PEDRO COLLOR NO RODA VIVA - IMPEACHMENT DE COLLOR
Pedro, irmão de Fernando Collor, IMPEACHMENT
Pedro Collor
25/10/1992O irmão de um dos presidentes mais polêmicos da história brasileira fala sobre o esquema de corrupção no governo Collor comandado por PC Faria
Jorge Escosteguy: Boa noite! No Centro do Roda Viva que começa agora, pela TV Cultura de São Paulo, está sentado o responsável pelo vendaval de acusações que terminou, por enquanto, com o afastamento do cargo do presidente da República Fernando Collor de Mello. O convidado de hoje do Roda Viva é o empresário Pedro Collor de Mello, 39 anos, que, numa entrevista na revista Veja, em maio passado, denunciou a existência do esquema PC Farias no governo, com a cumplicidade do presidente Collor. Ele disse, inclusive, que PC Farias era o testa-de-ferro do presidente da República. De lá para cá, muita água e muitas cabeças rolaram, inclusive a de Pedro Collor, que perdeu o comando das Organizações Arnon de Mello, empresa de sua família na área de comunicações, em Alagoas. Seu irmão perdeu, por enquanto, temporariamente, o cargo de presidente da República. Para entrevistar Pedro Collor, esta noite, no Roda Viva nós convidamos: Carlos Augusto Setti, correspondente da TV Cultura Brasília; Caio Túlio Costa, diretor da Revista da Folha [suplemento dominical do jornal Folha de S.Paulo]; Antonio Carlos Ferreira, repórter da TV Globo; Luiz Weis, diretor da empresa Redação e Jornalismo Consultoria; Célia Chaim, chefe de redação do Jornal do Brasil em São Paulo; Mac Margolies, correspondente da revista Newsweek; Pedro Cafardo, editor-chefe do jornal O Estado de S. Paulo e Humberto Werneck, redator-chefe da revista Playboy. Boa noite, sr. Pedro!
Pedro Collor: Boa noite!
Jorge Escosteguy: O senhor conhece algum dos irmãos do presidente dos Estados Unidos George Bush?
Pedro Collor: Boa noite!
Jorge Escosteguy: O senhor conhece algum dos irmãos do presidente dos Estados Unidos George Bush?
Pedro Collor: Conheço o Jeb Bush [um dos 4 irmãos de George W. Bush], que é o que, inclusive, mora em Miami, ele reside em Miami.
Jorge Escosteguy: Teria sido ele que lhe passou as primeiras e mais consistentes informações sobre o esquema PC Farias no governo?
Pedro Collor: [balança a cabeça em sinal negativo] Não, não.
Jorge Escosteguy: Ele não passou nenhuma informação desse tipo?
Pedro Collor: Não.
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Pergunto, porque temos a informação...
Pedro Collor: Não, não.
Jorge Escosteguy: Ele comentou uma vez ... o senhor disse...
Pedro Collor: Não, eu estive conversando com ele em algumas ocasiões, mas isso nunca foi ventilado. Já me perguntaram isso antes. Eu disse que não é verdade.
Jorge Escosteguy: O senhor sempre trabalhou nas Organizações Arnon de Mello [que envolvem um conglomerado de empresas de comunicação: emissoras de TV, rádio e jornal] para recuperar a empresa, que teria sido dilapidada, praticamente, até o senhor assumir. Como é que o senhor conseguiu reunir tantas informações, de repente, sobre o esquema PC Farias? Eu me lembro aqui de uma entrevista, que o senhor advertiu Cláudio Vieira [secretário particular de Fernando Collor], sobre o esquema PC Farias na raspadinha, fraude eleitoral em Alagoas, intermediações...
Pedro Collor: Foi uma série de coisas, enfim, ao longo do tempo. Essas informações chegavam de todas as maneiras: pessoas que cobravam [gesticulando] uma reação imediata de quem quer que fosse, do governo, gente que se propunha a denunciar esse tipo de coisa, caso não levasse avante, toda a sorte de pessoas, empresários, empreiteiros e outros tantos.
Jorge Escosteguy: E o senhor, como dono, sócio ou diretor de uma empresa de comunicação, não via como publicar essas informações, por exemplo? Nos seus meios de comunicação...
Pedro Collor: Não, porque, veja, é uma situação incômoda, é uma coisa tremendamente difícil. Eu, irmão presidente da República, recebendo esses tipos de informações, de denúncias, levava as informações adiante e imaginava que num período específico de tempo fossem tomadas providências. E não foram tomadas providências. Quaisquer providências. E a coisa foi crescendo, crescendo, e o resto nós sabemos.
Humberto Werneck: A entrevista começou com irmãos, fomos por esse caminho aí. Você ama seu irmão [pausa] Fernando? E, em caso negativo, quando é que esse amor e por que acabou?
Pedro Collor: Eu não sei, eu nunca me fiz essa pergunta [pausa]. Em tese, quando você tem uma célula familiar e é uma célula familiar como qualquer outra, que tem problemas, enfim, divergências... A coisa vem crescendo numa velocidade muito grande, a ponto de eu passar a não reconhecer mais as características do Fernando como eu então conhecia no passado. E confesso a você que nunca parei para pensar nisso [sendo interrompido], mas me traz profunda tristeza, profundo desgosto tudo isso. Eu confesso a você que, antes de tudo isso começar, ele vivia num dilema [fecha a mão esquerda], num drama de consciência íntimo, um negócio muito forte. Me fazia mal. O mais difícil foi tomar a decisão, de fazer...de começar, enfim, a fazer essas revelações, que na ocasião eu só tinha conhecimento delas, não sabia de nada aquilo que viria [gesticulando] a acontecer a seguir, ninguém é capaz de imaginar o esquema do Paulo César tivesse tal abrangência, não fosse tal audácia dele nessa atividade dele. Mas, enfim, eu me sinto muito constrangido com tudo. Mas, enfim, eu me sinto bem comigo próprio e isso é importante, se eu não estiver bem comigo próprio eu não posso estar bem com ninguém.
Jorge Escosteguy: [interrompendo] O senhor disse antes de dar a entrevista que para o senhor a sua família tinha acabado?
Pedro Collor: Porque, veja [abre os braços e suspira], na medida que tudo isso aconteceu e da forma que aconteceu, enfim... está...[é interrompido]
Luiz Weis: [interrompendo] Entre as coisas que aconteceram, senhor Pedro Collor, foi [uma delas] a acusação, a suspeita de que o senhor padecia das faculdades mentais. E o senhor se submeteu a uma junta psiquiátrica [sendo interrompido], pois é, que, entre aspas, o absolveu, mostrou que é uma pessoa... Se o seu irmão, Fernando Collor de Mello, se submetesse a uma junta idêntica, ele teria o mesmo veredicto? Em bom português, seu irmão é louco?
Pedro Collor: Não sei, era muito difícil julgar, eu senti na carne, senti na pele o que é ser chamado de doido perante toda a nação, perante a população brasileira. E sei o que eu senti, como me senti, o que passei. De forma que eu não acho justo... quem quer que seja louco, isso e aquilo outro, se não começa, no mínimo, uma precipitação. Agora, como sugestão, vale para ele [gesticulando], enfim, toda a república de Alagoas fazer esse tipo de exame. É muito interessante.
Luiz Weis: Pelo seguinte: desde que o seu irmão entrou no cenário político brasileiro, a questão da personalidade dele sempre foi um objeto de muito interesse, porque ele se distinguia, digamos, do comum dos mortais. E haveria quem dissesse que era um exímio administrador de seu próprio marketing. Na reta final do processo de impeachment, todos os relatos que vinham da casa da Dinda [residência de Fernando Collor de Mello], do Palácio do Planalto [residência oficial do presidente da República] davam conta que ele estava totalmente alheado do que se passava. Então, três possibilidades: ou ele tinha absoluta convicção, fundada em coisas objetivas, de sua inocência ou era um farsante dos mais acabados [pontuando com os dedos] ou era doido de pedra. Então, o senhor, como irmão dele, deve ter algum conhecimento para poder, como leigo, como pessoa de família, não como psiquiatra, afirmar alguma coisa obre o grau de equilíbrio, de estabilidade emocional de Fernando Collor.
Pedro Collor: Não, o Fernando desde jovem era um sujeito muito estourado, bastante estourado, muito estourado, extremamente estourado e violento no temperamento. Diante de tudo que aconteceu, eu levo...
Luiz Weis: [interrompendo] Inclusive violência física?
Pedro Collor: Inclusive violência física, sim. Ele fazia karatê, fez karatê por muitos anos para, justamente... eu acredito que ele encontrava aí uma válvula de escape, uma válvula de pressão para, enfim, ficar mais calmo. Autocontrole, pra baixar a agressividade. Depois, a pessoa se torna adulta, se encontra na posição em que ele se encontra, a coisa muda. Principalmente numa carreira política vertiginosamente rápida como foi a dele: prefeito, deputado, governador e depois presidente. Foi uma coisa totalmente atípica em qualquer lugar do mundo. Mas o Fernando, voltando à sua pergunta, eu acho [gesticulando] que ele é um sujeito que ele se autoconvence de determinadas coisas e passa, tem a capacidade de passar isso às pessoas de uma maneira impressionante.
Jorge Escosteguy: O senhor acha que ele está autoconvencido de que pode voltar [à presidência]?
Pedro Collor: Eu diria que existe uma dualidade de personalidade aí. Em uma, [gesticulando] ele passa essa verdade para quem lhe convém e a outra... ele entra em choque com a realidade. Eu diria que é por aí. Não é muito distante disso, não.
Pedro Cafardo: [interrompendo] Pedro Collor, as pessoas se perguntam às vezes... O senhor fez a denúncia em maio deste ano [na edição de 10 de maio de 1992 da revista Veja], mas o senhor sabia o que se passava há muito tempo antes. Se pergunta o seguinte: "Por que é que o senhor só fez a denúncia em maio? Qual foi a gota d'água que levou o senhor a fazer a denúncia nesse mês? O que aconteceu no seu relacionamento pessoal e tal?"
Pedro Collor: Não foi o relacionamento pessoal, foi um conjunto de fatores que desaguaram em meio... com alguma conversa que eu tive aqui em São Paulo no Hotel César Park, se não me falha a memória, com a presença do Coimbra [Marcos Coimbra, embaixador e secretário geral da presidência da República durante a era Collor], da minha mãe [Leda Collor] e outros quarto. Estava Leopoldo [Leopoldo Collor de Mello, irmão de Pedro e Fernando], mais outras pessoas que não me recordo, porque não falei com elas. E fui ter com a minha mãe, conversei com ela. Depois, mais tarde, conversei com o Coimbra e nessa ocasião foi dito, enfim: "Você não pode fazer isso e tal". "Mas como não posso fazer isso? Eu tenho que fazer isso, eu vou fazer isso".
Pedro Cafardo: Por que você já estava dizendo naquele dia que faria as denúncias? É isso?
Pedro Collor: Não. Eu já vinha fazendo ao longo do tempo, desde o ano passado [1991], mas a coisa veio crescendo. O documento a que você se referiu no início da entrevista já tinha sido divulgado, o documento. Eu ia continuar, não ia parar. "Mas não pode fazer isso, é um mal contra a democracia, isso é um mal que se faz para a democracia". "Mas não é isso, tem que se tomar providências [gesticulando]. Isso explodirá, de uma maneira ou de outra, isso não pode ser assim". E, naquela ocasião, saí de São Paulo, dois dias depois voltei a Brasília, para Maceió, perdão, e aí então veio a notícia de que eu havia sido afastado da empresa [no dia 19 de maio de 1992] por essas alegações [de insanidade mental], e eu recebi essa notícia pela imprensa. Eu digo: "Bom, paciência"! Já havia recados de minha mãe. Liguei a Brasília para poder conversar com ela, e ela queria que eu viesse imediatamente à Brasília para poder encontrá-la. Havia lá um aviãozinho para eu poder embarcar de volta: "Se é para saber aquilo que eu já sei pela imprensa eu não preciso ir a Brasília". Isso é importante frisar, perdão, ela disse então: "O que é que você está sabendo?" "Estou sabendo aqui ... eu recebi um fax da secretaria de imprensa da presidência da República, em que está declarado por você e assinado embaixo, que me afasta da empresa por eu estar, em outras palavras, fora do controle da cabeça ou meio louco, ou coisa parecida". E eu disse: "Bom, paciência, respeito e acato a sua decisão, mas eu acho que todos vocês deverão acatar também e respeitar da mesma forma a minha defesa [enfatiza], a minha determinação a minha continuidade naquilo que venho fazendo". E então, nesse mesmo dia, nesse mesmo vôo de São Paulo vinha, coincidentemente, o Luís Costa Pinto [jornalista da revista Veja, na época] de São Paulo e nós nos encontramos, eu o chamei. Nós gravamos e aí a coisa aconteceu.
