sexta-feira, 18 de abril de 2014

Cem Anos de Solidão, o livro que criou uma geração de leitores


Arte por meio da escrita é o que fez o colombiano Gabriel García Márquez em sua obra definitiva, “Cem Anos de Solidão”. Construiu a história latino-americana tão repleta de guerras e solidão a partir da árvore genealógica de uma família
A América Latina é uma região diferenciada do mundo — quanto à história da construção de sua identidade. As instabilidades políticas, aliadas à insuficiência de recursos, muito contribuiu para a eclosão de movimentos típicos da alma latino-americana: ditaduras, guerras, guerrilhas, repressões, exílios e exportação de refugiados são fatos próprios de nossa história. Uma história de solidão, como bem definiu um de seus maiores intérpretes. Na visão desse intérprete, isso se deve a um nó que evidencia “a in­suficiência dos recursos convencionais para tornar nossa vida acreditável”.
Esse mesmo intérprete delineou, com a inteligência que lhe é peculiar, o perfil inerente ao continente latino-americano. Continente que revela o muito que tem de demente, mesmo após a libertação do império espanhol, que por anos dominou a maioria dos países latino-americanos. Trans­crevamos parte de um discurso desse intelectual, quando do recebimento da maior honraria que um homem de letras pode receber neste mundo: o Prêmio Nobel de Literatura.
“O general Antonio López de Santana, que foi três vezes ditador do México, mandou enterrar com funerais magníficos a perna direita que perdeu na chamada Guerra dos Bolos. O general García Mo­reno governou o Equador durante dezesseis anos como monarca absoluto, e seu cadáver foi velado com seu uniforme de gala e sua couraça de condecorações, sentado na poltrona presidencial. O general Maximiliano Hernández Martínez, o déspota teósofo de El Salvador que fez exterminar numa matança bárbara 30 mil camponeses, tinha inventado um pêndulo para averiguar se os alimentos estavam envenenados, e mandou cobrir de papel vermelho a iluminação pública para combater uma epidemia de escarlatina.”
Se quisermos trazer esse espírito da América Latina para bem junto de nós, basta observar o que foram o culto à personalidade do chavismo, as ditaduras militares da Argentina e do Chile — e, lógico, o Brasil pós-1964.
Nosso reconhecido intérprete aponta números, no seu discurso de premiação, que espantam quando o assunto é a repressão no Continente. Os dados são estarrecedores. Cinco guerras e dezessete golpes de Estado, 120 mil desaparecidos, morte de 20 milhões de crianças antes de completar dois anos, “mais que todas as crianças que nasceram na Europa ocidental desde 1970”.
O quadro não se altera se o assunto for o número de exilados e refugiados que a região exporta mundo afora. Um milhão de pessoas do Chile, um em cada cinco uruguaios sofrem a dor do exílio. E mais: a cada 20 minutos, El Salvador produz um refugiado. Enfim, todas essas adversidades representam mais que a população da Noruega. Sim, de fato nosso principal intérprete mostrou que conhece profundamente a alma da América Latina. Demonstrou isso não só naquele memorável discurso de sua premiação, mas, sobretudo, pelas obras-primas que produziu para a humanidade ao longo de sua produtiva vida dedicada à literatura.
A solidão latino-americana se torna mais visível ainda se o assunto for a economia da região. Somos condenados àquilo que a Comissão Para o Desenvolvimento da América Latina (Cepal) dicotomiza entre centro e periferia, que nos condena a eternas trocas desiguais. Numa primeira fase de nossa história, a exportação de matérias-primas e importação de produtos industrializados; numa segunda fase, em tempos de globalização, nossa recente industrialização nos tornou dependentes numa nova e prisioneira subordinação corporificada pela dependência tecnológica. Ou seja, a inovação tecnológica produzida nos centros mais dinâmicos tornou nossas indústrias suas prisioneiras.
Construir a história latino-americana tão repleta de guerras e solidão a partir da árvore genealógica de uma família, que na realidade é a sua. Fazer isso articulando gerações e gerações sem perder o fio da meada não é tarefa para qualquer um. Transportar o leitor para o mundo de solidão dos personagens tão apegados a guerras inúteis, à solidão e magia inerente a sociedades lentas e subdesenvolvidas, léguas distante da modernidade, sem citar explicitamente aonde quer chegar, mas levando leitores mais experientes a intuírem a mensagem do escritor não é tarefa para um autor comum. Enfim, elaborar tudo isso num ambiente narrativo repleto de imaginação, recorrendo à fantasia para revelar a realidade, é o que fez desse escritor um mestre num estilo que conhecemos como realismo mágico. É o que conhecemos como arte. Arte por meio da escrita é o que construiu o colombiano Gabriel García Márquez na obra definitiva, que certamente muito contribuiu para que a ele fosse merecidamente concedido o Prêmio Nobel de Literatura, de 1982.
A obra de que falo é considerada a mais importante escrita em língua hispânica depois de “Dom Quixote”, do espanhol Miguel de Cervantes. Falo de “Cem Anos de Solidão”, um sucesso absoluto com mais de 50 milhões de exemplares vendidos. Um clássico da literatura mundial. É dela que falaremos a seguir, depois de apresentar o autor — se é que ele ainda precise de apresentação.
Escritor, jornalista, editor e ativista político, Gabriel García Márquez nasceu no dia 6 de março de 1927, em Aracataca, Colômbia. Com a mudança dos pais para Barranquilla, conviveu intensamente com os avós maternos, que o criaram em sua primeira infância, e de quem recebeu intensa influência. Do avô, um veterano da Guerra dos Mil Dias, escutou histórias que muito influenciaram suas obras literárias. Estudou Direito e Ciências Políticas na Universidade Nacional da Colômbia, mas não chegou a se graduar.
García Márquez leu e viajou por muitas partes do mundo. Os autores que mais o influenciaram foram o tcheco Franz Kafka, o mexicano Juan Rulfo e o norte-americano William Faulkner. Foi-lhe concedido o Prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra. “Cem Anos de Solidão” é considerado o romance introdutor de um estilo literário: o realismo mágico. Como ativista político, García Márquez se tornou um respeitado interlocutor de governos latino-americanos. Dentre seus amigos, destacam-se Fidel Castro, de Cuba, e o ex-presidente francês François Mitterrand.

