Abdiel.
Raquel Cândido: ... tão honrosa, tão respeitada. Isso é verdade, isso é verdade.
Renato Lombardi: Então a senhora conhece a família dos Rabelo. O que eles faziam lá?
Raquel Cândido: Eu conheço ... Eu soube através do deputado Rabelo, que quis conversar comigo e eu disse que só conversaria com ele em companhia do meu fraterno amigo, líder do PTB, Gastone Righi, só conversei na frente do Gastone...
Renato Lombardi: [interrompendo] O que eles faziam lá?
Raquel Cândido: Eu disse: “Jabes, eu conheço a tua fama, a tua riqueza, e eu soube que você era motorista do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. De repente você estava torrando café, e eu sou deputada já vai fazer doze anos e eu não consegui comprar um avião. Eu não tenho o que conversar com você. Por que você tem um...” “Mas eu não sou traficante”. Eu disse: “eu nunca disse que você é traficante. Você tem que explicar como que foi feito isso, eu não tenho”. Eu disse que existem grandes fortunas.
Caco Barcelos: Existe um Pablo Escobar [(1949-1993), referência ao chefe do cartel de Medellín, que se tornou mundialmente famoso como o senhor da droga colombiano, e acumulou fortuna graças ao intenso tráfico de cocaína para os Estados Unidos e outros países] em Rondônia?
Raquel Cândido: Não existe. Eu acho que se nós levarmos a discussão para Rondônia só, nós vamos correr um risco de uma irresponsabilidade muito grande. Existem vários Pablos Escobar: médio, pequeno, grande, enormes, poderosos. E eu diria que na Amazônia e em Rondônia existem Pablitos Escobares. É preciso que ...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] O Pablo Escobar estaria em São Paulo e no Rio de Janeiro?
Raquel Cândido: Ou não, só no Rio de Janeiro.
José Paulo de Andrade: Mas a senhora está sugerindo isso?
Raquel Cândido: É possível, é possível. Quer dizer, quando eu soube, segundo a imprensa, que o Abdiel tinha iate e casa lá no Guarujá, que também estão me dando uma agora, hoje o Nobel me deu uma, confesso que quero levar vocês para lá. Quando eu soube disso, eu tomei surpresa. Quando eu vi que prenderam quinhentos quilos e tal, e tal, eu falei: “meu Deus, meu Deus!” [colocando as mãos nas faces]. Então eu acho que existem vários Pablos Escobares, Pablitos Escobares na Amazônia, em Rondônia, tem muitos.
Hugo Studart: Deputada, o deputado Maurício Calixto, que é um dos adversários da senhora, parece que é dono de um jornal em Rondônia, diz que vai entregar amanhã para o Romeu Tuma um dossiê de quatrocentas páginas contra a senhora. E nesse dossiê ele denunciaria, ou seja, ele diria, entre outras coisas, que a senhora teria dois apartamentos, um no Rio e dois em Brasília, três casas em Porto Velho, um sítio e nove carros. Ele fala também que a senhora teria sido acusada de estelionato, lesões corporais – que parece que a senhora disse que nesse caso é mesmo – ajuda à fuga de traficantes e, por fim, roubo de dinamite. [ela sorri e abre os braços como expressando surpresa] Eu queria saber o seguinte: levando em consideração que a senhora está no centro aí de um furacão sobre a idoneidade moral dos outros, eu queria saber o que exatamente a senhora tem de bens? Ou seja, a senhora disse que começou pobre como motorista de táxi lá em Rondônia, que começou do nada, e que hoje não teria nenhum avião ainda, mas exatamente o que a senhora tem de bens? E a outra coisa: dessas acusações como estelionato, roubo de dinamite e ajuda à fuga de traficantes, o que tem de verdade ou mentira nisso?
Raquel Cândido: Olha, eu tenho que começar falando por essa certidão aqui [mostrando a certidão] que o deputado Nobel apresentou numa coletiva, e ele só deu a fotocópia. [Alega-se] Que eu fui presa em 1973, com base no Artigo 12 da Lei 6368, por porte e tráfico de drogas. O Ministério Público de Rondônia, que já está apurando essas denúncias aí, disse o seguinte [tirando outro documento de dentro de sua pasta]: que a penitenciária em que eu estaria presa em 1973 foi inaugurada em 30 de outubro de 1984, portanto eu não poderia estar presa em 1973. A lei 63...
Hugo Studart: [interrompendo] Mas a senhora foi presa alguma vez por problemas de tráfico?
Raquel Cândido: [interrompendo] Por favor, deixe eu responder. Nunca fui, nunca fui [colocando a mão direita espalmada sobre o peito]. A Lei 6368 é de 1976 e não de 1973. O funcionário, coitado, que assinou, é funcionário do gabinete dele, do deputado Maurício Calixto. Ele só foi funcionário seis meses depois, com certeza lhe prometeram, para ele assinar essa certidão, que ele seria empregado, até porque nessa época o deputado Maurício Calixto era secretário de administração. Então vai a primeira resposta. Em segundo lugar, minha declaração do imposto de renda falará por mim. Eu tenho dois apartamentos sim, em Brasília, e tenho um no Rio de Janeiro, que eu estou vendendo por trinta milhões, agora, depois que me assaltaram. Eles disseram que vale cem, isso não está negado, eu tenho. É na Epitácio Pessoa, meus filhos não estão lá, eles não vão mais matar, na Lagoa. Custa trinta milhões, dá para comprar três de um quarto para os três filhos. Se eu morrer, eles têm onde morar. Dois apartamentos, que são as únicas propriedades que eu tenho em meu nome, que eu consegui com a minha vida pública, são financiados pela Caixa Econômica; tranquilamente qualquer pessoa pode ter. Eu tenho uma casa que eu já tinha antes de ser vereadora, em Porto Velho, que eles depredaram e acabaram com tudo. Eu tenho um sítio de trinta hectares em Porto Velho, que tem 18 anos que eu comprei junto com a minha mãe, que era caminho, inclusive, de onde eles pegaram..., eu tinha nove vacas, eles mataram dois bezerros. As nove vacas estão na fazenda do seu Nelson, eu não sei quantas tem porque faz dois que eu não sei das vacas. O que eu tenho mais? Eu tenho três carros, se tiver seis...
Hugo Studart: Ele disse nove.
Raquel Cândido: Nove.
Hurgo Studart: A senhora tem três?
Raquel Cândido: Eu tenho três. Eu tenho um Opala 80, um Monza 82 e uma camionete F-1000, [ano] 89. O resto dos seis nós vamos dividir entre nós.
Hugo Studart: E para terminar: e o roubo de dinamite?
Raquel Cândido: Pois é, eu acho que essa pergunta tem que ser feita... Essa campanha foi quando eu fui ser deputada constituinte. Saiu, eu não sei, acho que de uma funcionária do Nobel chamada Suely Bittencourt. Vocês vão ver. Ela é funcionária e foi cabo eleitoral do deputado Nobel. Eu estou achando assim muito estranho, porque hoje o deputado Nobel é que levou isso para o comitê de imprensa, e amanhã que o deputado Maurício [Calixto] vai apresentar para o Tuma. Quer dizer, eles são tão amigos [entrelaçando os dedos das mãos indicando junção, união], né? De repente o Jabes que estava pedindo voto para votar contra mim, eram eles três, eu não falei nada.
José Paulo de Andrade: Faltou um item aí: ajuda ao traficante.
Hugo Studart: Ajuda à fuga do traficante.
Raquel Cândido: A fuga de traficante. Jamais na minha vida, jamais, nunca, meu Deus do céu! Jamais! Isso nunca me ocorreu. Dinamite. Surgiu essa acusação nas eleições de Constituinte. Deixe eu contar para você, porque no inquérito policial diz “militar”. Que eu iria detonar a casa do senador Odacir Soares. A casa do senador Odacir Soares é parede e meia – lá em Rondônia tem uns casarões antigos – com a minha ex-sogra, avó dos meus filhos, que naquela época, quando eu fazia campanha, ficavam com ela. Com certeza eu explodiria a casa do senador com os meus filhos dentro. Eu respondi a esse inquérito, eu e [...] e nunca apareceu o sargento que deu as dinamites, o soldado que deu, o capitão que falou nunca apareceu. E eu nunca mais fui ouvida nisso, tem mais ou menos uns cinco anos. Agora desacato à autoridade, resistência à prisão, eu tenho doze, dos quais eu me honro muito, muito. Nenhum por narcotráfico, como eles colocaram aqui; nenhum por crime; nenhum por nenhuma bandidagem; nenhum por tráfico ilícito. Minhas declarações de Imposto de Renda falarão. Também eu tenho o melhor salário deste país há doze anos, eu não posso ter um apartamento? Eu não tenho é fazenda de dez hectares. Eu tinha nove vacas, eles mataram dois bezerros. Eu não tenho nem o carro do ano.
Hugo Studart: Deputada, parece que isso é levado para o lado pessoal...
José Paulo de Andrade: Deputada, parece que tudo isso aí que se fala agora da senhora é depois da apreensão aqui em São Paulo dos quinhentos quilos de cocaína...
Raquel Cândido: [interrompendo] Não, eu falo é desta certidão falsa [com a certidão na mão] eles terão que provar como é que eles fizeram isso.
José Paulo de Andrade: [...] parece muito bom para ser verdade, por que essa coragem toda? A senhora é um grande homem hoje aqui, porque nenhum homem assume isso que a senhora está assumindo. Qual é a força que move a senhora?
Raquel Cândido: Eu acho o seguinte. De repente os traficantes são mais inteligentes que nós. Eles querem fazer, obviamente, todas as acusações possíveis; e não sou eu que sou estelionatária, porque quem assinou este documento foi o funcionário dele, que não aparece porque eu acho que está correndo risco de morte e não tem a certidão assinada, autêntica; portanto não foi autenticada, e foi numa coletiva nacional. Enquanto nós nos perdemos e eu vou ter que provar que eu não tenho nada a ver com isso, eu perco tempo em descobrir várias coisas que nós tínhamos que ...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] Alguma entidade encampou essa luta sua? Nós estamos perguntando aqui, várias perguntas foram feitas nesse sentido. A senhora está sozinha nisso? Nenhuma entidade encampou?
Raquel Cândido: Não, não, não.
Renato Lombardi: A senhora acha que na Câmara Federal todos são covardes?
Raquel Cândido: Não, de maneira nenhuma.
Renato Lombardi: Só existem covardes? Porque só a senhora que levantou essa bandeira contra o tráfico.
José Paulo de Andrade: A OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], a ABI [Associação Brasileira de Imprensa], nenhuma das...
Raquel Cândido: [interrompendo] A ABI já encampou, a OAB, eu vou procurá-la. Eu acho que de repente é assim, você tem que sair procurando. A minha instituição eu vou ver depois desse fórum, porque o Nobel, que me deu aqueles murros, não pode ser julgado até o recesso, já faz quatro meses, mas eu confio na minha instituição. Agora eu disse para vocês que só dois deputados tiveram coragem, ou sei lá o quê, ou solidariedade de me telefonar. Eu confio no Waldir Pires [foi governador da Bahia e posteriormente deputado federal pelo mesmo estado]; eu tenho que confiar no Ibsen Pinheiro [Em 1986, foi eleito deputado constituinte e, de 1991 a 1992, foi o presidente da Câmara Federal]; eu tenho que confiar nos meus colegas; eu tenho que confiar na minha instituição. Como ela vai agir eu confesso para vocês que eu não sei, porque eu não vi, não senti...
José Paulo de Andrade: Agora, a senhora sente o quê? Que há muito medo para... Eles apóiam, mas não assumem?
Raquel Cândido: O narcotráfico é aquilo que eu falei, quando as pessoas apóiam essa luta, que não tem rosto, que não tem cara e que a gente sabe que mata, e que descobre o endereço da casa da gente... Quer dizer, a minha casa no Rio de Janeiro era o único lugar onde os meus filhos viviam em paz...
José Paulo de Andrade: Descobriram.
Raquel Cândido: Descobriram já, foram lá, roubaram os álbuns de fotografia dos meus filhos. Segundo a polícia, quando se rouba álbum de fotografia é para encomendar crime. Quer dizer, é um negócio terrível isso!
Percival de Souza: Agora, deputada, o seu dia a dia hoje como é que é? Tem um policial permanentemente com a senhora?
Raquel Cândido: Até para ir ao banheiro.
Percival de Souza: E uma outra coisa. Eu queria saber, depois de tudo isso, quando a senhora chega ao Congresso, os seus colegas saem de fininho? Fazem de conta que não vêem a senhora? Como é isso?
Raquel Cândido: O traficante telefona hoje para os meus colegas já também e para o meu gabinete dizendo que eu sou uma bomba ambulante. Eu sou uma bomba ambulante. Então isso começou a me dar muito mais pavor. Os meus filhos perderam os amigos. Eu tenho uma filha que é engenheira, que tem que prestar assessoria para as empresas, os colegas não entram com ela no carro. O meu filho caçula – eu não queria falar sobre isso – precisa de psicólogo, porque é ele quem atende os telefones da Câmara, toda hora: “a sua mãe vai morrer, você vai ficar com a boca cheia de formiga. Pode estar em São Paulo, pode estar não sei onde”. Mas eu tenho amigos como a Alda, que estava aqui agora, que disse “manda as crianças para cá”. Eu tenho pessoas, eu tenho a Teresinha, uma advogada que é do Conselho de Ética da OAB de Brasília, que disse: “Olha, Raquel, eu acredito em você”. Eu soube de uma reunião de 53 dentre os quais só seis desconfiavam que podia ser verdade, dos quais quatro eram mulheres, e que pegaram esse documento e foram aos outros jornais dizendo que eu não estava fazendo uma acusação leviana. Eu tenho vocês, agora, me questionando aqui.
Percival de Souza: Agora, a sua presença causa um mal-estar na Câmara?
 Raquel Cândido: Total. Eu estou com lepra na Câmara. Hanseníase, eu estou leprosa.
Jorge Escosteguy: Deputada, Alfredo Piotrowiski, de Guarulhos, telefonou justamente colocando essa questão.  A senhora não acha que de repente o "espírito de porco" da instituição vai vigorar e ninguém vai ser punido nem pela agressão à senhora?
Raquel Cândido: Não, eu acho que não, porque tem..., olha, tem a instituição... o povo é sábio.  Doutor Ulysses tem setenta anos, quase não se elege, mas se elegeu...
[...]: Setenta e quatro.
Raquel Cândido: Setenta e quatro. 10% que fica na Câmara, que o povo sempre deixa, que é vocacionado, que faz da Câmara um sacerdócio – foi isso que eu disse para alguns traficantes que vieram me peitar – são homens sérios, que preservam a nossa instituição e são políticos vocacionados. Os novos que chegaram sabem que aquela instituição repugna determinados comportamentos e determinados crimes, e eles não queriam acreditar. Ter um Waldir Pires sendo corregedor é uma honra para o Brasil e para o Congresso Nacional.
[sobreposição de vozes]
Renato Lombardi: Só que não apareceu ninguém, deputada, na televisão, para uma entrevista, e dizer: “Olha, eu defendo a deputada, nós vamos levantar a bandeira da deputada.
Raquel Cândido: Eu sei disso, mas vocês têm que perguntar isso!
Mônica Teixeira: Por que a senhora não tem essa credibilidade? Por que a senhora acha que a senhora não tem? Por exemplo, eu me lembro que meses atrás, o deputado Maurílio Ferreira Lima denunciou as fraudes na Previdência, começou a denúncia. Ele teve solidariedade do Brasil inteiro, teve uma resposta imediata do governo, etc. Por que as denúncias da senhora não encontram a mesma repercussão? Por que elas não têm essa credibilidade?
Raquel Cândido: Interessante essa sua pergunta, interessante. Primeiro...
Francisco Viana: [interrompendo] Eu gostaria de complementar e dizer o seguinte: o problema é da senhora? Quer dizer, falta credibilidade à senhora para fazer denúncias de tal peso, ou é um problema da Câmara, do Congresso que não quer se envolver com esse tipo de coisa?
José Paulo de Andrade: Ou é um problema da mulher, hein?
Francisco Viana: Onde está o problema?
Raquel Cândido: São várias coisas. [fala olhando para frente, diretamente para a câmera] Primeiro, meu presidente Ibsen Pinheiro, meu presidente, você está no Rio Grande do Sul. Em fevereiro, quando eu cheguei, eu falei no teu ouvido: “eu não quero votar nesta chapa”. E eu disse o porquê no teu ouvido. Lembra disso? Você é promotor e aquela chapa foi composta...
[Sobreposição de vozes]
Luiz Lanzetta: [interrompendo] Na ocasião a senhora disse na Câmara – eu estava lá – por que não queria votar na chapa.
Raquel Cândido: Disse no ouvido do meu presidente.
Luiz Lanzetta: Mas isso no comitê de imprensa...
José Paulo de Andrade: No ouvido do microfone.
Luiz Lanzetta: ... o Jabes Rabelo estava na chapa, e hoje a senhora não fala mais no [...] Jabes Rabelo. [risos]
Raquel Cândido: Eu disse no ouvido do meu presidente. O meu presidente disse que era uma questão de bancada. Eu disse: “meu presidente, você é promotor, pelo amor de Deus! A nossa instituição é a mesa diretora”. Eu adoro os gaúchos, a minha vida tem sido cruzada pelos gaúchos de todas as formas, mas o gaúcho é o homem mais machista que pode ter no planeta. [risos] Que me desculpem os gaúchos presentes.
Mônica Teixeira: A gaúcha.
[risos]
Raquel Cândido: E a gaúcha também.
Jorge Escosteguy: Há vários aqui.
Raquel Cândido: Há uma falta também, entre nós, mulheres, no Congresso Nacional e entre a sociedade, de cumplicidade que vocês homens têm, maravilhosa. Vocês já viram mulher emprestar dinheiro para mulher? É raro, hein. De repente o homem chega e diz: “Olha, eu estou ruim, o salário não saiu, preciso de uma cerveja, falta o leite das crianças”. Vocês emprestam, e as mulheres até brigam em casa porque o dinheiro foi emprestado para o colega. Não existe isso entre mulher. Nós vamos olhar primeiro se a perna é grossa [desenha com as mãos o formato do corpo de mulher], se não está competindo. É incrível isso. Eu  adoro as mulheres, elas são minhas cúmplices, mas não existe essa cumplicidade total ainda entre nós. E o que existe no Congresso Nacional? Primeiro, eu sou mulher; segundo, é muito difícil que um assunto tão polêmico, tão difícil como esse, que envolve vidas, que envolve moralidade, que envolve coragem, acima de tudo, que envolve instituições, possa ser abraçado de uma forma tão séria como ele requer. Terceiro, eu sou mulher sim, é difícil. Porque quando eu grito, eu estou histérica, eu não estou [agindo] exasperadamente ou com veemência. A mulher quando grita no Congresso Nacional é histérica ou precisa “daquilo”, é uma forma de chacota, mas é verdade. O que existe também no Congresso Nacional? O Maurílio é de um grande estado da federação, que é o tambor político, que tem uma bancada enorme e que tem ressonância, não é? Eu sou de um estado pequeno, mulher, pequena, que estou brigando com um negócio sério, que não tenho pedigree, que de repente pensavam que eu queria holofote e tudo, e não é nada disso. Achavam que eu estava brigando só com Rondônia, e aí é que está o grande problema. Não estou brigando com Rondônia nem com os deputados de Rondônia, nem com o narcotráfico de Rondônia. Nós temos que discutir o narcotráfico dentro das instituições como uma forma econômica de alternativa que está se instalando neste país. Portanto eu acho que se eu fosse até a briga de Rondônia, estava todo mundo apoiando. Fica essa pergunta no ar. Então existe isto: uma deputada de um estado pequeno, com uma bancada pequena, um estado insignificante, a quem, de repente, nem vocês dão muito valor, não é? Quem é a Raquel? O que há, ela é doida, está aí...