Caio Túlio Costa: Senhor Pedro Collor, a pergunta é a seguinte, um pouco do que o Pedro falou, até aí nós acompanhamos. Existe um momento em que foi feita a denúncia, que é o momento da capa da revista Veja, isso aconteceu dois anos e 2 meses depois da primeira semana do governo [sendo interrompido], quer dizer... há quem se pergunte, por exemplo, se o senhor teria, por exemplo, medo de ter sido excluído desse esquema [sendo interrompido]. Por que esperar dois anos e dois meses para fazer uma denúncia que o senhor mesmo disse, por exemplo, no Jô Soares [Programa do Jô programa de entrevistas da Rede Globo], que já sabia das irregularidades logo nas primeiras semanas?
Pedro Collor: Logo no início. É verdade, é verdade.
Caio Túlio Costa: O que se diz também é que o senhor iria fazer a intermediação e foi excluído da intermediação.
Pedro Collor: É uma interpretação, foi isso, foi dito, foi comentado, enfim. Isso é natural da natureza humana interpretar de outra forma. O fato é que eu sempre levei essas afirmações e coloque-se você no lugar de uma pessoa, um ser humano nessa situação, que sabe desses fatos leva essas informações, aguarda, enfim, as providências, elas não vêm. Eu acho que a primeira denúncia então deveria eu denunciar.
Caio Túlio Costa: Mas eram levadas diretamente ao seu irmão?
Pedro Collor: Eu levava diretamente ao Coimbra, ao Cláudio Vieira [secretário particular de Fernando Collor] . Algumas vezes levei ao Fernando. Falei com ele pessoalmente... [sendo interrompido]
Pedro Collor: Falei com ele a respeito do Paulo César Farias, que era uma coisa séria.
Caio Túlio Costa: Ele respondia o quê, o presidente?
Pedro Collor: Ele anotava e dizia: "Isso é grave, isso é grave, foi bom você me dizer isso [fazendo o gesto de anotar]". Porque você não vai adentrar na privacidade de alguém: "Não, espera aí! Espera aí, um momentinho"! Eu o via eventualmente, quando estava em Brasília ou quando encontrava com ele, e não era sempre que encontrava com ele.
Carlos Augusto Setti: Senhor Pedro, por favor. Dentro dessa mesma linha de raciocínio, uma pergunta que eu também acho que é da curiosidade da população e da imprensa. Essa história toda começou com uma questão de empresa familiar, havia uma aliança PC Farias com seu irmão, segundo as suas denuncias, no sentido de criar uma rede de comunicação paralela que competiria com as empresas que o senhor dirigia. Se não houvesse esse problema familiar e empresarial, se o senhor não tivesse um conflito empresarial dentro da sua família, o senhor ainda assim faria as denúncias? Ainda assim daria a entrevista a revista Veja que detonou o processo da CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito], enfim, do impeachment?
Pedro Collor: Talvez não tivesse ocorrido nos moldes que aconteceu, mas certamente aconteceria algum dia ou outro, de outra maneira, ou parecido ou similar em algum momento. A propósito disso, existe essa interpretação que é basicamente aquela que é mais objetiva mais clara: "Ah, foi só porque havia uma perspectiva de haver uma concorrência, de acontecer uma concorrência com as empresas da família do grupo da família que ele detonou as denúcias que fez". Mas não era bem isso, o problema era muito mais profundo, havia muito mais profundidade em tudo isso. O que o Paulo [PC Farias] dizia e queria, mas eu não tinha noção da abrangência e da grandeza do que ele pretendia, era fazer aquela velha história: "Esse ano, eu elejo você governador, fulano prefeito"... enfim, é um comando político no estado para fazer Deus-sabe-o-quê! O que fizeram com o país, o que fizeram, imagina o que não iriam fazer no estado.
Carlos Augusto Setti: [interrompendo] Assim, mas se houvesse um acordo com o senhor, se o senhor... empresarial [o acordo]?
Pedro Collor: [interrompendo] Eu nunca... Me chamaram "n" vezes. E eu tentava, tentamos esse acordo, tentamos isso: "Não pode haver isso, não pode haver isso". Essa pergunta, a sua colocação: "ah, então calaria a boca e faria o acordo, porque não vai ter concorrência, então eu fico quieto"... confesso a você que não. Do jeito que me conheço, do jeito que eu sou, isso mais dia menos dia, isso ia gerar, mais dia menos dia, um grau de insatisfação íntima dentro de mim [gesticulando] que eu não iria suportar. Foi esse o grande motivador e também pela questão do meu afastamento de uma alegação de que eu sou louco. Como assim? Como é que pode uma coisa dessas? E aquilo havia sido negociado, minha mãe disse no telefone que tinha sido traída, para que o Bornhausen [Jorge Bornhausen ex ministro-chefe da Casa Civil] negociasse com os líderes partidários na câmara, porque na época só se cogitava a CPI da câmara e assim... "olha Pedro tira ele"! Meu Deus do céu se faz isso com um familiar, o que não estão fazendo com esse país? Aquele foi um momento de profunda reflexão e dor muito forte, isso não pode continuar, então é agora ou nunca e vamos embora! Volto a dizer: "não me arrependo de nada do que fiz". Muito triste, fico. Pesaroso constrangido, mas estou bem comigo próprio, isso é mais importante para mim [aponta para ele mesmo].
Antonio Carlos Ferreira: Você falou em um acordo de, uma tentativa de acordo onde seria oferecido para o senhor 25 milhões de dólares, mas o senhor..
Pedro Collor: [interrompendo] Isso não foi um acordo. Isso foi uma tentativa de suborno... foi em dezembro, novembro do ano passado [1991], mas sim, perdão, estou interrompendo.
Antonio Carlos Ferreira: Então, como era esse acordo? Ou essa compra, essa tentativa de suborno digamos assim?
Pedro Collor: A idéia era a seguinte... Bom, isso me foi trazido pelo senhor Dalmo Peixoto e eu vou lhe relatar com bastante... isso foi dito na CPI, foi dito, enfim ,os jornais todos publicaram naquela ocasião. Mas é um detalhe curioso, eu tive a oportunidade de repetir, já, isso. Um belo dia me procura o Dalmo, de quem eu sou amigo, e trabalha com empresas de tratores, caminhões, coisas do gênero, não só em Maceió, mas também em Pernambuco. Disse: "Pedro o negócio é o seguinte: me procurou o Paulo Jacinto. Paulo Jacinto era um advogado que trabalhava para o Paulo César Farias, um daqueles 12 homens que estavam naquela relação [lista de envolvidos no esquema de corrupção]. O Paulo Jacinto disse que esteve num vôo. O Paulo Jacinto era muito amigo do Dalmo, também. Houve um vôo de Maceió a Brasília, ou de Brasília a Maceió, isso não importa, em que se fez um brainstorming: "Estamos a fim de liquidar o Pedro, tirar o Pedro do caminho senão o nosso projeto não vai avante. É muito difícil ou pode prejudicar e tal. Qual é a melhor fórmula?" Vários deles deram sugestões e aquela que prevaleceu foi do Paulo César. A de tentar oferecer 20 ou 25 milhões de dólares para que eu me ausentasse do país até 1994, 1995, após as eleições de 1994, em outras palavras [mexendo as mãos de um lado para o outro]. E, se quisesse voltar ao Brasil, podia voltar como turista. O acordo era esse [gesticulando], para que eu voltasse como turista, que não me dedicasse jamais em Alagoas à atividade jornalística ou de comunicação, como eu vinha fazendo esse tempo todo, e que não tivesse nenhum compromisso de não adentrar na vida, não abraçar carreira política. Eu digo: "Ah, mas que ótimo! Eu aceito. Interessantíssimo, agora 25 é pouco! Eu quero uns 50, daí para dentro 100, 80. vamos negociar. Agora, eu, Paulo César e um gravador no meio." Não houve mais nada. Isso, eu disse aqui em São Paulo naquela reunião do Maksoud [Hotel Maksoud Plaza] . Foi isso que aconteceu. O Dalmo, por sinal foi o pai do Dalminho, é o velho Dalmo, que é falecido, uma pessoa muito boa, foi um dos primeiros patrões do Paulo César, quando o Paulo César começou a vender tratores em Alagoas, daí vem a relação deles, e eles sabendo da minha relação com Dalminho, aproveitavam para fazer uma sondagem muito, muito sutil, para evitar qualquer tipo de problema, perdão...
Célia Chaim: Eu gostaria de saber do senhor o seguinte: o Paulo César, por todas as denúncias que foram feitas, é um bandido, né?
Pedro Collor: Eu não entendi. Perdão!
Célia Chaim: O Paulo César Farias, depois de todas essas denúncias, a gente pode definir como um bandido. Ele era mocinho quando ele foi padrinho de casamento do senhor?
Pedro Collor: Não, ele foi padrinho do meu casamento há 12 anos atrás.
Célia Chaim: Nesse período que ele se transformou nisso?
Pedro Collor: O Paulo César, veja bem, eu não convidei, quero deixar bem claro, eu nunca convidei para ser meu padrinho, foi por parte do pai da minha mulher, eu não. Ele era muito amigo... Eu não convidei [faz sinal de negativo com o dedo indicador direito]. Mas nessa ocasião não tinha nada contra, especificamente, era um sujeito muito esforçado, um pouco ridicularizado na província, porque era aquele sujeito que gastava mais do que ganhava, vivia cantando grandeza, aquela pessoa meio ridícula. Enfim, não tinha nada específico... Nos freqüentávamos, ele era anunciante da empresa, enfim, coisas do gênero. Mas eu não via nele... era um sujeito muito esforçado. Mas eu não via nele, não conseguia enxergar nele essas características, quer dizer, aquela velha história, a ocasião faz o ladrão. Eu acho que ele sentiu um terreno fértil, a partir do momento que ele começou essa relação, com Fernando ainda no governo do estado, e aí o resto a gente conhece.
Célia Chaim: O que ele deu de presente para o senhor de casamento?
Pedro Collor: Sabe que não lembro, acho que foi uma estatueta, uma estátua. Uma coisa decorativa para casa. Não me recordo exatamente o que foi.
Mac Margolies: Senhor Pedro, uma pergunta de duas partes: no início o senhor afirmou que o seu irmão era o sócio majoritário com Paulo César, e que Paulo César era uma frente, uma espécie de frente. O senhor reafirma isso, que PC era a frente?
Pedro Collor: Essa é a pergunta, se eu reafirmo?
Mac Margolies: Essa é parte da pergunta: se é, se continua a sua afirmação. Qual foi a intenção do seu irmão no seu ver, construir um império de dinheiro, poder?
Pedro Collor: Veja, o Paulo [enfatizando] é quem dizia isso como uma ênfase, espalhava isso no meio empresarial em Alagoas pelo qual... meio empresarial esse o ridicularizava no passado. Ele vendeu, criou essa imagem ao Fernando, que o Fernando seria um líder mundial, um líder sul-americano da maior projeção, e que para isso precisaria ter um império de comunicação, precisava ter muito dinheiro, coisas do gênero, ele vendeu essa idéia. Foi aos poucos incutindo essa idéia na cabeça do Fernando e foi isso que aconteceu. Mas o próprio Paulo era quem dizia isso.
Mac Margolies: Mas o seu irmão era suscetível a isso, ou a imagem dele de cabeça quente...?
Pedro Collor: [interrompendo] O Fernando que eu conhecia, não; o Fernando que passou a ser um Fernando diferente, que eu conheci após a relação com Paulo César, [gesticulando] eu admito... Uma possibilidade real.
Mac Margolies: Ele precisava de dinheiro?
Pedro Collor: Eu não sei se precisava de dinheiro como uma pessoa normal, mas para fazer face aos planos do Paulo César eu acredito que sim, porque está provada a megalomania do Paulo César.
Antonio Carlos Ferreira: A tal ditadura branca que o senhor se referia?
Pedro Collor: Enfim, queriam se manter no poder trocando: "Hoje eu, amanhã você, depois você" e assim por diante.
Luiz Weis: Pedro Collor, desde a célebre entrevista que você deu a Veja e as dezenas de outras entrevistas que o senhor deu a revistas, jornais, rádios, televisão etc, o senhor contou tudo que o senhor sabe sobre as atividades, as ligações hipotéticas entre o senhor PC Farias e o seu irmão, sobre o temperamento do seu irmão, sobre o comportamento do seu irmão, ficou alguma coisa por dizer? Alguma carta na manga?
Pedro Collor: Olha, se ficou por dizer, eu peço desculpas, não foi minha intenção, e se faltou dizer, eu vou dizer no livro [Passando a limpo - a trajetória de um farsante, Editora Record, 1992] que eu vou escrever, daí vou ter mais tempo.
Luiz Weis: [interrompendo] Então o senhor tem algo a acrescentar?
Pedro Collor: Não estou dizendo que sim, mas, se tem, peço desculpas. Pretendo tentar cercar todos esses fatos através do livro.
Humberto Werneck: Esse livro está sendo escrito ou não?
Pedro Collor: Não ainda não. Ainda não.
Humberto Werneck: Já está negociado esse livro?
Pedro Collor: Estamos negociando, estamos ilustrando, aprendendo a respeito dessa área editorial, da qual eu não conheço nada e já tive aconselhamento e procuro agora ver qual é a melhor forma de fazer a edição do livro e o melhor formato, a estrutura do livro.