A solidão da América Latina

Uma família, um povoado, o passar do tempo e a imaginação de um escritor de talento foi suficiente para nascer o romance que mais identifica a América Latina consigo mesma. E aqui vai logo uma dica: a família Buendía e sua extensa genealogia publicada na primeira página de “Cem Anos de Solidão” é um guia fundamental para que o leitor entenda o que uma narrativa fluente, constituída de longos períodos, quer dizer. Aconselho a todos a segui-la.
“Minha família é mais importante que meus livros”, assim disse recentemente Gabo (conhecido por esse apelido entre os mais íntimos) na senectude de sua vida. Os Buendía e o povoado, Macondo, fizeram parte da infância desse colombiano, vivenciada ao lado dos avós. Macondo muito se assemelha com sua cidade natal, Aracataca. Os Buendía têm muito a ver com os Márquez. Tudo isso, acrescido de coisas imaginárias, como aquelas ditas por Gabo no pronunciamento quando recebera o Prêmio Nobel, em Estocolmo, na Suécia. Coisas que o tornaram o mestre de um estilo que mundialmente o consagrou: o realismo mágico. “Porcos com o umbigo no lombo, e uns pássaros sem patas cujas fêmeas usavam as costas dos machos para chocar [...] cabeça e orelhas de mula, corpo de camelo, patas de cervo e relincho de cavalo.” É bem verdade que o homenageado se referia a impressões de um navegante florentino sobre a América meridional, Antonio Pigafetta, por ocasião de sua primeira viagem ao redor do mundo. Mas também é verdade que coisas muito parecidas com essas foram contadas por seus avós. E elas rechearam a imaginação de García Márquez e se fizeram presentes no retrato da genealogia da família Buendía, que se confunde com a história da América Latina, história tão repleta de revoluções, golpes e, lógico, muita solidão. Solidão característica que conhecemos como subdesenvolvimento. A grandeza da literatura de García Márquez se revela exatamente neste ponto: utilizar seu micromundo para construir uma obra verdadeiramente universal, contada por meio de coisas surreais.
A impossibilidade de espaço nos impede de contar toda a história do século de solidão vivenciado pelos Buendía, geração após geração. Mas não nos impede de abordar o espírito que permeia seus personagens principais. Falemos um pouco deles, pois são importantes para o entendimento do todo do romance, que se alicerça em torno da genealogia da família.
26 meses de travessia da serra em busca de uma saída para o mar resultaram num esforço que deu em nada. Para não fazer o caminho de volta, José Arcádio Buendía fundou o povoado de Macondo. E assim nasceu “a aldeia mais arrumada e laboriosa que qualquer outra que seus habitantes tivessem conhecido. Era de verdade uma aldeia feliz, onde ninguém tinha mais de trinta anos e onde ninguém tinha morrido”.
José Arcádio, casado com sua prima Úrsula, teve nela a companheira que deu suporte àquele espírito empreendedor do marido. “A diligência de Úrsula andava passo a passo com a de seu marido. Ativa, miúda, severa, aquela mulher de nervos inquebrantáveis” foi ela a única a sobreviver e acompanhar as seis gerações que englobam o século da árvore genealógica da família Buendía. Acompanhou Úrsula o nascimento de filhos, netos, bisnetos, tataranetos em torno de algo comum que os identificava: a solidão.
Todos os descendentes da família Buendía eram solitários, inclusive uma pessoa que não fazia parte da família, mas era próximo de José Arcádio, numa identificação que os unia pelo gosto que ambos tinham pelo poder da magia e da ciência. Falo do cigano Melquíades, que era dotado de poderes mágicos, inclusive o de adivinhar o futuro. “A ciência elimina distâncias [...] daqui a pouco o homem vai poder ver o que acontece em qualquer lugar da terra sem sair de casa.”
O cigano Melquíades carregava consigo uma previsão sobre a família Buendía, que só seria decifrada um século depois, no momento em que um membro da família conseguisse entender os pergaminhos do mago. Falaremos disso mais adiante.
