CHEGOU A HORA DA VERDADE - 26.08.2011
SÓ PORQUE EU SOU UM ATIVISTA...
Vou iniciar esse relato abordando um assunto que jamais comentei, até porque não me sentia a vontade e o fato ainda me causa um certo constrangimento, tudo aconteceu em o momento muito conturbado na historia de Porto Velho e de Rondônia, dia sim e dia não eu estava fazendo uma denuncia nova contra a administração municipal e toda a equipe do ex prefeito Roberto Sobrinho, uns 20 dias antes de tudo acontecer criei um blog chamado PEDEPRASAIRCONFUCIO aonde também, assim como no blog FORAROBERTOSOBRINHO, iniciei uma serie de denuncias contra a administração do Governo da Cooperação, mas nunca liguei isso ao fato que tinha me acontecido, sempre achei que tinha a ver com a administração PT da capital, hoje já não sei o que pensar. Vamos aos fatos:
No dia 26 de agosto de 2011, uma sexta feira, estava retornando de uma viagem de trabalho no município de Guajará Mirim, eu e um técnico de minha instituição, fomos cumprir uma demanda do SENAR - Curso de Elaboração e Execução de Projetos, meu amigo ficou com a parte da elaboração e eu com a execução e prestação de contas, o publico alvo eram seringueiros, e o local do curso, Secretaria do Meio Ambiente de Guajará Mirim. O curso teve inicio na terça feira e ao meio dia de sexta feira tínhamos encerrado as atividades com uma "dinâmica de grupo", almoçamos e combinamos de voltar para Porto Velho as 16 horas, na cidade estava acontecendo o festival folclórico "duelo da fronteira", combinamos então de ficar e sair de lá apenas a meia noite, quando o dia estivesse amanhecendo estaríamos em casa, se tudo corresse bem, logicamente, mas não correu! As 2:30 da madrugada ao chegarmos na localidade denominada de Arara, uma enorme barreira do GESFRON nos esperava, 25 policiais armados com armas super pesadas, computadores, rádios, moldem, fios, enfim....meu amigo se identificou e estava tudo bem, quando me identifiquei meu RG passou de mão em mão até chegar na "moça do computador", ela competentemente conectou a internet ali mesmo, dentro do carro, no meio do mato, no meio do nada e em questão de 5 minutos meu RG fez o caminho de volta de mão em mão, meu amigo já tinha sido liberado e estava dentro do carro me esperando e foi ai que meu pesadelo teve inicio: "Sr. Carlos, tem um mandato de prisão em aberto contra o senhor e o senhor está preso!" Como tenho muitos amigos policiais, achei que ali tinha algum deles querendo me pregar uma peça, LEDO ENGANO! Eu estava preso mesmo, fui até o carro e falei pro meu amigo o que estava acontecendo e disse-lhe que eu teria que voltar a Guajará porque estava acontecendo um equivoco comigo e eu precisava resolver, mas ele poderia seguir viagem e levar até minha bagagem que eu resolveria e depois pegaria um ônibus de volta... Naquele dia estava fazendo exatamente um mês que eu havia sofrido um principio de infarto, estava sob forte tratamento medico, tomando medicação em horário exato, meu amigo estava me supervisionando, mas tudo isso foi pelo ralo, imediatamente minha pressão foi a 19/11 e no caminho de volta a Guajará os policiais de "minha escolta" notaram que tinha algo de errado comigo, me perguntaram e eu falei que estava em tratamento contei a historia, eles gentilmente me levaram para um posto de saúde em Nova Mamoré, uma sonolenta agente de saúde me atendeu, sempre muito bem vigiado pela "minha escolta", veio o diagnostico: Pressão estava 19/11 e precisava imediatamente de ser medicado e naquela unidade de saúde nem captopril tinha. Seguimos então para Guajará, mas minha pressão ia subir ainda mais, é que surgiu uma camionete suspeita no meio da estrada e não obedeceu o ordem de parar....perseguição...sirene ligada, camionete entra em vicinal e viatura comigo dentro entra também....abordagem...todos saem do carro, menos eu, conversa vai, conversa vem, policiais "apertam a mão" do perseguido e estava tudo bem, "foi só um engano, mas um engano" o cara não parou porque estava com uma mulher casada dentro do carro aquela hora da madrugada, pelo menos foi isso que os policiais falaram.