José Paulo de Andrade: Não, há uma outra deputada na mesma situação da senhora, que é a deputada Cidinha Campos, do Rio de Janeiro, que também fez denúncias graves contra as fraudes na Previdência e me parece que também não teve apoio de ninguém.
Raquel Cândido: E tem um outro ingrediente, meus amigos.
Mônica Teixeira: [interrompendo] Mas a deputada Benedita da Silva, é mulher, é negra, não é alta e continua tendo...
Raquel Cândido: [interrompendo] É discriminada, é discriminada.
Mônica Teixeira: É discriminada, mas ela é respeitada. A deputada Cristina Tavares, eu me lembrei também dela agora.
Raquel Cândido: [falando ao mesmo tempo que Mônica Teixeira] Eu acho que eu sou respeitada, só se você acha que não.
Mônica Teixeira: É da credibilidade que eu estou perguntando. Eu não sei, a senhora é que está dizendo, a senhora que acabou de dizer que a senhora se sente desrespeitada...
Raquel Cândido: Eu acho, eu me acho.
Mônica Teixeira: ... que a senhora sente que as pessoas não dão importância à senhora.
Raquel Cândido: Não, eu não disse que eu me sinto desrespeitada.
Jorge Escosteguy: Por favor, um de cada vez.
Raquel Cândido: Eu não disse que eu me sinto desrespeitada, em momento algum.
Mônica Teixeira: Mas a senhora disse isso.
Raquel Cândido: Eu disse que o problema da credibilidade que foi colocado, que não é a falta de respeito, é diferente, acontece como aconteceu com a Bené. De repente a Bené não pode ser relatora da Comissão de Extermínio das Crianças [Comissão Parlamentar de Inquérito para Apuração de Responsabilidade pelo Extermínio de Crianças e Adolescentes no Estado do Rio de Janeiro], ela teve que fazer uma de esterilização, porque só uma negra, com muita dignidade, que veio de baixo, faz. Como eu vou propor, a CPI das grandes fortunas. Então é uma discriminação. E a Bené tem que estar provando meio dia, meia hora, de cinco em cinco minutos, que ela é uma mulher séria. A Cristina tinha que sair no tabefe e gritar bem alto lá dentro; você sabe que a atuação da Cristina era assim. A Cristina tinha que estar na Comissão de Informática, dando tapa e murro em muita gente lá dentro, no estilo dela.
Mônica Teixeira: Mas ela tinha credibilidade.
Raquel Cândido: E daí, o que eu posso fazer? De repente eu não fui guerrilheira da esquerda para ter credibilidade, só...
José Paulo de Andrade: De repente, a Cristina não se reelegeu, também tem esse detalhe.
[sobreposição de vozes]
Jorge Escosteguy: Por favor, uma pergunta de cada vez, por obséquio.
Raquel Cândido: O problema da credibilidade eu acho que é este aí: é um estado pequeno, é um problema seriíssimo, e tem o maior problema. De repente, se no sindicato dos jornalistas – eu vou devolver a pergunta para você – fosse pego o presidente do sindicato ou o diretor do sindicato com quinhentos quilos de cocaína. O que vocês fariam? Quem denunciaria teria credibilidade ou seria louco? É uma pergunta.
José Paulo de Andrade: O silêncio respondeu.
Caco Barcelos: Deputada, é público que ...
[sobreposição de vozes]
[...]: A hipótese que a senhora colocou não existe.
Caco Barcelos: ... os grandes traficantes de Rondônia são empresários. É público isso? É público que os grandes traficantes lá são empresários. Eu lhe pergunto por que não tem nenhum na cadeia?
Raquel Cândido: Como?
Caco Barcelos: A senhora já denunciou alguma vez algum empresário traficante? Já que é público que são eles que são os traficantes.
Raquel Cândido: Não, olha, nós... eu falei que eu detectei esse problema, eu não sei, eu devo me explicar mais para o país. Num grande comício na campanha do Brizola, eu vim ao Rio de Janeiro, vim ser tribuneira dele no Rio de Janeiro, e pude ir à Baixada Fluminense. O que eu vi na Baixada Fluminense, eu vi no Norte do país. Assim, na Baixada eram trinta mil famílias. Os pais na frente, os que tinham entre 22 e 28 anos, no meio, desconfiados, porque não acreditam na classe política e atrás, a meninada de 16 e 17 anos, anarquizando, acabando com o comício. Louca. Então eu vi isso na Baixada e vi em Rondônia. De repente você falava do problema droga já, isso na campanha do presidente. Isso foi aflorando todo... aquilo que eu lhe disse, a sensibilidade de saber que esse problema estava existindo e que ninguém queria tocar nele. E isso foi detectado em Rondônia, porque você termina o comício, você vai para a sua casa, e as pessoas vão te procurar no teu escritório para falar daquele botijão de gás que foi roubado, da outra que é dondoca, mas que o filho está viciado...
Caco Barcelos: [interrompendo] Mas eu queria saber da senhora o que explica o fato de não ter nenhum na cadeia, nenhum empresário que financia o tráfico, lá.
Raquel Cândido: Eu acho que está começando, não está?
Jorge Escosteguy: E nenhum deputado cassado. O Antonio Carlos Ferreira, de São Carlos, por exemplo, pergunta quem a senhora acha que é mais vilão: a polícia ou o Congresso?
Raquel Cândido: Olha, eu acho que de repente o Abdiel está aí preso. Ele é irmão do deputado e na hora de ser preso, ele puxou a carteira e disse: “Não me prenda porque eu sou assessor”. E foi preso. Tem que acreditar em alguma coisa, minha gente, tem que acreditar. Agora está custando uma vida, está custando todo um sacrifício, está custando tudo isso que está acontecendo aí, vai custar muito mais, eu não sei o que vai custar. Mas eu quero continuar fiscalizando. Quanto à cassação, o Congresso Nacional passou por um crivo terrível da sociedade brasileira. Renovou 70% do Congresso Nacional. Mas o que houve? A política que também faz a gente questionar hoje, que não vem mais através do vocacionado, porque a crise é enorme no país, de valores, de valores morais. Quer dizer, se você é pobre, se você é um deputado ético, se você... De repente o doutor Ulysses quase não foi eleito aqui, gente! Então o Congresso Nacional começou a eleger as pessoas que foram cuidar dos seus casos, dos mais variados possíveis, menos do vocacionado de ser deputado federal do país [com ênfase], como tem a crise de ser ministro do país, como tem a crise de ser um empresário preocupado com a realidade do país. O país está precisando disso! Essas pessoas foram tomando espaços de formas variadas, e o Congresso tem que ser assim. Agora eu pergunto: quem é que aguenta ficar, a não ser que ele seja vocacionado, ali, no plenário da Câmara, como diz a Regina Gordilho [à época, era vereadora da Câmara do Rio de Janeiro], apertando o botão, correndo atrás de emenda, fazendo projetos, sentando na mesa, é isso, depois não é isso. Isso precisa de um sacerdócio, de uma experiência. Então hoje eu ouço muito deputado dizendo o seguinte: “poxa, se soubesse que era assim, eu não vinha para cá”.
Percival de Souza: Mas deputada, a senhora acredita na...
Hugo Studart: [interrompendo] Deputada, a senhora...
Percival de Souza: Um minutinho só. A senhora acredita na Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o narcotráfico? A senhora acredita na CPI?
Mônica Teixeira: [interrompendo] Deixa eu pegar uma carona. E qual é o projeto da senhora para combater o narcotráfico?
Raquel Cândido: Eu acho que, em princípio, é aquilo que eu lhe falei, a Amazônia é um portal de entrada por causa da fronteira. Temos que revisar o orçamento e planejamento do desenvolvimento alternativo de economia legal para a Amazônia. Refino não pode ser feito na Amazônia. Esses bolivianos, meus amigos, conterrâneos e irmãos da raça a que eu pertenço, não podem viver do plantio da coca. O Nordeste não pode deixar de plantar feijão com arroz, milho e mandioca, porque não tem preço, para plantar maconha. Quando falo do Nordeste, eu já falo dos estados que nós estamos fiscalizando, como Recife, Bahia e Maranhão, que já tem como economia alternativa o plantio da maconha. Nós não podemos virar nesse Brasil, nós não podemos. Então, o que existe? É tentar esclarecer e criar uma vontade popular, e dessa vontade popular criar uma vontade política, dando condição, restabelecendo as instituições de combate, de educação, com uma proposta maravilhosa que eu vi num programa, com prisão perpétua e tirando os bens do traficante no momento em que ele for detectado. Porque só dói no bolso do traficante a perda do dinheiro que ele ganhou fácil e prisão perpétua para ele. Pena de morte? Olha, eu estou aí querendo ver o plebiscito, mas eu tenho tanto medo da pena de morte! [com ênfase].
Percival de Souza: A CPI [do narcotráfico], deputada, a senhora acredita na CPI?
Raquel Cândido: Eu tenho que acreditar na CPI, porque o Moroni e eu, que temos 41 anos, não estamos arriscando a nossa vida por causa de refletores. Nós estamos até querendo questionar o nosso Congresso, a nossa instituição, para o expurgo. E ela fará esse expurgo em nome da democracia, em nome da dignidade do povo brasileiro. Ela fará, para que ela possa fiscalizar outros tentáculos desse crime tão hediondo que é o narcotráfico.
Jorge Escosteguy: Deputada, com essa resposta, a senhora respondeu a pergunta do Adilson Maturama, aqui de São Paulo. Eu queria lhe fazer duas perguntas; uma delas foi feita por três telespectadores, uma leva à outra. O José Maria Escarqueti, aqui de São Paulo,  pergunta como a senhora vai se proteger quando o seu mandato acabar, e se a senhora, por acaso, não for reeleita. Abílio de Lemos e Jaime de Souza perguntam se a senhora não está dando essas entrevistas e fazendo todo esse auê, como se diz, para se candidatar, possivelmente, quem sabe, até para governadora de Rondônia.
Raquel Cândido: Primeiro lugar, nada de [cargo] executivo na minha vida. Aliás, o povo sempre...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Ou para garantir a sua reeleição, depende.
Raquel Cândido: Não, não, nada de..., nunca seria executiva, até porque eu acho que o executivo depende de um trabalho de equipe. Eu sou uma pessoa que... e acredito muito no trabalho que a gente faz, não é? Porque de repente, eu vou querer limpar uma rua, e o meu secretário de obras não vai querer limpar aquela rua, aí vai entrar o negócio da construtora. Olha, executivo nunca. Vou morrer sendo legislativo. É uma opção de vida. A minha reeleição, ela dar-se-á, pode ter certeza meu amigo, se eu ficar viva, e os meus eleitores não me crucificarem porque a mídia local me acaba, diz que eu sou o “satanás do Congresso Nacional”, e se eu conseguir levar a sério junto à CPI que está apurando tudo isso, dar-se-á daqui a quatro anos. Dar-se-á no período normal em que haverá as eleições, eu espero no meu país. Eu não estou buscando um mandato, é uma promessa de campanha sim, porque ela foi discutida na campanha. Então é uma proposta que eu fiz no Norte do país, lá numa cidade pequenininha, que eu detectei o problema ao longo da Amazônia, que eu vi no Rio de Janeiro, que eu estou vendo entrar, lamentavelmente, no Sul do país, pegando a juventude que tem condição de viver melhor, que tem poder aquisitivo, como é o interior de São Paulo, em Camboriú [Santa Catarina], no Rio Grande do Sul, sendo consumidores.
Renato Lombardi: Deputada, esse gancho ainda. Se a senhora não tem o apoio dos seus colegas deputados, quando o noticiário baixar, como a gente fala, “baixar a bola”, o que a senhora vai fazer da sua vida?
Raquel Cândido: É uma pergunta boa que eu não sei lhe responder. Eu acredito que fico viva enquanto o noticiário estiver alerta e atento, e cobrando da CPI do Congresso Nacional para que se apurem essas coisas que nós estamos investigando.
José Paulo de Andrade: Agora pelo menos já tem bons suspeitos, se acontecer alguma coisa com a senhora, né?
Raquel Cândido: Eu sei, por exemplo, de onde vêm os tiros. A sociedade sabe de onde vêm os tiros. Eu disse a ele no meu discurso, ao deputado Maurício Calixto, que foi a única pessoa que eu nominei, que eu não me meti nos negócios dele, porque eu queria ficar viva. De repente, o Jabes ficou inimigo, o Nobel passou a me dar soco, não sei por quê, sinceramente, não sei por quê.
José Paulo de Andrade: A senhora já marcou audiência com a primeira-dama americana, Barbara Bush?
Raquel Cândido: Não, não, isso tudo é criação.
José Paulo de Andrade: Não, a senhora pediu uma audiência com o presidente [George Herbert Walker] Bush [presidente dos Estados Unidos de 1989 a 1993].
Raquel Cândido: Eu acredito que a sociedade brasileira e o Congresso Nacional têm que ser rápidos e velozes nisso. Nós temos que revisar uma legislação também, que é com base nessa visita, ou pegar esses papéis para fazer uma legislação, mas o rito sumário...
Renato Lombardi: [interrompendo] Mas essa coisa existe aqui, deputada.
Raquel Cândido: Não existe o rito sumário...
Renato Lombardi: [falando ao mesmo tempo que Raquel Cândido] Não, não. Os documentos apurados, todo mundo tem isso aqui.
Raquel Cândido: ... hoje você faz uma confusão entre quem usa droga e quem é traficante. A nossa Constituição, que é belíssima, vulnerou muito, por exemplo...
José Paulo de Andrade: Aí o traficante que usa droga não é punido.
Raquel Cândido: Você acredita que hoje seria difícil um delegado de polícia fazer um auto de flagrante dentro da Câmara? Não faz, juiz nenhum neste país dá! [com ênfase] Eu não conheço; tem um aqui no interior de São Paulo.
Renato Lombardi: E o tráfico é grande lá dentro da Câmara?
Raquel Cândido: Não, eu não sei, não sei. A minha casa é inviolável, eu sou deputada federal, minha casa é inviolável.
Mônica Teixeira: A minha também e eu não sou deputada. Não é ruim isso, deputada, a senhora me desculpe.
Raquel Cândido: Não é ruim, mas a minha é muito mais que a sua.
Mônica Teixeira: Mas não é ruim que o espaço do Congresso...
Renato Lombardi: [interrompendo] Deputada, a senhora acha que muitos dos seus colegas caem fora desse assunto porque estão envolvidos dentro da própria Câmara com o negócio das drogas?
Raquel Cândido: Não, eu não disse isso e eu seria leviana se dissesse isso. Eu não acho isso. Eu acho que existe um temor. Por exemplo, a nossa comissão, para trabalhar, está tendo a maior dificuldade. O meu gabinete está sendo desativado, os meus funcionários estão indo embora, a nossa comissão fica sem datilógrafo, de repente quem foi lá, levantou a comissão, foi o Joaquim, que disse: “Realmente o meu estado está plantando maconha”. O Aristides Junqueira [procurador-geral da República], que teve a coragem de suscitar a questão e dizer o desencanto que ele tem, de uma pessoa que acredita no país, que prendeu um traficante, e de repente ele soube que teve uma liminar, que juízes e promotores festejavam [faz o gesto de bater palmas] com muita alegria a liberdade daquele traficante no Mato Grosso. São depoimentos verídicos, porque uma legislação não está muito boa. O próprio deputado Jabes Rabelo, segundo eu soube hoje através da imprensa, vai marcar um grande churrasco, porque vai ter que ter cinquenta sessões na Comissão de Justiça da Câmara, o que está certo, para comprovar se ele está ou não envolvido. O que está certo. Você veja a morosidade. Mas nós temos que acreditar na democracia, nós temos que acreditar.
Hugo Studart: A senhora falou há pouco que havia...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Deputada, só pegando um gancho, a senhora falou que o seu gabinete está sendo desativado, as pessoas estão indo embora e tal, e tem dois telespectadores que fazem uma pergunta à senhora. Gislaine Santos, aqui de São Paulo, pergunta como é que é a sua vida hoje: se a senhora vai ao supermercado, se vai fazer compras, sai à rua, se tem medo de ser perseguida. E Mara, de Santana, ligou de Belo Horizonte, perguntando qual seria a sua reação se de repente a senhora fosse abordada por um estranho na rua?
Raquel Cândido: Eu vou dizer para a de Minas. Eu deixei uma necessaire onde guardo minhas maquiagens no hotel Jaraguá quando vim fazer [o progamaga de TV d]a Hebe Camargo. E os meus anjos da guarda estão aí, eu sabia que eu tinha deixado lá no Jaraguá. Então, de repente, veio a minha necessaire, que a minha secretária, que vive comigo há doze anos, eu acho que ela não vai me largar, não é, Martinha, tu não vai me largar [olhando para a frente]. Essa necessaire chegou agora no hotel em que estou. Eu não abro isso [a necessaire], é um horror. Eu não abro a minha caixa de cartas. Um estranho vem para perto de mim, eu corro mesmo!
Francisco Viana: A senhora anda armada, deputada?
Raquel Cândido: Ainda não, mas estou com vontade.
Jorge Escosteguy: Como é o seu dia a dia, então? A senhora vive com agente de segurança? Não sai?
Raquel Cândido: É um inferno. Não saio, tenho muito dó daqueles que trabalham comigo. Por exemplo, eu adoro a roça, é um lazer; uma coisa que esfria a minha cabeça é plantar, mexer. Isso me distrai. Eu tenho uma pequena chácara de quatro hectares em Brasília, que eles ainda não descobriram, mas eu tenho. Ela ainda não foi escriturada, porque ela está sendo paga. Eu até estou dizendo, eles não botaram nos meus bens, mas eu tenho. Então eu tenho que regar as minhas jabuticabeiras, porque eu tenho quatro filhos e plantei para cada filho um pé de jabuticabeira. Então eles [os policiais] têm que ir junto, eu fico constrangida, porque de repente o policial tem que estar junto comigo; o banheiro, o policial tem que abrir. É um negócio louco, esquizofrênico, que eu nunca pensei viver na minha vida.
José Paulo de Andrade: E isso vale à pena, deputada? Isso vale à pena? Qual é sua motivação?
Raquel Cândido: Eu acho que vale a pena, não pelos quatro, eu vou falar a letra do nome e pedir desculpa a eles: pela "E", pela "M", pela "L" e pelo Junior. Vale a pena não só por eles; vale a pena por um monte de crianças que estão sendo vítimas disso aí, os aviãozinhos [garotos menores de idade que fazem a entrega da droga]; vale a pena para que o nosso Brasil não se transforme na Colômbia. Vale a pena até porque quando eu fiz a opção pública, eu sabia que ela era feita de desafios; e quando eu recebi a outorga da imunidade, ela foi dada como uma procuração para fiscalizar qualquer coisa que faça mal à sociedade e questionar aquilo que faz bem, como é que pode melhorar.