Caio Túlio Costa: Esse livro vai ser documental ou de testemunho?
Pedro Collor: Eu não sei, Caio, eu estou na dúvida, ainda não sei qual é o melhor formato, estou na dúvida ainda. Mas eu tenho a impressão que talvez seja a melhor coisa tratá-lo como na primeira pessoa. É uma experiência minha de vida, que eu conte tudo aquilo a nível de sensações, além de fatos, de sensações e tudo aquilo que cercou aquilo que vai ser relatado ali a nível de sensação pessoal, de considerações pessoais, enfim... um pedaço da minha vida, um pedaço da minha experiência com essa.
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Ainda sobre os motivos que o levaram a fazer as denúncias, a dar as entrevistas, enfim, o senhor disse que houve várias interpretações, eu lhe faria mais uma pergunta a respeito disso: uma das informações a respeito disso seria que uma época o senhor estaria nos Estados Unidos com o empresário Jorge Chammas [conhecido como Gito, herdeiro do Moinho São Jorge, empresa de moagem de farinha de trigo], negociando a venda da Chrysler [Pedro Collor ri] para o Brasil e que o presidente da República teria lhe chamado em Brasília e dado uma bronca, enfim, que não era nada disso e cortado essa sua iniciativa.
Pedro Collor: Não foi nada disso.
Jorge Escosteguy: O senhor nunca esteve na Chrysler?
Pedro Collor: Posso relatar um pouco? Eu estava uma vez aqui em São Paulo, não me recordo São Paulo, Brasília através de um amigo em comum do Jorge e meu, e recebi a informação que o Gito, é chamado de Gito, gostaria de conversar comigo: "Pois não! Qual é a intenção?" O Gito queria negociar com a Chrysler uma representação dos veículos Chrysler para o Brasil. Para isso necessitava de uma audiência ou de uma entrevista com a diretoria com os diretores da Chrysler nos Estados Unidos. E me pediu que eu o acompanhasse, porque achava que era importante a moldura ou coisa parecida ou o que seja... do irmão do presidente da República [sendo interrompido]. Eu digo: "Muito bem, eu não posso tomar essa decisão sozinho, essa é uma questão que eu tenho que me orientar, tenho que saber se eu ajo assim, ou não ajo assim". Telefonei ao Coimbra, que naturalmente, seria a pessoa mais ligada ao Itamaraty a quem, em tese, cabe fazer de um setor comercial... fazer esse tipo de apresentação ou solicitar audiência ou coisa parecida se assim desejar o interessado. O Marcos pediu: "Não, Pedro, eu vou verificar isso e tal". Eu digo: "Marcos, eu preciso saber se isso é conveniência ou inconveniência? Se sim ou se não? Qualquer que seja, preciso de uma orientação" [gesticulando]. No dia seguinte retornei a ligação a ele, segundo ele me disse para fazer, ele disse: "Pode ir, fale com o fulano de tal, explique qual é o chefe de gabinete dele para poder então dar seguimento a isso, e conseguir marcar audiência ou coisa parecida". Ele então voltou para o Itamaraty. "Então você liga para o Itamaraty, que o Itamaraty vai fazer isso. O Itamaraty fez a ligação e marcou a audiência. No meio do processo, eu não sabia de nada disso, na época... no meio do processo alguém levou a informação, para o Fernando, que eu estaria usando as embaixadas brasileiras para fazer negócios pessoais. Eu digo [abre os braços]: "Bom, paciência! Eu cumpri as regras do jogo normais, mais de boa fé do mundo." E quando estava nessa conversa que me referi em São Paulo no [hotel] César Park, antes dessa denúncia do dia 13 [de maio]. Eu disse isso ao Marcos. Disse: "Marcos, aconteceu isso, assim, assim, assado". O Fernando mandou esse departamento comercial do Itamaraty cancelar essa audiência que nunca houve, nunca houve. Aí o Marcos disse: "Mas eu não sabia disso". "Ô, Marcos se você não sabia me perdoe, eu falei com você, e o Fernando passou por cima de quem quer que seja e fez o Itamaraty cancelar e você não ficou sabendo! Mas eu agi corretamente e de boa fé, não vejo o que há de ilegal, de imoral nisso, agi perfeitamente de boa fé." E o Marcos sequer sabia disso ou disse que não sabia, enfim.
Antonio Carlos Ferreira: O senhor ia ganhar quanto no negócio?
Pedro Collor: Não se chegou a falar absolutamente em dinheiro, e podem chamar o senhor Gito Chammas para perguntar se isso foi tratado, podem perguntar ao senhor Carlos Guimarães se isso foi tratado em algum momento. Qualquer pessoa que seja, se alguém disser quanto é que estava estabelecido ou coisa parecida, é preciso que prove.
Caio Túlio Costa: Se a Chrysler viesse para cá isso implicaria num ganho de capital, de investimento.
Pedro Collor: Não foi tratado e eu jamais iria trabalhar em Krysler. Você acredita Caio, que eu iria ser..."bom, vocês querem me contratar como funcionário, tem [gira a cadeira] que me tirar da [do jornal] Gazeta de Alagoaspara ser funcionário da Chrysler.
Jorge Escosteguy: O senhor disse quando lhe perguntaram na CPI, o senhor disse: "Eu sou um desempregado".
Pedro Collor: Eu não entendi. Perdão!
Jorge Escosteguy: Quando o senhor depôs na CPI, se não me engano, lhe perguntaram o que o senhor fazia, de que o senhor vivia. O senhor disse: "Eu sou um desempregado".
Pedro Collor: [ri] Naquela ocasião, sim. Naquela ocasião, sim, eu tinha acabado de ser desempregado. Mas tenho sido sustentado pelas empresas, por minha mãe [Leda Collor] que assim determinou antes de ter esse problema [passou 29 dias internada em um hospital de São Paulo, em coma, antes de morrer, vítima de broncopmeumonia, em 25 de fevereiro de 1995] infelizmente.
Carlos Augusto Setti: Ainda sobre a CPI, só para pegar o gancho aqui do Weis, houve um episódio que também não ficou muito esclarecido da sua participação. O senhor deu um depoimento numa segunda-feira no início da semana. No início da outra semana, na semana seguinte, o senhor foi a Brasília e antes disso, o senhor teria feito contato com membros da CPI de que o senhor queria depor de novo, diante do depoimento que foi feito pelo PC Farias, logo em seguida. Eu acompanhei isso de perto, e alguns membros da CPI com quem o senhor fez contato [sendo interrompido] ficaram esperando o senhor, ficaram esperando o senhor, o retorno, a sua confirmação para voltar depois, e não houve essa confirmação e aí vários boatos circularam em Brasília sobre as razões...,
Pedro Collor: Isso foi... Quando foi, meu Deus? Isso foi uma confusão tão grande, foi na ocasião que saiu editado uma revista da Isto É, uma edição da Isto É, em que eu saía na capa, e saía lá: "Os negócios escusos do Pedro em Miami". E aquilo saiu e entendi aquilo como uma tentativa de intimidação, que aquilo inclusive não tinha nenhuma consistência.
Carlos Augusto Setti: Teria sido o próprio PC que forneceu os dados para a Isto É?
Pedro Collor: Pressuponho que tivesse partido dele ou de pessoas ligadas a ele. Então eu digo: "Ah, é! Tá bom! Está aqui o fax", porque falavam de acareação também se bem me recordo. "Não, eu estou pronto para depor novamente, se possível antes do seu PC".
Carlos Augusto Setti: O senhor não esteve em Brasília, então?
Pedro Collor: Não, foi por fax, eu mandei um fax, e então a CPI me mandou um fax dizendo que não havia tempo hábil para isso e que, eventualmente, se quisesse trazer mais informações para a CPI que eu poderia ir e ter contato diretamente com o relator, senador Amir Lando, e fizesse a entrega para ele. Mas não era isso eu queria dar uma demonstração de que, enfim. Saiu a revista, eu estava predisposto a ir novamente à CPI depor em relação a tudo isso.
Humberto Werneck: E esses negócios em Miami existem?
Pedro Collor: O negócio não existe ainda, mas...
Humberto Werneck: [interrompendo] É sobre a venda de remédio ao Ministério da Saúde, se não me engano, AZT [substância antiviral no combate ao vírus da AIDS] etc?
Pedro Collor: Saía isso, que eu tentei vender AZT vencido para o ministério da Saúde. Alguém trouxe um documento em que está ali alguma coisa voltada: "Não, o Pedro tentou vender vencido ou alguma que o valha". Chegaram até a dizer que eu tentei nomear um ministro do PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira] dentro dessas mesmas entrevistas, que eu tentei comprar álcool de uva, vender álcool de uva para o governo, vender para o governo, enfim... A quantidade de gente que manda fax, que manda informações, que manda sugestões de negócios, enfim, que seja é enorme, é impressionante. Chegam pilhas, pilhas e pilhas, alguns negócios interessantes, outros não interessantes. lguns legais, outros não legais... [gesticulando e sendo interrompido]. Você não pode impedir ninguém de mandar fax, assim ou assado.
Jorge Escosteguy: De todos os negócios que lhe acusaram... do senhor ter feito, o senhor disse que não fez nenhum deles. Então, eu lhe perguntaria: que negócios o senhor faz, no bom sentido, evidente, para sobreviver, já que as empresas da sua família estão em dificuldades? E, por exemplo, qual era a sua reserva pessoal e do presidente da República antes dele assumir, e qual é hoje a sua?
Pedro Collor: Dele, eu não sei, as minhas estão se exaurindo, estão chegando ao seu final, enfim, e por isso que eu estou à cata...
Jorge Escosteguy: [interrompendo] O senhor era um homem rico quando ele assumiu a presidência da República ou não?
Pedro Collor: Não, de jeito nenhum. Eu acho que nunca dei demonstração exterior de riqueza assim ou assado. Sou uma pessoa de médio padrão e não vejo isso demérito para ninguém ser rico ou ser pobre nem ser remediado.
Pedro Cafardo:[interrompendo] O seu apartamento em Miami vale quanto?
Pedro Collor: O apartamento em Miami saiu, foi dito na CPI, não neguei em momento nenhum, foi um presente do pai da minha mulher para minha mulher, está lá e custou duzentos e tantos mil dólares e financiado em 30 anos. Está aí para qualquer um ver.
Pedro Cafardo: Que carro o senhor tem em Miami?
Pedro Collor: De carros nós temos uma Van Branca, da Chevrolet, e uma BMW. Financiado.
Luiz Weis: Na semana passada, na terça-feira da semana passada, a comissão de impeachment do senado aprovou o fim do sigilo bancário das contas do seu irmão, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal em Brasília e Maceió, contas correntes e contas de poupança. O senhor acha que é uma perda de tempo? Qual é o seu faro... ou vai saltar alguma irregularidade aí?
Pedro Collor: Não sei, Luiz. Eu não sei.
Luiz Weis; [interrompendo] Eu sei que o senhor não sabe, mas qual é a sua sensação? Sua aposta?
Pedro Collor: Acho que, se fizer um exercício de retrospecto, retroagindo a abril, fevereiro ou a maio, que seja, eu jamais, e acho que nenhum dos senhores, poderia jamais imaginar o que poderia, o que estaria por acontecer, ou seja, a descoberta do cheque dos fantasmas, os fantasmas, as declarações... Ninguém seria capaz de fazer tamanho exercício de futurologia. É humanamente impossível, porque ninguém imaginava que a coisa fosse tão abrangente e tão profunda não é ...[sendo interrompido] e tão suja? Então, qualquer coisa que se possa dizer agora, eu jamais diria "isso é impossível", "isso não pode". Eu acho que tudo é possível.
Luiz Weis: [interrompendo] Inclusive o fato do... a possibilidade, não é um fato, é uma possibilidade, suspeita, hipótese que Fernando Collor tenha conta no exterior?
Pedro Collor: Tudo é possível, conta no exterior, conta-fantasma, conta do PC, acho que tudo é possível. Eu volto a dizer: eu jamais seria capaz de imaginar que isso que hoje aí está fosse realidade, e que eu talvez na ocasião...
Luiz Weis: Então, essa realidade legitima, por assim dizer, toda sorte de suspeita que se possa ter sobre as finanças do seu irmão?
Pedro Collor: Eu acho que sim, porque pelo menos é isso que vem se configurando. Infelizmente, é isso que vem se configurando. Em maio, se alguém me perguntasse, da maneira que você me perguntou... [se alguém] formulasse a pergunta que você acaba de formular, eu diria: "Pôxa, é impossível, eu acho impossível, eu acho totalmente impossível". Mas, hoje, eu acho que não. Seria muita ingenuidade, muita inocência, muita falta de malícia da minha parte dizer: "Não, isso jamais, isso é impossível, eu acho que não" [gesticulando].
Antonio Carlos Ferreira: As defesas do Paulo César e a defesa do presidente afastado Fernando Collor estão agora entrando em... estão começando a entrar em contradição. O que o senhor prevê para frente, uma briga entre os dois? O senhor acha que é possível? Já está começando essa briga, né?