Chegamos em Guajará e fomos direto para a delegacia, esqueceram de minha pressão, fui recebido por uma pessoa que até hoje não sei de quem se tratava, até porque quando perguntei, "minha casa caiu!" Fui tratado como celebridade, como grande bandido, "foi um bom trabalho!" ouvi os policiais sendo cumprimentados pelos colegas, pedi para consultarem minhas certidões, consultarem o site do TJ, falei que eles estavam cometendo um tremendo erro e recebi como resposta: "Esse nome que está aqui nessa porra de mandato é de quem? é meu?" "Algema esse bandido e coloca no coró!" E fui levado para um cubículo fedorento aonde estavam "pernoitando" três noiados, e para garantir a integridade física dos outros presos, permaneci algemado dentro da "cela" só que de uma maneira a garantir que nem com os pés eu pudesse atentar contra a vida daquelas pobres almas ali dentro, foi solicitado a mim que entrasse na cela e colocasse as mãos para fora dela, e foi assim que me deixaram algemado até as 5:45 da manhã quando a escolta chegou para me levar para o presidio, tudo assim, muito rápido. Até aquele momento eu "não me rebarbei" de forma alguma, até porque não tinha saúde para isso, mas fui levado algemado, claro, ao hospital regional para verificar se eu não "estava inventando" doença para não ser preso, e como todo preso perigoso, passei na frente de todos os que estavam desde a madrugada esperando para serem atendidos, a medica boliviana que foi me atender estava tão apavorada que não tinha coragem de chegar perto de mim com medo de eu a estrangular ali mesmo, então solicitou a um enfermeiro negão, grandão e forte o suficiente pra me derrubar apenas com um safanão, que verificasse a minha pressão, eu algemado e ele verificando a pressão, diagnostico: 21/12, "ele vai infartar se não for medicado imediatamente!" bradou o enfermeiro negão. Indignado, revoltado, injustiçado, cansado, humilhado, debilitado....resolvi então me rebelar, resolvi que não deixaria ninguém me medicar e a partir daquele momento qualquer coisa que viesse a acontecer comigo seria de responsabilidade deles, de quem estava ali cumprindo aquela palhaçada, falei isso e pedi pra me tirarem dali, um de meus carcereiros, falou então: "Não quer ser medicado? então foda-se! e continuaram a me levar para o presidio. A possibilidade de me largarem no presidio estava me apavorando, meus pensamentos sobre o clima dentro daquela unidade prisional infernizavam minha cabeça e isso só piorava meu quadro clinico, eu pensava tudo de ruim, achava que seria maltratado, espancado, torturado e humilhado ainda mais do que eu já tinha sido, e chegamos ao presidio, fui entregue a um agente penitenciário com status de grande bandido, o agente fez o que depois me falaram ser de praxe, mandou eu tirar toda a roupa, ficar completamente pelado, e fiz isso sem que as algemas fossem retiradas de meu pulso, meu coração estava pra explodir, mas não derramei uma gota de lagrima, estava com um ódio retraído, mas me contendo.