A segunda geração da família gerou três filhos legítimos. Digo legítimos, porque se geraram filhos ilegítimos, originados do ventre de prostitutas ou não. E aqui fazemos um parêntese: a constância de prostitutas nos romances de García Márquez se deve à forte presença delas na vida do autor. Em suas memórias, ele confessa que frequentou muitos bordéis para espantar algo que sempre o acompanhou: a solidão.
A personagem que emerge no romance para representar o universo das prostitutas surge na segunda geração. Trata-se de Pilar Ternera, que se torna amante dos dois filhos de José Arcádio Buendía: Arcádio e o coronel Aureliano. Estes dois, e Amaranta, a outra filha, formam a tríade de solidão da segunda geração da família. Petra Cotes seria, duas gerações mais tarde, a outra prostituta a ter relações com membros da família Buendía.
A ambiência das relações extraconjugais pode ser percebida na intimidade do coronel Aureliano Buendía e sua amante: “Vim dormir com a senhora — disse ele. Estava com a roupa besuntada de lodo e vômito. Pilar Ternera, que naquela época vivia com seus dois filhos menores, não fez nenhuma pergunta. Levou-o para a cama. Limpou seu rosto com um trapo úmido, tirou sua roupa, e depois despiu-se por completo e baixou o mosquiteiro para que seus filhos não a vissem, caso acordassem. Tinha cansado de esperar pelo homem que ficou, pelos homens que se foram, pelos incontáveis homens que erraram o caminho de sua casa confundidos pela incerteza das cartas do baralho”.
Vale ressaltar outra passagem do romance que evidencia o quanto o mundo da prostituição teve influência na obra de García Márquez: “Vem cá, você também — disse ela [a prostituta] — São só vinte centavos. Aureliano jogou uma moeda na caixinha que a matrona tinha nas pernas e entrou no quarto sem saber para quê. A mulata adolescente, com suas tetinhas de cadela, estava nua na cama. Antes de Aureliano, naquela noite sessenta e três homens tinham passado pelo quarto”.
Todos os personagens do romance padecem da solidão, não só pelo isolamento de Macondo, mas, sobretudo, pelo próprio estado de espírito que caracteriza o passar do tempo para a família Buendía.
É o caso de Amaranta, que, tendo “chegado à velhice com todas as suas nostalgias vivas”, morre solteira, relembrando amores por ela mesma rejeitados. Rebeca, mulher do também solitário José Arcádio (da segunda geração), é outra solitária que “tinha precisado de muitos anos de sofrimento e miséria para conquistar os privilégios da solidão”.
E assim, a solidão segue seu fluxo ante o passar das gerações da família Buendía. É o que se pode constatar em Remédios, a bela filha de Aureliano Segundo (esse, da terceira geração) e Santa Sofia de la Piedad. “Remédios, a Bela, ficou vagando pelo deserto da solidão, sem cruzes nas costas, amadurecendo em seus sonos sem pesadelos, em seus banhos intermináveis, em suas comidas em seus horários, em seus profundos e prolongados silêncios.” Meme, filha de Aureliano Segundo (da quarta geração) e Fernanda del Carpio, é outra que padece do mal da solidão: “Estava tão segura de si mesma, tão aferrada à sua solidão, que Aureliano Segundo teve a impressão que já não existia mais nenhum vínculo entre eles”.
Resumindo: a solidão é o estado de espírito que passa de geração para geração, como um rio que segue seu curso até o rumo final. No caso da família Buendía, entre arcádios e aurelianos que se envolvem em revoluções, inventos, amores na casa grande e na senzala, corrupções, a identidade da América Latina vai sendo delineada, tendo como instrumento narrativo o realismo mágico. É exatamente nesse ponto que se destaca a prodigiosa imaginação do autor que sabe como ninguém construir a realidade por meio do inverossímil. Por trás dos malabaristas de seis braços, do ancião de quase duzentos anos que havia vencido o duelo de repentes, do padre que levita 12 centímetros do chão, da mulher que come areia, dos filhos que nascem com rabo de porco, existe a história contada da solidão de um continente que se construiu de uma maneira própria.

