terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O embaraçoso ‘bate papo Teletubbies’ entre a presidente Dilma, Ronaldo, Kaka e Neymar no Twitter

Uma das muitas possibilidades – e uma das mais importantes – da presença de marcas ou pessoas públicas (entre artistas e políticos) nas redes sociais é aproximação com seu consumidor, eleitor ou público. Um canal de diálogo onde existe a possibilidade de debate, de transparência, de interesse na opinião do próximo. Algo fácil? Não, sem dúvida que não. Nem todos conseguem manter essa presença de forma tão eficiente, existem vários obstáculos para serem vencidos. Mas confesso não entender andar na contramão de tudo isso.
Dia 23 de janeiro a presidente Dilma “bateu um papo” com alguns craques pelo Twitter – novamente, isso já havia acontecido 06 de dezembro de 2013. Até aí, tudo bem. Mas o papo, definido por algumas pessoas como “algo escrito por um roteirista dos Teletubbies” ou “mais cretino que diálogo de filme pornô”, seguiu um claro roteiro, sendo nada espontâneo e aparentando ter como objetivo limpar a barra do governo federal no que diz respeito ao crescente sentimento de revolta relacionado as confusões que envolvem a Copa do Mundo – que pode ser acompanhado pelo crescimento do volume da hashtag #naovaiterCopa. Acompanhem o vergonhoso diálogo abaixo.
 O embaraçoso bate papo Teletubbies entre a presidente Dilma, Ronaldo, Kaka e Neymar no Twitter
Em tese, estando na Suíça, a presidente teria soltado o tweets as 20h em ponto de lá. O fato de ser em ponto já  incomoda, aparenta ter sido programado, mas poderia ser coincidência. Uma passa. Mas e a coincidência que levou Ronaldo (Brasil), Neymar (Espanha) e Kaka (Itália) estarem online todos nessa mesma hora, cada um em seus fusos horários distintos, prontos para responder de forma tão “espontânea”, é demais. É demais pra qualquer um com mais de dois neurônios. Nenhum dos craques é exatamente ativo no Twitter como podem perceber na imagem abaixo.

 O embaraçoso bate papo Teletubbies entre a presidente Dilma, Ronaldo, Kaka e Neymar no Twitter
Impressiona o fato de que quem quer que esteja por trás dessa ação achar que o brasileiro usuário do Twitter é ignorante ao ponto de acreditar nessa bobagem. O texto é embaraçoso. A interação é capenga. O conceito por trás disso tudo é vergonhoso. Mas há outro ponto. As marcas estão sendo obrigadas a identificar os tweets de propaganda. Veja bem, não há afirmação ou acusação sobre o fato de que os craques tenham recebido pra publicar esses tweets, mas mesmo que não tenham, se a intenção era fazer propaganda, está certo essa intenção não ser clara ou identificada? O governo federal está acima disso? Caso tenham sido pagos, quem pagou por esses tweets? E quanto foi pago?

Para que tenham ideia um tweet destes, de acordo com informações de mercado, pode chegar a R$ 50.000,00.
É, é isso mesmo. R$ 357,14 por caracter, ou seja, R$ 357,14 por tecla apertada. Nessa “ação” poderiam ter sido gastos R$ 300.000,00 – a preço de tabela, supondo que não tenha havido o ágio tão comum para cobranças ao governo.
Se houve uma conta ela foi paga por nós, trouxas, com o dinheiro de nossos impostos.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