Depois da minha entrega e que fui para o interior do presidio percebi que mais uma vez eu estava errado, completamente errado, o local que me deixava apavorado me amparou como gente, fui apresentado ao diretor de segurança do presidio, Coronel Farfan, que me perguntou o que tinha acontecido comigo, não demorei cinco minutos para convencer o Coronel de que estava havendo um engano comigo, sem eu terminar o meu relato ele sugeriu a um de seus agentes que tirassem minhas algemas, o agente ainda relutou, mais ele foi incisivo: "Pode tirar, será que você não esta vendo que esse senhor esta sendo vitima de um tremendo erro?" e o agente cumpriu a ordem. Farfan então ligou para o diretor administrativo, que estava de folga, ligou também para um enfermeiro e solicitou que fosse ao presidio imediatamente, em questão de 20 minutos ambos estavam ali na minha frente. Enquanto o diretor administrativo fazia as consultas para comprovar a veracidade de minha historia o enfermeiro me convenceu de que eu precisava de ser medicado imediatamente, eu ainda estava na enfermaria quando o diretor administrativo chegou, infelizmente não lembro o nome dele para poder lhe dar o crédito, ele chegou com uns papeis na mão, era uma consulta da Polinter com o NADA CONSTA em meu nome, e também minhas certidões negativas estadual e federal. Eu já esperava que o resultado seria aquele, mas foi um grande alivio quando ele me falou aquilo e me falou também que o tal mandato de prisão em meu nome tinha sido assinado por um Juiz de Porto Velho e que portanto só um juiz de Porto Velho poderia reparar o erro, me deixaram ligar pra minha família, falei com minha esposa, com meu filho e com o amigo que estava comigo no momento da prisão e todos começaram a se movimentar no sentido de encontrar um juiz de plantão pra mandar me soltar, mas foi tudo em vão, era sábado e essa informação já havia chegado ao fórum de Porto Velho e quando eles chegaram lá e falaram no meu nome, parece que todos tinham visto o capeta na frente deles, o juiz de plantão havia saído, o celular estava desligado, na casa dele ninguém atendia, e já passando das 14 horas chegou a noticia que não mais teria plantão, agora só poderia ser resolvido na segunda feira. Fui informado pelo diretor da cadeia que só "poderiam resolver meu problema na segunda feira" e novamente o coronel Farfan veio falar comigo e me informou que com o documento de transferência que ele tinha em mãos, quando da minha entrega naquele local, eu deveria ser colocado na cela das pessoas mais perigosas daquele presidio mas que ele não ia fazer isso porque estava vendo que estava fazendo uma "tremenda sacanagem" comigo, então ele me deixaria ficar ali no patio mesmo, aonde ficam os semi-abertos, mas que a noite eu teria que dormir dentro de uma cela, infelizmente! Entendi e agradeci, fui para o patio e as surpresas foram acontecendo, imediatamente fui abordado por um senhor, moreno, calmo, fala mansa, até parecia um padre, Sr. João, ele estava ali a sete anos, já estava no semi aberto, mas final de semana não saia pra trabalhar, ele chegou comigo e perguntou se eu era o Carlos Caldeira, respondi que sim, ele me falou que era taxista e que tinha sido preso transportando 30 quilos de cocaína de Guajará pra Porto Velho, falou que me conhecia pelo meu combate a corrupção dentro da prefeitura de Porto Velho. "O Seu João literalmente me adotou dentro do presidio", ele só não fez eu comer lá dentro, porque isso eu falei que não faria mesmo, até eu sair. Ele falou com a direção e pediu pra que apos as 18:00 hs. quando todos teriam que se recolher as celas, eu fosse dormir na cela dele, já que lá "só tinha gente boa", eu estava tão fragilizado com tudo aquilo que em hipótese nenhuma passou pela minha cabeça que tudo fosse uma armação, que ele e seus amigos "gente boa" poderiam querer aprontar alguma pra mim, acreditei nele, e não me arrependi! Ele conseguiu um colchonete novinho pra mim, foi atrás de um kit de higiene, enfim, ele