O Dom Quixote de García Márquez

Atente para as proezas surreais do herói construído pela imaginação para delinear o perfil de seu Quixote: promoveu trinta e duas rebeliões armadas, não ganhando nenhuma delas; teve dezessete filhos com dezessete mulheres diferentes; escapou de quatorze atentados, de setenta e três emboscadas e do pelotão de fuzilamento; sobreviveu a uma tentativa de suicídio. Foi liberal até o fim, lutando contra os conservadores. Depois dessa odisseia amalucada, morreu na mais absoluta solidão, na velhice. Velhice que, para o Dom Quixote de García Márquez, nada mais era do “que um pacto honrado com a solidão”. Morrer só, “enfiando a cabeça entre os ombros, como um franguinho, e ficou imóvel com a testa apoiada no tronco da castanheira. A família não ficou sabendo até o dia seguinte, às onze da manhã, quando Santa Sofia de la Piedad foi jogar o lixo baldio dos fundos e reparou que os urubus estavam baixando”.
Este é o perfil do coronel Aureliano Buendía, um herói de causas perdidas, que tanto se assemelha com o espírito de nossa América Latina, tão cheia de revoluções, golpes e contragolpes sem sentido. Por meio do espírito quixotesco do coronel Aureliano Buendía, García Márquez revela nossa identidade, ao conectar o micromundo mágico das histórias contadas pelos seus avós com o terreno mais nobre que a literatura proporciona aos leitores: o deleite da realidade interior com a exterior. Ou seja, a conexão do espírito de nosso ser com a realidade política e econômica de um continente solitário.