EM 2014 PORTO VELHO FAZ 100 ANOS

As datas comemorativas da cidade, em geral não estão muito claras para os munícipes, que confundem criação com instalação. A primeira deu-se em dois de outubro de 1914 e a segunda em 24 de janeiro de 1915. Portanto, em 2014, Porto Velho comemora 100 anos de criação.
Fonte: News Rondônia.
Porto Velho se prepara para celebrar em outubro seu primeiro centenário. O município foi forjado em um ambiente de conflito político capitaneado pela administração da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Mas encontrou a seu lado alguém que lutasse à altura, como fez o superintendente Major Guapindaia, hoje nome de uma tradicional escola de ensino médio na capital.
As datas comemorativas da cidade, em geral não estão muito claras para os munícipes, que confundem criação com instalação.  A primeira deu-se em dois de outubro de 1914 e a segunda em 24 de janeiro de 1915. Portanto, em 2014, Porto Velho comemora 100 anos de criação. Porto do Velho surgiu em 1907, concomitantemente ao início da estrada de Ferro Madeira Mamoré. Então são 107 anos de existência desde seus primeiros habitantes.
O pequeno povoado, que em 1913 foi elevado a Termo Judiciário, um meio termo entre povoado e município, com direito a ter juiz municipal, promotor, escrivão e tabelião. Mas o então Porto do Velho continuava crescendo e já no ano seguinte, no dia 2 de outubro, o governador do Amazonas, já que Porto do Velho pertencia ao município de Humaitá – AM, Jonathas Pedrosa  sancionou a lei que elevou o Termo Judiciário à categoria de município. No ano seguinte, no dia 24 de janeiro de 1915, o município foi solenemente instalado e empossados os primeiros administradores, com mandato até 31 de dezembro do ano seguinte. O major reformado do exército Fernando Guapindaia de Souza Brejense, como superintendente (prefeito); Manoel Pires de Castro, secretário; José Jorge Braga Vieira, Luzitano Corrêa Barreto, Manoel Félix de Campos, Antônio Sampaio e José Z. Camargo Intendentes; Aderico  Castilho Achilles Reis, Horácio Bilhar, Alfredo Clinico de Carvalho  e José Pontes, suplentes de intendente. Estes constituíam o Conselho Municipal (Câmara de Vereadores ).
A promoção a município gerou dissabores para a nova administração.  De acordo com o historiador e escritor Abnael Machado de Lima, em seu livro Porto Velho: de Guapindaia a Roberto Sobrinho, lançado em 2011, que relata os períodos do executivo municipal, o espaço do povoado de Porto Velho foi divido em dois setores, o administrado pela empresa anglo-canadense Madeira-Mamoré Railway Company, situado entre o rio Madeira e a atual avenida Presidente Dutra; e o brasileiro, administrado pela  superintendência municipal, situado a partir da mesma avenida no sentido Oeste/Leste até a divisa com o Estado de Mato Grosso, no rio Candeias. “A empresa mandou construir uma cerca na linha divisória, guarnecida por seguranças  armados isolando o seu setor do povoado brasileiro impedindo o acesso de seus moradores às suas instalações”. A situação se prolongou até 10 de julho de 1931.

“O setor da Madeira-Mamoré dispunha dos meios mais modernos de tecnologia de ponta então existentes.  Tendo instalado cais do porto, armazéns, estação de passageiros, oficina, usina de energia elétrica, tipografia, fábricas de macarrão, pão, biscoito e de gelo, vila ferroviária construída com casas pré-fabricadas de madeira de pinho de Riga, importadas dos Estados Unidos (USA), clube social, restaurante, jornal, redes elétrica, hidráulica, sanitária e telefônica.  A administração central em Porto Velho, ligada por telefone e telégrafo sem fio a todas as estações no percurso da ferrovia até Guajará-Mirim”.
De acordo com o historiador, a administração do major Guapindaia foi tumultuada pelo confronto com o todo poderoso gerente geral da Madeira-Mamoré, Mister W. Little, o qual não reconhecia a autoridade dos representantes legais dos governos dos estados do Amazonas e de Mato Grosso, praticando ingerência em matérias privativas do município, sendo essas coibidas por Guapindaia.  Em revide, o gerente da empresa solicitou a desocupação das casas por ele cedidas para a sede municipal e residência do superintendente, bem como lhe cancelou o passe livre nos trens da Madeira-Mamoré.  Esse procedimento apoiado pelo engenheiro João da Silva Campos,  chefe da Primeira Divisão de Fiscalização do Governo Federal, não demoveu Guapindaia de fazer valer a prevalência da lei e as prerrogativas legais da municipalidade”. O superintendente providenciou a organização institucional e estrutural do município e do povoado urbano e sua sede administrativa, expedindo os primeiros  decretos de Porto Velho.
Com o número um ele regulamentou a cobrança de impostos, implementou o código de postura, estabeleceu impostos, taxas e tributações;

Com o segundo, ambos de 25 de janeiro de 1915, regulamentou os serviços de construções, suas posturas e a concessão de terrenos públicos;

Em 10 de março, Guapindaia assinou o terceiro decreto, desta vez ordenando o espaço físico do povoado, urbanizando-o conforme a planta elaborada pelo mestre de obras José Ribeiro de Souza Junior, com a assistência do engenheiro civil Francisco da Silva Campos, aprovada pelo Conselho Municipal.  Ordenou a abertura de ruas e o alinhamento das casas. E em  14 de agosto de 1915, com o decreto número quatro, ele proibiu a empresa Madeira-Mamoré Railway:  1) a exercer a prática de poderes públicos privativos dos governos federal e municipal, vedando-a a cobrar impostos, inclusive de embarque, por ser ato atentatório ao Código Penal da República; 2)a expedir título de propriedade e licença para a construção de imóveis, anulando os expedidos e ordenando a demolição dos construídos assim  autorizados, em áreas do município; 3) a extrair por intermédio de seus contratistas, madeira em florestas municipais.