tinha transito livre la dentro, todos na cadeia me tratavam como COROA, menos o Sr. João, que me chamava pelo nome, e com todo respeito, Seu Carlos. As 18:00 horas fui para a cela, lá estavam mais 6 presos, os colchonetes espalhados pelo chão dava a dimensão como seria a noite lá dentro, um calor infernal, um banheiro com a água do chuveiro pingando o tempo todo, imaginei que aquela seria a pior noite de minha vida, mas estava enganado novamente, dentro da cela, os presos "gente boa" foram todos solidários a mim, me deram o melhor lugar pra dormir, de frente pra porta, uma grade na verdade, lá batia um vento frio na madrugada que me faria dormir, mas as surpresas não acabavam por ai, la dentro rolou um cafezinho fresquinho, rolou um jogo de baralho, e pasmem, os caras queriam fumar um "bec" (cigarro de maconha) e me perguntaram se eu me incomodava, eu falei que poderiam ficar tranquilo, e como eu estava na porta, fiquei vigiando, caso aparecesse algum agente, eu avisaria a eles. quando deitei em "meu colchonete", devido estar quase 48 horas sem dormir, eu apaguei e acordei eram quase meia noite, os caras ainda jogavam baralho, um deles me viu acordado, levantou, abriu um isopor, tirou um litro desses de pet que estava com suco de goiaba e me deu um copo, aceitei imediatamente, ele também desamarrou uma carcaça de ventilador que estava na parede em cima de seu colchonete e colocou pra mim, falei que não precisava e ele insistiu, "Coroa, não esquenta, nós estamos acostumados aqui nessa vida e o senhor não, pode aceitar", mais uma vez agradeci e o Sr. João que já dormia, acordou e me deu seu lençol, não relutei, aceitei de pronto. No domingo as 6 da manhã as celas já estavam abertas, tomei um banho, escovei os dentes e fui para o patio, o comentário geral na cadeia era a minha prisão "por engano", ganhei a solidariedade de todos, fui respeitado por todos, ninguém disse um palavrão se quer pra mim, os presos "do fechado" me chamavam em nas portas de suas celas para me oferecerem café, suco, pão, cigarro....eu só aceitava café e mais nada, conversei com vários deles soube da historia de cada um com quem tive contato, pouco mais das 16 horas de domingo, um traficantes que já estava lá a quase 10 anos com uma serie de condenações e foi preso nada mais nada menos que com 300 quilos de coca e mais 15 fuzis, pistolas e até granada, trocou tiros com a policia, enfim...ele me chamou em sua cela, fui até lá e ele gentilmente foi até sua televisão, meteu a mão por trás dela e de lá tirou um telefone celular e falou pra mim, "Coroa, a hora que quiser falar com sua família, pode falar comigo que o telefone esta a sua disposição" agradeci novamente e falei que não gostaria de falar com minha família, isso eu só ia fazer quando chegasse em casa, eu não tinha como segurar minha emoção se eu fizesse isso, até aquele momento eu não tinha chorado, e não falaria com minha família porque eu não podia chorar, eu queria guardar a minha raiva pra quando eu chegasse em Porto Velho eu detonasse todo mundo. O Tempo foi passando, já na segunda feira o seu João foi "pra rua", ele trabalhava na prefeitura de Guajará, levou o numero de telefone de minha esposa, ele prestou todas as informações pra ela, voltou na cadeia, inventou uma historia pra entrar fora do horário normal de sua volta apenas pra me tranquilizar, pra dizer que minhas filhas estavam bem, que meu filho estava pra ficar louco, querendo ir a Guajará e colocar o presidio a baixo, que meus amigos e minha instituição estavam correndo atrás de me soltar. As horas iam passando e o desespero voltou a tomar conta de mim, não suportaria mais nenhuma noite ali, eu não tinha uma muda de roupa, quando fui preso não achava que ia acontecer tudo isso e fiquei só com a roupa do corpo, os próprios diretores diziam que como já tinha passado das 16 horas, dificilmente eu sairia naquele dia, mas que eles souberam que meu alvará já tinha sido expedido, e que estavam apenas aguardando um oficial