Hugo Studart: A senhora disse há pouco que esse problema é bem maior, que nós não podemos ficar vendo apenas os traficantes de Rondônia, mas também os consumidores da Europa e dos Estados Unidos. Eu queria lhe fazer uma pergunta: alguma vez na sua vida, talvez na juventude, a senhora já fumou maconha ou cheirou cocaína?
Raquel Cândido: Nunca. Eu já tomei cuba libre, eu já dancei rock com os Rolling Stones e Beatles, eu protestei contra a Guerra do Vietnã com cuba libre, gim tônica. A gente dançava lá... deixei de fumar com vinte anos porque quase matei a Luciana no meu ventre. E os meus colegas diziam: “Você é careta”. Não tem problema.
Jorge Escosteguy: Deputada, o nosso tempo está se esgotando, eu farei uma última pergunta que vários telespectadores, eu vou nominar alguns aqui, outros não chegaram a completar a ligação, o Lauro Cristal, de Ribeirão Preto; José Carlos Gutierrez, aqui de São Paulo; Mônica Silva, de São Paulo; doutor Carlos de Oliveira, de Jacareí; Maria Aparecida, de São Paulo e Reginaldo Bittencourt, de São Paulo. Todos eles reclamam que os jornalistas foram muito duros e intolerantes com a senhora na entrevista de hoje. Eu queria que a senhora desse a sua impressão sobre isso, se acha que foi injusto e se a senhora pôde dizer tudo o que queria dizer.
Raquel Cândido: Eu quero responder que, em primeiro lugar, eu sou uma mulher...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Teve um, inclusive que perguntou se os jornalistas têm medo dos traficantes e por isso estão fazendo tantas perguntas à senhora. [risos]
Raquel Cândido: Eles é que vão responder. E como tem. Escute bem. Eu quero, em primeiro lugar, não sendo piegas, falar sobre uma coisa impressionante. Eu sou uma socialista que acredita em Deus, muito. Uma força enorme, acredito nisso, isso tem dado certo na minha vida para atingir... Eu vi ontem o [ator e humorista] Renato Aragão, aquele tremendo paspalhão do Brasil, querendo beijar a mão do Cristo [Redentor, no Rio de Janeiro, em cena transmitida pela TV Globo], numa cena que só a gente que teve contato imediato sabe que existe. Eu quero agradecer todas as orações, em primeiro lugar, que eu tenho recebido, que são grandes. É uma corrente positiva, não interessa qual a origem dela. Os jornalistas não fora[Programa ao vivo, permitindo a participação de telespectadores]
Jorge Escosteguy: Boa noite. Estamos começando mais um Roda Viva pela TV Cultura de São Paulo. A convidada desta noite é a deputada federal por Rondônia, Raquel Cândido. A deputada Raquel Cândido ganhou as manchetes dos jornais nos últimos meses, diante das acusações que fez na Câmara dos Deputados sobre o tráfico de drogas em Rondônia, envolvendo políticos com os cartéis de Medellín e Cali. Em maio a deputada foi agredida em plenário pelo deputado Nobel Moura, de Rondônia, também acusado de envolvimento. Ela tem sido ameaçada de morte, seu apartamento no Rio foi invadido e seu gabinete na Câmara foi arrombado e vários documentos queimados. Para entrevistar a Raquel Cândido esta noite, no Roda Viva, nós convidamos: Hugo Studart, repórter especial da Folha de S.Paulo; Mônica Teixeira, jornalista; Caco Barcelos, repórter especial da TV Globo; Percival de Souza, repórter especial doJornal da Tarde; Renato Lombardi, repórter do jornal O Estado de S. Paulo, Luiz Lanzetta, repórter de política do Jornal do Brasil e José Paulo de Andrade, diretor de jornalismo da rádio e comentarista da TV Bandeirantes. Também convidamos e está chegando agora, um pouco atrasado por problemas de trânsito, o Francisco Viana, editor da revista Isto É Senhor. Boa noite, deputada. A senhora teve uma audiência importante hoje em Brasília a respeito dessas denúncias de tráfico de drogas em Rondônia?
Raquel Cândido: Em primeiro lugar, eu tenho que agradecer a este programa, ao Brasil inteiro, e aos jornalistas, que poderão fazer todo e qualquer tipo de pergunta, sem que eu vá lá apagar a câmera ou ameaçá-los. Fiquem tranqüilos. Essa audiência hoje foi para mim surpreendente, eu não esperava.
Jorge Escosteguy: Com quem a senhora teve audiência?
Raquel Cândido: Eu tive a audiência, primeiro com o ministro da Justiça, em seguida com o presidente da República, e de volta da audiência com o presidente da República, me encontrei com o doutor [Romeu] Tuma [à época da entrevista, era diretor geral da Polícia Federal]. Gostaria de ter encontrado com os três juntos, mas tive reunião ao mesmo tempo com eles em horários diferentes.
Jorge Escosteguy: O que a senhora falou na audiência? Por que foi surpreendente? Do ministro para o presidente da República...
Raquel Cândido: Pelo seguinte: tinha mais ou menos quarenta dias que eu estava procurando essa audiência, e eu achava que estava acontecendo alguma coisa que não fazia com que eu chegasse até o presidente da República, alguma força muito poderosa, como é a questão do crime organizado, do narcotráfico. São forças ocultas que você não sabe de onde vêm. Eu falava com o ministro, tinha o problema da 296, tinha o problema da ida ao México, então as coisas estavam acontecendo. Até porque, também paralelo a isso, como aconteceram muitas coisas graves com relação a minha vida, a vida dos meus familiares, por incrível que pareça, eu fui bater numa embaixada americana, dizendo: “embaixador, eu respeito a sua bandeira, mas sou brasileira. Não gosto da forma como vocês tratam o meu país economicamente, mas como já fiz várias pesquisas em outros países para elaborar a parte econômica e mineraria do meu país indo à Austrália e ao Canadá, colhendo subsídios, gostaria de manter contatos com parlamentares do Congresso Americano para saber da legislação americana com relação ao narcotráfico e o orçamento, que é item dois, nos Estados Unidos, com relação à droga”. E também me preocupou que as sete poderosas [refere-se ao grupo dos então sete (G-7) países mais ricos e influentes do mundo, do qual faziam parte os Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido. Em 1998, a Rússia integrou-se ao grupo que passou a chamar-se G-8] que se uniram agora, há cerca de um mês, tenham colocado no seu item, a questão droga. Eu queria conversar, como vou à embaixada da Inglaterra, como vou à embaixada da Itália, perguntar por que faz parte do item das sete poderosas, caminhando para as oito, a questão droga. Portanto porque a América Latina não pode ficar sendo questionada, ela só, com a questão droga, enquanto a Europa, os Estados Unidos estão com esse problema em casa, estão questionando, e nós, da América Latina e do Brasil, em especial, que estamos próximos da América Latina, temos que questionar, inclusive, no orçamento, qual o orçamento para a Polícia Federal? Como é que está o problema da soberania na fronteira? Por que os laboratórios de narcotraficantes estão vindo para nossa fronteira? Enfim...
Jorge Escosteguy: Desculpe interrompê-la, deputada. Eu queria que a senhora retomasse um pouco o começo. A senhora ficou surpresa, porque estava há muito tempo querendo ter uma audiência com o presidente da República e não conseguia.
Raquel Cândido: É verdade.
Jorge Escosteguy: Aí aconteceu o quê, hoje? O ministro [Jarbas] Passarinho [à época da entrevista, era ministro da Justiça] lhe chamou ...
Raquel Cândido: [interrompendo] Aconteceu que o ministro me ligou...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] O ministro Jarbas Passarinho, da Justiça?
Raquel Cândido: ... às oito horas, e aconteceu nessa hora um fato interessante, eu não sei como e quem avisou para o deputado Jabes que eu chegaria naquele momento, e eu fui surpreendida ao sair do meu gabinete para ir ao ministério pelo deputado Jabes Rabelo e o seu motorista ...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Deputado Jabes Rabelo, que é um dos envolvidos nas acusações sobre o tráfico de drogas.
Raquel Cândido: Eu não sei, isso aí é um problema da Polícia Federal. Os irmãos, eu sei, hoje, sem sombra de dúvida. Eu acho que a comissão do Congresso corregedor chegará a essa conclusão, não sou eu que tenho que chegar. Então veja bem, fui surpreendida por ele e seu motorista. Lamentavelmente, o deputado Robson Tuma não estava no Congresso Nacional, e o deputado Jabes foi usar a vaga do deputado Robson Tuma. Naquele momento, eu falei para o meu anjo de guarda que é um policial federal, que só era um que estava cuidando de mim naquela hora, com o meu motorista, eu disse: “corre, corre para ver para onde vai esse carro”. Porque vinha um carro de Curitiba, na mesma direção, o deputado Jabes passou por mim, entrou no Congresso e o motorista estava armado, eu não sei se era segurança, eu creio que não, porque não sei se ele está sendo intimidado, e se dirigiu a esse carro de Curitiba. Então eu chamei o PM e falei: “veja que carro é esse”. Eles saíram fugindo, e eu fui para o Ministério da Justiça, nessa hora, graças a Deus, viva e inteira. E a Câmara não sabe explicar quem é, quem era o segurança. Ela vai talvez explicar, eu tenho certeza que vai apurar, eu aguardo.
José Paulo de Andrade: A senhora não é do partido do presidente, deputada Raquel Cândido?
Raquel Cândido: Não senhor.
José Paulo de Andrade: A senhora não é do mesmo partido?
Jorge Escosteguy: A senhora está sem partido?
Raquel Cândido: Não. Eu estou sem partido desde que o PDT, o PDT não, desde que o [Leonel] Brizola [à época, estava em seu 2º mandato como governador do Rio de Janeiro], o homem que mais eu respeito neste país, equivocadamente passou a desenvolver uma política para a Amazônia de não desenvolvimento e de despoluição da Guanabara. A Amazônia tem que ter uma alternativa econômica que não seja o narcotráfico. Não pode ser a da moto-serra, não pode ser a da moto-serra.
José Paulo de Andrade: Procurar o embaixador americano foi uma maneira de pressionar o presidente?
Jorge Escosteguy: José Paulo, desculpe, por favor. É que a deputada acabou não contando o mais importante, que foi a audiência com o presidente da República.
José Paulo de Andrade: Não, é que eu queria saber por que ela procurou o embaixador americano antes dessa audiência. Foi uma maneira de pressionar o presidente para recebê-la, como aconteceu hoje?
Raquel Cândido: Não, não, de maneira nenhuma. Eu acho que o presidente não pode ser pressionado por mim, mas sim pela sociedade e pelo Congresso Nacional. Eu sou uma deputada, não pressiono ninguém. Agora, cabe a mim também, como deputada federal, procurar estudos comparados de uma legislação que eu entendo ótima, nesse sentido. Quer dizer, de repente um cara fuma maconha com dez anos nos Estados Unidos, e o pessoal sabe que ele fuma maconha, ele tem direito de – porque as pessoas, os partidos tomam conhecimento – de pedir desculpa, e a população vota ou não nessa pessoa. Eu acho isso interessante. Por que ir procurar os Estados Unidos? Porque ele tem uma legislação também e tem ligações com a América Latina, segundo comenta-se, de invasão dentro do território nacional. Eu não quero isso para o meu país, mas quero saber também qual é a política dos nossos credores para desenvolver a Amazônia, qual é a política que existe de alternativa na Amazônia?
Jorge Escosteguy: Deputada, por favor, antes que a senhora retome, o mais importante a senhora ainda não disse, mas enfim, para esclarecer o telespectador, a deputada mencionou o deputado Jabes Rabelo, que estava hoje de manhã, ele é irmão de Abdiel Rabelo, um traficante que foi apanhado aqui em São Paulo com meia tonelada de cocaína. Abdiel Rabelo tinha, inclusive, uma carteirinha de assessor parlamentar, com a assinatura, parece que provada, do seu irmão Jabes Rabelo [cassado em 07/11/91, por ter emitido carteira de identidade da Câmara falsa em favor de seu irmão, preso e condenado por tráfico de drogas]. Mas eu queria que a senhora então voltasse à questão da audiência de hoje. Aí a senhora foi chamada pelo ministro Passarinho, e de repente o presidente da República resolveu recebê-la. Como foi essa conversa?
Raquel Cândido: Recebeu-me lá e passou mais ou menos a tomar conhecimento desse... Eu quero passar para o presidente a grande preocupação da Amazônia legal. [são] Dez mil quilômetros de fronteira despovoada, aberta. Os laboratórios de narcotraficantes peruanos, colombianos e bolivianos, vindo para o Brasil porque a repressão está muito grande dentro desses países. Eu não quero isso para o meu país, eu não quero essa vulnerabilidade de soberania, e quero saber o que ele tem como proposta. E outra coisa: dizer para ele se ele tinha noção da dimensão e se tomava conhecimento da dimensão que é o narcotráfico. E obviamente pedir uma garantia de vida ao presidente do país, que eu tenho que acreditar, que é a autoridade máxima estabelecida neste país, discutir com ele essa questão. Inclusive com relação ao narcotráfico, não com pessoas e Estado, mas como um crime organizado e que põe o pé nas instituições. Eu acho que é a instituição mais vulnerável, mais delicada, mas que decide. Porque de repente eu vi uma indicação do diretor da Polícia Rodoviária do estado de Rondônia, que foi nomeado por indicação do deputado do Jabes Rabelo, com a assinatura da bancada de Rondônia e do Acre, para ser o diretor da Polícia Rodoviária. Como é que passou o que foi pego – quinhentos e poucos quilos de cocaína – de Cacoal a São Paulo, e ninguém viu? Então eu quero dizer que não é só o poder legislativo, a minha instituição; o poder executivo estava representado pelo diretor do departamento rodoviário, está representado pelo diretor do Detran [Departamento de Trânsito] que foi nomeado, que era traficante, que a Polícia Federal.... O Ministério Público de Rondônia que começa a melhorar 100% na pessoa do doutor Lúcio Balbi, da doutora Ruth Diniz, da Zelite, porque não é elite, da doutora Zelite [Andrade Carneiro], e grandes promotores como o doutor [José] Osmar [de Araújo], começam a tomar uma nova visão de política dentro de Rondônia, diferenciada. Dão-me coragem, porque eles não estão sendo removidos, eles não estão sendo rebaixados, eles não estão pegando punição porque, de repente, fizeram e atuaram em flagrante. Podem nos remeter documentos como este que eu gostaria que você lesse depois para os nossos jornalistas; podem nos oferecer determinadas coisas. Existe alguma coisa em Rondônia que quer se sobrepor a esse tipo de alternativa. Então eu tenho que acreditar nisso.
Caco Barcelos: O presidente expressou a opinião dele para a senhora?
Jorge Escosteguy: O presidente disse o quê?
Raquel Cândido: O presidente começou a questionar, pôs a mão na cabeça, achava que a coisa não era tão profunda, passou a tomar conhecimento de algumas coisas, até porque não podem ser ditas a ele e nem ao doutor Tuma, e sim à CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] ou a pessoas que tomem providências da gravidade. Eu não posso falar mais do que eu já falei, porque eu acho que seria leviandade falar qualquer coisa sem provas. E tudo o que eu tenho para falar, eu tenho que falar com muito cuidado, porque daqui para frente as coisas são muito delicadas.
Luiz Lanzetta: A senhora disse hoje no Jornal do Brasil que o maior traficante, o maior bandido, nesse caso, está acobertado e que só seria denunciado lá fora, quando a senhora fosse ter contato nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra. Isso procede?
Raquel Cândido: Não, não procede. Agora eu quero dizer que o maior traficante do Brasil não é o Jabes Rabelo nem o Abdiel. Não vamos ficar na coisa pequena desse tamanho. Não vamos ficar com Rondônia.
Renato Lombardi: E quem é o grande traficante?
Raquel Cândido: Ah! Se eu soubesse, eu juro para você que eu já o teria procurado, não para prendê-lo, mas para denunciá-lo.
Renato Lombardi: Eu queria que a senhora explicasse. A senhora acusou ou falou sobre três deputados do seu estado, que teriam sido eleitos e que fariam parte ou estariam sendo auxiliados pelos narcotraficantes. A senhora foi procurada algum dia por algum narcotraficante para tentar... quer dizer, eles se aproximaram da senhora como se aproximaram de seus colegas de bancada na câmara federal?
Raquel Cândido: Por favor, como é o seu nome?
Renato Lombardi: Renato.
Raquel Cândido: Senhor Renato, em momento algum o senhor vai encontrar nas notas taquigráficas do Congresso Nacional, a nominação de deputado, fulano "A" ou "B". Mas o senhor vai detectar, por exemplo, que o deputado Maurício Calixto me intimida, falava que ia me matar, punha no seu jornal [Estadão do Norte], que é o de maior circulação, [a] desmoralização da minha família. E eu fiz no dia 14 de fevereiro, por escrito, esta denúncia: “não me intimide. Quanto o senhor quer para que eu não me meta nos seus negócios, porque eu nunca me meti neles. Deixe-me viva, eu quero trabalhar”.
Renato Lombardi: Por que ele desconfiava que a senhora tinha se envolvido nos negócios dele?
Raquel Cândido: Porque as ameaças eram tão diretas dentro do seu jornal, que eu nunca participei, e muitos políticos sérios de Rondônia não participaram, porque existe a chantagem. O crime organizado na Amazônia, não em Rondônia e na Amazônia legal, é detentor de parte dos meios de comunicação, de cadeias de rádio, de televisão. Eles podem tudo, compram tudo, fazem tudo.
Luiz Lanzetta: Quem são os políticos sérios de Rondônia, porque nesse caso sério em que a senhora está envolvida há uns oito meses já, mais ou menos, nenhum deles, pelo menos da bancada de oito, apenas três são nominados. E os outros, o que fazem? O governador de Rondônia, o que faz?
Raquel Cândido: Eu nunca nomeei, isso tem que ficar muito... Olha, eu estou surpresa com o governador de Rondônia. Ontem, na televisão, ele pediu – eu vi através do[programa] Globo Repórter, eu acho que vocês viram ontem –, o meu governador, que é filho de Rondônia, tem quarenta anos como eu, dizer que não sabe quem é quem em Rondônia. Dizer “socorro, venham aqui, me ajudem, porque o crime está aí”.
Luiz Lanzetta: O governador tem um assessor especial que era superintendente da Polícia Federal, e me lembro que fui lá há uns anos atrás, e ele já investigava naquela época o senador Olavo Pires, que acabou sendo assassinado [em 16 de outubro de 1990, ele foi executado com rajadas de metralhadora em frente à sua empresa, na região central de Porto Velho. O político disputava o segundo turno das eleições para o governo de Rondônia e liderava as pesquisas de intenções de votos].
Renato Lombardi: [interrompendo] Que é o [Arthur] Carbone, o delegado. Ele foi superintendente lá.
Luiz Lanzetta: Então foi um assessor especial que era da Polícia Federal, que era de lá, que ele já investigava, como é que ele não sabe?