Primeira eleição

Em 1º de dezembro de 1916 foi realizada a primeira eleição municipal para os cargos de superintendente e intendentes.  Foram eleitos pelo Partido Republicano Conservador (PRC):  Joaquim Augusto Tanajura, para o cargo maior e Luzitano Corrêa Barreto, José Z. Camargo, Álvaro Dantas Paraguassu, Antônio Sampaio e Otávio Reis, foram escolhidos pelo voto para a função de intendentes. Todos com mandato para 1º de janeiro de 1917 a 31 de dezembro 1919.

Em agosto de 1.917, com a Lei n° 900, sancionada por  Pedro de Alcantra Bacelar, então governador do  Amazonas, Porto Velho foi elevada à categoria de Comarca. E dois anos depois, pelo mesmo governador, também por meio de Lei, desta vez a 1.011, de setembro de 1919, Porto Velho recebeu o título de cidade.

Até que em 13 de setembro de 1943 tornou-se a capital do Território Federal do Guaporé, criado por Getúlio Vargas, quando finalmente emancipou-se do Amazonas.

Texto: Alice Thomaz
Fotos: Marcos Freire – Reprodução fotográfica arquivo pessoal profa. Yedda Borzacov

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

NAIARA KARINE - 1 ANO DEPOIS E O MISTÉRIO CONTINUA

Naiara Karine foi morta barbaramente no dia 24 de janeiro de 2013 e o crime ainda está cheio de mistérios.

Depois de a policia prender "vários suspeitos" do bárbaro assassinato da jovem estudante de jornalismo, no dia 16 de julho de 2013 a policia prendeu o vigilante Marco Antônio, de 38 anos.
                                                  PRESO O PRIMEIRO SUSPEITO
Advogado Janor Ferreira (à esquerda) e suspeito Marco Antônio (Foto: Ivanete Damasceno/G1)Advogado Janor Ferreira (à esquerda) e suspeito
Marco Antônio 
O suspeito de envolvimento na morte da universitária Naiara Karine, em Porto Velho, confessou em depoimento, que gravou um vídeo do momento em que estuprou a estudante, segundo o delegado Nestor Romanzini, responsável pelas investigações.
As imagens estão em poder da polícia e mostram momentos do crime ocorrido em janeiro deste ano. Algumas diligências ainda devem ser feitas, já que não é possível afirmar o autor das facadas que vitimou a estudante.
Para a polícia, a prisão do vigilante deixa o inquérito 'quase concluído'. “Efetuamos a prisão da pessoa que no dia do fato estava no local onde o crime aconteceu e que produziu um vídeo durante uma prática sexual abusiva”, explica o delegado.
Romanzini ressalta que o vídeo deixou à mostra a cueca e algumas tatuagens do suspeito. “Nós chegamos a ele através da exploração intensa das imagens do vídeo de 24 segundos, onde alguns elementos colhidos nos levaram ao suspeito, sendo um dos vestígios a cueca que ele vestia”, detalha o delegado.
Naiara Karine foi assassinada no dia 24 de janeiro, em Porto Velho (Foto: Reprodução/TV Rondônia)Naiara Karine foi assassinada no dia 24 de janeiro
(Foto: Reprodução/TV Rondônia)
O suspeito foi intimado anteriormente para prestar esclarecimentos, quando foram identificadas tatuagens e colhidas impressões digitais, após isso, a Justiça, segundo o delegado, expediu o mandado de prisão.
Em depoimento, segundo o delegado, Marco Antônio afirmou que Naiara foi levada do bairro onde ela morava até o local do crime na motocicleta dele, de cor preta. O que não fica claro é quem teria levado a jovem para o matagal. No entanto, a polícia descartou o envolvimento de um instrutor da autoescola onde a vítima estava minutos antes de desaparecer. "O instrutor foi bastante explorado como possível suspeito, mas durante o inquérito chegamos a conclusão de que não teria elementos que levassem o instrutor ao local do crime", confirma Romanzini.
Foram cumpridos, também, mandados de busca e apreensão na residência do suspeito e de familiares dele. De acordo com Marcelo Bessa, secretário de Segurança, Defesa e Cidadania de Rondônia, alguns detalhes do crime não podem ser divulgados, porque o suspeito não deixou claro em seu depoimento quem foi o autor dos 22 golpes de faca na vítima. "Nós temos que preservar a investigação policial", frisa Bessa.
Cueca ajudou a identificar suspeito segundo a polícia (Foto: Ivanete Damasceno/G1)Cueca ajudou a identificar suspeito segundo a
polícia.
Para o delegado, o suspeito confessou que esteve no local do crime, produziu o vídeo onde aparecem imagens do estupro e confirmou a prática sexual. "Ele deixou nas entrelinhas que pode ter a participação de outra pessoa”, diz o delegado.
Diante do depoimento, a polícia afirma que a violência sexual e a morte de Naiara estão esclarecidas, apesar de algumas perguntas que não terem resposta. "O que ele falou no interrogatório nós compreendemos com algumas ressalvas. Não descartamos que durante as investigações possamos chegar a outra pessoa envolvida", finaliza Romanzini.
De acordo com a defesa do suspeito, o que está confirmada é a participação do suspeito no crime de estupro. "Ele confessou que filmou", defende o advogado Janor Ferreira. (Fonte: G1 Rondônia)
                                                                O SEGUNDO PRESO
No dia 27 de setembro, o agente penitenciário, Richardson Bruno Mamede das Chagas, de 30 anos, se apresentou na Delegacia de Patrimônio e acabou recebendo voz de prisão do delegado Nestor Romanzini.
Richardson é um dos suspeitos envolvidos na morte da estudante Naiara Karine. Ele tinha três mandados de prisão. Ele foi citado pelo principal acusado do envolvimento na morte de Naiara, Marcos Chaves, como um dos comparsas do crime.
O agente nega o seu envolvimento, porém resultados periciais feitos na Polícia Federal acusaram 10 pontos positivos convergentes que acabaram comprometendo.
Richardson trabalha no Centro de Ressocialização Vale do Guaporé.
De acordo com o delegado Romanzini, o agente possuía três mandados de prisão e foram cumpridos em desfavor de Richardson, porém ele não era localizado porque trocava constantemente de endereço.
Richardson fazia bico de segurança e fazia rondas de vigilância no Conjunto Alphaville, onde a vítima Naiara Karine morava.
                                                     TERCEIRO SUSPEITO PRESO