Os temas políticos do romance

Que fatores mantêm a América Latina presa às amarras do subdesenvolvimento? Certamente muito desses fatores encontram suas explicações na natureza política comum aos países da região que nos condena a ser o que ainda somos: uma periferia do capitalismo mundial.
Na condição de grande intelectual compromissado com a região, García Márquez não deixa de denunciar todas essas adversidades em sua obra maior. Para isso, aponta as lutas do coronel Au­reliano Buendía como resultantes do conflito entre duas ideologias políticas: a dos liberais e a dos conservadores.
Ser liberal era ser maçom, contra a igreja, favorável ao matrimônio civil, ao divórcio, ao reconhecimento de filhos legítimos e ilegítimos e contra o autoritarismo. Ser conservador é encontrar-se no espectro diametralmente oposto: é ser favorável à manutenção da ordem, apoiar a igreja e a moral familiar. O coronel Aureliano Buendía se identifica por completo com a causa liberal e luta por ela.
A perpetuação no poder, tão comum nos regimes autoritários, é outro tema que García Márquez não deixa escapar. “O governo conservador, com o apoio dos liberais, estava reformando o calendário para que cada presidente ficasse cem anos no poder.”
Além disso, os desequilíbrios gente-terra, corporificados pela reforma agrária, é outra questão abordada por García Márquez, que muito se atrela à solidão e ao subdesenvolvimento do continente. “Os latifundiários liberais, que no começo apoiavam a revolução, haviam firmado alianças secretas com os latifundiários conservadores para impedir a revisão dos títulos de propriedade.”
Outro malefício que mantém a A­mérica Latina subdesenvolvida é sem dúvida a maior praga do subdesenvolvimento: a corrupção. Esta se encontra presente no romance, na figura de Arcádio (da terceira geração), prefeito de Ma­condo: “Anos depois, quando o coronel Aureliano Buendía examinou os títulos de propriedade, encontrou registradas em nome de seu irmão todas as terras que se avistavam da colina de seu pátio até o horizonte, inclusive o cemitério, e que nos onze meses de seu mandato Arcádio havia carregado não apenas o dinheiro dos tributos mas também o que cobrava do povo pelo direito de enterrar seus mortos nas terras de José Arcádio [da segunda geração]”.
A Companhia Bananeira, que se instala em Macondo, simboliza a face mais visível da inserção da América Latina no capitalismo mundial: a de eterna exportadora de matéria-prima. Aos ciclos de decadência sucedem os ciclos de euforia, mantendo todo um povo preso às amarras do subdesenvolvimento. Um observador arguto como García Márquez não deixou de estar atento ao problema: “Macondo estava em ruínas. Nas imensas poças d’água das ruas restavam móveis despedaçados, esqueletos de animais cobertos de lírios colorados, últimas recordações das hordas de aventureiros que fugiram de Macondo tão atarantados como haviam chegado. As casas levantadas com tanta urgência durante a febre da banana tinham sido abandonadas. A companhia bananeira desmantelara suas instalações. Da antiga cidade cercada só restavam os escombros”.

Uma estirpe condenada

O fecho de “Cem Anos de Solidão” se dá no momento em que os pergaminhos do cigano Melquíades são decifrados pelo filho bastardo de Meme (da quinta geração) com Maurício Babilônia: Aureliano Babilônia (da sexta geração). Neles, estava prevista uma maldição para a família Buendía: a de que duas outras pessoas dessa mesma família não poderiam ter filhos juntas, pois estes nasceriam com alguma deformidade. José Arcádio Bu­endía e Úrsula era primos. A consanguinidade não poderia se repetir.
Aureliano Babilônia teve um filho com Meme sem saber que esta era sua tia legítima. Repetiu-se a consanguinidade, concretizando-se, assim, a previsão do cigano: o rebento, Aureliano (da sétima geração), nasceu com um rabo de porco e morreu devorado por formigas. Encerra-se assim a arvore genealógica da família, pois, como estava previsto nos pergaminhos do cigano, “era irrepetível desde sempre e para sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra”.
E assim García Márquez conseguiu materializar com muito suor e talento o estalo que teve na estrada da cidade do México para Acapulco, quando sentiu que estava maduro para conceber sua obra-prima. Escreveu o seu Quixote, que o colocou no primeiro time dos maiores escritores do século 20. Um escritor reconhecido por todos — inclusive pela Academia Sueca, que lhe concedeu a glória de ser laureado com um Prêmio Nobel de Literatura. Gabriel García Márquez será sempre eterno.
Fonte: Revista Bula
ilustrações:  Carybé