Raquel Cândido: Bom, mas isso não é uma pergunta para ser feita para mim. Eu acho que, de repente, eu... Olha, eu propus, eu não apoiei o governador [Osvaldo] Piana [governou Rondônia de 1991 a 1995], porque ele me disse que não tinha coeficiente eleitoral e o meu partido, o PDT [Partido Democrático Trabalhista], não queria aliança com o PRN [Partido da Reconstrução Nacional] nem com o PTR [Partido Trabalhista Renovador], até aquela época em que não tinha a linha vermelha e nem a despoluição da Guanabara. Eu era impedida e presidia o PDT, portanto eu não podia me coligar a ele. Mas como ele é filho de Rondônia, meu conterrâneo, é o primeiro governador eleito por Rondônia, eu fui pedir para me coligar com ele, porque eu presidia um partido pequeno que é o PDT. E ele me disse: “Eu não tenho coeficiente eleitoral. Você está liberada para fazer qualquer coligação por uma camaradagem que eu tenho como filho da terra”. Agora ele não pode dizer, como ele disse, após as eleições, que eu não pedi a ele nem um cargo, que eu disse “não quero nenhum cargo, não quero participação nesse governo”. Mas eu lhe dei apoio, o único apoio que eu posso dar a um governo e ao meu estado, que é o da credibilidade na vida séria e na política independente de um mandato completamente independente, de apoio ao meu estado para que ele se soerguesse. Não pedi nada a ele, e esse homem cortou totalmente a relação comigo. Ele não fala comigo, ele não fala, o governador do estado não fala mais comigo! [fala com ênfase] Então eu acho que ou ele está sendo policiado ou ele está sendo surpreso, e ontem eu vi aquela declaração e vi um telex dele – pasmem os senhores – pedindo ao ministro da Justiça urgentemente proteção, de que ele realmente reconhecia que o crime organizado estava instalado em Rondônia. Agora ele é de lá! Esse jogo de Rondônia, que eu não quero ficar só nele, porque não nos interessa ficar só nos erros de Rondônia e nem pegar o Jabes, o Abdiel, o fulano da vida, para essa questão. Nós temos que discutir também a questão de como é que a cocaína está chegando no morro do Rio de Janeiro.
Hugo Studart: Deputada, o governador também está ameaçado de morte, lá?
Raquel Cândido: Nós temos que pegar o negócio aqui no asfalto, nós temos que saber por que [as cidades paulistas de] Presidente Prudente, São José do Rio Preto, está tendo o maior consumo hoje? Por que Minas Gerais é o terceiro estado em consumo de drogas?
Hugo Studart: Deputada, eu confesso que não compreendi. O governador de Rondônia também está sendo ameaçado de morte?
Jorge Escosteguy: Pelos novos traficantes?
Raquel Cândido: Ele disse ontem, disse lá no programa Globo Repórter, e disse num documento, já pediu segurança de vida, mas tudo depois do murro que eu tomei do deputado [e médico] Nobel [Moura, foi um dos primeiros políticos cassados por corrupção após a redemocratização do país, sendo expulso da Câmara Federal, em 16 de novembro de 1993. Também foi condenado por mandar matar um radialista do município de Machadinho do Oeste, interior de Rondônia]
Hugo Studart: Deputada, a senhora disse há pouco, que passou quase um mês tentando uma audiência com o presidente da República e, por algum motivo, forças ocultas nunca deixavam a senhora chegar ao presidente.
Raquel Cândido: É verdade.
Hugo Studart: Por acaso, existiria alguma conexão no Planalto, alguma conexão no governo com traficantes de drogas, como se descobriu há pouco lá na Argentina?
Raquel Cândido: Olha, eu acho isso muito leviano e irresponsável da minha parte. Sinceramente, se tem já lá dentro, a gente tem que investigar. E eu disse hoje ao presidente: “presidente, eu sou paga pelas pessoas que pagam imposto de renda para fiscalizar o legislativo, o executivo, o judiciário; e o senhor doutor Tuma, [para fiscalizar] a Polícia Federal, a Polícia Civil e a Polícia Militar. Então eu quero fiscalizar. Eu não posso denunciar, porque, quem tem que denunciar... Eu posso fiscalizar, mostrar; a Polícia Federal vai atrás. Eu seria leviana ao responder a sua pergunta e dizer que tem no Congresso. Eu acho que o presidente, de repente, tomou um monte de cautela, até porque o deputado Jabes tinha feito uma filiação no PRN no dia 26, que foi suspensa, graças a Deus, porque eu acho que era uma manobra de envolvimento. Eu quero acreditar, juro que eu preciso acreditar nisso de qualquer maneira. Agora Deus me livre! Ele hoje disse que não tinha noção da gravidade da coisa e que levaria a coisa a frente, chamou lá o doutor Tuma, disse que vai ter recursos para a Polícia Federal, porque estão se fechando superintendências em Rondônia e Ji-Paraná. Não tem um agente federal, por onde é a maior rota de tráfico em Rondônia, que não é Guajará-Mirim nem Cacoal, ou um centro distribuidor. São dez mil quilômetros de fronteira, nos quais Rondônia tem dois mil. O que há? A Polícia Federal está um ovo; os agentes ganham cento e vinte mil [cruzeiros]. Como é que eles vão correr atrás? No Rio de Janeiro, para você ter uma idéia, mataram, neste mês, nove policiais, de todos os tipos de polícia, e pegaram seus testículos e botaram na boca, trucidaram. Mas eu não quero que esse policial que vai subir para o morro, morra. Esse policial tem que pegar os caminhões como foi pego o do Abdiel, no asfalto. Por que não pega?
Jorge Escosteguy: Só tinha um caminhão do Abdiel, deputada? Tinha um zum-zum, parece que não era só um caminhão. Pegaram um, tinha mais dois, sumiram.
Raquel Cândido: Eu não sei, eu não sou polícia, meu querido. Eu não sei esse negócio de investigação, de quanto é, quanto foi, como que é. Não compete a mim. O que compete a mim é questionar a grande fortuna, e o que eu venho detectando num estado pequeno, como é Rondônia, na região Norte, é que essas grandes fortunas vão virando vultosas. Por exemplo, o Abdiel era o nosso Antonio Ermírio de Moraes [um dos mais bem sucedidos empresários brasileiros, é presidente do Grupo Votorantim]. Lá ninguém tomava nenhuma decisão sem falar com o seu Abdiel. Eu, graças a Deus, não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, até porque empresário nunca gostou muito de mim, sendo honestos ou desonestos, eles nunca gostaram de mim. Não é por uma opção do eleitorado que eu tenho feito na minha vida. Então lá, vamos tomar a bênção, era o padrinho, era o filantrópico, era o que fazia filantropia, é isso aí. Eu que sou filha cabocla de Rondônia não consigo ter avião. Ainda agora eu soube que vão botar no jornal que tenho uma fortuna de duzentos milhões de cruzeiros, que tenho uma casa no Guarujá – vocês estão convidados a ir para a minha casa no Guarujá, para conhecer. Eu tenho 12 anos de mandato, portanto eu sempre tive um bom salário neste país perante toda a sociedade brasileira. Eu não consigo ter um avião, eu sou de Rondônia, sou de Guajará-Mirim, de uma terra altamente focalizada. Eu tenho a oportunidade de conhecer quem é quem, os círculos, a minha cerne, os meus ossos foram feitos quando foi feita a estrada de ferro Madeira-Mamoré, com índios cambas bolivianos do outro lado. Portanto eu conheço a minha história. Como é que há essas grandes fortunas, como é que de repente isso tudo...
Caco Barcelos: [interrompendo] Deputada, os políticos de lá são eleitos com o dinheiro do narcotráfico, ou não?
Raquel Cândido: Olha, eu digo que é duro você ser direto na coisa. Existe uma...
Caco Barcelos: [interrompendo] A senhora já recebeu alguma proposta de narcotraficante?
Raquel Cândido: Não, mas vou lhe contar uma coisa sincera. Essa última campanha foi feita num emaranhado em que o PT não quis fazer coligação comigo, o PSDB quis fazer a sua eleição sozinho, o PMDB saiu com candidato. Eu não podia coligar com o PPR nem com o PRN, e sobrou o senador Olavo Pires. Em momento algum, veja bem, eu tomei o cuidado de pegar o doutor Tuma, antes de fazer a coligação, e perguntar: “doutor Tuma, o senador Olavo Pires é traficante? Por favor, se tiver [ligação] não deixa eu coligar com ele, porque eu só tenho isso, meu patrimônio”.
Hugo Studart: O que o Tuma respondeu?
Raquel Cândido: Ele disse: “Olha, oficialmente, dentro da Polícia Federal, não existe nenhum processo provando que o senador Olavo Pires é traficante”.
Hugo Studart: O que ele respondeu no ouvido da senhora, excepcionalmente?
Raquel Cândido: Não, nem oficial nem extra-oficial. A resposta foi essa, eu disse na frente dos dois e fiz a minha coligação. Porém fiz uma campanha como eu nunca tinha feito na minha vida! Uma campanha onde se impunham candidaturas de cima para baixo, por meio das nominatas [relação de nomes de políticos indicados pelos partidos para concorrer a uma eleição], que todos os partidos fizeram, tanto que o senador fez os oito deputados federais, e eu, do PDT, só pude ter nove mil votos, eu teria que ter sessenta mil para poder sobreviver politicamente. Mas fiz uma campanha no palanque dizendo assim: “não pode votar nos traficantes; trabalhador não pode votar em patrão, porque ele não assina carteira, não paga hora extra”. E o senador olhava para mim e dizia: “Eu não estou entendendo o que você está dizendo”. E eu dizia: “senador, eu estou falando com os meus concorrentes, eu não estou falando com o senhor”. De vez em quando eu levava um murro, enfim, aquele tipo de coisa que é a política em Rondônia. E fiz uma campanha dessa forma, você entende? Então é uma coisa muito difícil dizer se as pessoas são ou não. Tem que fazer um programa aqui, por exemplo, com o senador Odacir Soares, que disse num jornal lá do interior: “Odacir bate duro no Tuma porque não tem superintendência”. Por que o senador Odacir, que é líder do governo, que é um homem honrado, que eu acho que não é envolvido com o narcotráfico, que não precisa se envolver, que é um homem de competência, não abre a boca? Por que o senador é Amir Lando, que vive lá há vinte anos, que sabe dessa realidade, não fala nada? É medo?
José Paulo de Andrade: A senhora já brigou com o senador Odacir Soares por questões de terra, não é?
Raquel Cândido: Ah! Mas isso aí é uma questão diferente, já briguei e daí? Mas terra é uma coisa, terra é uma coisa.
José Paulo de Andrade: E a senhora na época sofreu o mesmo tipo de ameaça que está sofrendo hoje. O mesmo que a senhora...
Raquel Cândido: [interrompendo] Perdi um rim.
José Paulo de Andrade: Perdeu um rim, a senhora...
Raquel Cândido: [interrompendo] Perdi um rim, fui presa, fui torturada, fui tudo, mas é um cara que eu acho que não lida com o narcotráfico. Mas de repente ele precisa do jornal O Estadão, porque é o maior jornal de circulação. Ele não precisa disso, eu já disse isto a ele: “o senhor não precisa desse comprometimento”.
Hugo Studart: Estadão é do Maurício Calixto, que é um dos deputados que estaria envolvido com traficantes.
Raquel Cândido: Não sei, eu acho que a Polícia Federal e a CPI é que vão investigar isso.
Hugo Studart: Deputada, a senhora está com medo?
Raquel Cândido: Mas quem não tem medo desse crime que não tem face? Quem não tem medo? O medo não pode ser a arma dos covardes e dos cúmplices, não pode! Não pode sob pena de você falhar com a sociedade. Como eu disse, ao longo da América Latina e da Amazônia que está ficando sem alternativa. Fecha-se a Zona Franca, tem que medir tatu para poder caçar, não pode fazer roça. Levanta um contingente de imigrantes para lá. Vai fazer o quê, meu Deus do céu? Vai ser laboratório de refino de coca? Vai pegar aquela juventude trabalhadora do país e vai iniciá-la? Porque os grandes jornais têm que fazer pesquisa nos outros "brasis" que é a Amazônia, não só no Rio e São Paulo e dizer: “Aumentou em Minas Gerais”. Vai lá na Amazônia para ver qual é o sonho daquela juventude lá.
José Paulo de Andrade: E o seu marido Marius Guimarães [não encontrei nenhuma referência a ele]? Ele continua apoiando?
Raquel Cândido: Não, isso é um assunto pessoal, particular...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] Não, não, em relação a isso tudo. Parece que a senhora está...
Raquel Cândido: Eu perdi a coisa que mais eu amava nessa luta toda, como estou perdendo amigos e filhos, como perdi o companheiro. Eu prefiro não falar sobre isso. Isso é um problema que me constrange.
Jorge Escosteguy: Deputada, um minutinho, por favor, a mesma pergunta feita pelo Hugo foi feita pelo Etevaldo Alves e pela Maria Lourenção, aqui de São Paulo. O Percival e o Francisco depois, por favor, pela ordem.
Percival de Souza: Deputada, diante do que já aconteceu com a senhora, invasão do apartamento do Rio de Janeiro, invasão...
Raquel Cândido: [interrompendo] Essa é a última.
Percival de Souza: Invasão do gabinete, um soco na cara, na Câmara, a sua casa invadida lá em Rondônia, espalharam fezes nas paredes, um sítio da senhora invadido com bezerros degolados com as cabeças na porta. Isso até me parece história do Mario Puzzo, em O poderoso chefão [livro com a saga de uma família de mafiosos italianos que emigraram para os Estados Unidos, transformado em três filmes de enorme sucesso de crítica e bilheteria, dirigidos por Francis Ford Coppola]. Mas diante disso, eu pergunto o seguinte: a senhora está sozinha? A senhora está sendo apoiada? Como a senhora vê nesse momento a sua própria luta?
Raquel Cândido: Como é o seu nome?
Percival de Souza: Percival.
Raquel Cândido: Percival, deixa eu lhe dizer. Quando a gente faz uma opção na vida, Percival, eu já disse no programa do Jô, [Soares] eu sou Raquel Cândido sem nome de marido, pequeninha, com um metro e sessenta, com quatro filhos e que nunca tive pensão alimentícia. Fui motorista de táxi para não servir a ditadura, e fui a que mais eu ganhei dinheiro, porque não tinha taxímetro. E de repente eu fundei o sindicato e botei o taxímetro, mas já ganhava um dinheiro, porque o cara pagava a corrida sem saber quanto custava naquela época. Eu sou uma mulher que sofreu muito para chegar aonde eu cheguei, muito. Toda a minha luta, toda a minha vida pública foi feita com grandes embates, com promessas de campanha. Quer dizer, como é que se fazia a derrubada das casas do terreno do senador Odacir Soares com o meu colega e fraterno amigo Chagas Neto, que é grande empresário e que é um homem direito, sem se cumprir liminares, queimando as casas das mulheres dos garimpeiros. O marido ia para o garimpo, não ganhava dinheiro, ela ficava com uma barriga e quatro filhos. Tinham várias inscrições na prefeitura, só que não davam essas inscrições, porque o senador tinha as terras no nome da mulher dele, que estavam bem próximas do centro urbano. Então o que eu fiz? Fiz um levantamento desses inscritos na prefeitura e fundei o Movimento dos Sem-Terra com uma promessa de campanha. Nós vamos... como é que fala na Justiça?
Percival de Souza: Assentar.
Raquel Cândido: Não, nós vamos propor a desapropriação da função social. Fizemos isso com dez mil assinaturas, com a colaboração do doutor Magnus Guimarães, que foi meu companheiro de trabalho e de luta. Nós não éramos ouvidos naquela época, era o coronel Teixeira. Então não tinha ainda uma democracia bem estabelecida no meu território, que era sorteado, eu não sei se lamentavelmente ou não, com o Exército. Sempre foi o Exército, geralmente de cavalaria, que administrou o território de Rondônia. Então o que houve? Primeiro embate: formar o Movimento dos Sem-Terra como vereadora, uma promessa de campanha, ir à Justiça pedir a desapropriação, não conseguia; os primeiros movimentos populares indo ao fórum fazer as audiências. E na Câmara, isso me causava processos de cassação, porque eu era perturbadora da ordem – “onde já se viu uma mulher que era motorista...”. Hoje, por exemplo, dando prosseguimento ao que estou lhe dizendo, é dito na rádio do doutor Maurício que eu sou o satanás do Congresso Nacional, vinte quatro horas. “Raquel Cândido, o satanás do Congresso Nacional”. “Viva o deputado Nobel, o nosso Maguila”. Eu não trouxe a fita, mas poderia ter trazido para vocês. Então é dentro desse caldo que eu me fiz política, dentro do MDB [Movimento Democrático Brasileiro], como a vereadora mais votada. E fizemos a desapropriação de terra, na luta eu perdi um rim, a Alda me socorreu. Hoje eu tive uma feliz e agradável surpresa, São Paulo através das suas... a Rádio Bandeirantes ficou no ar enquanto queriam incendiar a minha casa, o Magnus estava lá nessa época. Existiam novos promotores assim como está sendo feito em Roraima, tudo encomendado: o governo manda chamar, “eu quero que passe esse no concurso”, “esse é que vai ser juiz”. Território é uma coisa terrível nessa transformação. E eu ousei ser vereadora naquela época, porque todo o Brasil estava fazendo eleição para governador, e o meu estado ia ser estado, mas não fazia eleição para governador, só para deputado e para senador, que era para ir para o colégio eleitoral para votar no Mário Andreazza [militar e político, foi ministro do Interior no governo Figueiredo] que era o candidato do [João Batista] Figueiredo [último presidente do regime militar, governou o Brasil de 1979 a 1985]. Depois eles traíram todo mundo e votaram para o doutor Maluf que, por sinal, eu respeito demais. Mas isso são histórias do passado.
Percival de Souza: Mas hoje a senhora está sozinha ou tem apoio na sua vida?
Raquel Cândido: Deixa eu lhe contar o que existe. O que existe é que esta mulher pequena conseguiu levantar um problema que a sociedade brasileira tem como tabu, porque tanto o high society, uma pessoa de elite, que tem um filho viciado, tem vergonha de dizer “meu filho é viciado”, como a mulher do povo, cujo filho rouba um botijão de gás para comprar a paranga [regionalismo de “maconha”] – como eles dizem – ou o feijão-com-arroz, em Rondônia, também não quer assumir. O que é o deputado para ela lá em Rondônia? Ele é o confessor. Ela chega e diz assim: “Deputada Raquel, meu filho está preso na Demec, porque ele roubou um botijão de gás da minha casa e do meu vizinho e ele estava vendendo drogas”. Eu vou falar com esse jovem. Mas existe também na elite já a cocaína viciando, só que essas pessoas têm padrão de vida para colocar o seu filho na clínica. Narcotráfico e droga são tabus; a sociedade não quer ver porque ela tem medo. Não é porque ela não quer ver porque ela não quer, ela tem medo. O que usa o narcotráfico? O terror, a intimidação e a morte. Ninguém pode falar. Então o que está acontecendo diante da sua resposta? Vocês da imprensa, pela primeira vez, estão dando a uma deputada lá do norte do país – o que é raro, porque é uma bancada de oito – a credibilidade de um problema que é de todos nós, que é de toda a sociedade, e que é muito mais da Amazônia como uma alternativa econômica. Se eu disser para você que eu recebo quarenta cartas do Brasil hoje, até do pai-de-santo que diz: “olha, eu quero ir lá lhe benzer”; do cara que diz: “aqui tem não sei o quê”. O povo está fazendo esse levante, que é o Congresso Nacional, para ele se movimentar. E existe um silêncio dentro do Congresso, que eu diria que não é um silêncio pernicioso do que não se vai fazer, mas existe um medo. Percival, as pessoas que acreditam que tem que tocar no assunto dizem para mim assim: “Cuidado, Raquel, que é perigoso”. O cara que é traficante, que vive disso, diz: “Olha, cuidado, que você vai morrer”. Então é tudo muito cuidado, para não tocar no assunto.