O agente penitenciário e sócio de uma empresa de segurança particular Francisco da Silva Plácido, foi apontado como um dos envolvidos no crime por Richardson Bruno Mamede das Chagas, preso há mais de 100 dias por ter suas digitais encontradas no celular da vítima, segundo laudos da perícia.
O delegado titular da Divisão de Patrimônios, Nestor Romanzini, confirma que Plácido era colega de Richardson e que os dois trabalhavam juntos na empresa de segurança em que Plácido tinha sociedade. A polícia busca agora pelo universitário Wagner Strogulski Souza, que também teve a prisão preventiva decretada e é considerado foragido da justiça. O delegado afirmou que Plácido e Wagner foram reconhecidos nos autos e por enfrentamento com Richardson, que confirmou a participação dos dois no crime.
O primeiro suspeito preso no Caso Naiara, Marcos Antônio chagas da Silva já está sendo processado pela Justiça. Naiara Karine foi morta com mais de vinte facadas. Para que as investigações prossigam, um novo inquérito já está sendo desmembrado. Para Romanzini, é possível que mais pessoas estejam envolvidas no assassinato da estudante.
                    FAMÍLIA DESTROÇADA E AMEAÇADA DEIXA A CIDADE
A família da estudante decidiu ir embora de Rondônia apos sofrer varias ameaças, que podem estar sendo feitas por pessoas ligadas ao assassinato de Naiara. Segundo o pai da moça, Sr. Paulo Freitas, a família resolveu ir embora depois que se sentiram em risco eminente devido as ameaças.
O motivo do assassinato, ainda não está totalmente esclarecido, ainda falta um suspeito ser preso. Ele era amigo de faculdade da vitima, e pode ter sido ele a pessoa que arquitetou todo o plano de execução de Naiara.
Ao se despedir do estado, seu Paulo falou que "era muito agoniante e muito perigoso para ficarmos aqui. Então, a gente vai se retirar do estado. Vamos embora para começar vida nova. Cheguei aqui com minha filha Naiara e estou indo sem ela." finalizou.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Como tomar um tacacá