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Dando a Luz ao PT


Valesca dos Santos (Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1978), mais conhecida pelo nome artístico de “Valesca Popozuda” ou apenas Valesca, é uma cantora, compositora, produtora e empresária brasileira. Foi vocalista do grupo feminino “Gaiola das Popozudas” entre 2000 e 2012 até a metade de 2013, sendo uma das responsáveis por tornar o funk carioca dissipado e conhecido em todo o Brasil. Em 2013 lançou-se em carreira solo com a canção "Beijinho no Ombro", que atingiu a décima segunda posição na Billboard Brasil.

Esse primeiro parágrafo é uma das maravilhas permitidas pelo famoso Ctrl+C. Tudo o que fiz foi isso: entrar na Wikipédia para saber, afinal de contas, alguma coisa a respeito dessa moça, copiar e iniciar o texto. O que vou escrever a seguir nada se relaciona com ela e muito pouco diz respeito a isso que vem sendo chamado de funk music. A ideia aqui é bem diferente: Antonio Kubitschek é o nome do professor que elaborou uma prova de filosofia da Escola de Ensino Médio 3, no Distrito Federal, e nela havia uma questão que chamava Valesca Popozuda de "grande pensadora contemporânea" - sobre isso eu acho que faz sentido escrever.

Antes de começar gostaria de chamar a atenção para uma atitude da própria Valesca que, segundo o Jornal O Globo, se disse “muito honrada” pela citação em uma prova de filosofia. Tal gesto reflete, ao meu ver, a sensação de estranhamento, a ideia de distância de uma pessoa que, independente do seu caráter ou de sua atividade profissional, jamais imaginou pertencer, ela mesma, ao mundo da alta cultura ou dos grandes pensadores. 

Em outras palavras eu diria o seguinte: mesmo sem ter conversado com Valesca ou com o “professor de filosofia” que fez a questão, eu imagino que nenhum dos dois se conhecia antes disso e que a moça jamais quis ser citada nem pediu ou pagou ninguém para que a letra de sua música se tornasse uma pergunta de prova.

Fácil seria escrever dizendo que não existe mais pensamento crítico no Brasil. Isso eu já fiz antes e se o fizesse novamente aqui, nesse artigo, correria o risco de passar àquele que lê a impressão do temido discurso “moralista”, “conservador” ou “reacionário” daqueles que acreditam num ensino de filosofia “distanciado da realidade” e “vinculado às elites.” Nada sei sobre ensinar filosofia. Sequer graduado sou nessa área do conhecimento e o que escrevo não tem relação com a minha condição de médico. 

É como brasileiro que tento me expressar...é como alguém que não perdeu (ainda) a noção da realidade e que tem perfeitamente guardada a distinção entre a alta cultura e a vulgaridade..entre a arte e o apelo comercial. Acredito ter como parceira nessa empreitada a própria Valesca dos Santos que, no seu sentimento de lisonja, revelou toda estupefação de quem jamais pretendeu ser fonte de reflexão alguma..e que na sua gratidão revela a ingenuidade de quem foi usada por mais um militante petista dentro da educação brasileira.

Não tenho, nem nunca tive, qualquer procuração para defender os pensadores desse país. Não conheço Valesca e nada sei do seu caráter. Não gosto daquilo que ela canta, mas isso nada tem a ver com o ensino de filosofia no Brasil. Digo apenas que a própria filosofia nasceu da “capacidade do espanto”... da curiosidade sobre o mundo, sobre o sentido da vida e de como vivê-la da melhor e mais justa forma. O questionamento sobre a verdadeira arte e sobre a noção do belo somaram-se à essas primeiras indagações dos gregos e vem atravessando o tempo como objeto de investigação filosófica.

Tudo o que se faz hoje em termos culturais é reflexo de um Brasil em que não há mais espanto algum..em que a própria noção do belo desapareceu e onde a vulgaridade, o apelo rasteiro à sexualidade, e ao sucesso comercial são aquilo que restou. Nem Valesca nem a maioria dos artistas que cantam o tipo de música que ela celebra pretenderam jamais ser mais do que isso. A crise moral ou cultural não começou com eles; começou dentro das Universidades e das escolas que se entregaram completamente ao domínio de um Partido Político e a um projeto de poder no qual o belo e o justo são o que servem à Revolução..