Jorge Escosteguy: Deputada, o Percival perguntou se tem alguém com a senhora? Por exemplo, o Tadeu Moreira, lá de Fortaleza, telefonou querendo saber justamente se tem algum deputado da sua bancada, por exemplo, do seu estado, que está ao seu lado?
Raquel Cândido: Eu preciso ser bem sincera. Depois que aumentou e houve essa pressão, [por causa] dessa grande quantidade de cocaína, eu só recebi um telefonema de um deputado. Eu seria injusta se não falasse no Moroni [Torgan], que está sendo também o “Dom Quixote de La Mancha [Referência ao personagem principal do livro El ingenioso hidalgo Don Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. A obra deu origem ao termo “ quixotesco” que se aplica tanto a pessoas consideradas sonhadoras, quanto às que se envolvem constantemente em conflitos]”, é um gaúcho bom de briga, mas...
Percival de Souza: Que é delegado da Polícia Federal.
Raquel Cândido: E que, graças a Deus, surgiu essa coisa nova lá, embora eu tenha as minhas restrições e tivesse muito mais com relação à polícia. Mas esse cara está dizendo a que veio. Ele não é político, é uma pena, ele ainda não é político. Ele é mais delegado do que político, mas é um cara sério.
Renato Lombardi: E nessa oportunidade está se vendo mais um policial do que um político.
Raquel Cândido: Não sei. Eu acho que nenhum político faria o que o Moroni está fazendo.
Renato Lombardi: O que ele está fazendo, porque ele é um policial.
Raquel Cândido: Porque ele sabe, porque ele conhece, porque é a área dele, ele é especialista. Então, veja bem, Percival, só dois deputados me ligaram – respondendo à pergunta – dois. O Agostinho Valente do PT, que é da nossa CPI, um cara seriíssimo, de Minas, e o Moroni.
José Paulo de Andrade: E São Paulo, nenhum deputado de São Paulo?
Raquel Cândido: Deputado? Não, do Rio de Janeiro só...
Hugo Studart: [interrompendo] São sessenta em São Paulo.
Raquel Cândido: ... a Bené [apelido da então deputada pelo Rio de Janeiro, Benedita da Silva].
Jorge Escosteguy: Francisco Viana tem uma pergunta para a senhora.
Francisco Viana: A senhora vai me permitir questionar as suas boas intenções. A senhora falou recentemente, há poucos minutos, que foi se aconselhar com Romeu Tuma sobre o perfil do senador Olavo Pires. Bem, é sabido que desde 1987, a polícia estava no encalço de pistas em torno do Olavo Pires, inclusive o piloto dele foi preso aqui em São Paulo com 47 quilos de cocaína. Outra coisa, pelo currículo que a senhora mesma traçou da sua trajetória, a senhora conhece Rondônia como a palma da mão.
Raquel Cândido: Mais ou menos.
Francisco Viana: A minha pergunta é a seguinte: se a senhora realmente desconhecia, não sabia do que acontecia, ou se naquele momento politicamente era tático fechar os olhos?
Raquel Cândido: Era a única. Não, não era fechar os olhos. Era a única tática; primeiro para o PDT ter o primeiro mandato limpo, honesto, com a cara que o PDT precisa ter no Brasil, na pessoa do Brizola, que é probo. Ele pode ter todos os defeitos, para mim ele é ingrato, mas ele é probo e sério. Eu acredito nisso. Era a única, porque o PT não quis, as atas estão aí, o PSDB não quis, o PMDB não quis, ninguém quis.
Francisco Viana: Mas não é essa a minha pergunta. A minha pergunta é se a senhora fechou os olhos por conveniência ou se a senhora não sabia ingenuamente o que estava acontecendo?
Raquel Cândido: Pelo contrário, eu fiz a campanha dizendo, em cima do palanque do senador Olavo Pires, e acho que ele é que não queria enxergar o que eu dizia: “não se vota em traficante, trabalhador não pode votar em patrão”. Ele dizia: “Mas com quem que a senhora está falando”? “Eu estou falando com os meus concorrentes, senador”, e eu dizia o meu discurso. Eu acho que de repente eu fui naquela época o que uma mulher é sempre na política nacional, e que pensaram que eu seria um adorno simples, e que me elegeria e ficaria envaidecida com isso. Não recebi do senador Olavo Pires um santinho, não participei de nenhum... nem o meu santinho foi para o jornal dos Calixtos, nem pagando.
Francisco Viana: Então a senhora admite que em algum momento de sua trajetória, como aconteceu na Colômbia, a senhora se associou politicamente aos traficantes como plataforma?
Raquel Cândido: Não admito, não admito, não admito. Nunca eu tive certeza, nunca vi, mas cheguei a dizer para o senador, lá nas conversas, o que eu sentia: “olha, vocês matam eles ou eles [matam vocês], eu não entendo desses crimes de vocês aí. Eu tô fora. Eu quero saber dos meus minutos de televisão, senador”. Isso eu falo no palanque, isso eu posso fazer o meu discurso. Eu só sei disso.
Mônica Teixeira: Deputada, eu queria mudar um pouco de assunto. A senhora abriu o programa dizendo, aliás, olhando para a câmera, que não iria nos ameaçar, que não iria impedir o trabalho do câmera, não iria tampar a lente. E eu fiquei me perguntando, primeiro, por que a senhora disse isso, que me surpreendeu. E a segunda coisa é se isso, de alguma forma ,está relacionado a perfis da senhora que foram publicados nos jornais, por exemplo, O Estado de S. Paulo e a Folha, dando conta de que a senhora já agrediu muitas vezes pessoas, inclusive, sua própria filha fez uma queixa uma vez numa delegacia de Brasília, de que tinha sido espancada pela senhora; [o caso] de um vigia da Câmara porque [lhe] pediu uma credencial, enfim...
Raquel Cândido: [interrompendo] Da Câmara?
Mônica Teixeira: Da Câmara, porque pediu...
Raquel Cândido: [interrompendo] Da Câmara Federal?
Mônica Teixeira: Da Câmara Federal, porque pediu uma credencial.
Raquel Cândido: Muito bem. Eu disse isso porque o SBT – todo o Brasil viu – foi ameaçado pelo deputado Jabes. Eu quero lhe dizer que eu não sou uma mulher de levar desaforo para casa. Aliás, eu recebi o “prêmio limão”, eu e o Mário Covas [governou São Paulo de 1995 a 2001], recebemos o "prêmio limão" na Constituinte, porque somos azedos. Eu não posso admitir de maneira nenhuma, por ser pequena e estar com jeans, e não estar posando de deputada com pompa e carteira na mão, que um segurança da casa olhe para mim, às 14 horas, com uma emenda constitucional, que tinha que ser trabalhada sábado e domingo. E eu dizia para ele: “o senhor me dá licença que eu tenho que ir ao meu gabinete”, com um presidente de um sindicato que presenciou a cena. Ele dizia: “Gracinha, eu não conheço você como deputada”, com os pés sobre a mesa...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Mas isso justifica a senhora dar um tapa nele?
Raquel Cândido: Justifica no momento em que eu, como mulher, que representa alguma coisa... o sujeito pega onde não deve pegar...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Sei, eu já vivi exatamente essa situação e eu não dei um tapa na pessoa que fez isso comigo.
Raquel Cândido: [...] quem sabe é porque você é uma pessoa muito mais passiva, eu não. Eu fui mãe solteira e fui à luta competindo com salário igual de homem. Então, quem não tinha nada com a história se levantou e disse: “Olha, cale a boca, deputada, porque eu só conheço como deputado desta casa o deputado Ulysses Guimarães [(1916-1992), histórico político pemeedebista, foi presidente da Assembléia Constituinte organizada em 1986]”. Eu disse: “olha, fica quieto que tu vai conhecer outra deputada de outro jeito que você..., não quer minha carteira”, e dei o tapa. Não vou negar que dei o tapa. E digo mais uma coisa... minha filha, minha filha que não deu queixa na polícia, que é mentira da imprensa...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Os dois jornais publicaram, por isso que eu citei.
Raquel Cândido: Mas é mentira da imprensa. Procure o registro disso. Aliás, os narcotraficantes começam batendo pela desmoralização, e tudo começou por causa dessa nota. E eu vou contar para o Brasil exatamente,ipsis literis [literalmente], o que aconteceu. Eu tenho uma filha, que é advogada e que faz sociologia, e que namorava um diagramador no Rio de Janeiro. Coincidentemente, colega de vocês, ganhava muito mal [risos], era diagramador lá do Jornal do Brasil...
Raquel Cândido: Trabalhava lá e se apaixonou pela minha filha. Durante o período do recesso, a minha filha, que é estudante de direito, que faz sociologia, gastou cem mil de telefonemas para o namorado. Acontece que eu só tenho trinta mil de cota da Câmara. E a minha filha pode ter trinta ou vinte anos, é advogada e está fazendo sociologia, ela tem que ter bem noção de que aquele dinheiro é do povo, e que eu preciso ter trinta mil de cota para falar com alguém. E eu cheguei lá e tinha cem mil de conta telefônica. Eu mandei chamar a minha querida Luciana, minha amada Luciana e disse: “Luciana, isso não está justo”. Ela, no alto dos seus vinte anos, de doutora em advocacia, obviamente já com o pescoço bem alto, disse: “Olha, mamãe, eu não quero conversar”. Foi ao banco e pegou os cem mil cruzeiros e jogou em cima da minha mesa e disse: “Está aqui essa merda”. Eu disse: “Não, não [fazendo o gesto de não com as mãos]. Filho meu, no meu tempo e no meu modo de pensar, não pode se dirigir assim. Você vai sentar aqui e nós vamos discutir”. Quis falar de outra forma, minha filha? É minha filha, eu criei. Eu nunca fiz isso com a minha mãe, pode ser que eu seja quadrada, você está entendendo, mas eu acho que isso...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Sim, deputada, mas onde eu quero chegar não é nessa história pessoal, que eu acho inclusive que é pessoal, né...
Raquel Cândido: [interrompendo] Mas eu estou contando...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Pareceu ser, da leitura dos jornais, que é um comportamento da senhora, que pode, inclusive, justificar a quantidade de inimigos que a senhora parece que tem granjeado. Então eu me pergunto até que ponto os inimigos que a senhora tem estão efetivamente ligados ao tráfico de drogas e às denúncias que a senhora tem feito, ou então a uma inimizade pessoal que a senhora conquistou e que a senhora traz de Rondônia para o Congresso Nacional?
Raquel Cândido: É, eu prefiro ficar com a sua pergunta, quem sabe o Nobel bateu, porque ele é meu inimigo pessoal.
Mônica Teixeira: Não sei, eu estou perguntando.
Raquel Cândido: Quem sabe, porque eu dizia naquela hora: “presidente, eu estou sendo ameaçada, tem mil olhos olhando aqui, e se o senhor não me proteger eu vou ser morta”. Eu nunca tive nada contra, foi a primeira vez que eu denunciei o deputado Nobel, de usar o lenocínio [ação de explorar, estimular ou favorecer o comércio carnal ilícito, induzir ou constranger alguém à sua prática], naquela hora como instrumento de defesa. Mas eu fico com você, para que discutir isso [sorrindo ironicamente].
Caco Barcelos: Deputada, qual prova que a senhora tem contra ele?
Raquel Cândido: De quem?
Caco Barcelos: Contra o deputado Nobel.
Raquel Cândido: O Nobel, pois eu acho que a Bené vai provar isso melhor do que eu. Ela está fazendo a comissão de esterilização...
Caco Barcelos: Mas a senhora é que o está acusando.
Raquel Cândido: Não, o lenocínio? Ele fez mais de oito mil esterilizações e foi para as câmeras de televisão, durante a campanha, e dizia: “olha, se você tem tantos filhos venha aqui”...
Mônica Teixeira: [interrompendo] Mas isso não é lenocínio.
Raquel Cândido: Calma, calma, minha filha. Mas ao mesmo tempo, ao meu entender, quem tem uma cadeia de motel e propicia esterilização, isso é na minha interpretação, não é lógica, não está no direito. Mas quem fulmina [querendo dizer estimula] você engravidar e você esterilizar está sim abusando de você como mulher. Está sim, e isso ele tem. Ele não pode negar, a campanha foi feita. E o pior, a esterilização era feita assim: “Eu estou te ponteando [fazendo o gesto como se estivesse costurando o abdômen], qual é o meu número? Você vai votar em mim, não vai (...)”.
Mônica Teixeira: Mas isso não é lenocínio, eu acho que volta a pergunta do Caco. Que provas a senhora tem contra o deputado Nobel, que mostre efetivamente que ele pratica o lenocínio?
Raquel Cândido: Eu acho que isso é na minha interpretação. Não é na sua.
Caco Barcelos: E com relação ao tráfico que está lá no Congresso, que a senhora falou?
Raquel Cândido: Nunca, eu nunca falei de ninguém. Eu acho que pessoas são traficantes, que existem pessoas que estão sendo comprovadas, e que vai ser muito fácil dizer “eu não sou traficante, quem é traficante é o meu irmão, é o meu pai, é meu parente, é minha avó”. Agora esse dinheiro ajudou na minha campanha. De repente eu acho que isso pode acontecer, já aconteceu uma vez.
José Paulo de Andrade: Mas quando a senhora foi agredida, parece que o machismo falou mais alto na Câmara. Eu me lembro até de uma entrevista do deputado Roberto Cardoso Alves, em que ele perguntou qual era a violência maior: um deputado ir para a tribuna e chamar o outro de traficante ou de cafetão, que foi o caso, foi mais ou menos isso que saiu de lá, ou então o safanão. Quer dizer, houve esse tipo de [intriga?]. A senhora teve alguma solidariedade dos homens?
Raquel Cândido: Eu quero dizer uma coisa importante para vocês aqui. O Congresso Nacional é altamente majoritário com homens. Nós somos 36 mulheres, uma minoria absoluta e que veio dessa vez, eu diria, com menos vivência política. A Cristina Tavares  não está lá, de repente a Moema não está lá, várias. Eu tenho a Cristina, assim, como a porta-estandarte do Congresso Nacional, enquanto mulher, no sentido de cidadania em pé de igualdade. Então o Congresso se renovou em 73%. E o que existe lá? Trinta e seis companheiras, que estão pelo primeiro mandato, a grande maioria, nunca fizeram política. Estão lá a mulher do fulano, a mulher do beltrano. Eu não tenho nada contra, foram excelentes primeiras-damas, fizeram filantropia, estão lá pelo seu valor, mas é diferente de alguém que faz uma escola vocacionada e que vem de vereador, obviamente que é diferente. Então o Congresso Nacional tem um microfone de apartes, o da direita e o da esquerda. Quem faz a cobertura no Congresso sabe disso. Então você tem uma barreira ali de homens, vamos supor, como nosso querido [Nelson] Jobim [jurista e político brasileiro, participou dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte e presidiu a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação da Câmara dos Deputados, em 1989], o [deputado] Octávio Elísio [também foi um dos constituintes], de um metro e oitenta. De repente você tem que mergulhar por baixo deles, é uma questão de ordem, porque ali você tem que participar de alguma forma, principalmente nas grandes questões, para não ficar só na educação, não ficar só na assistência social. Porque de repente se a mulher começar só a discutir o social sem o econômico, aí fica naquela de que o cerebelo da mulher não funciona igual ao do homem, é um negócio horroroso, e não é verdade. Isso não é verdade. Então para que você se estabeleça plenamente como uma parlamentar, exercendo o seu mandato, isso é no palanque, você leva cotovelada, te derrubam, porque a maioria dos partidos te dão a vaga para dizer: “olha, está aqui a mulher bonita, engraçada, vai falar das crianças”, e que é ótimo, que nos diz respeito. Mas nós temos capacidade e temos provado isso, com uma força maior do que os homens, que é inevitável até porque nós somos parideiras da vida...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] Mas nesse episódio aí, a senhora se sentiu discriminada como mulher?
Raquel Cândido: Mas isso é óbvio! [falando com ênfase] É só você ver o flash da fotografia, na hora em que eu levava o murro, tinha seis companheiros de braço cruzado lá e o pau estava comendo. Então na hora em que eu caí é que seguraram meu colega. A minha companheira aqui até acha que deve ser em função da minha – não é minha companheira, é a jornalista aqui – personalidade. Quem sabe eu deveria ter apanhado mais, eu não tinha uma bolsa ali, se eu tivesse uma bolsa eu tinha me defendido.
Mônica Teixeira: Não, eu não acho absolutamente que a senhora devesse ter apanhado mais, de maneira nenhuma.
Raquel Cândido: Porque eu levei dois socos ali, quer dizer, eu precisava ter ao menos uma bolsa ali para dizer: “olha, não me bate tanto”. Porque eu não sei apanhar como você, juro para você.
Mônica Teixeira: Eu nunca apanhei.
Caco Barcelos: É verdade que a senhora já bateu também num juiz e num repórter?
Raquel Cândido: Não, não é verdade. Juiz não, mas um promotor que me algemou o pé e mão, eu sendo uma constituinte, eu mordi na barba dele. Nós fomos presos juntos.
Caco Barcelos: Mordeu?
Raquel Cândido: Ah! Mordia sim, eu não podia bater, porque eu estava algemada, e ele disse: “Eu não conheço a senhora” – depois que eu cheguei na polícia – “eu não sabia que a senhora era deputada”. Eu mordi, e ele até viu, eu fiz uma entrevista, enquanto ele olhava para cima, eu chutei naquilo que é roxo dele para poder correr. [risos]
Renato Lombardi: Deputada, a senhora falou do governador, que para ele foi uma surpresa o narcotráfico se instalando em Rondônia. E o prefeito de Porto Velho? Qual é o seu problema com o prefeito de Porto Velho, senhor Francisco Chiquilito [Erse]?
Raquel Cândido: Eu não tenho problema. Olha, Chiquilito é um colega meu como foi o Piana, em classes diferentes. É uma pessoa que eu..., até disse para ele, e se ele fizer justiça um dia na vida dele... Eu trabalho no gabinete do Chiquilito, de tanto que eu o admiro. Eu disse a ele: “Chiquilito, você é a maior liderança do meu estado e a pessoa em que mais eu confio. Eu quero dividir a metade do meu salário de constituinte com você, mas não quero que você faça determinadas coligações”.
Renato Lombardi: Quais são as coligações que ele faz?
Raquel Cândido: Por exemplo, ao ser prefeito, ele foi, ele precisou também naquela hora, do dinheiro...
Renato Lombardi: [interrompendo] Do dinheiro do narcotráfico também?
Raquel Cândido: Eu não sei se do narcotráfico, mas o senador Olavo Pires fez a campanha do deputado Olavo Pires [equivocando-se, pois talvez quis dizer Chiquilito]. E o Chiquilito é um caso tão querido no meu coração, que é quase como um filho meu. Eu não gosto de falar do problema dele, porque é um problema diferente do narcotráfico, e que faz com que as pessoas fiquem daquele jeito.