de justiça ir cumprir. As 17:30 o oficial chegou e cumpriu o mandato, recebi minha copia e li que o juiz estava mandando me soltar porque minha prisão tinha sido irregular. O Próprio oficial de justiça me deu uma carona até a rodoviária, eu falei que estava com apenas 40 reais e se eu pegasse um táxi não daria pra pegar o ônibus pra casa, ele então falou que soube que eu não comi nada durante aqueles três dias e que ia pagar um lanche pra mim, aceitei, ele também passou na agencia do Banco do Brasil, sacou 100 reais e me deu pra pegar um táxi até Porto Velho, eu lhe pedi o numero de sua conta para devolver o dinheiro, e ele me passou o numero, voltei para minha casa, a meia noite estava com minha esposa, meu filho, minhas filhas e minha nora, a emoção tomou conta de todos, mas naquela noite, eu não dormi direito, tive insonias, o pouco que dormi eu sonhava com a cela do presidio, um filme se formou em minha cabeça com todos os momentos que passei nesse episodio, um misto de tristeza e revolta por tudo, eu queria que o dia amanhecesse logo, eu queria colocar a boca no trombone, eu queria processar o estado por tudo aquilo, e assim o fiz. Ao amanhecer procurei o Dr. Carlos Alberto Troconso Justos, no meu ponto de vista o melhor advogado desse estado, fui até ele porque queria o melhor, fui também ate a corregedoria da Policia Civil e denunciei os policiais da delegacia por tudo que fizeram comigo, até hoje ninguém fala nada e nem a corregedoria tomou qualquer providencia, procurei também o jornalista Paulo Andreoli do site rondoniaovivo e pedi para publicar o que tinha acontecido, entreguei copias dos documentos que eu nada devia a justiça e ele publicou tudo na integra, a noticia foi republicada em vários outros sites do interior, eu não me deixei fotografar, não queria essa exposição, tinha vergonha de ser reconhecido na rua pelo acontecido. Dia 26 de março deste ano, depois de vários adiamentos de audiência, nos encontramos na frente do juiz da fazenda publica, eu, meu advogado e o procurador do estado, em menos de meia hora de audiência o juiz deu a sentença favorável a mim e condenou o estado a me pagar uma indenização de 15 mil reais por danos morais, o estado recorreu e perderam também, o colégio recursal manteve a sentença no dia 24 de junho e agora o processo foi transitado e julgado, não cabe mais recurso.
Em mais de 20 anos que estou em Porto Velho eu já colecionei muitos inimigos, muitos mesmo, durante muitos anos fui sócio em uma empresa de Assessoria e Consultoria de cobrança, era eu o Itanabi Marcos e o Nides Michel, fazíamos o inimaginável para recuperar o credito de nossos clientes, cobrei Prefeitos, vice- prefeitos, vereadores, presidentes de câmara de vereadores, jornalistas, colunistas sociais, advogados, secretários de estado, comerciantes, enfim...um dia cobrei a esposa de um promotor de justiça de uma comarca do interior que me rendeu grandes problemas, mas continuei, ajuizei quase cem ações de cobranças, tive alguns revês, também já tive titulo protestado, também já fui cobrado judicialmente, também já tive cheques devolvidos por falta de fundos, e quem nunca teve algum tipo de problema como esse que atire a primeira pedra. Mas sou um homem honrado, tenho bons amigos, sou respeitado por tudo que faço, quem me conhece, quem vive o meu dia a dia sabe o quanto eu batalho por uma Rondônia melhor, por uma Porto Velho melhor, vou continuar minha batalha, vou continuar tendo problemas, o inimigo não dorme, o inimigo tem "amigos". Novamente coloquei minha cara pra fora, representei contra todos os vereadores envolvidos na Operação Apocalipse e estou preparado para receber o troco.
Essa é a historia do meu pior capitulo no estado de Rondônia, espero que entendam meu relato e não interpretem de forma errada e do porque só estou falando isso agora, não estou acusando A, B ou C por isso, o certo é que a injustiça foi corrigida e hoje posso espalhar para todos que queiram saber, como tudo aconteceu.