Pedro Collor: Bom, isso está configurado, eu pressuponho que tenha havido alguma tentativa de acordo, pelas informações que me chegam dando conta disso, e que não havendo se chegado a esse acordo, o próprio... Eu fiquei sabendo, agora, inclusive, um pouco antes de chegar aqui, não tinha visto os jornais do dia, que novamente o advogado do PC Farias se posiciona de forma contundente contra o Fernando.
Antonio Carlos Ferreira: Então, não tem acordo? Ele [Fernando Collor] disse que não teve tentativa de acordo, por que ele até pergunta: "O que o Paulo César ganharia com o acordo de receber todas as denúncias contra o presidente em cima das costas dele?"
Pedro Collor: Veja, qualquer raciocínio [junta as mãos] que se faça em relação ao que vem ocorrendo, tendo como protagonista Paulo César Farias, não pode seguir a mesma regra quando você faz um raciocínio de uma pessoa normal. Nós estamos de um sujeito perigoso, criminoso, seboso [pontuando com os dedos]. Criminoso, perigoso, um sujeito amoral, sem princípios. Enfim, tudo é possível. Eu não sei o que o Paulo César tem em mente. Ele tinha em mente tanta coisa que eu não sabia, que nós não sabíamos, que hoje se configura como realidade. Eu acredito que tenha existido a tentativa, não de um acordo, acordo [fez gesto de aspas com as mãos], mas de se comunicar a ele que a defesa dele ia ser aquela, ele não concordou a princípio, depois acabou concordando por intercessão de terceiros. Presuponho, por informações que me chegam. Mas carregaram mais as acusações do que haviam combinado, se havia sido combinado. E, então, agora vem a reação dele. Quer dizer, eu acho que é um pouco de jogo de cena isso tudo, mas é provável, agora, a partir de declarações do próprio advogado do Paulo César, que isso seja uma demonstração de que o Paulo está reagindo. Agora, tenho a impressão que, no dia que ele for efetivamente preso, botar a chave na grade, aí sim,aí ele vai falar [sendo interrompido], e aí Deus sabe o que pode acontecer.
Célia Chaim: [todos falam ao mesmo tempo] Mas o senhor acha que, junto com ele, deveria ir seu irmão também?
Pedro Collor: Eu pressuponho [abre os braços], porque acredito que existam leis a serem cumpridas. Agora, se ele não for preso, não vai preso, não é incriminado, não é não, é absolvido, sujeito... perfeita ficha e tal. Eu pressuponho que isso seja uma incitação a uma desobediência generalizada das leis. Acho que isso é impossível.
Célia Chaim: O senhor não acha que, junto com o Paulo César Farias, deveria ir preso o seu irmão também? Porque ele não era menor de idade, sabia o que estava fazendo. Quer dizer, ele se deixou levar? Se o Paulo César é criminoso, o seu irmão, o Fernando Collor também é, provavelmente a Rosane [Rosane Malta, esposa de Fernando Collor na época] e outras pessoas.
Pedro Collor: Não só isso, mas aqueles também que deram dinheiro ao Paulo César.
Célia Chaim: Talvez a Zélia [Zélia Cardoso de Melo, ministra da Economia durante o plano Collor], que também participou do esquema, falam, né?
Pedro Collor: Todos aqueles que deram, aqueles que receberam [pontua com os dedos], aqueles que extorquiram... todos, porque, afinal de contas, todos fazem parte de um crime específico.
Caio Túlio Costa: Mas o senhor não ajudou o seu irmão, quando ele era candidato? O senhor deu dinheiro para a campanha dele, também?
Pedro Collor: Eu?
Caio Túlio Costa: É.
Pedro Collor: Nunca dei dinheiro, nunca dei dinheiro.
Caio Túlio Costa: Você não participou da campanha dele em nenhum momento?
Pedro Collor: Absolutamente, eu participei apenas no momento em que havia uma dissidência entre os políticos alagoanos, que queriam cada um deles ser o pai da campanha, digamos... um coordenador da campanha no estado. Um belo dia, eu estou em Alagoas, me liga o Coimbra: "Ó, você tem que tomar conta dessa questão da coordenação em Alagoas por tais motivos". Eu digo: "Eu não posso, eu viajo muito, eu não posso fazer isso, porque eu não sou político, não tenho vocação política [pontuando com os dedos] e acho que vou prejudicar mais do que ajudar". O governador do estado, em tese, seria o governador da campanha, mas houve um desentendimento e assim por diante... Eu com muito tato, com muito jeito, consegui, de maneira, graças a Deus, consegui, enfim, fazer uma espécie de harmonia, criar um pára-choque entre eles que estavam se batendo.
Jorge Escosteguy: [todos falam ao mesmo tempo] Em quem o senhor votou para presidente da República, senhor Pedro?
Pedro Collor: Votei no Fernando, no primeiro e no segundo turno.
Jorge Escosteguy: O senhor votou sempre nele quando ele foi candidato?
Pedro Collor: Sempre, por que não? Sempre.
Pedro Cafardo: Votará nas próximas eleições se for candidato de novo?
Pedro Collor: Não.
Antonio Carlos Ferreira: Ele foi um bom governador?
Pedro Collor: Não.
Antonio Carlos Ferreira: Bom prefeito?
Pedro Collor: [pausa] Não. Costumava se dizer em Alagoas o seguinte: que era o Fernando... Algumas pessoas diziam, o seguinte: seria excelente se fosse possível ter o Fernando executivo, da parte do executivo, do pegar no batente, e o Fernando da aparição pública, Fernando do discurso, o Fernando da garra verbal, enfim, de tudo isso [gesticulando]. O que aconteceu foi exatamente isso, o Fernando nunca teve tino para administrador, sempre foi um sujeito que pensava basicamente no macro, na política, em tudo isso [sendo interrompido]. E não tinha quem fizesse isso para ele em Alagoas.
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Se o senhor acha que ele foi um mau prefeito, um mau governador, por que votou nele para presidente da República?
Pedro Collor: [franze a testa e coloca a mão no queixo] Porque é meu irmão.
Jorge Escosteguy: Ele é seu irmão e o senhor o detonou na presidência da República.
Pedro Collor: Mas, depois, na prefeitura, ele não fez o que fez na presidência da República... a nível [mexe as mãos de um lado para o outro] local, proporcionalmente, a nível local, nem como governador. Eu ainda acreditava, ainda não acreditava mesmo, ele [sendo interrompido] era muito bem treinado e realmente o era [sendo interrompido]. Tinha um programa excelente. Agora, se perdeu...
Caio Túlio Costa: [interrompendo] O senhor disse que esse esquema com o Paulo César vinha desde o governo do Fernando Collor no estado.
Pedro Collor: Meados do governo do estado. Eu comecei a sentir as modificações, alterações no comportamento do Fernando, na personalidade do Fernando, a partir da metade para o final do governo dele que não chegou ao final, porque ele se descompatibilizou antes, para se candidatar [girando a cadeira]. E eu comecei a notar umas diferenças no Fernando que eu não consegui identificar, hoje, notava algumas alterações.
Caio Túlio Costa: Físicas ou psicológicas?
Pedro Collor: Não. Diferenças na forma de proceder, na forma de tratar, na forma de focalizar algumas... [sendo interrompido] enfrentar alguns problemas, ou focalizar alguns problemas, enfim, eu comecei a verificar, mas não podia saber que isso era [junta as mãos] tão profundo assim. Hoje, sim, mais do que nunca sei, que esse processo em que hoje nós estamos aqui, desaguou aqui dessa maneira hoje, teve origem, teve início naquela ocasião. Essa é a minha sensação, a minha conclusão, dedução, hoje, muito antes claro, mas agora mais do que nunca.
Caio Túlio Costa: Senhor Pedro, o Estado era o maior anunciante das suas empresas?
Pedro Collor: Foi o pior cliente, pior. Isso está nos arquivos. Foi o pior governo para nós. Nós faturamos menos no governo dele do que em qualquer outro, em qualquer outro [sendo interrompido]. E o que ele anunciava não pagava.
Pedro Cafardo: Nisso ele foi honesto, não anunciava na própria empresa.
Mac Margolies: O senhor fez um retrato bem contundente do Paulo César, como um criminoso etc. Voltando àquela questão da Célia. Traça um pouquinho essa transição de uma figura que era cliente, amigo da família, até um inimigo criminoso, seboso.
Pedro Collor: Não, ele nunca foi amigo da família [faz sinal de negativo com a mão], veja, ele nunca foi amigo da família.
Mac Margolies: Relações sociais.
Pedro Collor: O Paulo César tinha relações sociais comigo, com a minha família não. Minha mãe não o conhece. Leopoldo não conhecia, conheceu na campanha já no final, na campanha presidencial, por isso que ele o conhecia. Mas o Paulo César era um sujeito muito envolvente, muito jeitoso, muito... é uma outra faceta dele, muito simpático, muito envolvente, uma pessoa, enfim, que você olha assim e não vê essas características e tal.
Carlos Augusto Setti: Pelo o que o senhor conhece dele, o senhor acha realmente que ele vai abrir boca? Ou seja, o que se comenta é que esse tipo de personalidade criminosa, à semelhança dos mafiosos, por exemplo, mantém um pacto de silêncio. Aposta-se muito, em Brasília, que ele jamais vai falar, porque é um profissional. O senhor acha que ele vai falar mesmo se ele for preso?
Pedro Collor: Eu volto a dizer aqui: eu acho tudo possível em relação ao Paulo César, porque o Paulo César é um sujeito sem a menor sensação moral do que diga respeito do comportamento de uma pessoa. Ele é capaz de tudo, ele não tem limites. Então, tudo é possível, ele pode, sim, acho que sim, acho que pode chegar a esse ponto.
Carlos Augusto Setti: Falar não prejudica a ele mesmo, por exemplo, não piora a situação dele? Se ele começar a contar tudo que sabe também?
Pedro Collor: Mas ele pode... ele não precisa... Veja bem: o Paulo não precisa falar [gesticulando], ele pega uns documentos e manda um terceiro ou um quarto contar para a imprensa e liquidou a fatura. Ele prejudica quem quer que seja. Com a prova do crime, digamos assim, ele deve ter... o computador dele lá parece que tem uma porção... tem a bíblia [fazendo referência a um livro de regras e comportamento e de planejamento] de como... Ele fazia ameaças ou coisa parecida para tirar melhor proveito da coisa pública, sei lá, intermediações.
Luiz Weis: Eu gostaria de voltar a falar de aspectos da conduta pessoal do seu irmão. Como é que o senhor reage quando ouve a expressão: "Fernandinho-do-pó" [referindo-se ao comportamento de dependente químico de Fernando Collor]?
Pedro Collor: [franze a testa] Isso houve, já aconteceu muito tempo atrás, na época de... se me recordo, prefeito, não, foi nomeado. Foi já quando na candidatura do governo ou coisa parecida, já houve naquela ocasião. Eu achei um negócio politicamente baixo, achei uma coisa, você combate as idéias das pessoas, você combate um ato que ela praticou há tempos atrás. No caso é um ato, é um hábito de jovem quando, por exemplo, numa determinada quadra ele consome drogas. Então [mexe as mãos de um lado para o outro e gira a cadeira], quer dizer, você está combatendo as idéias de um sujeito que pretende se lançar a prefeito, governador ou deputado, ou você está combatendo um sujeito por ele ter sido consumidor de droga ou ter consumido drogas?
Luiz Weis: [interrompendo] Ele foi consumidor mesmo?
Pedro Collor: Consumidor que se diz é o seguinte [olha pra cima]: Veja!
Luiz Weis: [interrompendo] Foi? É só no passado?
Pedro Collor: Bem, isso de lá para cá eu não sei. Eu confesso a vocês, eu estava dizendo aqui, depois do governo de Alagoas eu passei a não ter mais uma relação especificamente freqüente com ele.
Luiz Weis: Mas o senhor tem ciência dos boatos de Brasília, que desde que ele tomou posse em Brasília, volta e meia, eles trocavam conversas, era uma coisa.
Pedro Collor: É! Isso me chegava aos ouvidos.
Luiz Weis: Até que, recentemente, o desastroso pronunciamento dele aos taxistas, quando ele incitou a população sair às ruas de verde e amarelo, um pronunciamento um tanto quanto exaltado. Não faltou quem dissesse que foi um pronunciamento estimulado por...
Pedro Collor: [interrompendo] Eu estava no exterior, eu já estava lá em Miami, fiquei sabendo pelos faxes que me chegavam eventualmente. Mas não tive oportunidade de conversar sobre esse assunto.
Luiz Weis: O senhor não rejeita liminarmente essa possibilidade?
Pedro Collor: [pausa e olha pra cima] Não é uma questão de rejeitar liminarmente, nem, digamos assim, lançar o inverso disso categoricamente. Tudo é possível, agora eu não conheço, desconheço, mas custo a acreditar, não sei. Eu não sei. Não conheço mais a pessoa, não tive mais contato pessoas ligadas a ele. Eu acho que isso é um pré-julgamento, e além do mais, enfim, através de toda essa carga, eu acho que não é elegante nem fica bem da minha parte ficar falando se é possível que ele seja consumidor de drogas ou não. É uma coisa que não faz parte do meu estilo. Se está que se diga, se não está, que não se diga, eu não sei, realmente não sei. Não afirmo que sim ou que não.
