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Em debate morno, candidatos evitam confronto e nanico vira sucesso nas redes sociais.

Os candidatos mais cotados jogaram na defensiva, tentando evitar confrontos e grandes deslizes. Se o objetivo era empatar o jogo, conseguiram.
Cabo Daciolo roubou cena
O início prometia uma noite quente. Na primeira pergunta do debate da Band, o candidato Guilherme Boulos (PSOL) foi ao ataque contra Jair Bolsonaro (PSL).

— O Brasil todo sabe que você é racista, machista, homofóbico — atirou.

— Não vim aqui bater boca com um cidadão desqualificado — reagiu o deputado.

A plateia se animou, mas a propaganda era enganosa. O primeiro encontro entre os presidenciáveis prosseguiu em tom morno. Em alguns momentos, soporífero.

Os candidatos mais cotados jogaram na defensiva, tentando evitar confrontos e grandes deslizes. Se o objetivo era empatar o jogo, conseguiram.

O formato engessado pela lei eleitoral, que exigiu a presença de oito candidatos, também atrapalhou o programa.

À exceção do franco-atirador do PSOL, que lembrou o Lula de 1989, ninguém forçou o embate com Bolsonaro, líder das pesquisas nos cenários sem o ex-presidente.

O capitão se enrolou ao justificar mordomias como o auxílio-moradia. "Tá previsto na lei. Se é imoral, é outra história", justificou-se. Mesmo assim, conseguiu conter a agressividade e o estilo autoritário. Não saiu derrotado, o que no seu caso é uma vitória.

Geraldo Alckmin (PSDB), que terá o maior tempo na propaganda eleitoral, foi o mais apertado pelos adversários. Ciro Gomes (PDT) lembrou que ele apoiou as reformas impopulares de Michel Temer. Marina Silva (Rede) questionou a aliança com os suspeitos de sempre do centrão.

Até Henrique Meirelles (MDB) pegou carona. Lembrou que o PSDB já chamou o Bolsa-Família de "Bolsa-Esmola" e "populismo rasteiro". O tucano desconversou ao seu estilo. Só elevou o tom contra Marina, ao lembrar o passado dela no PT e dizer que é de "outra linhagem".

VETERANOS SEM BRILHO

Os outros veteranos também não brilharam. Marina marcou ponto na abertura, ao reforçar sua identificação com o eleitor mais pobre e lembrar que também foi desempregada. Depois pareceu murchar, como tem acontecido com suas campanhas.

Ciro foi prejudicado pela fama de bom debatedor. Nos blocos de perguntas livres, os concorrentes evitaram acioná-lo. Isolado, ele tentou ganhar votos como o candidato-crefisa: prometeu tirar 63 milhões de brasileiros da lista do SPC.

Alvaro Dias (Podemos) soou obcecado por Sergio Moro, a quem imitou até no figurino. Repetiu três vezes que o juiz da Lava-Jato seria o seu ministro da Justiça. Talvez fosse melhor escalar o conterrâneo como candidato.

O prêmio de melhor tirada ficou com Boulos, que acusou os rivais de representarem "50 tons de Temer". Nem Meirelles se encorajou a defender o presidente em fim de mandato. 

Para quem gosta de entretenimento, Cabo Daciolo (Patriota) foi a revelação da noite. Dublê de bombeiro e pastor evangélico, ele alternou citações da Bíblia com teorias conspiratórias pescadas em grupos de WhatsApp. 

Depois do enésimo "Glória a Deus", revelou um trecho das Escrituras que citaria a nação brasileira e fez uma homenagem ao patrono dos nanicos.

— Doutor Enéas! Doutor Enéas! O que ele falava era verdade! — bradou.

Pode não ter conquistado votos, mas fez a festa da internet.