Valesca e os MC's dos bailes funks nasceram no mesmo país que deu ao mundo a música de Villa-Lobos, a pintura de Portinari, e a escultura do Aleijadinho. Toda tragédia do pensamento brasileiro não está nos bailes das favelas do Rio de Janeiro; está na Educação que, em nome de um delírio revolucionário, acabou com a distância que havia entre o juízo crítico e a obscenidade cultural dos mais pobres. Nossa miséria continua original: segue autêntica e sem pretensão alguma. Ela nunca se “prostituiu” como disseram que Valesca fez.

Nada seria mais justo do que o funk brasileiro agradecer cantando nas suas letras a “filosofia vagabunda” da nossa Universidade. Valesca, queiram ou não, continua sendo verdadeira, mas a nossa cultura foi estuprada num baile em 1968, engravidou da revolução e morreu dando à luz ao PT.



Milton Simon Pires é Médico.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Nayara Vilas Bôas - “MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO”.

carretas
Ler o Plano de Governo do Bastião Viana, e comparar com a situação do Acre hoje, causa náuseas. Além das náuseas uma revolta impactante.
Tudo o que está ali é uma FARSA, uma MENTIRA.
Se tudo o que estivesse naquele Plano, de mais de setenta páginas, fosse feito, ou ao menos a metade tivesse sido realizado, o Acre não estaria sofrendo, como está hoje.
Em uma das partes do Plano, fala-se em INDUÇÃO E GESTÃO DE INVESTIMENTOS, onde no mesmo, diz que haverá estratégias para que a iniciativa privada seja atraída pro estado, e assim gerar lucros.
Mas,questiono: Há iniciativa privada no estado?
Aqui no Acre, só cresce, o empresário “amigo’ da turminha dos Viana.
Aqui no Acre, o pequeno empresário não tem vez, sofre perseguições, altos aluguéis, altos impostos… O governo faz o impossível para que esses pequenos desistam.
Um exemplo?
O grupo Recol Farma está terminando a construção de sua mais nova farmácia, localizada nas Nações Unidas, em frente ao Pronto Socorro (sentido emergência). Todos sabem, que parte das ações dessa empresa é de propriedade da família Viana.
Onde eu quero chegar? Em frente ao Pronto Socorro (sentido recepção) existe a ProntoFarma, que existe ali há anos, com a implantação da RecolFarma, essa farmácia, sofrerá prejuízos, e consequentemente pode vir a “quebrar” (por favor, não estou dizendo que isso vai acontecer, é só uma hipótese).
Mas, o que fez com que os donos da empresa Recol abrissem um negócio no local? Eles possuem visão estratégicas de lucros (para si próprios é claro). O Pronto Socorro está sendo reformado. Após o término da reforma, haverá grandes demandas e muitas pessoas circulando no local, gerando assim, lucros para a empresa, e aumentando, claro, a conta dos tais ditadores acrianos.
O que falta à população é conseguir enxergar essas pequenas coisas que acontecem ao seu redor.
Nenhuma empresa que caracterize geração de emprego, e rentabilidade ao cidadão acriano, sem a “ajuda” do setor público, entra no estado sem passar por um “exame” petista (Nem preciso falar da TelexFree, todos viram o que aconteceu, certo?). Se o empresário o agradar, bem, se não, esqueça.
Outro ponto importante a ser destacado aqui, é que não temos, por exemplo, olarias de grande porte, para abastecer as grandes demandas de construções. As que tem, são pequenas, e não sobressaem às grandes demandas. Com a cheia do rio Madeira, há várias construções paradas, devido falta de material.
O Acre possui potencial para tanto, porém, a falta de incentivo e credibilidade, faz com que tudo isso seja defasado.
Enfim, a questão é que: o Acre tem potencial pra ser um grande exportador de matéria prima, ou até mesmo, introduzir indústrias e exportar material secundário. Porém, sua gestão é precária, hipócrita e burra. Pensam somente no crescimento de si próprios e esquecem de investir nos pequenos.
Com a construção de industrias, há uma geração de empregos, com geração de empregos, há distribuição de capital, e com a distribuição de capital forma um ciclo de crescimento econômico, fortalecendo o estado e fazendo com que sua população saia da condição de miséria.
Mas, como eu disse, nossa gestão é burra, hipócrita,mentirosa, e precária…
Nayara escreve no site Folha do Juruá/AC
Nayara Vilas Bôas [email protected]