Jorge Escosteguy: Vamos fazer um rápido intervalo, O Roda Viva volta daqui a pouco, entrevistando hoje o empresário Pedro Collor de Mello, até já.
[intervalo]
[intervalo]
Jorge Escosteguy: Voltamos com o Roda Viva, que hoje está entrevistando o empresário Pedro Collor de Mello. Senhor Pedro, na entrevista que o senhor deu à Veja, o senhor tinha dito que o bolo do negócio, do seu irmão e do empresário Paulo César Farias tinha uma divisão de 70 por 30, ou seja, 70% para o presidente da República e 30% para o PC. Recentemente, foi calculado esse bolo em 1 bilhão e 600 milhões de dólares, ou seja, segundo a sua afirmação, o PC teria ficado com quase meio bilhão de dólares 480 milhões e o seu irmão com 1 bilhão 120 milhões de dólares. O senhor acha que esses números são reais? E o seu irmão, inclusive, tem se queixado muito de dificuldades financeiras, sem recursos etc, sem certas regalias ou mordomias como presidente afastado.
Pedro Collor: Esse número eu não conheço. O que eu conheço é o número de 1 bilhão de dólares, que teria sido comemorado em diversas ocasiões. Não pelo Paulo César Farias em Alagoas. Diversas vezes, se não por pessoas diretamente ligadas a ele, Paulo César, por outros, ligados ao segundo, terceiro, quarto escalão, isso foi várias vezes comentado. Agora 1 e 600 [1,6 bilhões de dólares], para mim, é fato novo.
Jorge Escosteguy: Teve a festa do bilhão em Alagoas?
Pedro Collor: Falava-se de uma festa, de uma celebração com champanhe, ou isso e aquilo outro, se ouviu diversas vezes lá em Alagoas, você pode perguntar lá na sociedade, todo mundo tem conhecimento disso.
Pedro Cafardo: E quando teria sido isso?
Pedro Collor: Ah! Agora você me pegou.
Jorge Escosteguy: E quando você ouvia isso, qual era a sua reação?
Pedro Collor: Fevereiro, março pode ser, eu não tenho... eu posso cometer...
Jorge Escosteguy: Teria sido o ano passado.
Pedro Collor: Não, não.
Luiz Weis: No final do ano passado, e que seria o primeiro bilhão para a campanha, para as futuras campanhas eleitorais.
Pedro Collor: Se eu tomei conhecimento disso foi no final do ano passado ou no início do outro ano, eu não sei, realmente eu não lembro.
Pedro Cafardo: Você não foi convidado para esta festa? [risos]
Carlos Augusto Setti: Mas a sua volta coincidiu com a defesa do presidente afastado à Justiça e ao congresso. E coincidiu também, com o que parece ser uma nova estratégia do seu irmão, que foi chamando os jornalistas em destaque. Conversando individualmente, e isso alcançou a imprensa através de reportagem na Veja, de Carlos Chagas [apresentador de televisão], na TV Manchete, enfim, vários outros jornalistas, e todo o entorno da sua possível volta. Da volta do seu irmão... Mas a sua volta e suas novas declarações de que, por exemplo, as novas denúncias, novas informações que o senhor tem sobre PC Farias, a impressão que a gente tem é que politicamente a sua volta, com suas novas declarações, é que arrastaram isso, como se o senhor tivesse passado um trator em cima, na tentativa de tomada de alguma iniciativa de seu irmão. O senhor tem consciência disso? O senhor concorda com essas...
Pedro Collor: [interrompendo] Concordo, concordo que possa haver essa avaliação por parte de quem está observando a coisa, na maneira de que você acabou de mencionar. Eu, de minha parte, confesso a você que não tive nenhuma intenção ou nenhuma... é... em haver a coincidência de datas nesse sentido. Pelo contrário, inclusive era para vir ao Brasil um pouco antes, era para vir ao Brasil no domingo. Saí de lá no domingo, antes era tão pouco, era para a outra semana e acabei adiando, adiando, adiando. Porque estava num corre-corre muito grande lá, tentando enfim, redirecionar essa coisa minha profissional, e então, ia sempre adiando, adiando, adiando. E foi isso, da minha parte não teve nada de coincidência, quer dizer, foi simplesmente a minha preocupação nesse sentido, perdão! A minha coincidência, hoje, sem minha participação ...
Jorge Escosteguy: O senhor tem, hoje, algum tipo de contato indireto com seu irmão? Notícias, recados?
Pedro Collor: Que tipo de recados?
Jorge Escosteguy: Qualquer recado.
Pedro Collor: Você não pode levar em consideração, porque você não dá à pessoa crédito suficiente para reconhecer como fidedigna aquela mensagem ou coisa que o valha. Aparecem sempre aqueles famosos para se...
Jorge Escosteguy: Telefonemas você não recebeu? Hoje, antes de começar a gravação?
Pedro Collor: A mim diretamente não, ele sempre fala através de amigos, amigos...
Jorge Escosteguy: O que ele fala?
Pedro Collor: "Olha, vamos fazer o seguinte, vamos cuidar para falar com o Pedro, para que ele pare com isso, que pare com isso, e nós temos aí umas coisas para propor a ele, não pode ser assim"...
Antônio Carlos Ferreira: Ameaças também?
Pedro Collor: Não, ameaças, não.
Caio Túlio Costa: Se chamado, o senhor iria conversar com ele?
Pedro Collor: Absolutamente, absolutamente, eu disse que qualquer conversa só poderia acontecer no dia em que eu visse o Paulo César na cadeia. Sem isso, não tem por que conversar, só existem somente divergências, não existe convergência.
Antônio Carlos Ferreira: Por que haveria ainda essas tentativas de contato? Se a rigor o mal, mal entre aspas, o que tinha que ser feito já foi feito, ou seja, o senhor, de certa forma, a não ser que tenha outras revelações bombásticas, e o senhor acabou de dizer que não tem, ou seja, tudo que o senhor sabe o senhor disse, ou seja, o senhor hoje não representaria mais nenhum perigo? Essas pessoas, na medida em que sabiam... Já disse, o que já disse. É público e o presidente já foi afastado.
Pedro Collor: Em tese, sim. A apresentação que o senhor acabou de mencionar, eu não sei, realmente eu não posso imaginar o que passa pela cabeça dessas pessoas, quando fazem essa tentativa de... Nesse sentido, um deles, inclusive, comenta com terceiros: "Puxa, eu tenho ido lá para conversar com ele [Fernando Collor], bater um papo. Olha, se ele voltar vou ser ministro". É nesse nível. É um megalomaníaco, compreende, é uma tentativa de se [é interrompido]...
Luis Weiss: [interrompendo] Perdão, o senhor conhece pessoalmente o presidente em exercício, Itamar Franco? O senhor tem amigos no governo Itamar Franco?
Pedro Collor: Não, deixa eu ver, não, não. O...
Carlo Augusto Setti: [interrompendo] Vou fazer uma pergunta pessoal para o senhor. O senhor é um empresário do ramo das comunicações, aconteceu isso tudo que o senhor relatou aqui, em diversas ocasiões, como é, pessoalmente, de repente o senhor se transformar, aqui, por exemplo, no centro da roda, num programa de televisão, o senhor ter ido ao Jô Soares [apresentador de um programa de entrevistas na Rede Globo], o senhor ter dado várias entrevistas? O senhor desembarca no aeroporto, aquele turbilhão de repórteres, como é que é isso para o senhor? O senhor está no centro dos acontecimentos, o senhor ser notícia, o senhor ser uma pessoa importante hoje que não pode se deslocar na rua tem que... Como é que é isso para o senhor, pessoalmente?
Pedro Collor: Eu não sinto assim não, Setti, eu discordo de você, eu não me sinto assim, dessa maneira que você está dizendo, não. Eu não me sinto importante, eu não fiz isso para me tornar importante, eu não sou importante, essa importância que vocês se referem.
Jorge Escosteguy: O senhor é muito parecido com o seu irmão. O senhor não sente medo de ser confundido com ele, de repente? [risos]
Carlos Augusto Setti: Não, minha pergunta é assim. O senhor virou centro da notícia, inevitavelmente, se o senhor queira ou não, o senhor é o centro da notícia. Como é que é isso, ser abordado por jornalista"?
Pedro Collor: É constrangedor, posso dizer a você, é constrangedor, isso não começou agora, começou na época da CPI, aquela coisa toda, e ali foi difícil de assimilar tudo isso. O senhor entende, exatamente, o que estou representando nesse momento? E isso só me faz peso, não me faz, né, um outro tipo de...
Carlos Augusto Setti: [interrompendo] O que o senhor está representando, então, nesse momento?
Pedro Collor: Representando aquela pessoa que quer que prevaleça a verdade, “pt saudações” [gesticulando], é isso, ponto.
Carlos Augusto Setti: Pois eu queria embarcar na questão do Setti, em relação à imprensa. O senhor tem alguma descrição, absolutamente, que a imprensa deu a sua mulher [Thereza Collor de Mello]? Fotografada em ângulos provocantes, chamada de musa do impeachment, enfim?
Pedro Collor: [pausa] É uma coisa meio chata, né? Uma coisa meio constrangedora, em alguns setores, mas isso faz parte. Hoje eu compreendo isso mais do que nunca, isso faz parte e naturalmente as pessoas utilizaram isso. A decorrência disso que me magoa mais é que o Paulo e o pessoal ligado aos Farias e ao pessoal todo... que falam muitas galhofas, muitas piadas e tal. É que usaram isso para tentar me atingir, para tentar me ridicularizar, para reduzir a substância daquilo que eu dizia, para empobrecer a importância daquilo que era dito, daquilo que era colocado, a iniciativa da intenção. Isso foi um negócio meio doloroso, chegaram aos meus ouvidos, essas coisas chegaram aos meus ouvidos de forma muito contundente. Isso me magoou bastante, mas isso faz parte, isso já está superado, isso é coisa do passado.
Pedro Cafardo: Posso falar uma coisa sobre isso, sobre esse aspecto?
Caio Túlio da Costa: Vocês estão vendo as coisas por um ângulo só, porque eu cheguei a ler o que o senhor disse em Miami que, depois de doze anos de casamento, que tinha descoberto que se casou com uma mulher maravilhosa. Eu acho que o Brasil descobriu isso de imediato.
Pedro Collor: Graças a Deus! Bom, graças a Deus, eu descobri, mas, enfim, que bom que o Brasil descobriu. Foi bom. Depois, não há nenhum mal que não traga um bem, é essa a realidade.
Pedro Cafardo: Esse é um assunto delicado. Sinto que o senhor não está muito vontade para falar, e é natural que não esteja, sobre a questão da sua esposa, sua mulher. Por que foi dito que uma das... voltando ao capítulo das razões pelas quais o senhor teria denunciado o seu irmão, certo, uma das razões teria sido aquela famosa onde seu irmão teria tentado namorar a sua mulher, vamos dizer a palavra certa, teria cantado a sua mulher, certo? O que foi que aconteceu nesse ponto?
Pedro Collor: [pausa] Não é por aí, ao longo do tempo você vai entender o que aconteceu. É meio chato falar tudo isso, meio duro, bom, mas enfim. Um belo dia que eu estava num problema conjugal, todos nós passamos problemas conjugais, passamos momentos difíceis na relação conjugal, faz parte, é humano pelo menos. Enfim, eu estava nessa situação e um belo dia eu estou no exterior, e o Fernando... Eu tenho a informação que ele chama a Thereza para conversar, porque sabia desse problema ou coisa parecida. Ele estava no palácio conversando com a minha mãe, ou coisa desse gênero assim, e a Thereza toda preocupada, chateada, e ele chamou para conversar, e conversaram, essa coisa toda. E eu estava no exterior e fiquei sabendo disso, enfim. Quando cheguei ao Brasil, imediatamente, após a minha chegada ao Brasil, estava numa feira no exterior, uma feira de equipamento, ela manifestou a intenção de viajar para o exterior, viajou para o exterior, passou quinze dias, talvez, coisa assim, no exterior. E, nesse meio tempo, eu fiquei sabendo que o Fernando ligava diariamente a Paris para ela, porque coloquei uma pessoa para ir à companhia telefônica conseguir essas contas, e eu tenho lá, todos esses telefonemas. E um belo dia ele me chama para ir ao palácio para conversar com ele, e eu vou. Ele disse: "Olha, você se prepara que a Thereza vai chegar de viagem e vai se separar de você imediatamente", ou coisa do gênero. Depois, ela me contou, assim, que ele apenas ficava sendo aquela pessoa para apoiar: "Olha, tudo bem, você não deve se separar, não, mas, se separar, se você acha que é o caminho certo, tome esse caminho"... essa coisa toda. Depois eu fiquei sabendo, e aí é que vem a coisa mais profunda, é que a tentativa era me desestabilizar conjugalmente. Porque, ele já tendo passado por um processo parecido, quando se desquitou da primeira esposa, sabia que esse processo realmente deixa qualquer homem, de certa forma, frágil, no ponto de vista profissional ou coisa parecida. Suscetível ou coisa do gênero. Ele tomou vantagem no momento para tentar ver se havia separação, porque, aí, talvez sim conseguisse evitar a minha continuidade nas empresas da Organização Arnon de Mello, comando esse que ele já havia tentado diversas vezes me tirar.