Depois da minha entrega e que fui para o interior do presidio percebi que mais uma vez eu estava errado, completamente errado, o local que me deixava apavorado me amparou como gente, fui apresentado ao diretor de segurança do presidio, Coronel Farfan, que me perguntou o que tinha acontecido comigo, não demorei cinco minutos para convencer o Coronel de que estava havendo um engano comigo, sem eu terminar o meu relato ele sugeriu a um de seus agentes que tirassem minhas algemas, o agente ainda relutou, mais ele foi incisivo: "Pode tirar, será que você não esta vendo que esse senhor esta sendo vitima de um tremendo erro?" e o agente cumpriu a ordem. Farfan então ligou para o diretor administrativo, que estava de folga, ligou também para um enfermeiro e solicitou que fosse ao presidio imediatamente, em questão de 20 minutos ambos estavam ali na minha frente. Enquanto o diretor administrativo fazia as consultas para comprovar a veracidade de minha historia o enfermeiro me convenceu de que eu precisava de ser medicado imediatamente, eu ainda estava na enfermaria quando o diretor administrativo chegou, infelizmente não lembro o nome dele para poder lhe dar o crédito, ele chegou com uns papeis na mão, era uma consulta da Polinter com o NADA CONSTA em meu nome, e também minhas certidões negativas estadual e federal. Eu já esperava que o resultado seria aquele, mas foi um grande alivio quando ele me falou aquilo e me falou também que o tal mandato de prisão em meu nome tinha sido assinado por um Juiz de Porto Velho e que portanto só um juiz de Porto Velho poderia reparar o erro, me deixaram ligar pra minha família, falei com minha esposa, com meu filho e com o amigo que estava comigo no momento da prisão e todos começaram a se movimentar no sentido de encontrar um juiz de plantão pra mandar me soltar, mas foi tudo em vão, era sábado e essa informação já havia chegado ao fórum de Porto Velho e quando eles chegaram lá e falaram no meu nome, parece que todos tinham visto o capeta na frente deles, o juiz de plantão havia saído, o celular estava desligado, na casa dele ninguém atendia, e já passando das 14 horas chegou a noticia que não mais teria plantão, agora só poderia ser resolvido na segunda feira. Fui informado pelo diretor da cadeia que só "poderiam resolver meu problema na segunda feira" e novamente o coronel Farfan veio falar comigo e me informou que com o documento de transferência que ele tinha em mãos, quando da minha entrega naquele local, eu deveria ser colocado na cela das pessoas mais perigosas daquele presidio mas que ele não ia fazer isso porque estava vendo que estava fazendo uma "tremenda sacanagem" comigo, então ele me deixaria ficar ali no patio mesmo, aonde ficam os semi-abertos, mas que a noite eu teria que dormir dentro de uma cela, infelizmente! Entendi e agradeci, fui para o patio e as surpresas foram acontecendo, imediatamente fui abordado por um senhor, moreno, calmo, fala mansa, até parecia um padre, Sr. João, ele estava ali a sete anos, já estava no semi aberto, mas final de semana não saia pra trabalhar, ele chegou comigo e perguntou se eu era o Carlos Caldeira, respondi que sim, ele me falou que era taxista e que tinha sido preso transportando 30 quilos de cocaína de Guajará pra Porto Velho, falou que me conhecia pelo meu combate a corrupção dentro da prefeitura de Porto Velho. "O Seu João literalmente me adotou dentro do presidio", ele só não fez eu comer lá dentro, porque isso eu falei que não faria mesmo, até eu sair. Ele falou com a direção e pediu pra que apos as 18:00 hs. quando todos teriam que se recolher as celas, eu fosse dormir na cela dele, já que lá "só tinha gente boa", eu estava tão fragilizado com tudo aquilo que em hipótese nenhuma passou pela minha cabeça que tudo fosse uma armação, que ele e seus amigos "gente boa" poderiam querer aprontar alguma pra mim, acreditei nele, e não me arrependi! Ele conseguiu um colchonete novinho pra mim, foi atrás de um kit de higiene, enfim, ele tinha transito livre la dentro, todos na cadeia me tratavam como COROA, menos o Sr. João, que me chamava pelo nome, e com todo respeito, Seu Carlos. As 18:00 horas fui para a cela, lá estavam mais 6 presos, os colchonetes