domingo, 6 de abril de 2014

Dilma perderá; o Brasil Capimunista está perdido

Mais de 70% dos entrevistados em enquetes eleitorais manifestam o desejo de mudanças a partir de 2015. Até as pesquisas amestradas são forçadas a admitir que Dilma Rousseff despenca do poder. Dilma perdeu a credibilidade internacional para continuar no governo. Ela perderá a eleição. Ninguém aguenta tantos escândalos, desmandos e imposturas. O Brasil ruma para uma perda total (“PT”, na sigla das seguradoras), se o crime organizado, a egoísta vaidade política e a incompetência gerencial continuarem dominando o País.


Agora, quem acaba de terminar com o PT é o mundialmente famoso escritor brasileiro, Paulo Coelho. Em entrevista ao jornal O Globo, o mago detonou: “Não vou à Copa, embora tenha ingressos. Eu não posso estar dentro do estádio sabendo o que se passa lá fora com os hospitais, a educação e tudo o que o clientelismo do PT tem renegado muito. Há uma profunda decepção. Eu acho que o poder cega. O PT foi muito bem, é responsável por um grande avanço; mas que não começou com ele, e sim com o FHC. De repente eu vi que a coisa toda começou a virar meio um clientelismo. Acho que o PT infelizmente perdeu o rumo, como qualquer partido que fica muito tempo no poder".

O Brasil já torrou R$ 26 bilhões para realizar a “Copa das Copas” – prometida por Dilma. O valor pode superar R$ 30 bilhões. Isto em números oficiais da “Matriz de Responsabilidades”. O documento junta tudo que se fez para o evento em obras e projetos. Inclusive aquelas promessas que não sairão do papel a tempo. Faltam 67 dias para o bilionário torneio da FIFA começar. Não há garantias totais nem que o primeiro jogo aconteça, conforme previsto, na Arena Corinthians – que algum maluco chegou a dizer que se chamará, um dia, Estádio Luiz Inácio Lula da Silva, inspirador da obra.
Copa? Nem podemos usar o termo "Copa" (marca registrada pela FIFA). O Brasil perdulário e ruim de gestão já conseguiu gastar uns R$ 40 bilhões com as obras polêmicas, com sinais de superfaturamento, e sem previsão concreta de conclusão, da refinaria Abreu e Lima (Pernambuco) e do Complexo Petroquímico em Itaboraí (Rio de Janeiro). As despesas absurdas da Petrobras são fruto de estudos técnicos. Não por coincidência, o principal tocador de tais projetos gastadores está preso. Chama-se Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras, enrolado na “Lava Jato” (operação da PF que investiga uma quadrilha suspeita de lavar R$ 10 bilhões em dinheiro ilegal, desviado do setor público).

Agora, as revistas Veja e Época, os grandes jornais O Globo, Folha de S. Paulo, Estadão e afins, junto com o poder propagador da Rede Globo, revelam documentos investigatórios que unem Paulo Costa, seu parceiro, o doleiro Alberto Youssef, e o vice-presidente da Câmara dos Deputados, o petista André Vargas. Aquele mesmo que ficou famoso, mal na foto, levantando o bracinho, na tradicional saudação comunista radicalóide, para sacanear o presidente do Supremo Tribunal Federal, na mesa do Congresso. Vargas - que imitou os reeducandos José Dirceu e José Genoíno – agora está tão mal na fita que poderia ser forçado a imitar o gesto extremo de um outro Vargas (bem mais famoso). Mesmo que falte coragem para tanto, o Vargas petista já está morto politicamente.