Caio Túlio da Costa: Isso foi quando?
Pedro Collor: Isso foi na época do governo do estado, porque eu tentava fazer um jornalismo isento, e isso tudo incomodava os partidários dele, as pessoas ligadas a ele. É simplesmente isso.
Carlos Augusto Setti: Falando em família, a gente tem uma... um romance a partir da história de sua família, de tudo que vem acontecendo.
Pedro Collor: Infelizmente, né?
Carlos Augusto Setti: É um caso que a vida supera a arte. Como é que isso, em relação ao seu núcleo familiar específico, como é que essa desestruturação que a gente vê na sua família atinge, por exemplo, seus filhos, como é que o senhor trata disso?
Pedro Collor: Eu procuro tratar isso de forma a não dar muita atenção, nem demonstrar a eles que isso me preocupa, ou coisa parecida, Eu procuro tratar isso de forma superficial: "Nada, bobagem, deixa para lá, coisa e tal!" Mas a minha mulher, sim, se encarrega de dar um pouco mais de informações a esse respeito, para que eles possam fazer melhor juízo. Eles têm, o mais velho de nove anos, já tem consciência dos fatos. O mais novinho não acha engraçado, não entende direito e tal. De uma forma ou de outra, isso deve estar afetando ao mais velho, mas eu tenho a impressão que não há um mal que não traga um bem, acho que ele vai, no futuro, entender o que passou e eu acho que vai ser uma experiência rica para ele.
Carlos Augusto Setti: Tem muitas informações, por exemplo, ele comentou? Ele viu a entrevista na Veja, ele viu o senhor na televisão, comentou com o senhor? Como é que...
Pedro Collor: [interrompendo] No colégio, quando ele estava no Brasil, ficava, havia conversa assim entre eles: "Ah, o teu pai, não sei o quê"... Então ele ia mudando um pouco o ritmo da conversa e os assuntos. Porque todo dia, na imprensa, saía alguma coisa, ou outro coleguinha ouvia o pai comentar também, eles comentavam entre si, mas graças a Deus ele nunca chegou em casa trazendo algum comentário desagradável, quer dizer, que o fizesse sentir mal. Se isso aconteceu, ele nunca disse, mas, como ele é muito falante, muito aberto, fala muito fluentemente, ele nunca tocou nesse assunto... Ele sempre perguntava quando é que o PC vai preso ou coisa parecida e tal.
Jorge Escosteguy: Em relação ao seu outro irmão, Leopoldo, ele também foi mencionando na imprensa algumas vezes em alguns envolvimentos com algumas acusações em relação ao governo. O senhor nunca tocou nesse assunto?
Pedro Collor: Acusações dele ao governo?
Jorge Escosteguy: Não. Acusações dele envolvido em irregularidade. As suas acusações, até onde eu me lembre, nas suas denúncias, enfim, nunca citou o seu irmão, o seu irmão Leopoldo. Você acha que ele pode estar envolvido em irregularidade com tráfico de influências, por ser irmão do presidente etc?
Pedro Collor: É um negócio, [gesticulando e girando a cadeira] né? Você veja, eu prefiro ir até um certo ponto, na medida que ele indica pessoas para ocuparem cargos aqui ou acolá naturalmente que deve... tem participação no partido político, é presidente de um partido, naturalmente tem um envolvimento político. Quer queira, quer não, ele deve ter uma relação política qualquer, de uma forma ou de outra, direta ou indireta, claro, direta, porque é presidente de um partido, e indireta em outros aspectos é claro que tem. Agora, desde que tudo isso começou, eu procurei evitar qualquer contato qualquer conversa que o envolvesse em tudo isso, porque eu já estava metido e envolvido numa coisa tão forte para um ser humano enfrentar só quando eu comecei, que eu preferi não ir adiante em mais nada. Eu sentei naquilo ali e fui em frente.
Jorge Escosteguy: Qual é o seu relacionamento com ele hoje?
Pedro Collor: Não tenho relacionamento, não tenho relacionamento com ele.
Jorge Escosteguy: O senhor não fala com ele?
Pedro Collor: Não é que [gesticulando] eu não fale com ele, nós não temos assunto para tratar, eu não tenho nada a tratar com o Leopoldo, eu não tenho motivação nenhuma, nenhuma coisa em comum com o Leopoldo, a não ser o fato de sermos filhos da mesma mãe.
Jorge Escosteguy: Mas o senhor passou a não ter ou nunca teve?
Pedro Collor: Não, eu tinha, eu tinha até um bom relacionamento, normal, de irmão.
Jorge Escosteguy: E por que passou a não ter?
Pedro Collor: Porque ele assumiu uma postura muito contra a minha postura, muito antagônica, e a escala de valores dele é uma e a minha é outra, então você começa a perceber essas divergências, você começa a perceber que não tem mais motivação para conversar sobre qualquer assunto. Então, você procura evitar, isso já existia já um certo tempo antes, né? Eu não tenho com ele muita identidade, são 12 anos de diferença, quer dizer, eu nunca tive nenhuma aproximação maior, um tem 12, outro tem 24, enfim. Não tem por que ter.
Jorge Escosteguy: Nesse processo das acusações, das denúncias, em que momento ele tentou interferir com o senhor?
Pedro Collor: Em vários momentos tentaram interferir, falar, dizer, eu digo: "Mas, Leopoldo, eu não posso".
Jorge Escosteguy: Que tipos de coisas? Eram reações violentas, ação de irmão mais velho, de aconselhar?
Pedro Collor: Não, porque ele sentia que não era mais a questão do irmão mais velho, era pura e simplesmente a pessoa que queria ajudar ou queria evitar que houvesse uma explosão em outras palavras, enfim, e que isso pudesse ser ruim para ele em primeiro lugar. Ele via várias vezes diversas pessoas e dizia: "Olha, eu estou pouco ligando que aconteça com o resto da família, não pode atingir a mim, não pode atingir a mim". Numa demonstração de uma falta de consciência do que significa uma célula familiar, antes de isso acontecer, impressionante, agora mais do que nunca. Ou seja, nós temos princípios totalmente diferentes. Então eu procuro evitar.
Luiz Weis: E o seu cunhado, o embaixador Marcos Coimbra? É um bandido, é um homem de bem?
Pedro Collor:O Marcos, ele é um sujeito extremamente inteligente no ponto de vista cultural, ele tem uma cultura abrangente, é um sujeito muito sério, muito, como é que eu diria? Muito estudioso, mas é um sujeito que, por natureza e por temperamento, ele acostumou-se ao longo do tempo a, enfim, sempre obedecer ordens, sempre obedecer ordens, enfim, foi o que ele fez. Mesmo que intimamente, acredito eu, estivesse contrário a essas ordens. Ele cumpria essas ordens.
Jorge Escosteguy: Aquela mesma atitude do soldado ou do oficial que praticou o extermínio?
Pedro Collor: É por aí. É por aí. Estou evitando malícia sua, mas ele é cumpridor mesmo, ele cumpre ordens.
Luiz Weis: Mas ele não teve iniciativa de sugerir que a senhora sua mãe enviasse aquele comunicado alegando seu desequilíbrio emocional, não partiu dele isso?
Pedro Collor: Eu acredito que dele, não, partiu do Fernando, do próprio Fernando, e ele naturalmente aplaudiu na hora.
Humberto Werneck: [interrompendo] Depois de tudo que houve cabe lhe perguntar. Na sua família quem tem aquilo mais roxo?
Pedro Collor: Na minha família...
Humberto Werneck: Quem tem aquilo mais roxo?
Pedro Collor: Sei lá! [risos]
Pedro Cafardo: Pedro, se seu pai [Arnon Afonso de Farias Melo, ex-senador e ex-governador de Alagoas. Morreu em 1983] estivesse vivo, você acha que ele ficaria de que lado? Seria um Leopoldo, mais ou menos, faria o que o Leopoldo está fazendo?
Pedro Collor: Absolutamente. Se meu pai fosse vivo nada disso teria acontecido, tenho certeza. Pelo temperamento dele, pelo jeito dele, pela capacidade de reação dele, jamais teria acontecido, eu acho que não. A doença o pegou muito cedo, enfim, é a vida, paciência... Mas acho que não. Se ele fosse vivo, numa determinada etapa da vida, com vigor físico e mental como ele tinha no passado, isso não teria nunca acontecido, é muito difícil fazer exercício de hipóteses, se seria um sim, se seria não.
Pedro Cafardo: O Fernando o respeitava muito, e tal, como é que era?
Pedro Collor: Não respeitava muito, não, mas tinha muito medo dele, tinha muito medo dele. Respeitava muito, não, mas tinha muito medo dele [gira a cadeira].
Caio Túlio Costa: Até que ponto o senhor se sente responsável pelo que aconteceu com a sua mãe?
Pedro Collor: [longa pausa e suspira] Eu não me sinto responsável pelo que aconteceu, eu sinto que aquilo que aconteceu, aquilo de que a gente... fui eu... em algum momento convergiu com uma série de fatores que pudessem ter causado isso. Os médicos dizem que não. Eu pressuponho que sim, porque tudo isso deve ter submetido-a a um profundo estresse, estresse emocional, e naturalmente pode ter acontecido dessa maneira, dessa forma. Mas eu acredito que isso tenha sido uma coisa relativa ao destino, tinha que acontecer e aconteceu [cruza as mãos]. E, meu Deus do céu! Se aconteceu, que força tenho eu para mudar o destino. Então digamos, fazendo um outro exercício, se eu não tivesse nada disso, se eu não tivesse agido como agi, ou se não tivesse eu chegado aonde cheguei, mas até um certo ponto e me retirasse do processo e o processo se encaminhasse, porque, a partir do Eriberto, eu estando presente - vocês vão concordar ou não - a coisa se encaminharia no mesmo sentido, no mesmo caminho. Ela iria se sentir assim? Eu me sentiria menos culpado ou mais culpado agora por causa disso? Então eu coloco dessa maneira para mim próprio [aponta para si mesmo], para o meu próprio raciocínio, para minha própria consideração. E acho que não. Acho que isso, infelizmente... sinto muito, tenho muita tristeza com tudo isso. Vi meu pai morrer aqui na minha mão em casa, em Alagoas, tive uma sensação tremendamente forte quando ela, na primeira vez que vim aqui, ela, mês passado, teve o problema das paradas cardíacas e, enfim, ficou nessa situação... tive uma sensação tremendamente forte, me emocionei um pouco, um pouco não, bastante nessa hora. Me deu uma sensação de perda, uma sensação de perda parecida que eu havia experimentado naquela ocasião. Mas enfim, depois você tem que se render às evidências. Triste o que aconteceu com ela, triste o que aconteceu com o Fernando, triste com o que aconteceu com o Brasil. Merecia o Brasil tudo isso? Triste com o que aconteceu com a minha família, triste com o que aconteceu comigo, triste com o que aconteceu com a minha mulher, com meus filhos, com os amigos que eu tinha, que perdi. Alegre com amigos que ganhei, alegre com essa satisfação e com essa certeza que agi corretamente, bem comigo próprio, satisfeito comigo próprio e com menos um peso tremendo que eu sentia diante dessa situação.
Caio Túlio Costa: [todos falam ao mesmo tempo] O senhor tem alguma pretensão política?
Pedro Collor: Nenhuma. Nenhuma, nenhuma pretensão política, nenhuma, nenhuma pretensão política! Já me perguntaram inúmeras vezes. Não tenho, não é do meu temperamento, Caio. Se essa vocação tivesse que ter se manifestado já teria acontecido antes, não é verdade [girando a cadeira]?
Jorge Escosteguy: Como é que foi o último encontro, a última visita que o senhor fez a sua mãe?
Pedro Collor: Foi ontem.
Jorge Escosteguy: Como foi, o senhor conversou com ela?
Pedro Collor: Já tinha ido, desde o dia que cheguei estou visitando. Só hoje, que eu não fui, infelizmente, não deu para ir, mas, enfim, ela estava... tinha tido uma pequena febre, mas está naquela situação de semi... naquele estado de semicoma, mas não aquele coma profundo. Um coma, mas um pouco menos profundo, que ela reage a estímulos e pisca o olho, os batimentos cardíacos sobem quando ela é estimulada, essas coisas. E o médico diz que é uma recuperação lenta. A rigor, ela está há 40 dias nesse estado, e, segundo ele, do ponto de vista neurológico, 40 dias é muito pouco tempo para fazer uma projeção.
Jorge Escosteguy: O senhor falou com ela, disse alguma coisa?