Francisco Viana: Agora, deputada, ele diz que a senhora não deve ser levada a sério. O que ocorreu entre essa amizade tão fraternal para se chegar a esse tipo de colocação da parte dele...?
Raquel Cândido: [interrompendo] Eu sempre tive essa amizade. Então, mas eu não sei, eu acho que isso tem que ser perguntado a ele. Eu sou ética, eu gosto do Chiquilito como eu gosto de qualquer "bicho grilo" que existe na cidade e que vive por aí, coitado, sem saber o que está acontecendo.
Renato Lombardi: Agora a senhora fez uma dobradinha com o senador Olavo Pires e ele foi assassinado. Para a senhora foi o quê? Queima de arquivo? Os narcotraficantes resolveram matar o senador por que estava na hora? Como é que é isso? O que a senhora apurou sobre isso?
Raquel Cândido: Não sou eu que explico isso. Eu não apurei, porque eu não sou polícia para apurar nada, eu não sou polícia. Eu acho que estão lá, a Polícia Civil, a Polícia Federal, o Ministério Público, por que não apuram? Eu é que pergunto. Eu não sou polícia para ver isso.
Percival de Souza: Agora, deputada, eu li uma declaração sua, na qual a senhora afirma que 90% das grandes fortunas da região Norte do Brasil são forjadas através de fachadas e são fortunas obtidas através do narcotráfico. Eu queria saber se essa menção coincide com uma declaração do ministro da Aeronáutica na Comissão de Segurança da Câmara ou é uma outra informação que a senhora possui?
Raquel Cândido: [ela retira algum documento de uma pasta com papéis que mantém sobre as pernas] São duas informações. A primeira é com base nessa, do ministro da Aeronáutica, na página nove do documento da Aeronáutica detectado. Por que existe isso? [são] Declarações do ministro, porque ele chegou a essa conclusão. É preciso dizer que eu não defendo militar, não tenho nada com eles, mas eles estão todos mal, como está a sociedade brasileira, e eles são defensores da nossa soberania e têm alguma coisa em comum comigo, que sou da fronteira. Eu acho que fronteira diz respeito à Aeronáutica, à Marinha. Eu acho que são atribuições que nós determinamos a eles. Então, o que tem neste documento? É que existem mil campos de pouso, mil campos de pouso clandestinos, duzentos aeroportos, cinco mil vôos clandestinos, que podem sair com cinco mil toneladas de cocaína ou narcotráfico...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] Nós temos uma estatística completa, não é deputada?
Raquel Cândido: E não tem um radar na Amazônia, com detector, que possa saber o que sai com metal e o que sai com cocaína.
José Paulo de Andrade: Agora nós sabemos tudo o que tem, não é? Quantos campos de pouso clandestinos...
Raquel Cândido: [interrompendo] Então, veja bem, são declarações dele, e ele diz mais, e ele tem razão. Desconfia-se, tem-se quase certeza, de que as grandes fortunas daquela região que é a Amazônia [parece ler o documento que havia retirado da pasta] são fachadas mascaradas de atividades que envolvem o tráfico de drogas e o contrabando de metais. Eu estou com ele em tudo: gênero, número e grau. Agora eu quero perguntar para ele, que não tem um radar, que não pode fazer nada porque tudo vai destruir a ecologia, o que ele está falando para o presidente dele? Isso é verdade, isso é a mais absoluta verdade. A fronteira está desguarnecida, não tem superintendência, não tem agente, não tem Aeronáutica, não tem mais Marinha, e o traficante está sabendo disso. Por que está havendo esse esvaziamento desses órgãos naquela área e dando lugar para outro tipo de coisa?
Jorge Escosteguy: Deputada, por favor. Nós vamos precisar fazer um rápido intervalo, o Roda Viva volta daqui a pouco entrevistando hoje, a deputada por Rondônia, Raquel Cândido. Até já.
[intervalo]
Jorge Escosteguy: Voltamos com o Roda Viva que hoje está entrevistando a deputada federal por Rondônia, Raquel Cândido. Deputada, durante quarenta e cinco minutos do primeiro bloco, discutiu-se muito narcotráfico, as suas acusações; um perguntou se tinha provas contra o senador Olavo Pires, se tinha prova do outro. Enfim, a senhora falou muito sobre o problema, mas quando chega na hora de [dizer se] o deputado é traficante ou não é, o senador era ou não era, a senhora não sabe. Então o telespectador, por exemplo, o Nelson Siqueira pergunta se a senhora só fala e não tem provas; o Luiz Carlos Vieira, aqui de São Paulo, também telefona e pergunta por que a senhora demorou tanto para fazer essas denúncias já que está em Rondônia, nasceu em Rondônia, tem quarenta anos de vida em Rondônia. Afinal, além do que nós sabemos, ou seja, que o tráfico vem da Colômbia, passa pelo Brasil, passa pelo Norte, vem por São Paulo, aqui é distribuído, vendido, etc, o que a senhora sabe sobre o narcotráfico? O que pode contribuir para desmantelar essa rede? Quem são as pessoas envolvidas afinal no narcotráfico?
Raquel Cândido: Eu comecei o programa dizendo que eu sou deputada federal. Eu tenho que fiscalizar, denunciar, propor e legislar. Eu não sou xerife, delegada de polícia. Eu não posso prender ninguém. Não posso ser leviana para dar nomes de quem... O que é o narcotráfico? Como é que você pega o traficante? Com a mão na botija. Você não pode dizer que fulano é traficante, sem ter provas. O que eu disse e volto a afirmar é que o narcotráfico está instituído nos poderes do nosso país com assento no Congresso Nacional...
Jorge Escosteguy: Mas como é que a senhora sabe disso?
Raquel Cândido: Eu fiscalizei isso, fiscalizei isso! Agora se o telespectador acha pouco que um irmão de um deputado teve 563 quilos de cocaína [apreendidos] e não serve como elemento de comprovação, então ele que venha nos ajudar também a dar nomes. Porque não sou eu que tenho que dar nomes, eu tenho que fiscalizar, procurar, comprovar, ir atrás, e a Polícia Federal é que tem que comprovar esses fatos.
Percival de Souza: Agora, deputada, para não frustrar os telespectadores, eu formularia uma questão, digamos, quixotesca. Sem que a senhora precise dar nomes, mas mencione situações. Se por hipótese a senhora fosse chamada imediatamente, outra vez, pelo presidente da República, pelo ministro da Justiça e pelo diretor-geral da Polícia Federal, [e eles lhe  perguntassem] “o que nós podemos fazer na região para acabar com o narcotráfico?”. Que rumos a senhora indicaria?
Raquel Cândido: Aliás, essa pergunta hoje foi suscitada.  Mas, veja bem, eu sou uma pessoa que não sou dona da verdade, a bancada da Amazônia tem 73 parlamentares. Existe e terá que existir, e quem disse isso a mim, esta semana, foi um grande sábio, o Barbosa Lima Sobrinho [(1897-2000), jornalista, advogado, escritor e político, participou ativamente de importantes episódios da vida política do Brasil], sobre o planejamento de atividade econômica legal como alternativa para a Amazônia. Essa questão ecológica, louca, que tem que medir tamanho de tatu, tamanho de peixe, não pode fazer um assado, está levando essa economia informal criminosa a se estabelecer como uma alternativa na Amazônia.
Mônica Teixeira: Qual é o projeto da senhora para a Amazônia, deputada?
Raquel Cândido: Eu tenho o projeto Transfronteira [tornou-se projeto de lei no Senado alguns anos depois da entrevista, sob o nº06/97), mas foi arquivado com base no parecer contrário do relator, senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que o julgou inviável por falta de recursos públicos para sua execução], está aqui na minha mão. Essa foi uma boa pergunta. Eu fiz o projeto Transfronteira, vou lhe falar sobre ele, que é uma alternativa, a meu ver, para não ser só a militarização na Amazônia também, que é uma coisa questionável, Calha Norte [O Programa Calha Norte assegura a presença do Estado brasileiro, representada pelas Forças Armadas, nos limites da região amazônica, cuja fronteira terrestre se dá com os seguintes países: Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa]. Então coloca-se um pelotão ao longo da fronteira, que é necessário, porque dizem ser atribuição das Forças Armadas, mas levam-se hospitais. Não tem um monte de sem-terra brasileiro que não tem onde plantar? Faz-se lá um estudo ecológico de desenvolvimento sustentável e coloca-se esse homem, do Paraná, o gaúcho, e separa o que é mineração e terra indígena, faz um projeto de legislação de terra indígena, deixa o índio ganhar o seu royalty lá. Não polui, não acaba com os rios, faz uma mineração que não polua. É minha culpa, minha máxima culpa, porque fui eu que propus a emenda de cooperativa de garimpeiro. Foi um equívoco meu e eu tenho condição de dizer isso publicamente. As cooperativas estão manipuladas, o minério acaba e esse homem se torna um viciado. Isso é uma realidade. Eu fiz parte disso, porque eu pensei que brasileiros garimpeiros pudessem tomar consciência e não se tornarem nômades, através de cooperativas sérias. Foi um equívoco meu. Eu sou autora do Código de Minas, também eu não sou só que fico... Sou co-autora do Código de Defesa do Consumidor, tenho um projeto Transfronteira que está na Comissão do Meio Ambiente, em que há uma emenda ao Calha Norte que diz: “Vamos colonizar, povoar a Amazônia!”. Porque a cobiça internacional está aí, quer pegar, quer acabar com a Zona Franca que é o tambor do desenvolvimento, que só parafusa [faz o gesto de que está usando uma chave de fenda] televisões, mas que gerou emprego para o caboclo. Qual é a alternativa? Acaba a Zona Franca, vai fazer o quê? Em Rondônia não pode ter agropecuária. O Plano Flora está lá, eu defendo o Plano Flora do Piana. Eu não defendo com esse secretariado que ele tem aí, porque eu não acredito nele. E o governador vai ter que dar várias explicações também de determinadas coisas, porque eu começo a fiscalizar o governo do estado de Rondônia a partir de agora... Alternativas existem para a Amazônia: tem as várzeas, tem os campos, tem tantas alternativas. O presidente Collor não está trazendo um monte de fábrica de automóvel, Toyota... Por que só fica em São Paulo, Rio e Minas? Por que não levam uma fábrica dessas, montadora, para a Amazônia, ensina o caboclo a fazer alguma coisa? Por que nós não podemos tomar leite, comer carne, termos proteína, para sermos uma raça igual à de São Paulo, do Rio Grande do Sul? Nós só temos que comer jatuarana [espécie de peixe] com farinha, agora nem isso pode mais. Então, tem que haver um planejamento, um desenvolvimento econômico para a minha região – pelo amor de Deus ! – para não ficar sendo isso que está acontecendo aí: os garotos vendendo mela [ou merla, conhecida também como crack], [feita a partir da] borra de cocaína, mas antes se viciando. Isso vindo para São Paulo, vindo para o morro no Rio de Janeiro, vender isso só. Mas eu quero saber como é que fica esse monte de cocaína que passa pelo asfalto? Por que não passa e não pega nesse trajeto? Com quem está essa cocaína? São perguntas que eu me propus a fiscalizar; grandes fortunas comprando, por exemplo, empresas de aviações de empresários que pagam impostos, que têm tudo, que estão falindo na economia do Brasil e que as pessoas estão comprando.
Renato Lombardi: Dá para a senhora falar um pouquinho da fortuna dos Rabelo, que a senhora conhece muito bem.
Raquel Cândido: Eu me nego a falar de pessoas, eu quero que a gente discuta o problema...
Renato Lombardi: [interrompendo] Mas a senhora falou aqui que tudo que acontece em Rondônia tinha que passar na mão de um dos irmãos do Jabes Rabelo, não é isso? A senhora não falou isso?
Raquel Cândido: Eu falo de uma entidade...
[...]: Que ele seria o Antônio Ermírio de lá.
Renato Lombardi: Exatamente isso.
Raquel Cândido: Isso é pura verdade. O próprio governador do meu estado disse, vocês viram no...  Mas era uma família tão honrosa...
Renato Lombardi: [interrompendo] O Abdiel, não é isso? Dom Abdiel.
Raquel Cândido: ... tão honrosa, tão respeitada. Isso é verdade, isso é verdade.
Renato Lombardi: Então a senhora conhece a família dos Rabelo. O que eles faziam lá?
Raquel Cândido: Eu conheço ... Eu soube através do deputado Rabelo, que quis conversar comigo e eu disse que só conversaria com ele em companhia do meu fraterno amigo, líder do PTB, Gastone Righi, só conversei na frente do Gastone...
Renato Lombardi: [interrompendo] O que eles faziam lá?
Raquel Cândido: Eu disse: “Jabes, eu conheço a tua fama, a tua riqueza, e eu soube que você era motorista do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. De repente você estava torrando café, e eu sou deputada já vai fazer doze anos e eu não consegui comprar um avião. Eu não tenho o que conversar com você. Por que você tem um...” “Mas eu não sou traficante”. Eu disse: “eu nunca disse que você é traficante. Você tem que explicar como que foi feito isso, eu não tenho”. Eu disse que existem grandes fortunas.
Caco Barcelos: Existe um Pablo Escobar [(1949-1993), referência ao chefe do cartel de Medellín, que se tornou mundialmente famoso como o senhor da droga colombiano, e acumulou fortuna graças ao intenso tráfico de cocaína para os Estados Unidos e outros países] em Rondônia?
Raquel Cândido: Não existe. Eu acho que se nós levarmos a discussão para Rondônia só, nós vamos correr um risco de uma irresponsabilidade muito grande. Existem vários Pablos Escobar: médio, pequeno, grande, enormes, poderosos. E eu diria que na Amazônia e em Rondônia existem Pablitos Escobares. É preciso que ...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] O Pablo Escobar estaria em São Paulo e no Rio de Janeiro?
Raquel Cândido: Ou não, só no Rio de Janeiro.
José Paulo de Andrade: Mas a senhora está sugerindo isso?
Raquel Cândido: É possível, é possível. Quer dizer, quando eu soube, segundo a imprensa, que o Abdiel tinha iate e casa lá no Guarujá, que também estão me dando uma agora, hoje o Nobel me deu uma, confesso que quero levar vocês para lá. Quando eu soube disso, eu tomei surpresa. Quando eu vi que prenderam quinhentos quilos e tal, e tal, eu falei: “meu Deus, meu Deus!” [colocando as mãos nas faces]. Então eu acho que existem vários Pablos Escobares, Pablitos Escobares na Amazônia, em Rondônia, tem muitos.
Hugo Studart: Deputada, o deputado Maurício Calixto, que é um dos adversários da senhora, parece que é dono de um jornal em Rondônia, diz que vai entregar amanhã para o Romeu Tuma um dossiê de quatrocentas páginas contra a senhora. E nesse dossiê ele denunciaria, ou seja, ele diria, entre outras coisas, que a senhora teria dois apartamentos, um no Rio e dois em Brasília, três casas em Porto Velho, um sítio e nove carros. Ele fala também que a senhora teria sido acusada de estelionato, lesões corporais – que parece que a senhora disse que nesse caso é mesmo – ajuda à fuga de traficantes e, por fim, roubo de dinamite. [ela sorri e abre os braços como expressando surpresa] Eu queria saber o seguinte: levando em consideração que a senhora está no centro aí de um furacão sobre a idoneidade moral dos outros, eu queria saber o que exatamente a senhora tem de bens? Ou seja, a senhora disse que começou pobre como motorista de táxi lá em Rondônia, que começou do nada, e que hoje não teria nenhum avião ainda, mas exatamente o que a senhora tem de bens? E a outra coisa: dessas acusações como estelionato, roubo de dinamite e ajuda à fuga de traficantes, o que tem de verdade ou mentira nisso?
Raquel Cândido: Olha, eu tenho que começar falando por essa certidão aqui [mostrando a certidão] que o deputado Nobel apresentou numa coletiva, e ele só deu a fotocópia. [Alega-se] Que eu fui presa em 1973, com base no Artigo 12 da Lei 6368, por porte e tráfico de drogas. O Ministério Público de Rondônia, que já está apurando essas denúncias aí, disse o seguinte [tirando outro documento de dentro de sua pasta]: que a penitenciária em que eu estaria presa em 1973 foi inaugurada em 30 de outubro de 1984, portanto eu não poderia estar presa em 1973. A lei 63...
Hugo Studart: [interrompendo] Mas a senhora foi presa alguma vez por problemas de tráfico?
Raquel Cândido: [interrompendo] Por favor, deixe eu responder. Nunca fui, nunca fui [colocando a mão direita espalmada sobre o peito]. A Lei 6368 é de 1976 e não de 1973. O funcionário, coitado, que assinou, é funcionário do gabinete dele, do deputado Maurício Calixto. Ele só foi funcionário seis meses depois, com certeza lhe prometeram, para ele assinar essa certidão, que ele seria empregado, até porque nessa época o deputado Maurício Calixto era secretário de administração. Então vai a primeira resposta. Em segundo lugar, minha declaração do imposto de renda falará por mim. Eu tenho dois apartamentos sim, em Brasília, e tenho um no Rio de Janeiro, que eu estou vendendo por trinta milhões, agora, depois que me assaltaram. Eles disseram que vale cem, isso não está negado, eu tenho. É na Epitácio Pessoa, meus filhos não estão lá, eles não vão mais matar, na Lagoa. Custa trinta milhões, dá para comprar três de um quarto para os três filhos. Se eu morrer, eles têm onde morar. Dois apartamentos, que são as únicas propriedades que eu tenho em meu nome, que eu consegui com a minha vida pública, são financiados pela Caixa Econômica; tranquilamente qualquer pessoa pode ter. Eu tenho uma casa que eu já tinha antes de ser vereadora, em Porto Velho, que eles depredaram e acabaram com tudo. Eu tenho um sítio de trinta hectares em Porto Velho, que tem 18 anos que eu comprei junto com a minha mãe, que era caminho, inclusive, de onde eles pegaram..., eu tinha nove vacas, eles mataram dois bezerros. As nove vacas estão na fazenda do seu Nelson, eu não sei quantas tem porque faz dois que eu não sei das vacas. O que eu tenho mais? Eu tenho três carros, se tiver seis...
Hugo Studart: Ele disse nove.
Raquel Cândido: Nove.
Hurgo Studart: A senhora tem três?
Raquel Cândido: Eu tenho três. Eu tenho um Opala 80, um Monza 82 e uma camionete F-1000, [ano] 89. O resto dos seis nós vamos dividir entre nós.
Hugo Studart: E para terminar: e o roubo de dinamite?
Raquel Cândido: Pois é, eu acho que essa pergunta tem que ser feita... Essa campanha foi quando eu fui ser deputada constituinte. Saiu, eu não sei, acho que de uma funcionária do Nobel chamada Suely Bittencourt. Vocês vão ver. Ela é funcionária e foi cabo eleitoral do deputado Nobel. Eu estou achando assim muito estranho, porque hoje o deputado Nobel é que levou isso para o comitê de imprensa, e amanhã que o deputado Maurício [Calixto] vai apresentar para o Tuma. Quer dizer, eles são tão amigos [entrelaçando os dedos das mãos indicando junção, união], né? De repente o Jabes que estava pedindo voto para votar contra mim, eram eles três, eu não falei nada.