espalhados pelo chão dava a dimensão como seria a noite lá dentro, um calor infernal, um banheiro com a água do chuveiro pingando o tempo todo, imaginei que aquela seria a pior noite de minha vida, mas estava enganado novamente, dentro da cela, os presos "gente boa" foram todos solidários a mim, me deram o melhor lugar pra dormir, de frente pra porta, uma grade na verdade, lá batia um vento frio na madrugada que me faria dormir, mas as surpresas não acabavam por ai, la dentro rolou um cafezinho fresquinho, rolou um jogo de baralho, e pasmem, os caras queriam fumar um "bec" (cigarro de maconha) e me perguntaram se eu me incomodava, eu falei que poderiam ficar tranquilo, e como eu estava na porta, fiquei vigiando, caso aparecesse algum agente, eu avisaria a eles. quando deitei em "meu colchonete", devido estar quase 48 horas sem dormir, eu apaguei e acordei eram quase meia noite, os caras ainda jogavam baralho, um deles me viu acordado, levantou, abriu um isopor, tirou um litro desses de pet que estava com suco de goiaba e me deu um copo, aceitei imediatamente, ele também desamarrou uma carcaça de ventilador que estava na parede em cima de seu colchonete e colocou pra mim, falei que não precisava e ele insistiu, "Coroa, não esquenta, nós estamos acostumados aqui nessa vida e o senhor não, pode aceitar", mais uma vez agradeci e o Sr. João que já dormia, acordou e me deu seu lençol, não relutei, aceitei de pronto. No domingo as 6 da manhã as celas já estavam abertas, tomei um banho, escovei os dentes e fui para o patio, o comentário geral na cadeia era a minha prisão "por engano", ganhei a solidariedade de todos, fui respeitado por todos, ninguém disse um palavrão se quer pra mim, os presos "do fechado" me chamavam em nas portas de suas celas para me oferecerem café, suco, pão, cigarro....eu só aceitava café e mais nada, conversei com vários deles soube da historia de cada um com quem tive contato, pouco mais das 16 horas de domingo, um traficantes que já estava lá a quase 10 anos com uma serie de condenações e foi preso nada mais nada menos que com 300 quilos de coca e mais 15 fuzis, pistolas e até granada, trocou tiros com a policia, enfim...ele me chamou em sua cela, fui até lá e ele gentilmente foi até sua televisão, meteu a mão por trás dela e de lá tirou um telefone celular e falou pra mim, "Coroa, a hora que quiser falar com sua família, pode falar comigo que o telefone esta a sua disposição" agradeci novamente e falei que não gostaria de falar com minha família, isso eu só ia fazer quando chegasse em casa, eu não tinha como segurar minha emoção se eu fizesse isso, até aquele momento eu não tinha chorado, e não falaria com minha família porque eu não podia chorar, eu queria guardar a minha raiva pra quando eu chegasse em Porto Velho eu detonasse todo mundo. O Tempo foi passando, já na segunda feira o seu João foi "pra rua", ele trabalhava na prefeitura de Guajará, levou o numero de telefone de minha esposa, ele prestou todas as informações pra ela, voltou na cadeia, inventou uma historia pra entrar fora do horário normal de sua volta apenas pra me tranquilizar, pra dizer que minhas filhas estavam bem, que meu filho estava pra ficar louco, querendo ir a Guajará e colocar o presidio a baixo, que meus amigos e minha instituição estavam correndo atrás de me soltar. As horas iam passando e o desespero voltou a tomar conta de mim, não suportaria mais nenhuma noite ali, eu não tinha uma muda de roupa, quando fui preso não achava que ia acontecer tudo isso e fiquei só com a roupa do corpo, os próprios diretores diziam que como já tinha passado das 16 horas, dificilmente eu sairia naquele dia, mas que eles souberam que meu alvará já tinha sido expedido, e que estavam apenas aguardando um oficial de justiça ir cumprir. As 17:30 o oficial chegou e cumpriu o mandato, recebi minha copia e li que o juiz estava mandando me soltar porque minha prisão tinha sido irregular. O Próprio oficial de justiça me deu uma carona até a rodoviária, eu falei que estava com apenas 40 reais e se eu pegasse um táxi não daria pra pegar o ônibus pra casa, ele então falou que soube que eu não comi nada durante aqueles três dias e que ia pagar um lanche