Pedro Collor: Falei, perto. O médico pede para que você fale, estimule, então você vê o ritmo dos batimentos cardíacos aumentar e você bate palma ou fala alguma coisa: "mãe, abre o olho, bate o olho". Ela abre o olho está ficando com os olhos mais abertos agora, enfim. É uma melhora, mas o estado dela é muito delicado segundo os médicos.
Luiz Weis: Como é que andam os processos que o seu irmão está movendo?
Pedro Collor: Não sei, meu advogado impetrou um instrumento jurídico qualquer que declarava a inépcia das denúncias ou coisa parecida. E de lá para cá não tive mais notícias [sendo interrompido], não sei.
Mac Margolies: Eu queria voltar, se puder insistir um pouquinho, na questão dos seus motivos para fazer a denúncia. A corrupção não começou no governo Collor, muito menos no Brasil, mas comenta-se de que tenha havido uma certa tolerância à corrupção ao longo de vários anos, enquanto construía estradas ou edifícios, quem tirava o seu pedaço, tudo bem, mas que fazia. O que foi que indignou tanto o senhor sobre este caso, que motivou o senhor para falar?
Jorge Escosteguy: Qual foi a maracutaia que lhe chamou mais a atenção?
Pedro Collor: Veja, a corrupção sempre existiu, vai sempre existir em níveis menores ou níveis maiores, quer dizer, é uma inocência, uma infantilidade acreditar que isso algum dia vai acabar no mundo. Está o exemplo aí: diversos, todos os países de primeiro mundo com casos de corrupção.
Mac Margolies: Foi diferente dessa vez?
Pedro Collor: Não. O problema do Paulo, não, é uma questão de diferente, é que o Paulo não era uma questão pura e simples de corrupção. Era uma questão de extorsão [fecha a mão direita] da mais profunda característica, ele usava o nome do Fernando para extorquir, essa que era a diferença.
Antonio Carlos Ferreira: O senhor disse no final da primeira parte do programa que ele ainda continua atuando ainda hoje.
Pedro Collor: Essa é a impressão. As informações que me chegam dão a entender de que ele continua por terceiros. Não, claro, naqueles moldes, mas está solto. Você digamos, imagina o que o Paulo César está fazendo hoje? Sentado o dia inteiro numa cadeira, ele não está... eu conheço o Paulo César antes, durante e depois desse processo, ele naturalmente não fica parado, fica se movimentando fazendo alguma coisa. O quê? Eu não sei, mas que está, está.
Carlos Augusto Setti: [todos falam ao mesmo tempo] Mais ou menos o quê? O que é?
Pedro Collor: Conversas com empresários, com pessoas, oportunidades que surgem e a pessoa então fala, alguma coisa que para ver se eu tenho alguma informação a respeito daquele assunto, às vezes tenho, às vezes não tenho. troca de conversas, troca de informações.
Carlos Augusto Setti: E essas informações dão conta de quê? Ele continua extorquindo, continua roubando?
Pedro Collor: Ele continua.
Carlos Augusto Setti: O que ele está fazendo?
Pedro Collor: Agora ele está trabalhando o produto do roubo, ou seja, agora não tem mais condição de roubar como roubava antigamente por hipótese, ou extorquir ou coisa parecida.
Jorge Escosteguy: O senhor acha que ele está investindo o bilhão?
Pedro Collor: Investindo, ele está tentando ver de que forma, enfim, investe essa dinheirama, digamos assim, porque não é fácil.
Jorge Escosteguy: Administrar um bilhão?
Pedro Collor: Investir assim.
Célia Chaim: [todos falam ao mesmo tempo] Nesse um bilhão o senhor acha que tem dinheiro do narcotráfico? E eu queria saber outra coisa, quem paga a conta do hospital da senhora sua mãe?
Pedro Collor: Somos nós, a empresa, e com dificuldades [girando a cadeira]. Agora a outra pergunta? Perdão!
Célia Chaim: Nesse 1 bilhão que foi festejado no final do ano passado, eu gostaria de saber se o senhor tem informações se o narcotráfico entra nesse bolo de dinheiro?
Pedro Collor: Quando eu disse: "nós", perdão, em relação à questão do hospital, é a empresa nossa em Alagoas, está certo? A respeito dessa possibilidade, era isso que você disse?
Célia Chaim; É, eu gostaria de... É que têm denúncias também nesse sentido, que o Paulo César Farias estaria envolvido com o narcotráfico, isso os jornais também falaram. Nesse livro o senhor também toca nesse assunto? No livro que o senhor está escrevendo o senhor toca nesse assunto, considera essa possibilidade ou não?
Pedro Collor: Não sei a que ponto vai entrar isso.
Célia Chaim: Porque é muito dinheiro né, para ser só obra, não é não?
Pedro Collor: É estranho o negócio, é muito estranho, se é que é verdade 1 bilhão de dólares, eu não posso afirmar categoricamente. Agora que ele tem... que certos fatos foram muito estranhos, o Bandeira quando deu o depoimento na CPI, alguém perguntou lá alguma coisa a respeito da rota que os aviões faziam, e ele disse: "Não, a rota norte não é". E passou desapercebido porque ninguém sabia o que era rota norte. Rota norte é um jargão que se diz em aviação, a rota de drogas. Pelo norte do país, pelo Amazonas, ali, aquela região. Depois esse Ironilde, depois essa coisa em Miami, essa quantidade de empresas, enfim, aquela vez na CPI que negou, da Bolívia ou a Colômbia, não me recordo bem, queria comprar a Colombiana, não me recordo bem, ou a Boliviana de Aviación. É tudo muito estranho.
Célia Chaim: Para quem era um pobretão 12 anos atrás, ridicularizado, quer dizer, é muito dinheiro para se acumular em 2 anos num país constantemente em crise.
Pedro Collor: É a minha sensação.
Jorge Escosteguy: O senhor não tem nehuma informação? É só uma sensação?
Pedro Collor: Concordo, eu acho que é muito dinheiro para estar somente por aí. Aquela região... com aquele sujeito aqui em São Paulo e aquele rapaz, o Fábio Monteiro [Fábio Monteiro de Barros, jornalista], que tem ligações com o Cláudio [Cláudio Vieira] e, por sinal, é amigo do PC. Quer dizer, é muita coisa, depois daqueles tambores de éter que foram para uma cidade até um limite da Bolívia, ou coisa parecida no Mato Grosso, sei lá o que, enfim, muitos. Quando voltava com o queijo com cocaína, em tese... sei lá... Foi o que saiu nos jornais. Que mais, meu Deus? Esses aviões com certificados falsos, com bojo que pode trazer alguma coisa! Quer dizer, é uma série de fatores que a pessoa, com o mínimo de sensibilidade, o mínimo de faro jornalístico, o mínimo de malícia, imagina que seja verdade. Principalmente em se tratando do Paulo César, em se tratando daquilo que já se descobriu a respeito do Paulo César Farias.
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Ele começou vendendo tratores e já acabou atropelado por um deles.
Pedro Collor: O Antonio aqui tem tantos aviões e mexe com tráfico de cocaína: "Quem é esse cara? Não sei quem é esse sujeito". Mas, sendo o Paulo, eu acho muito possível, perdão.
Jorge Escosteguy: [interrompendo] Ele começou vendendo tratores e acabou atropelado por um trator, que foi o senhor, mas, enfim... Eu gostaria de fazer uma pergunta a respeito das cascatas da Casa da Dinda. Como é que... O senhor conhece a sua família, conhece os seus irmãos? Como é que na sua cabeça o senhor vê essa coisa das cascatas assim na casa [risos]? Algum precedente de cascatas em Alagoas, vamos dizer assim, para justificar?
Pedro Collor: Eu não sei, eu, sinceramente, eu não... Eu estive na Dinda em 1989, depois da eleição, quer dizer, dois dias depois da eleição. Depois, nunca mais estive lá. Aquilo para mim... Eu estava no exterior quando soube desse fato da Veja, enfim, da imprensa, de um modo geral, e depois o que aconteceu. Para mim isso é um negócio que não tem como, não dá para explicar, é uma coisa que vale 2 milhões e tantos de dólares, depois diz que não, que são novecentos e poucos mil dólares. Um jardim daquele jeito, com aquela característica. Eu achei aquilo uma coisa que não entrava na minha cabeça.
Jorge Escosteguy: Quer dizer, não é uma característica,ou não era uma característica do seu irmão, esse tipo de...?
Luiz Weis: Ele era deslumbrado por gravatas de marca, uísque de marca, relógio de marca, mulher de marca, cascata de marca?
Pedro Collor: [franze a testa e junta as mãos] Não. Acho que de marca, não. Ele sempre foi uma pessoa que primava pelos hábitos... em coisas boas ou coisas do gênero, mas nunca imaginei que essa questão da cascata ou daqueles lagos para botar peixe, aquela coisa com água quente. Me soou uma coisa inteiramente absurda, uma megalomania, uma megalomania total.
Carlos Augusto Setti: Senhor Pedro, eu pegando uma carona nessas perguntas. O seu irmão está sendo... As questões principais que estão envolvendo ele no crime de responsabilidade e no crime comum são, por exemplo,operação Uruguai, a questão, portanto, do financiamento das suas despesas, a questão do Fiat Elba que foi pago por um fantasma, a questão das cascatas. Sobre essas questões centrais que estão no foco principal dos dois processos. O senhor tem alguma informação, o senhor sabia de alguma coisa, por exemplo, a operação Uruguai, o senhor tinha alguma informação desses casos desses fatos?
Pedro Collor: Nunca tive o menor conhecimento nem de Fiat Elba, nem de operação Uruguai, nunca, nunca, nunca, um negócio tão...
Carlos Augusto Setti: O que o senhor acha da operação Uruguai?
Pedro Collor: Eu acho uma loucura, eu acho aquilo uma tentativa de fazer os outros crerem que são totalmente imbecis. É uma coisa que ninguém pode acreditar com pouco de conhecimento de gerenciamento de negócios, operações bancárias ou o que seja, não dá para entender. Depois a outra pergunta que fica: "Muito bem, tirou 3 milhões e meio de dólares, muito bem! Como é que vai pagar o empréstimo?" Você, se pudesse tirar 3 milhões e meio de dólares em algum banco, tivesse alguém que lhe desse crédito, como é que você ia pagar isso? Se o dinheiro não for para investimento, se for para custeio de despesas pessoais... Não dá para entender [abre os braços].
Pedro Cafardo: Ele diz que tem aval de amigos empresários. Vai dar calote nos amigos.
Pedro Collor: Sim, faltou dizer. Os amigos que iriam pagar? O aval é uma coisa.
Pedro Cafardo: Se ele não pagar...
Pedro Collor: Mas fica bem? Não sei se fica bem. Eu acho meio estranho.
Jorge Escosteguy: O senhor conhece bem a família Malta [família de Rosane Collor, ex-esposa de Fernando Collor]?
Pedro Collor: Muito superficialmente, muito superficialmente, alguns membros. Porque é uma família muito grande, né? Numerosa.
Jorge Escosteguy: Eu digo o pedaço mais ligado ao seu irmão.
Pedro Collor: Não, eu conheço apenas o pai e a mãe da Rosane e o irmão que é deputado federal.
Jorge Escosteguy: Que opinião que o senhor tem sobre eles e sobre as acusações que foram feitas à família?
Pedro Collor: Bom, eu... A opinião que eu faço é uma opinião oriunda do que saiu publicado na imprensa. A julgar se é verdade tudo aquilo, que foi mandado verba para uma fundação inexistente e coisas do gênero, eu acho aquilo uma coisa perfeitamente compatível com o estilo daquelas pessoas, [pausa] e acho lamentável.
Luiz Weis. Senhor Pedro Collor, dizem que a diferença de seu irmão e os políticos envolvidos com corrupção é que os outros políticos, sendo pessoas que não se julgam impunes, procuram apagar a marca das suas digitais na boca do cofre. E o seu irmão nunca cuidou disso, porque se achava que... quem pode tudo... Impunidade, e essa impunidade não poderia, digamos... de uma aberração de personalidade, mais de uma origem social, de ser filho direto de uma oligarquia de um estado como a Alagoas. Como é que o senhor avalia essa interpretação?
Pedro Collor: Eu não diria que tem uma relação entre uma coisa e outra, não. Eu o conheço bem, conhecia bem naquela ocasião, não creio que em nenhum momento essa questão da oligarquia [mexe amão de um lado para o outro] de uma família ou coisa parecida tenha sido um fator preponderante nesse comportamento dele. Eu acho que ele é produto da sua própria personalidade, ele cultivou, lapidou...
Luiz Weiz: [interrompendo] De onipotência...
Pedro Collor: Tudo que diz respeito a ele como político, que pode, que não pode, essa onipotência ou esse poder absoluto ou coisa parecida que você mencionou em outras palavras... Não vejo nisso qualquer relação com o fato da questão da oligarquia que você se referiu. Acho que ele é produto da sua própria e exclusiva sensação íntima, dele próprio, do que pode ou do que não pode fazer. Não vejo nenhuma relação disso... do que ele fez ou deixou de fazer em relação ao restante. Até porque ele começou politicamente, não pelas mãos de meu pai, ele começou politicamente pelas mãos do Suruagy [Divaldo Suruagy, ex-prefeito de Maceió e e deputado federal], que o indicou, sugeriu o nome dele para prefeito, do Guilherme Palmeira [senador], quando então era governador, em 1979, 1980.