"O tacacá, toma-se? Bebe-se? Sorve-se? Saboreia-se? Não, o tacacá deseja-se, de repente, como se deseja uma mulher, como se deseja retornar ao amor da adolescência. O tacacá possui o toque agudo da saudade. A memória de seu sabor salgado e ar­dente assalta-nos sem aviso, em pleno dia, em determinadas horas de distração. [...] Desejo de tacacá. Porque, para tomá-lo, é preciso, antes de tudo, um ritual.
É preciso que seja ao anoitecer. Ainda não de todo noite completa; ainda não dia findo. Àquela hora semi-crepuscular, indecisa e feminina quando, por fim, o céu se envolve de um azul-cinzento intenso ou aquela chuva antes da saída da lua. 
É preciso que estejamos cansados, tão fatigados que nada nos afigure mais necessá­rio, naquele momento, do que tomar um tacacá. Nem o bate-papo informal com o amigo. Nem o café na Central. Nem o olhar à mulher que passa. Apenas, a pro­cura, a única procura por um tacacá, com pouca pimenta ou muita e bem quente.
Depois, é preciso que haja um banco. Tacacá toma-se sentado para que o corpo repouse e possa se entregar completamente ao prazer de saboreá-lo. Porque o tacacá é extremamente absorvente. Quando bem feito, o que ocorre pouco. Pois fazê-lo e tomá-lo é uma arte.
É preciso, também, que a noite desponte ao chegarmos junto ao carrinho de tacacá. E comece a chover, levemente. Faça algo de frio, algo de úmido. O que não é difícil em  lá em Belém. 
Depois, como estamos cansados e queremos esquecer, esperamos. Uma paciência longa e calma, até que a dona do tacacá termine por prepará-lo. De preferência que seja em Nazaré ou olhando a Igreja da Trindade.
É preciso que o tucupi seja leve, amarelo-canário e novo. Que a goma bóie no líquido, espalhada por acaso e se mostre apenas por alguns instantes; que não haja muita folha; que os três ou quatro camarões sejam médios, nem grandes demais ou minúsculo e somente uma parte deles apareça, a ligeira carne rósea a deixar-se entrever, adivinhar-se na cuia olorosa. 
Depois, é preciso que haja sal e pimenta de cheiro, mas não em demasia; o suficiente para nos queimar a alma nos primeiros goles e reanimar o corpo; então renascemos para a noite e a alegria novamente nos habita. O suficiente apenas para desvanecer seu fervor após esses primeiros goles e tornar-se depois, uma presença quente, já quase uma memória, na ponta da língua.
É preciso saber tomar o tacacá. Aos primeiros sorvos integralmente seu calor, sua salinidade, seu gosto de mar quente, de arbusto e molusco que os lábios experimen­tam fugidiamente. 
É preciso que o jambú e os camarões pousem lentamente no fundo da cuia e venham à boca, por si mesmos, sem o auxílio dos dedos. É necessário que não sejamos interrompidos. Apenas um aceno de cabeça aos conhecidos que passam. Um filtro mágico que se bebe em silêncio e solidão. Somente a comunicação imperceptível com a tacacazeira: feiticeira moderna numa terra onde as lendas ainda sobrevivem em um mundo que se materializa inexoravelmente.
Chegados ao fim do tacacá, é preciso que o mesmo ainda se conserve morno, assim como o fim de um amor. Jamais frio. Não existe nada pior do que um tacacá frio. É como champanhe sem gelo. Neste momento tomaremos contacto real com as grandes porções maternais de goma penetradas pelo tucupi e pela amargura das folhas. Há sempre um gato gordíssimo perto do carro de uma tacacazeira. Ele comerá, displicentemente, as cascas de camarão que atirarmos ao chão. A cuia está vazia.
Agora, o mais importante: jamais repetir o tacacá, na mesma noite. A segunda cuia nunca devolverá o sabor da primeira. O primeiro tacacá daquele dia é único, autêntico, original, insubstituível como o gosto do primeiro beijo. Como a primeira entrega de amor. Porque os tecidos de nosso cansaço e de nossos desejos são satis­feitos. Porque foi necessário todo um dia infrutífero e todo um sol de toda uma chuva para alcançá-la. Todo o equívoco das relações humanas, toda a falta de solidariedade, de cortesia, de amizade e de comunicação com os outros. A decep­ção será fatal se arriscarmos um segundo, fiéis à gula. É preciso permitir-se um resto de fome, um resto de desejo para o dia seguinte, um resto de tristeza intransferível. Quando a baía abrir suas margens de musgo para recolher as asas do dia; quando a lua surgir em seu halo de chuva; quando chegarmos ao fim de nossas tarefas cotidianas, então, novamente, sentiremos na ponta da língua a subtaneidade acre do tucupi.