José Paulo de Andrade: Faltou um item aí: ajuda ao traficante.
Hugo Studart: Ajuda à fuga do traficante.
Raquel Cândido: A fuga de traficante. Jamais na minha vida, jamais, nunca, meu Deus do céu! Jamais! Isso nunca me ocorreu. Dinamite. Surgiu essa acusação nas eleições de Constituinte. Deixe eu contar para você, porque no inquérito policial diz “militar”. Que eu iria detonar a casa do senador Odacir Soares. A casa do senador Odacir Soares é parede e meia – lá em Rondônia tem uns casarões antigos – com a minha ex-sogra, avó dos meus filhos, que naquela época, quando eu fazia campanha, ficavam com ela. Com certeza eu explodiria a casa do senador com os meus filhos dentro. Eu respondi a esse inquérito, eu e [...] e nunca apareceu o sargento que deu as dinamites, o soldado que deu, o capitão que falou nunca apareceu. E eu nunca mais fui ouvida nisso, tem mais ou menos uns cinco anos. Agora desacato à autoridade, resistência à prisão, eu tenho doze, dos quais eu me honro muito, muito. Nenhum por narcotráfico, como eles colocaram aqui; nenhum por crime; nenhum por nenhuma bandidagem; nenhum por tráfico ilícito. Minhas declarações de Imposto de Renda falarão. Também eu tenho o melhor salário deste país há doze anos, eu não posso ter um apartamento? Eu não tenho é fazenda de dez hectares. Eu tinha nove vacas, eles mataram dois bezerros. Eu não tenho nem o carro do ano.
Hugo Studart: Deputada, parece que isso é levado para o lado pessoal...
José Paulo de Andrade: Deputada, parece que tudo isso aí que se fala agora da senhora é depois da apreensão aqui em São Paulo dos quinhentos quilos de cocaína...
Raquel Cândido: [interrompendo] Não, eu falo é desta certidão falsa [com a certidão na mão] eles terão que provar como é que eles fizeram isso.
José Paulo de Andrade: [...] parece muito bom para ser verdade, por que essa coragem toda? A senhora é um grande homem hoje aqui, porque nenhum homem assume isso que a senhora está assumindo. Qual é a força que move a senhora?
Raquel Cândido: Eu acho o seguinte. De repente os traficantes são mais inteligentes que nós. Eles querem fazer, obviamente, todas as acusações possíveis; e não sou eu que sou estelionatária, porque quem assinou este documento foi o funcionário dele, que não aparece porque eu acho que está correndo risco de morte e não tem a certidão assinada, autêntica; portanto não foi autenticada, e foi numa coletiva nacional. Enquanto nós nos perdemos e eu vou ter que provar que eu não tenho nada a ver com isso, eu perco tempo em descobrir várias coisas que nós tínhamos que ...
José Paulo de Andrade: [interrompendo] Alguma entidade encampou essa luta sua? Nós estamos perguntando aqui, várias perguntas foram feitas nesse sentido. A senhora está sozinha nisso? Nenhuma entidade encampou?
Raquel Cândido: Não, não, não.
Renato Lombardi: A senhora acha que na Câmara Federal todos são covardes?
Raquel Cândido: Não, de maneira nenhuma.
Renato Lombardi: Só existem covardes? Porque só a senhora que levantou essa bandeira contra o tráfico.
José Paulo de Andrade: A OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], a ABI [Associação Brasileira de Imprensa], nenhuma das...
Raquel Cândido: [interrompendo] A ABI já encampou, a OAB, eu vou procurá-la. Eu acho que de repente é assim, você tem que sair procurando. A minha instituição eu vou ver depois desse fórum, porque o Nobel, que me deu aqueles murros, não pode ser julgado até o recesso, já faz quatro meses, mas eu confio na minha instituição. Agora eu disse para vocês que só dois deputados tiveram coragem, ou sei lá o quê, ou solidariedade de me telefonar. Eu confio no Waldir Pires [foi governador da Bahia e posteriormente deputado federal pelo mesmo estado]; eu tenho que confiar no Ibsen Pinheiro [Em 1986, foi eleito deputado constituinte e, de 1991 a 1992, foi o presidente da Câmara Federal]; eu tenho que confiar nos meus colegas; eu tenho que confiar na minha instituição. Como ela vai agir eu confesso para vocês que eu não sei, porque eu não vi, não senti...
José Paulo de Andrade: Agora, a senhora sente o quê? Que há muito medo para... Eles apóiam, mas não assumem?
Raquel Cândido: O narcotráfico é aquilo que eu falei, quando as pessoas apóiam essa luta, que não tem rosto, que não tem cara e que a gente sabe que mata, e que descobre o endereço da casa da gente... Quer dizer, a minha casa no Rio de Janeiro era o único lugar onde os meus filhos viviam em paz...
José Paulo de Andrade: Descobriram.
Raquel Cândido: Descobriram já, foram lá, roubaram os álbuns de fotografia dos meus filhos. Segundo a polícia, quando se rouba álbum de fotografia é para encomendar crime. Quer dizer, é um negócio terrível isso!
Percival de Souza: Agora, deputada, o seu dia a dia hoje como é que é? Tem um policial permanentemente com a senhora?
Raquel Cândido: Até para ir ao banheiro.
Percival de Souza: E uma outra coisa. Eu queria saber, depois de tudo isso, quando a senhora chega ao Congresso, os seus colegas saem de fininho? Fazem de conta que não vêem a senhora? Como é isso?
Raquel Cândido: O traficante telefona hoje para os meus colegas já também e para o meu gabinete dizendo que eu sou uma bomba ambulante. Eu sou uma bomba ambulante. Então isso começou a me dar muito mais pavor. Os meus filhos perderam os amigos. Eu tenho uma filha que é engenheira, que tem que prestar assessoria para as empresas, os colegas não entram com ela no carro. O meu filho caçula – eu não queria falar sobre isso – precisa de psicólogo, porque é ele quem atende os telefones da Câmara, toda hora: “a sua mãe vai morrer, você vai ficar com a boca cheia de formiga. Pode estar em São Paulo, pode estar não sei onde”. Mas eu tenho amigos como a Alda, que estava aqui agora, que disse “manda as crianças para cá”. Eu tenho pessoas, eu tenho a Teresinha, uma advogada que é do Conselho de Ética da OAB de Brasília, que disse: “Olha, Raquel, eu acredito em você”. Eu soube de uma reunião de 53 dentre os quais só seis desconfiavam que podia ser verdade, dos quais quatro eram mulheres, e que pegaram esse documento e foram aos outros jornais dizendo que eu não estava fazendo uma acusação leviana. Eu tenho vocês, agora, me questionando aqui.
Percival de Souza: Agora, a sua presença causa um mal-estar na Câmara?
 Raquel Cândido: Total. Eu estou com lepra na Câmara. Hanseníase, eu estou leprosa.
Jorge Escosteguy: Deputada, Alfredo Piotrowiski, de Guarulhos, telefonou justamente colocando essa questão.  A senhora não acha que de repente o "espírito de porco" da instituição vai vigorar e ninguém vai ser punido nem pela agressão à senhora?
Raquel Cândido: Não, eu acho que não, porque tem..., olha, tem a instituição... o povo é sábio.  Doutor Ulysses tem setenta anos, quase não se elege, mas se elegeu...
[...]: Setenta e quatro.
Raquel Cândido: Setenta e quatro. 10% que fica na Câmara, que o povo sempre deixa, que é vocacionado, que faz da Câmara um sacerdócio – foi isso que eu disse para alguns traficantes que vieram me peitar – são homens sérios, que preservam a nossa instituição e são políticos vocacionados. Os novos que chegaram sabem que aquela instituição repugna determinados comportamentos e determinados crimes, e eles não queriam acreditar. Ter um Waldir Pires sendo corregedor é uma honra para o Brasil e para o Congresso Nacional.
[sobreposição de vozes]
Renato Lombardi: Só que não apareceu ninguém, deputada, na televisão, para uma entrevista, e dizer: “Olha, eu defendo a deputada, nós vamos levantar a bandeira da deputada.
Raquel Cândido: Eu sei disso, mas vocês têm que perguntar isso!
Mônica Teixeira: Por que a senhora não tem essa credibilidade? Por que a senhora acha que a senhora não tem? Por exemplo, eu me lembro que meses atrás, o deputado Maurílio Ferreira Lima denunciou as fraudes na Previdência, começou a denúncia. Ele teve solidariedade do Brasil inteiro, teve uma resposta imediata do governo, etc. Por que as denúncias da senhora não encontram a mesma repercussão? Por que elas não têm essa credibilidade?
Raquel Cândido: Interessante essa sua pergunta, interessante. Primeiro...
Francisco Viana: [interrompendo] Eu gostaria de complementar e dizer o seguinte: o problema é da senhora? Quer dizer, falta credibilidade à senhora para fazer denúncias de tal peso, ou é um problema da Câmara, do Congresso que não quer se envolver com esse tipo de coisa?
José Paulo de Andrade: Ou é um problema da mulher, hein?
Francisco Viana: Onde está o problema?
Raquel Cândido: São várias coisas. [fala olhando para frente, diretamente para a câmera] Primeiro, meu presidente Ibsen Pinheiro, meu presidente, você está no Rio Grande do Sul. Em fevereiro, quando eu cheguei, eu falei no teu ouvido: “eu não quero votar nesta chapa”. E eu disse o porquê no teu ouvido. Lembra disso? Você é promotor e aquela chapa foi composta...
[Sobreposição de vozes]
Luiz Lanzetta: [interrompendo] Na ocasião a senhora disse na Câmara – eu estava lá – por que não queria votar na chapa.
Raquel Cândido: Disse no ouvido do meu presidente.
Luiz Lanzetta: Mas isso no comitê de imprensa...
José Paulo de Andrade: No ouvido do microfone.
Luiz Lanzetta: ... o Jabes Rabelo estava na chapa, e hoje a senhora não fala mais no [...] Jabes Rabelo. [risos]
Raquel Cândido: Eu disse no ouvido do meu presidente. O meu presidente disse que era uma questão de bancada. Eu disse: “meu presidente, você é promotor, pelo amor de Deus! A nossa instituição é a mesa diretora”. Eu adoro os gaúchos, a minha vida tem sido cruzada pelos gaúchos de todas as formas, mas o gaúcho é o homem mais machista que pode ter no planeta. [risos] Que me desculpem os gaúchos presentes.
Mônica Teixeira: A gaúcha.
[risos]
Raquel Cândido: E a gaúcha também.
Jorge Escosteguy: Há vários aqui.
Raquel Cândido: Há uma falta também, entre nós, mulheres, no Congresso Nacional e entre a sociedade, de cumplicidade que vocês homens têm, maravilhosa. Vocês já viram mulher emprestar dinheiro para mulher? É raro, hein. De repente o homem chega e diz: “Olha, eu estou ruim, o salário não saiu, preciso de uma cerveja, falta o leite das crianças”. Vocês emprestam, e as mulheres até brigam em casa porque o dinheiro foi emprestado para o colega. Não existe isso entre mulher. Nós vamos olhar primeiro se a perna é grossa [desenha com as mãos o formato do corpo de mulher], se não está competindo. É incrível isso. Eu  adoro as mulheres, elas são minhas cúmplices, mas não existe essa cumplicidade total ainda entre nós. E o que existe no Congresso Nacional? Primeiro, eu sou mulher; segundo, é muito difícil que um assunto tão polêmico, tão difícil como esse, que envolve vidas, que envolve moralidade, que envolve coragem, acima de tudo, que envolve instituições, possa ser abraçado de uma forma tão séria como ele requer. Terceiro, eu sou mulher sim, é difícil. Porque quando eu grito, eu estou histérica, eu não estou [agindo] exasperadamente ou com veemência. A mulher quando grita no Congresso Nacional é histérica ou precisa “daquilo”, é uma forma de chacota, mas é verdade. O que existe também no Congresso Nacional? O Maurílio é de um grande estado da federação, que é o tambor político, que tem uma bancada enorme e que tem ressonância, não é? Eu sou de um estado pequeno, mulher, pequena, que estou brigando com um negócio sério, que não tenho pedigree, que de repente pensavam que eu queria holofote e tudo, e não é nada disso. Achavam que eu estava brigando só com Rondônia, e aí é que está o grande problema. Não estou brigando com Rondônia nem com os deputados de Rondônia, nem com o narcotráfico de Rondônia. Nós temos que discutir o narcotráfico dentro das instituições como uma forma econômica de alternativa que está se instalando neste país. Portanto eu acho que se eu fosse até a briga de Rondônia, estava todo mundo apoiando. Fica essa pergunta no ar. Então existe isto: uma deputada de um estado pequeno, com uma bancada pequena, um estado insignificante, a quem, de repente, nem vocês dão muito valor, não é? Quem é a Raquel? O que há, ela é doida, está aí...
José Paulo de Andrade: Não, há uma outra deputada na mesma situação da senhora, que é a deputada Cidinha Campos, do Rio de Janeiro, que também fez denúncias graves contra as fraudes na Previdência e me parece que também não teve apoio de ninguém.
Raquel Cândido: E tem um outro ingrediente, meus amigos.
Mônica Teixeira: [interrompendo] Mas a deputada Benedita da Silva, é mulher, é negra, não é alta e continua tendo...
Raquel Cândido: [interrompendo] É discriminada, é discriminada.
Mônica Teixeira: É discriminada, mas ela é respeitada. A deputada Cristina Tavares, eu me lembrei também dela agora.
Raquel Cândido: [falando ao mesmo tempo que Mônica Teixeira] Eu acho que eu sou respeitada, só se você acha que não.
Mônica Teixeira: É da credibilidade que eu estou perguntando. Eu não sei, a senhora é que está dizendo, a senhora que acabou de dizer que a senhora se sente desrespeitada...
Raquel Cândido: Eu acho, eu me acho.
Mônica Teixeira: ... que a senhora sente que as pessoas não dão importância à senhora.
Raquel Cândido: Não, eu não disse que eu me sinto desrespeitada.
Jorge Escosteguy: Por favor, um de cada vez.
Raquel Cândido: Eu não disse que eu me sinto desrespeitada, em momento algum.
Mônica Teixeira: Mas a senhora disse isso.
Raquel Cândido: Eu disse que o problema da credibilidade que foi colocado, que não é a falta de respeito, é diferente, acontece como aconteceu com a Bené. De repente a Bené não pode ser relatora da Comissão de Extermínio das Crianças [Comissão Parlamentar de Inquérito para Apuração de Responsabilidade pelo Extermínio de Crianças e Adolescentes no Estado do Rio de Janeiro], ela teve que fazer uma de esterilização, porque só uma negra, com muita dignidade, que veio de baixo, faz. Como eu vou propor, a CPI das grandes fortunas. Então é uma discriminação. E a Bené tem que estar provando meio dia, meia hora, de cinco em cinco minutos, que ela é uma mulher séria. A Cristina tinha que sair no tabefe e gritar bem alto lá dentro; você sabe que a atuação da Cristina era assim. A Cristina tinha que estar na Comissão de Informática, dando tapa e murro em muita gente lá dentro, no estilo dela.
Mônica Teixeira: Mas ela tinha credibilidade.
Raquel Cândido: E daí, o que eu posso fazer? De repente eu não fui guerrilheira da esquerda para ter credibilidade, só...
José Paulo de Andrade: De repente, a Cristina não se reelegeu, também tem esse detalhe.
[sobreposição de vozes]
Jorge Escosteguy: Por favor, uma pergunta de cada vez, por obséquio.
Raquel Cândido: O problema da credibilidade eu acho que é este aí: é um estado pequeno, é um problema seriíssimo, e tem o maior problema. De repente, se no sindicato dos jornalistas – eu vou devolver a pergunta para você – fosse pego o presidente do sindicato ou o diretor do sindicato com quinhentos quilos de cocaína. O que vocês fariam? Quem denunciaria teria credibilidade ou seria louco? É uma pergunta.
José Paulo de Andrade: O silêncio respondeu.
Caco Barcelos: Deputada, é público que ...
[sobreposição de vozes]
[...]: A hipótese que a senhora colocou não existe.
Caco Barcelos: ... os grandes traficantes de Rondônia são empresários. É público isso? É público que os grandes traficantes lá são empresários. Eu lhe pergunto por que não tem nenhum na cadeia?
Raquel Cândido: Como?
Caco Barcelos: A senhora já denunciou alguma vez algum empresário traficante? Já que é público que são eles que são os traficantes.
Raquel Cândido: Não, olha, nós... eu falei que eu detectei esse problema, eu não sei, eu devo me explicar mais para o país. Num grande comício na campanha do Brizola, eu vim ao Rio de Janeiro, vim ser tribuneira dele no Rio de Janeiro, e pude ir à Baixada Fluminense. O que eu vi na Baixada Fluminense, eu vi no Norte do país. Assim, na Baixada eram trinta mil famílias. Os pais na frente, os que tinham entre 22 e 28 anos, no meio, desconfiados, porque não acreditam na classe política e atrás, a meninada de 16 e 17 anos, anarquizando, acabando com o comício. Louca. Então eu vi isso na Baixada e vi em Rondônia. De repente você falava do problema droga já, isso na campanha do presidente. Isso foi aflorando todo... aquilo que eu lhe disse, a sensibilidade de saber que esse problema estava existindo e que ninguém queria tocar nele. E isso foi detectado em Rondônia, porque você termina o comício, você vai para a sua casa, e as pessoas vão te procurar no teu escritório para falar daquele botijão de gás que foi roubado, da outra que é dondoca, mas que o filho está viciado...
Caco Barcelos: [interrompendo] Mas eu queria saber da senhora o que explica o fato de não ter nenhum na cadeia, nenhum empresário que financia o tráfico, lá.
Raquel Cândido: Eu acho que está começando, não está?
Jorge Escosteguy: E nenhum deputado cassado. O Antonio Carlos Ferreira, de São Carlos, por exemplo, pergunta quem a senhora acha que é mais vilão: a polícia ou o Congresso?
Raquel Cândido: Olha, eu acho que de repente o Abdiel está aí preso. Ele é irmão do deputado e na hora de ser preso, ele puxou a carteira e disse: “Não me prenda porque eu sou assessor”. E foi preso. Tem que acreditar em alguma coisa, minha gente, tem que acreditar. Agora está custando uma vida, está custando todo um sacrifício, está custando tudo isso que está acontecendo aí, vai custar muito mais, eu não sei o que vai custar. Mas eu quero continuar fiscalizando. Quanto à cassação, o Congresso Nacional passou por um crivo terrível da sociedade brasileira. Renovou 70% do Congresso Nacional. Mas o que houve? A política que também faz a gente questionar hoje, que não vem mais através do vocacionado, porque a crise é enorme no país, de valores, de valores morais. Quer dizer, se você é pobre, se você é um deputado ético, se você... De repente o doutor Ulysses quase não foi eleito aqui, gente! Então o Congresso Nacional começou a eleger as pessoas que foram cuidar dos seus casos, dos mais variados possíveis, menos do vocacionado de ser deputado federal do país [com ênfase], como tem a crise de ser ministro do país, como tem a crise de ser um empresário preocupado com a realidade do país. O país está precisando disso! Essas pessoas foram tomando espaços de formas variadas, e o Congresso tem que ser assim. Agora eu pergunto: quem é que aguenta ficar, a não ser que ele seja vocacionado, ali, no plenário da Câmara, como diz a Regina Gordilho [à época, era vereadora da Câmara do Rio de Janeiro], apertando o botão, correndo atrás de emenda, fazendo projetos, sentando na mesa, é isso, depois não é isso. Isso precisa de um sacerdócio, de uma experiência. Então hoje eu ouço muito deputado dizendo o seguinte: “poxa, se soubesse que era assim, eu não vinha para cá”.