Carlos Augusto Setti: O que o senhor acha do governo Itamar? O que o senhor está achando? O senhor é um jornalista, uma pessoa bem informada, é uma pessoa que está no meio político. O que o senhor acha do governo Itamar?
Pedro Collor: Eu não conheço os membros do governo Itamar, quer dizer não conheço vários ministros. Conheço o ministro da Fazenda, do Nordeste, ele foi prefeito secretário da Fazenda do governo passado, e os demais não conheço.
Carlos Augusto Setti: Não as pessoas, as atitudes do governo, as primeiras iniciativas.
Pedro Collor: Eu estou sentindo uma sensação no empresariado muito forte contra o novo governo, isso se ouve aqui e acolá, vocês próprios, jornalistas, nas conversas e tudo mais, sentimos e ouvimos isso. Agora eu, particularmente, eu acho o seguinte: que se deve dar um crédito de tempo e, como se diz, de confiança ao novo governo, qualquer que seja esse crédito. Porque há de se considerar que assumiram o novo governo, assumiu sobre uma condição, sobre uma característica, dentro de uma quadra inteiramente atípica por todos os motivos. E o que se pretende... Nós, como brasileiros, que somos muito imediatistas, queremos sempre resultados na hora. Então, quer dizer, se desenhou o governo, demorou a se desenhar o governo, ele ia tomar posse na segunda, o pessoal exigiu que fosse na sexta, eu estava lá fora acompanhando. E querem resultados na terça, isso é impossível, não tem um mês o governo... então agora, talvez um mês de governo... pelo menos uns 90 dias para sentir se alguma coisa, enfim, plano de governo, o que seja. Tem que dar um crédito de tempo e de confiança, eu acho que é o mínimo que se pode fazer.
Jorge Escosteguy: Voltando um pouquinho ao PC Farias. Há a denúncia, a informação de que ele retirou o seu rico dinheirinho antes do confisco. O senhor conhece mais algum caso de gente que tenha sido informada antes de recolhido o seu dinheiro?
Pedro Collor: Não. Não, sinceramente, nem sabia que ele tinha retirado o dinheiro nessa ocasião, não podia imaginar. Eu fiquei tão envolvido com aquele problema que eu tinha que enfrentar, a nível de empresa, que eu para entender aquilo, deglutir aquilo, aquela coisa toda, digerir.
Jorge Escosteguy: Quando ocorreu o confisco [confisco monetário. Fazia parte do programa de governo Brasil Novo. Todos os depósitos em contas correntes e cadernetas de poupança que ultrapassassem os R$ 50 mil cruzados novos foram bloqueados por 18 meses. O objetivo era acabar com a inflação], o senhor estava lá em Maceió. Confiscaram o seu dinheiro também, não correu informações sobre...
Pedro Collor: [interrompendo] Nada. Daí o que se passou com todo mundo. Agora eu não sabia que o dele, ou de quem mais que fosse, tivesse sido. Mas ficou provado pelos cheques aí que ele havia retirado.
Jorge Escosteguy: O senhor teve muito dinheiro congelado, muito dinheiro confiscado?
Pedro Collor: Não eu tinha basicamente da empresa, o meu era pouca coisa, enfim, mas o da empresa foi duro o negócio, porque eu tinha que pagar a folha [de pagamento dos funcionários].
Jorge Escosteguy: O senhor não teve nenhuma reação do tipo: "o nosso também. [risos] Até o nosso".
Pedro Collor: Não troquei com ele duas palavras sobre o assunto, nunca, nunca. Aconteceu, tudo bem, aconteceu, o problema é meu para resolver.
Pedro Cafardo: Acho que o senhor é um homem de bastante coragem pessoal, porque as denúncias que o senhor tem feito são coisas graves. Muita gente deixou de ganhar milhões de dólares em função das suas denúncias, a gente sabe como essa coisas são tratadas, principalmente nas Alagoas. Em geral à bala, certo? Eu pergunto o seguinte: o senhor anda armado, ou o senhor tem segurança, anda com segurança pessoal? Que tipo de medida, de providências, o senhor toma para sua segurança pessoal?
Pedro Collor: Em todo esse processo, agora quando eu, nessas vindas e tal, o meu advogado, José da Costa Júnior, ele pedia ao governador Fleury [Luís Antônio Fleury Filho, ex-governador de São Paulo], enfim, se possível colocar algumas pessoas e tal, para poder evitar qualquer coisa, enfim essa questão que você falou aí de interesses contrariados e tal. Até um certo momento, depois que isso terminou. Eu cheguei agora no Brasil e segurança não tinha nada, alguns amigos sugerem, aqui, acolá, mas eu não sinto isso, isso não me cai bem, eu não sei. Acho que no dia que eu sentir que estou precisando eu vou procurar, não sinto isso como um momento que possa acontecer.
Jorge Escosteguy: Por enquanto, as principais vítimas das suas denúncias são o seu irmão e o empresário PC Farias que estão, de certa forma, de resguardo, vamos dizer assim, porque têm que se defender de acusações, o presidente está cuidando da questão do impeachment, o PC Farias dos inquéritos etc. Agora, o senhor não acredita que, quando estiver tudo definitivamente perdido, por exemplo, para o seu irmão, ele não tentará, pelo temperamento, pelo que o senhor conhece dele, um ajuste de contas com o senhor?
Pedro Collor: Não, não me passa isso pela cabeça, realmente não me passa pela cabeça. Me passa o Paulo César. Isso, me passa.
Jorge Escosteguy: A família Malta talvez?
Pedro Collor: Não. A família Malta, acho que não.
Jorge Escosteguy: O senhor acha que o seu irmão, uma vez definido [o processo de impeachment], vai fazer a mala e tal, vai voltar para Maceió?
Pedro Collor: É o famoso exercício de futurologia [gesticulando], é muito difícil de imaginar o que vai acontecer ou o que possa acontecer.
Carlos Augusto Setti: O senhor espera uma reação do PC, então? O senhor falou no finalzinho da resposta.
Pedro Collor: Não o PC, quer dizer, o PC, um sujeito sem princípios e com muito dinheiro contrata... como se chama isso... matador de aluguel. Isso ele pode fazer. É simples, sabe, como acontece isso...
Jorge Escosteguy: A diferença básica entre o PC e o seu irmão, além do fato do Fernando Collor ser seu irmão, ou seja... eu quero que o senhor faça a diferença entre essa reação diferente da outra reação. O senhor acha que, só por ele ser seu irmão, o senhor não teme? Ou o senhor não teme por que tem uma diferença de temperamento?
Pedro Collor: Quer queira, quer não, é meu irmão, quer queira, quer não, é sangue, tem o mesmo sangue [girando a cadeira]. Quer queira, quer não, é uma questão de princípios. Quer queira, quer não, um dia há de prevalecer uma coisa que diga respeito às origens.
Luiz Weis: Ele não é um caso perdido, o seu irmão?
Pedro Collor: Não é que seja caso perdido ou não perdido, eu estou falando apenas da.... estou fazendo uma consideração a respeito da origem dele, porque eu acredito que, na origem, tenha alguma coisa boa. Porque eu sei como nós fomos educados, sei como nós nos relacionávamos e sei qual foi a base educacional de princípios aos quais nós nos pautamos por muito tempo e continuamos nos pautando, enfim, cada um durante a vida, então, se a origem é boa... Eu acredito que, se a semente é boa, o fruto... um dia que seja, depois de muitas intempéries, tem que ter um fruto bom. Já isso eu não posso dizer do Paulo César.
Antonio Carlos Ferreira: Você imagina algum dia com seu irmão... vocês reconciliados, passa na sua cabeça?
Pedro Collor: [girando a cadeira] Não me preocupo com isso, não faço nenhum esforço para isso, nem nenhum esforço para evitar isso. Não vejo, no momento... Tenho a sensação íntima de que não temos, hoje, nada em comum, mas se, no futuro, algum dia a coisa acontecer, que assim aconteça, isso depende de Deus. Agora já o Paulo César Farias não. A semente é péssima, a origem é péssima, o meio em que ele se mexeu, se criou, é péssimo, a partir da sua própria personalidade e da personalidade das pessoas que estão, não há moral.
Jorge Escosteguy: O presidente da OAB [Marcelo Lavenère], que esteve aqui no Roda Viva, foi professor do PC Farias, disse que ele é uma pessoa inteligente, que tem certas qualidades.
Pedro Collor: Inteligente, envolvente, enfim.
Jorge Escosteguy: Não seria, então, uma semente tão infrutífera assim?
Jorge Escosteguy: Não seria, então, uma semente tão infrutífera assim?
Pedro Collor: Não. Eu estou falando no aspecto moral. Ele é bem educado, enfim, foi para a universidade, foi seminarista. Imagina que padre seria [risos]! Ele tem alguma coisa boa, claro, todo mundo... Mas se ele é um sujeito sem princípios, um sujeito amoral, então é um sujeito que não mede as conseqüências do que precisa fazer para obter dinheiro. Então essa pessoa é perigosa.
Mac Margolies: Eu tenho uma dúvida: a conversa hoje, com outras declarações suas, sempre volta à Paulo César. Ele é o protagonista dessa história? E o seu irmão?
Pedro Collor: Ele é o motivador, ele é o elemento nocivo.
Mac Margolies: Não o seu irmão.
Pedro Collor: Sim, o Fernando, sim, na medida que se mostrou suscetível e o Paulo César através dele sentiu, eu já tive vontade de dizer isso hoje, sentiu um campo fértil para isso e ele se deixou inebriar por essa perspectiva, esse plano alucinado, megalômano do Paulo César. Em outras palavras, ele tem na sua personalidade um pouco de megalomania ou muita megalomania ou, enfim, o que seja. O fato é que ele foi suscetível e o Paulo César, através dele, conseguiu enfim, fazer o que fez na personalidade dele... que, quer queira, quer não, ele tem algo de magnético, de pragmático de diferente da média, porque não teria tido a carreira política da forma que houve. [todos falam ao mesmo tempo] Ele foi o elemento que desencadeou o processo ruim dentro do Fernando, o pior possível, o Fernando já tinha essa informação genética, por assim dizer, na minha opinião, e o Paulo apenas injetou o outro agente que faz com que a coisa... não sei se me faço explicar. Não que ele tenha desencaminhado, o Fernando já tinha...
Carlos Augusto Setti: [interrompendo] O seu irmão poderia ter alguma tendência que o Paulo César reforçou, é isso que o senhor está tentando explicar?
Pedro Collor: Um campo fértil. O Paulo César, então, continuava, era um sujeito muito magnético, muito inteligente, muito carismático, agora profundamente vaidoso. No mundo inteiro eu posso considerar que existe alguém tão vaidoso quanto ele, mais não. Então, a vaidade, eu tenho a impressão que é a grande inimiga do ser humano. E, no caso específico de um político, com o carisma dele, com o magnetismo dele, com a determinação dele, dão um mix negativo e está aí o resultado, na minha opinião.
Jorge Escosteguy: Bom, nosso tempo está se esgotando, eu gostaria então de lhe fazer uma última pergunta ainda em cima desse assunto, que nós estamos tratando, em relação ao seu irmão, e o senhor disse que tem medo do Paulo César Farias, medo de uma reação.
Pedro Collor: Não é medo [gesticulando e girando a cadeira]. Eu acho possível uma reação do Paulo César Farias, do meu irmão não. Medo eu não tenho, porque se tivesse medo não estaria fazendo o que fiz, e que estou fazendo.
Jorge Escosteguy: O senhor disse que não conversaria com o seu irmão hoje. Eu lhe perguntaria, para finalizar... Terminado esse processo, afastado definitivamente da presidência da República, ou seja, fazer as suas malas e ir de volta para casa, o cidadão Fernando Collor de Mello lhe telefona e diz: "Quero conversar com você". Qual seria a sua reação?
Pedro Collor: "Pois não? Muito bem, estou aqui à disposição, quando quiser vir, e sabe onde me encontrar. Eu estou aqui à disposição".
Antonio Carlos Ferreira: Ele vem ao senhor, não o senhor vai até ele?
Pedro Collor: Mas não é ele que quer conversar comigo?
Jorge Escosteguy: Aproveitando a deixa do Tonico. O senhor tomaria alguma iniciativa de conversar com o Fernando Collor, passado todo esse vendaval?
Pedro Collor: Não tenho motivos para isso, não tenho motivos, como eu disse, não faço nenhum esforço para isso, nenhum esforço para evitar isso, mas se acontecer eu não me recuso.
Jorge Escosteguy: Nós agradecemos então a presença esta noite aqui, no Roda Viva, de Pedro Collor de Mello. Agradecemos também a presença dos jornalistas e dos telespectadores. O Roda Viva fica por aqui e volta na próxima segunda-feira às nove e vinte da noite. Até lá! Uma boa semana a todos!
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