Em Vilhena, município de Rondônia com cerca de 100 mil habitantes, a população convive com a movimentação de agentes da Polícia Federal desde julho de 2015. Em 20 meses, a cidade foi alvo de sete operações da PF, que prendeu um ex-prefeito, seu vice, ex-secretários, além de sete dos dez vereadores e empresários.
“Praticamente não se pagava ninguém sem propina”, diz o delegado federal Flori Cordeiro de Miranda Júnior, que comandou as investigações no município. “Onde a gente batia tinha coisa errada”, lembra. Em uma primeira ação foram presos dois ex-secretários municipais, o chefe de gabinete da prefeitura, entre outros servidores municipais todos já condenados pela Justiça.
Ao se aprofundar no submundo das fraudes, em outubro de 2016 a PF chegou ao prefeito José Luiz Rover (PP), preso durante uma varredura na sede da prefeitura. Em liberdade desde junho de 2017, o prefeito negociou delação premiada e o processo segue em segredo de Justiça. Seu advogado, Josemário Secco, disse que não pode informar sobre a homologação do acordo nem sobre seu conteúdo.
Responsável por revelar as fraudes, o ex-vice-prefeito do município Jacier Rosa Dias (PSC) passou de herói a vilão em poucos dias. Ele foi preso em um esquema de regularização de lotes montado na Câmara de Vereadores. Jacier passou um mês detido e hoje responde ao processo em liberdade.
Sua defesa afirmou que não há indícios de autoria nem de materialidade delitiva e alegou que, como vice-prefeito, Jacier não tinha poder para decidir ou interferir na aprovação de loteamentos na cidade. Seus advogados também afirmam que ele adquiriu lotes, mas não sabia da prática criminosa dos parlamentares.
Na Operação Tropa de Choque, em outubro de 2016, a PF colocou na cadeia sete dos dez integrantes do Legislativo. Nem o então presidente da Casa, Ângelo Donadon Júnior (PSD), escapou.
Integrante de uma família de políticos processados, cassados ou presos, Junior Donadon, como é conhecido, foi preso três semanas após ser reeleito. Após cinco meses, saiu com tornozeleira eletrônica. Tomou posse, mas renunciou ao mandato em maio enquanto a Câmara discutia sua cassação. Júnior Donadon e os demais vereadores presos negaram participação no esquema.
A saga dos eleitores de Vilhena não terminou aí: um dos suplentes que assumiu uma vaga na Câmara foi Antônio Marco Albuquerque (PHS), conhecido como Marcos Cabeludo, que já tinha sido preso por abuso de poder econômico e estava em liberdade condicional.
Candidato à reeleição, foi preso de novo em novembro acusado de cobrar propina de um empresário do ramo imobiliário para que o Poder Legislativo aprovasse a implantação de um loteamento na cidade.
Além disso, apesar das prisões, as fraudes não pararam. Um empresário, por exemplo, voltou para a cadeia durante a Operação Nepartes, por fraudar, de novo, uma licitação para o fornecimento de carne para a prefeitura. Não bastasse a reincidência do empresário, o produto estava impróprio para consumo humano.
As buscas também revelaram a compra de seis ônibus escolares para a prefeitura, todos com mais de dez anos de uso. Descartados para o transporte coletivo urbano, a empresa se livrou dos carros velhos e os vendeu ao município, que ficou com um prejuízo de R$ 1,2 milhão.
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