Percival de Souza: Mas deputada, a senhora acredita na...
Hugo Studart: [interrompendo] Deputada, a senhora...
Percival de Souza: Um minutinho só. A senhora acredita na Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o narcotráfico? A senhora acredita na CPI?
Mônica Teixeira: [interrompendo] Deixa eu pegar uma carona. E qual é o projeto da senhora para combater o narcotráfico?
Raquel Cândido: Eu acho que, em princípio, é aquilo que eu lhe falei, a Amazônia é um portal de entrada por causa da fronteira. Temos que revisar o orçamento e planejamento do desenvolvimento alternativo de economia legal para a Amazônia. Refino não pode ser feito na Amazônia. Esses bolivianos, meus amigos, conterrâneos e irmãos da raça a que eu pertenço, não podem viver do plantio da coca. O Nordeste não pode deixar de plantar feijão com arroz, milho e mandioca, porque não tem preço, para plantar maconha. Quando falo do Nordeste, eu já falo dos estados que nós estamos fiscalizando, como Recife, Bahia e Maranhão, que já tem como economia alternativa o plantio da maconha. Nós não podemos virar nesse Brasil, nós não podemos. Então, o que existe? É tentar esclarecer e criar uma vontade popular, e dessa vontade popular criar uma vontade política, dando condição, restabelecendo as instituições de combate, de educação, com uma proposta maravilhosa que eu vi num programa, com prisão perpétua e tirando os bens do traficante no momento em que ele for detectado. Porque só dói no bolso do traficante a perda do dinheiro que ele ganhou fácil e prisão perpétua para ele. Pena de morte? Olha, eu estou aí querendo ver o plebiscito, mas eu tenho tanto medo da pena de morte! [com ênfase].
Percival de Souza: A CPI [do narcotráfico], deputada, a senhora acredita na CPI?
Raquel Cândido: Eu tenho que acreditar na CPI, porque o Moroni e eu, que temos 41 anos, não estamos arriscando a nossa vida por causa de refletores. Nós estamos até querendo questionar o nosso Congresso, a nossa instituição, para o expurgo. E ela fará esse expurgo em nome da democracia, em nome da dignidade do povo brasileiro. Ela fará, para que ela possa fiscalizar outros tentáculos desse crime tão hediondo que é o narcotráfico.
Jorge Escosteguy: Deputada, com essa resposta, a senhora respondeu a pergunta do Adilson Maturama, aqui de São Paulo. Eu queria lhe fazer duas perguntas; uma delas foi feita por três telespectadores, uma leva à outra. O José Maria Escarqueti, aqui de São Paulo,  pergunta como a senhora vai se proteger quando o seu mandato acabar, e se a senhora, por acaso, não for reeleita. Abílio de Lemos e Jaime de Souza perguntam se a senhora não está dando essas entrevistas e fazendo todo esse auê, como se diz, para se candidatar, possivelmente, quem sabe, até para governadora de Rondônia.
Raquel Cândido: Primeiro lugar, nada de [cargo] executivo na minha vida. Aliás, o povo sempre...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Ou para garantir a sua reeleição, depende.
Raquel Cândido: Não, não, nada de..., nunca seria executiva, até porque eu acho que o executivo depende de um trabalho de equipe. Eu sou uma pessoa que... e acredito muito no trabalho que a gente faz, não é? Porque de repente, eu vou querer limpar uma rua, e o meu secretário de obras não vai querer limpar aquela rua, aí vai entrar o negócio da construtora. Olha, executivo nunca. Vou morrer sendo legislativo. É uma opção de vida. A minha reeleição, ela dar-se-á, pode ter certeza meu amigo, se eu ficar viva, e os meus eleitores não me crucificarem porque a mídia local me acaba, diz que eu sou o “satanás do Congresso Nacional”, e se eu conseguir levar a sério junto à CPI que está apurando tudo isso, dar-se-á daqui a quatro anos. Dar-se-á no período normal em que haverá as eleições, eu espero no meu país. Eu não estou buscando um mandato, é uma promessa de campanha sim, porque ela foi discutida na campanha. Então é uma proposta que eu fiz no Norte do país, lá numa cidade pequenininha, que eu detectei o problema ao longo da Amazônia, que eu vi no Rio de Janeiro, que eu estou vendo entrar, lamentavelmente, no Sul do país, pegando a juventude que tem condição de viver melhor, que tem poder aquisitivo, como é o interior de São Paulo, em Camboriú [Santa Catarina], no Rio Grande do Sul, sendo consumidores.
Renato Lombardi: Deputada, esse gancho ainda. Se a senhora não tem o apoio dos seus colegas deputados, quando o noticiário baixar, como a gente fala, “baixar a bola”, o que a senhora vai fazer da sua vida?
Raquel Cândido: É uma pergunta boa que eu não sei lhe responder. Eu acredito que fico viva enquanto o noticiário estiver alerta e atento, e cobrando da CPI do Congresso Nacional para que se apurem essas coisas que nós estamos investigando.
José Paulo de Andrade: Agora pelo menos já tem bons suspeitos, se acontecer alguma coisa com a senhora, né?
Raquel Cândido: Eu sei, por exemplo, de onde vêm os tiros. A sociedade sabe de onde vêm os tiros. Eu disse a ele no meu discurso, ao deputado Maurício Calixto, que foi a única pessoa que eu nominei, que eu não me meti nos negócios dele, porque eu queria ficar viva. De repente, o Jabes ficou inimigo, o Nobel passou a me dar soco, não sei por quê, sinceramente, não sei por quê.
José Paulo de Andrade: A senhora já marcou audiência com a primeira-dama americana, Barbara Bush?
Raquel Cândido: Não, não, isso tudo é criação.
José Paulo de Andrade: Não, a senhora pediu uma audiência com o presidente [George Herbert Walker] Bush [presidente dos Estados Unidos de 1989 a 1993].
Raquel Cândido: Eu acredito que a sociedade brasileira e o Congresso Nacional têm que ser rápidos e velozes nisso. Nós temos que revisar uma legislação também, que é com base nessa visita, ou pegar esses papéis para fazer uma legislação, mas o rito sumário...
Renato Lombardi: [interrompendo] Mas essa coisa existe aqui, deputada.
Raquel Cândido: Não existe o rito sumário...
Renato Lombardi: [falando ao mesmo tempo que Raquel Cândido] Não, não. Os documentos apurados, todo mundo tem isso aqui.
Raquel Cândido: ... hoje você faz uma confusão entre quem usa droga e quem é traficante. A nossa Constituição, que é belíssima, vulnerou muito, por exemplo...
José Paulo de Andrade: Aí o traficante que usa droga não é punido.
Raquel Cândido: Você acredita que hoje seria difícil um delegado de polícia fazer um auto de flagrante dentro da Câmara? Não faz, juiz nenhum neste país dá! [com ênfase] Eu não conheço; tem um aqui no interior de São Paulo.
Renato Lombardi: E o tráfico é grande lá dentro da Câmara?
Raquel Cândido: Não, eu não sei, não sei. A minha casa é inviolável, eu sou deputada federal, minha casa é inviolável.
Mônica Teixeira: A minha também e eu não sou deputada. Não é ruim isso, deputada, a senhora me desculpe.
Raquel Cândido: Não é ruim, mas a minha é muito mais que a sua.
Mônica Teixeira: Mas não é ruim que o espaço do Congresso...
Renato Lombardi: [interrompendo] Deputada, a senhora acha que muitos dos seus colegas caem fora desse assunto porque estão envolvidos dentro da própria Câmara com o negócio das drogas?
Raquel Cândido: Não, eu não disse isso e eu seria leviana se dissesse isso. Eu não acho isso. Eu acho que existe um temor. Por exemplo, a nossa comissão, para trabalhar, está tendo a maior dificuldade. O meu gabinete está sendo desativado, os meus funcionários estão indo embora, a nossa comissão fica sem datilógrafo, de repente quem foi lá, levantou a comissão, foi o Joaquim, que disse: “Realmente o meu estado está plantando maconha”. O Aristides Junqueira [procurador-geral da República], que teve a coragem de suscitar a questão e dizer o desencanto que ele tem, de uma pessoa que acredita no país, que prendeu um traficante, e de repente ele soube que teve uma liminar, que juízes e promotores festejavam [faz o gesto de bater palmas] com muita alegria a liberdade daquele traficante no Mato Grosso. São depoimentos verídicos, porque uma legislação não está muito boa. O próprio deputado Jabes Rabelo, segundo eu soube hoje através da imprensa, vai marcar um grande churrasco, porque vai ter que ter cinquenta sessões na Comissão de Justiça da Câmara, o que está certo, para comprovar se ele está ou não envolvido. O que está certo. Você veja a morosidade. Mas nós temos que acreditar na democracia, nós temos que acreditar.
Hugo Studart: A senhora falou há pouco que havia...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Deputada, só pegando um gancho, a senhora falou que o seu gabinete está sendo desativado, as pessoas estão indo embora e tal, e tem dois telespectadores que fazem uma pergunta à senhora. Gislaine Santos, aqui de São Paulo, pergunta como é que é a sua vida hoje: se a senhora vai ao supermercado, se vai fazer compras, sai à rua, se tem medo de ser perseguida. E Mara, de Santana, ligou de Belo Horizonte, perguntando qual seria a sua reação se de repente a senhora fosse abordada por um estranho na rua?
Raquel Cândido: Eu vou dizer para a de Minas. Eu deixei uma necessaire onde guardo minhas maquiagens no hotel Jaraguá quando vim fazer [o progamaga de TV d]a Hebe Camargo. E os meus anjos da guarda estão aí, eu sabia que eu tinha deixado lá no Jaraguá. Então, de repente, veio a minha necessaire, que a minha secretária, que vive comigo há doze anos, eu acho que ela não vai me largar, não é, Martinha, tu não vai me largar [olhando para a frente]. Essa necessaire chegou agora no hotel em que estou. Eu não abro isso [a necessaire], é um horror. Eu não abro a minha caixa de cartas. Um estranho vem para perto de mim, eu corro mesmo!
Francisco Viana: A senhora anda armada, deputada?
Raquel Cândido: Ainda não, mas estou com vontade.
Jorge Escosteguy: Como é o seu dia a dia, então? A senhora vive com agente de segurança? Não sai?
Raquel Cândido: É um inferno. Não saio, tenho muito dó daqueles que trabalham comigo. Por exemplo, eu adoro a roça, é um lazer; uma coisa que esfria a minha cabeça é plantar, mexer. Isso me distrai. Eu tenho uma pequena chácara de quatro hectares em Brasília, que eles ainda não descobriram, mas eu tenho. Ela ainda não foi escriturada, porque ela está sendo paga. Eu até estou dizendo, eles não botaram nos meus bens, mas eu tenho. Então eu tenho que regar as minhas jabuticabeiras, porque eu tenho quatro filhos e plantei para cada filho um pé de jabuticabeira. Então eles [os policiais] têm que ir junto, eu fico constrangida, porque de repente o policial tem que estar junto comigo; o banheiro, o policial tem que abrir. É um negócio louco, esquizofrênico, que eu nunca pensei viver na minha vida.
José Paulo de Andrade: E isso vale à pena, deputada? Isso vale à pena? Qual é sua motivação?
Raquel Cândido: Eu acho que vale a pena, não pelos quatro, eu vou falar a letra do nome e pedir desculpa a eles: pela "E", pela "M", pela "L" e pelo Junior. Vale a pena não só por eles; vale a pena por um monte de crianças que estão sendo vítimas disso aí, os aviãozinhos [garotos menores de idade que fazem a entrega da droga]; vale a pena para que o nosso Brasil não se transforme na Colômbia. Vale a pena até porque quando eu fiz a opção pública, eu sabia que ela era feita de desafios; e quando eu recebi a outorga da imunidade, ela foi dada como uma procuração para fiscalizar qualquer coisa que faça mal à sociedade e questionar aquilo que faz bem, como é que pode melhorar.
Hugo Studart: A senhora disse há pouco que esse problema é bem maior, que nós não podemos ficar vendo apenas os traficantes de Rondônia, mas também os consumidores da Europa e dos Estados Unidos. Eu queria lhe fazer uma pergunta: alguma vez na sua vida, talvez na juventude, a senhora já fumou maconha ou cheirou cocaína?
Raquel Cândido: Nunca. Eu já tomei cuba libre, eu já dancei rock com os Rolling Stones e Beatles, eu protestei contra a Guerra do Vietnã com cuba libre, gim tônica. A gente dançava lá... deixei de fumar com vinte anos porque quase matei a Luciana no meu ventre. E os meus colegas diziam: “Você é careta”. Não tem problema.
Jorge Escosteguy: Deputada, o nosso tempo está se esgotando, eu farei uma última pergunta que vários telespectadores, eu vou nominar alguns aqui, outros não chegaram a completar a ligação, o Lauro Cristal, de Ribeirão Preto; José Carlos Gutierrez, aqui de São Paulo; Mônica Silva, de São Paulo; doutor Carlos de Oliveira, de Jacareí; Maria Aparecida, de São Paulo e Reginaldo Bittencourt, de São Paulo. Todos eles reclamam que os jornalistas foram muito duros e intolerantes com a senhora na entrevista de hoje. Eu queria que a senhora desse a sua impressão sobre isso, se acha que foi injusto e se a senhora pôde dizer tudo o que queria dizer.
Raquel Cândido: Eu quero responder que, em primeiro lugar, eu sou uma mulher...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Teve um, inclusive que perguntou se os jornalistas têm medo dos traficantes e por isso estão fazendo tantas perguntas à senhora. [risos]
Raquel Cândido: Eles é que vão responder. E como tem. Escute bem. Eu quero, em primeiro lugar, não sendo piegas, falar sobre uma coisa impressionante. Eu sou uma socialista que acredita em Deus, muito. Uma força enorme, acredito nisso, isso tem dado certo na minha vida para atingir... Eu vi ontem o [ator e humorista] Renato Aragão, aquele tremendo paspalhão do Brasil, querendo beijar a mão do Cristo [Redentor, no Rio de Janeiro, em cena transmitida pela TV Globo], numa cena que só a gente que teve contato imediato sabe que existe. Eu quero agradecer todas as orações, em primeiro lugar, que eu tenho recebido, que são grandes. É uma corrente positiva, não interessa qual a origem dela. Os jornalistas não foram duros, eles exercem o trabalho deles que é também o de questionar e procurar a verdade. Os jornalistas podem ter sido, em algum momento, eu diria, indelicados, mas faz parte do trabalho de vocês, eu entendo, assim como faz parte do meu, muitas vezes, ser agressiva e ser dura. Eu acredito que, de repente, eu me tornei uma mulher mais pública do que eu já era. Isso é dever do meu ofício, me colocar dessa forma. E o que eu queria dizer – não sei se já está acabando o programa...
Jorge Escosteguy: Estamos encerrando, por favor.
Raquel Cândido: ...é que a sociedade brasileira saiba que no Congresso Nacional existem homens e mulheres sérios, e que eu acredito nessa instituição. Que embora eles sejam novos em 70%, nós iremos manter esse processo democrático, que foi tão duro para ser restabelecido no país, e não iremos dar margem. Iremos lutar pela soberania da Amazônia, contra a cobiça internacional, e não teremos como alternativa o refino de coca. Queremos uma economia legal, queremos a Zona Franca sim, queremos o Plano Flora; queremos as micromineradoras, as grandes mineradoras nacionais; queremos a mineração em terra indígena; queremos que o problema ecológico seja discutido de "brasis" para "brasis" diferentes. E queremos que a sociedade brasileira saiba que se essa vida se for, sem nenhuma chantagem emocional, valeu a pena. Valeu a pena pelos meus quatro filhos e valeu a pena pelos filhos de vocês, porque a questão foi levantada. Cutuquem o Congresso Nacional, cutuquem o nosso presidente da República, cutuquem as nossas instituições, porque só através delas nós poderemos chegar a alguma coisa. E a vocês da imprensa...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] E hoje cutucamos um pouco a senhora.
Raquel Cândido: ... eu devo a minha vida, eu devo a minha vida. Quem vai me dar segurança nesse trabalho e nessa luta? Ao Tuma para não cair do cargo? Vejam bem o que eu estou dizendo: ao Tuma para não cair do cargo. Somos os políticos e a imprensa. Precisamos do Tuma ainda por um longo tempo, precisamos dele sim.
Jorge Escosteguy: Nós agradecemos então a presença, esta noite, no Roda Viva, da deputada Raquel Cândido. Agradecemos também os companheiros jornalistas e os telespectadores. Lembrando que as perguntas que não puderam ser feitas ao vivo à deputada, serão entregues a ela após o programa.m duros, eles exercem o trabalho deles que é também o de questionar e procurar a verdade. Os jornalistas podem ter sido, em algum momento, eu diria, indelicados, mas faz parte do trabalho de vocês, eu entendo, assim como faz parte do meu, muitas vezes, ser agressiva e ser dura. Eu acredito que, de repente, eu me tornei uma mulher mais pública do que eu já era. Isso é dever do meu ofício, me colocar dessa forma. E o que eu queria dizer – não sei se já está acabando o programa...
Jorge Escosteguy: Estamos encerrando, por favor.
Raquel Cândido: ...é que a sociedade brasileira saiba que no Congresso Nacional existem homens e mulheres sérios, e que eu acredito nessa instituição. Que embora eles sejam novos em 70%, nós iremos manter esse processo democrático, que foi tão duro para ser restabelecido no país, e não iremos dar margem. Iremos lutar pela soberania da Amazônia, contra a cobiça internacional, e não teremos como alternativa o refino de coca. Queremos uma economia legal, queremos a Zona Franca sim, queremos o Plano Flora; queremos as micromineradoras, as grandes mineradoras nacionais; queremos a mineração em terra indígena; queremos que o problema ecológico seja discutido de "brasis" para "brasis" diferentes. E queremos que a sociedade brasileira saiba que se essa vida se for, sem nenhuma chantagem emocional, valeu a pena. Valeu a pena pelos meus quatro filhos e valeu a pena pelos filhos de vocês, porque a questão foi levantada. Cutuquem o Congresso Nacional, cutuquem o nosso presidente da República, cutuquem as nossas instituições, porque só através delas nós poderemos chegar a alguma coisa. E a vocês da imprensa...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] E hoje cutucamos um pouco a senhora.
Raquel Cândido: ... eu devo a minha vida, eu devo a minha vida. Quem vai me dar segurança nesse trabalho e nessa luta? Ao Tuma para não cair do cargo? Vejam bem o que eu estou dizendo: ao Tuma para não cair do cargo. Somos os políticos e a imprensa. Precisamos do Tuma ainda por um longo tempo, precisamos dele sim.
Jorge Escosteguy: Nós agradecemos então a presença, esta noite, no Roda Viva, da deputada Raquel Cândido. Agradecemos também os companheiros jornalistas e os telespectadores. Lembrando que as perguntas que não puderam ser feitas ao vivo à deputada, serão entregues a ela após o programa.