pra mim, aceitei, ele também passou na agencia do Banco do Brasil, sacou 100 reais e me deu pra pegar um táxi até Porto Velho, eu lhe pedi o numero de sua conta para devolver o dinheiro, e ele me passou o numero, voltei para minha casa, a meia noite estava com minha esposa, meu filho, minhas filhas e minha nora, a emoção tomou conta de todos, mas naquela noite, eu não dormi direito, tive insonias, o pouco que dormi eu sonhava com a cela do presidio, um filme se formou em minha cabeça com todos os momentos que passei nesse episodio, um misto de tristeza e revolta por tudo, eu queria que o dia amanhecesse logo, eu queria colocar a boca no trombone, eu queria processar o estado por tudo aquilo, e assim o fiz. Ao amanhecer procurei o Dr. Carlos Alberto Troconso Justos, no meu ponto de vista o melhor advogado desse estado, fui até ele porque queria o melhor, fui também ate a corregedoria da Policia Civil e denunciei os policiais da delegacia por tudo que fizeram comigo, até hoje ninguém fala nada e nem a corregedoria tomou qualquer providencia, procurei também o jornalista Paulo Andreoli do site rondoniaovivo e pedi para publicar o que tinha acontecido, entreguei copias dos documentos que eu nada devia a justiça e ele publicou tudo na integra, a noticia foi republicada em vários outros sites do interior, eu não me deixei fotografar, não queria essa exposição, tinha vergonha de ser reconhecido na rua pelo acontecido. Dia 26 de março deste ano, depois de vários adiamentos de audiência, nos encontramos na frente do juiz da fazenda publica, eu, meu advogado e o procurador do estado, em menos de meia hora de audiência o juiz deu a sentença favorável a mim e condenou o estado a me pagar uma indenização de 15 mil reais por danos morais, o estado recorreu e perderam também, o colégio recursal manteve a sentença no dia 24 de junho e agora o processo foi transitado e julgado, não cabe mais recurso.
Em mais de 20 anos que estou em Porto Velho eu já colecionei muitos inimigos, muitos mesmo, durante muitos anos fui sócio em uma empresa de Assessoria e Consultoria de cobrança, era eu o Itanabi Marcos e o Nides Michel, fazíamos o inimaginável para recuperar o credito de nossos clientes, cobrei Prefeitos, vice- prefeitos, vereadores, presidentes de câmara de vereadores, jornalistas, colunistas sociais, advogados, secretários de estado, comerciantes, enfim...um dia cobrei a esposa de um promotor de justiça de uma comarca do interior que me rendeu grandes problemas, mas continuei, ajuizei quase cem ações de cobranças, tive alguns revês, também já tive titulo protestado, também já fui cobrado judicialmente, também já tive cheques devolvidos por falta de fundos, e quem nunca teve algum tipo de problema como esse que atire a primeira pedra. Mas sou um homem honrado, tenho bons amigos, sou respeitado por tudo que faço, quem me conhece, quem vive o meu dia a dia sabe o quanto eu batalho por uma Rondônia melhor, por uma Porto Velho melhor, vou continuar minha batalha, vou continuar tendo problemas, o inimigo não dorme, o inimigo tem "amigos". Novamente coloquei minha cara pra fora, representei contra todos os vereadores envolvidos na Operação Apocalipse e estou preparado para receber o troco.
Essa é a historia do meu pior capitulo no estado de Rondônia, espero que entendam meu relato e não interpretem de forma errada e do porque só estou falando isso agora, não estou acusando A, B ou C por isso, o certo é que a injustiça foi corrigida e hoje posso espalhar para todos que queiram saber, como tudo aconteceu.
6 comentários
A verdade sempre vem meu amigo, Tarda mais não falha.....
QUE HISTÓRIA MAIS SURREAL AMIGO CALDEIRA...
Caldeira amigo essas injustiças são muito frequentes, mas te digo, com certeza toda essa patifaria que fizeram com vc , serviu para vc ser um ser humano melhor e te encheu maus de coragem para lutar. E por essas e outras q sou seu fã meu vereador....
Muito louca essa história. Bravo
Sou o que sou e faço o que faço que é pra não deixar que pessoas de bem, passem o que já passei. Mas estou firme e forte, NA LUTA TODOS OS DIAS
É meu amigo, esse é apenas um capitulo de minha historia de lutas
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